Carta aberta ao presidente do IST & loucura universitária na UL
O Tiago Veras escreveu um texto ao presidente do Instituto Superior Técnico onde fundamenta e justifica a implementação de um sistema de estacionamento pago para o campus do Instituto. Com a devida autorização, publicamo-la aqui.
Nota: até à data não houve qualquer resposta.
Caro Prof. António Cruz Serra,
No seguimento da mensagem ‘Nota Informativa CG/33/2011 - Restrições orçamentais em 2012’, e no sentido de colaborar para a sustentabilidade financeira do nosso Instituto, sugiro que todo o estacionamento no interior do campus Alameda seja cobrado, à maneira do que é feito no estacionamento na via pública na envolvente deste campus.
Apresento de seguida um pequeno exercício de cálculo, para que se perceba melhor o potencial desta proposta.
- Pode-se considerar, para efeito de cálculo, que existem aproximadamente 750 vagas (em superfície e em subsolo) neste campus. Adoptar-se-ia, ainda, o actual tarifário da EMEL para a envolvente: Zona Amarela, cobrada das 9h às 19h (0,30 € por cada 15 min).
- A evolução da procura de estacionamento pode ser caracterizada através do gráfico ‘evolucao_procura_estacionamento.jpg’ em anexo, em que a ocupação é máxima entre as 11h00 e as 16h00, e decresce em direcção ao início e ao final do dia (atingindo 10% da ocupação às 07h00 e às 21h00).
- Dada a procura diária e o valor a ser cobrado, as receitas oriundas do estacionamento pago no campus Alameda podem ascender a 7.752,00 € por dia, 170.544 € por mês, 2.046.528 € por ano (ver ficheiro ‘calculo_estacionamento.xls’), se considerarmos apenas os dias úteis.
Sublinho que o valor das receitas anuais corresponde à metade do esforço financeiro a ser empreendido pela nossa instituição.
Esta medida, ainda, teria custos de implantação nulos ou insignificantes, pois o acesso existente, através de cartão, identifica já o utilizador e os horários de entrada e saída. Bastaria, através de um programa informático simples, associar os cartões à respectiva despesa em estacionamento, podendo a cobrança ser feita, por exemplo, através de débito automático no vencimento (no caso dos professores).
Compreende-se que há direitos adquiridos, relativamente ao estacionamento neste campus, que seria difícil enfrentar. Entretanto, face ao esforço que será exigido a todos os utilizadores deste campus, penso que vale a pena considerar esta medida, mesmo que se tenha em conta, para cada quarto de hora ‘estacionado’, um valor mais baixo que o considerado neste exercício. A renúncia a serviços eventualmente mais indispensáveis, como a segurança e a limpeza, teria portanto uma menor expressão para todos os professores, alunos e funcionários do IST.
Com os melhores cumprimentos,
Tiago Veras
Quem duvidasse da força com que o automóvel está entranhado na psicologia de deslocações urbanas dos portugueses, é só ler esta notícia: cinco associações de estudantes e alunos convidam à rejeição do sistema de estacionamento pago anunciado pela UL. A radicalização (por vezes com promessas de violência física para com os parquímetros) das posições face ao que é falsamente percepcionado como um direito adquirido (o estacionamento gratuito) apenas demonstra a patologia que é acreditar que a cidade tem de albergar de qualquer maneira os automóveis e que estes são inócuos.
Façamos o seguinte exercício: se considerarmos que alguém só a assina uma petição se esta for contra o que é percepcionado como um estado justo de coisas (neste caso, estacionamento gratuito na alameda da UL), quando foi a última vez que pelo menos cinco associações de estudantes promoveram tão rapidamente uma petição para se pugnarem por um tal estado justo de coisas ? Não haverá causas sociais e potenciais alterações legais que merecem uma mobilização tão frequente e tão activa como esta? Haver há, mas não cativam nem invocam esta fúria e esta mobilização.
A conclusão é que a percepção dos direitos da entidade "condutor + carro" é mais cara ao condutor do que qualquer outra. E isso é perigoso.