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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

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UE pensa em limitar velocidade máxima nos automóveis comerciais

MC, 04.05.10

O i conta-nos hoje que está a ser considerada a hipótese de se colocar um dispositivo eletrónico nos carros comerciais de modo a obrigá-los a cumprir o limite de velocidade. A razão não seria a sinistralidade, mas o combate às emissões de CO2 (estas sobem exponencialmente a partir dos 100km/h).

Eu só fico espantado que esta ideia só surja em 2010, quando a tecnologia necessária existe há várias décadas, e que se dirija apenas aos carros comerciais.

 


Para quem perdeu, aqui fica um aplauso aos ciclistas urbanos no dia da Terra por parte do jornal gratuito Metro, via página da Massa Crítica:

É só um anúncio, mas ele não teria sido publicado há 5 anos.

Bio-combustíveis podem levar a emissões de carbono quatro vezes maiores

MC, 22.04.10

Um relatório preparado para Comissão Europeia, afirma que os bio-combustíveis à base de soja levam a um nível de emissões de 339,9Kg de CO2 por GJ, quatro vez mais que os combustíveis convencionais. Estes valores são baixam para 150,3 Kg no caso de biodiesel produzido por colza na Europa, e 100.3 Kg para a beterraba europeia. Todos estes valores ficam acima dos 85Kg do diesel e gasolina convencionais.

Estes dados constam de um estudo que já estava nas mãos da Comissão Europeia há vários meses, mas que não tinha sido publicado. Foi apenas por pressão judicial da Reuters e ONGs que a Comissão foi obrigado a divulgá-lo.

Fugas de outros estudos para a Comissão, mencionadas pela Reuters, apresentam outros problemas dos biocombustíveis como aumento dos preços dos alimentos e destruição de ecossistemas.

De lembrar que a queima do bio-combustível em si, terá uma emissão próxima dos combustíveis convencionais. Mas a este valor deve subtrair-se o carbono que foi caputrado da atmosfera (100% se o combustível for 100% bio) mas deve somar-se os custos de produção (cultivo, recolha, processamento, distruição) que são maiores do que no caso dos convencionais.

 

A indústria e as autoridades andam agarradas ao paradigma automóvel tentando contornar todos os problemas energéticos e ambientais que ele tem. Como diz James Howard Kunstler, andam preocupadas em como vamos continuar a andar de carro daqui poucas décadas, quando a questão que se põe é como a sociedade vai funcionar sem automóveis.


A CM de Lisboa já estar a dar o seu passinho, tendo criado uma página sobre a bicicleta em Lisboa. Parabéns!

A indústria automóvel não brinca em serviço II

MC, 17.04.09

1. O governo aumentou ontem a contribuição que todos nós oferecemos a quem já esteja farto do seu popó antigo e queira comprar um novo. Agora pode chegar ao 1800€.

Como já escrevi, defender isto sob o manto da protecção ambiental é gozar com a inteligência das pessoas. Notei agora mais duas incoerências: se a ideia é promover a compra de veículos menos poluidores (o que deveria ser feito por penalização dos mais poluidores, não por descontos pagos por todos) porque é que quem compra um carro pela primeira vez não tem direito a este benefício? Se a ideia é reduzir o consumo de combustível, porque é que o mesmo benefício não é dado à compra de carros em segunda mãos menos poluidores, mas apenas aos novos?

Veja-se isto por onde se veja, este programa do governo (que é coordenado pela UE mas decidido a nível local) é pura e simplesmente um  enorme e inexplicável subsídio à indústria e ao comércio automóvel.

Sinceramente estou farto do meu portátil (isso sim, um instrumento de trabalho) e sinto-me discriminado pelo Estado não me ajudar a comprar um novo. Alguém percebe isto?

 

2. Há dias um representante do sector do comércio dizia que o sector estava mal porque não havia incentivos ao consumo! Mas haverá algum sector que não estivesse melhor se houvessem "incentivos ao consumo"?! Isto só prova que estão habituados a ter um tratamento especial.

 

3. Como antecipei na primeira posta, e já referi numa nota, a crise no sector automóvel já vinha de trás. A actual crise económica serviu apenas para atirar areia para os olhos das pessoas, quando se canalizam verbas públicas na Europa e EUA para a indústria automóvel.

 

4. A compra de automóveis segue um padrão de aquilo que em economia se chama  procura elástica. Ao contrário da comida, onde o consumo é mais ou menos estável em bons e maus períodos económicos, as compras de automóveis variam muito com a conjuntura.

Isto é um fenómeno que a humanidade conhece há milénios. Os celeiros existem para armazenar cereais, já que a sua colheita varia muito de ano para ano. O mesmo se pode dizer de muitos sectores económicos que aprenderam a viver com essa flutuação (turismo, artigos de luxo, etc.). Muitos mas não todos, o sector automóvel, que também sabia que a coisa viria abaixo, é neste momento o único a contar com um celeiro chamado dinheiro dos contribuintes. 

 


A ler: Mania das grandezas por José Saramago. Acho as conclusões do artigo a que ele se refere um bocado parvas (porquê 9 e não 5 ou 20?), mas isso não é o essencial.

A vaquinha II

MC, 31.03.09

O José Sousa do Futuro Comprometido deixou aqui um link interessante sobre os supostos benefícios ambientais do apoio ao abate de automóveis antigos (no primeiro post mencionei que estes benefícios seriam ridículos mas sem os quantificar). Claro que estas contas são muito complicadas de fazer, mas as contas em cima do joelho dão sempre uma noção da grandeza do que está em causa:

 

Cars manufactured this year will put out an average of around 160g/km(7), which means a saving of 48g/km. This translates - with a mean annual driving distance of 16,500km(8) - into a cut of 792kg/car/year. Assuming that drivers are each paid £2000, that’s a cost of £2525 for every tonne of CO2 avoided, divided by the average age of the cars on the road - 4.9 years.


The management consultants McKinsey have calculated the costs of saving CO2 by other means(9). We could do it for £3.50 a tonne by investing in geothermal energy (...) switching from incandescent light bulbs to light-emitting diodes, for example, saves £80 for every tonne of CO2 you cut.

 

Repare-se no custo estupidamente alto do "benefício ambiental" no primeiro caso. E estas contas deixam de parte duas coisas importantes (que eu já tinha mencionado): os enormes custos ambientais do desmantelamento do carro antigo e da produção do novo, e o aumento de kms percorridos devido ao menor preço por km do carro novo. O próprio artigo diz à frente que 15% a 20% das emissões de automóvel advêm da sua produção! E o impacto ambiental da produção não se fica pelo CO2...

 

O meu conselho para os governos europeus apoiando esta patranha, chamem os bois pelo nome. Estes programas são pura e simplesmente uma gigantesca esmola de todos nós para quem já não gosta do seu carro antigo e para a indústria automóvel.

 


Petição a assinar aqui, pelo aumento da frequência dos comboios na linha de Sintra. Como todos sabemos a frequência é uma questão fulcral, especialmente para quem tem que fazer um transbordo. Mais informação e o anúncio de um debate sobre a mobilidade no concelho de Sintra no próximo sábado aqui.

Não sendo apoiante de nenhum dos dois partidos em causa, não posso deixar de notar a diferença de estilos. Enquanto este (BE) fala em mais comboios, uma suposta organização pela "mobilidade sustentável" no mesmo concelho apelava a mais estradas... para que os autocarros pudessem andar mais rápido. Pois.. talvez convençam alguém no programa de abate de veículos velhos.

A vaquinha

MC, 16.03.09

Quando alguém se farta das suas jeans, quer por estarem velhas ou estragadas, quer por já não gostar delas, deita-las fora (ou dá a alguém) e paga por umas novas na loja. O mesmo diria de uma esferográfica, uma televisão, uma panela de pressão, uma bicicleta, um frigorífico, uns sapatos. Parece-me óbvio que é assim que deve acontecer. Se eu quero um produto novo, devo ser eu a pagar por ele na totalidade. Só conheço 3 excepções a esta regra:

Algumas garrafas (cada vez menos) têm vasilhame. Quando vamos ao supermercado recebemos alguns cêntimos pela garrafa velha, mas na realidade é apenas a devolução do que tínhamos pago.

Muitas lojas dão 5 ou 10€ de retoma por telemóveis velhos, mas na realidade estes são depois vendidos pelas lojas a empresas que reaproveitam os materiais (além de servir de estratégia de marketing).

O último, já devem estar a imaginar, é o popó. E o que me choca é a origem do desconto na compra do novo. Quando alguém quer comprar um carro novo, é o próprio Estado que "pede" a todos nós para fazermos uma vaquinha para ajudá-lo. E estamos a falar de um valor que pode chegar aos 1500€!!

 

Oficialmente a vaquinha é por razões ambientais, mas isso é incongruente. Primeiro, a produção do novo veículo e o desmantelamento do velho são processos com forte impacto ambiental. O ganho em termos de emissões graças a uma renovação mais rápida da frota (é apenas isto que está em causa) é com certeza ridícula face a este custo ambiental. Segundo e esquecendo esta incongruência ambiental, o custo de um impacto ambiental deve ser pago por quem o provoca. Neste caso deveriam ser os automobilistas com carros poluentes a pagar por isso. Terceiro e último, há muitos outros casos onde exactamente a mesma lógica não é aplicada pelo Estado. O caso dos frigoríficos é um excelente exemplo, porque teria um argumento extra face ao automóvel: os frigoríficos antigos libertam gases destruidores da camada de ozono, se não forem devidamente tratados.

 

O lobi do popó, mal habituado que está, não está obviamente contente e exige mais ainda. Em mais um exemplo da sua longa tradição de honestidade intelectual, não se coibe de aldrabar toda a gente na sua argumentação, dizendo que na Alemanha este desconto chega aos 5000€. (Uma mentirinha de 2500€).

 


Greenwashes:

- Patrocinado pela Guardian (possivelmente o melhor jornal britânico) neste video. Trata-se de um carro movido a electricidade, tal como o meu frigorífico. Mas como é um carro, e tem que soar a verde, a reportagem diz que é um carro movido a energia eólica!! A palavra "wind" deve ser repetida 20 na reportagem de 2 minutos, sempre com as turbinas eólicas a aparecer. A partir de hoje, o meu frigorífico funciona oficialmente com a força do vento.

- O lobi do popó português, diz que a corrida deles deste ano é ambiental. Tradução: vai haver caixotes do lixo, recolha do lixo e as fitas de plástico vão ser um plástico mais biodegradável. Não estou a gozar, é mesmo só isto.

Às armas, às armas, pelo popó lutar (versão rereaumentada)

MC, 09.03.09

Há anos que a União Europeia chateia Portugal, por Portugal considerar que o atravessamento das pontes sobre o Tejo de carro é um bem de primeiríssima necessidade, ao ponto de as portagens pagarem menos IVA que bens de luxo e fúteis como bolachas, papel higiénico, detergente, conservas de peixe, pêssego em calda, margarina, etc.  Isto é as portagens pagam 5% (uma taxa supostamente exclusiva para bens fundamentais), enquanto os exemplos que dei pagam 12% ou 20%.

Vá se lá saber porquê, a UE não concorda com a definição portuguesa ao ponto de ter feito queixa no Tribunal de Justiça Europeu, que deu razão à UE.

Mas o nosso bravo governo - aquele que acha que os carros eléctricos merecem descontos fiscais por serem ecológicos, mas as bicicletas não - não desiste. Está disposto a bloquear todo um processo negocial entre os 27 sobre os impostos sobre o consumo, usando o seu poder de veto se não vir satisfeita a sua exigência (que é apenas e só esta).

Estou a imaginar 27 representantes europeus a chegar a um acordo, daqueles sempre difíceis de alcançar por terem que ser unânimes, e o português levanta-se e diz "eu bloqueio isto tudo, porque vocês não percebem que atravessar de carro uma ponte, onde há comboios e autocarros, é um bem de primeira necessidade"*.

 

É raríssimo eu dizer isto, mas hoje tenho vergonha de ser português.

 

* E não é que o insólito aconteceu mesmo?! Palavras do próprio ministro: "Portugal votará [vetará] contra qualquer acordo que não contemple a questão das pontes. (...) afecta um número muito significativo de portugueses designadamente em zonas urbanas onde a travessia das pontes é fundamental".

** Isto está cada vez melhor. O ministro à TSF não disse "às armas, pelo popó lutar" mas quase... "Portugal vai lutar até ao fim".

*** Já tinha referido esta notícia num post antigo, mas só agora notei que um dos argumentos do governo português para manter o IVA baixo, era que só assim se garantiria uma concorrência sem distorções entre os meios de transporte na ponte. Isto é dos maiores disparates económicos que ouvi nos últimos tempos. Uma coisa essencial para evitar distorções na concorrência, é garantir que os preços reflectem os custos. No caso do automóvel a diferença entre o que se paga e o custo real é tão abissal, que dar importância a uma dúzia de cêntimos é desviar a conversa.

**** A Pátria venceu mais uma dura e importante batalha!

***** Quando eu achava que história não poderia tornar-se ainda mais ridícula, o ministro das Finanças voltou a surpreender-me. Além das portagens, as fraldas estavam na mesma situação: Portugal tinha um IVA demasiado baixo. Não discuto qual seria o IVA  justo para os dois produtos, mas quando o ministro faz um estardalhaço enorme numa reunião com 27 países de modo a manter o IVA baixo para as portagens, e não abre a boca em relação às fraldas para bebé (que seria uma luta mais fácil já que nem  estaria sozinho como no caso das portagens), eu acho que se ultrapassou qualquer limite de razoabilidade. Só prova as nossas aberrantes prioridades sociais.

Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária I

MC, 16.02.09

Está até hoje em consulta pública a Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária, onde é delineada a estratégia de combate à sinistralidade em Portugal até 2015. Aqui fica um resumo do meu contributo (motivado pela disparata insistência em culpar exclusivamente os peões por acidentes onde eles são sempre as vítimas):

 

Portugal continua a ter uma elevada taxa de sinistralidade de peões (segundo a ENSR). Isto é especialmente grave por haver pouco o hábito da deslocação a pé nas cidades portuguesas, o que levaria a prever uma taxa baixa. Descontando uma breve menção ao mero estudo dos regimes sancionatórios aos condutores aplicados noutros países, a estratégia foca-se quase exclusivamente na "Fiscalização" e "Educação" dos peões. Nenhuma palavra é dita, no âmbito da sinistralidade dos peões, sobre a mesma fiscalização e educação dos condutores.

Está implícita a ideia de que o peão é o único responsável por este tipo de sinistralidade. Mas no caso do concelho de Lisboa, por exemplo, sabe-se que praticamente metade dos atropelamentos ocorrem nas passadeiras, ou seja pelo menos em metade a culpa não foi do peão.

 

Além disso, fará sentido tentar disciplinar quem mais directamente sofre com a sinistralidade, que por isso mesmo será mais prudente e menos negligente à partida, desprezando os comportamento incorrectos por parte de quem "tem pouco a perder"? No caso de um erro do condutor, o peão poderá facilmente perder a vida, mas o oposto nunca acontecerá.

Os excelentes resultados das campanhas que têm decorrido nos últimos, em termos de fiscalização e educação dos condutores no que toca a excessos de velocidade, álcool, etc., mostra por um lado que há um elevado grau de negligência destes, e por outro que poderíamos esperar também excelentes resultados de campanhas semelhantes viradas para os condutores neste tema.

 

Um estudo do Departamento de Transportes do Governo Britânico sobre sinistralidade das crianças enquanto peões coloca Portugal no pior lugar dos países europeus analisados. Descontando a Polónia, todos os países têm taxas que são menos de metade (!) da taxa portuguesa. Por se tratarem de crianças, logo com menos noção sobre o comportamento e as regras do trânsito, seria de esperar que os números não fossem tão díspares. Concluí-se neste caso que o problema está no comportamento do condutor e não no do peão.

 


Notícia recomendada: depois de a Comissão Europeia ter aberto um processo contra Portugal por infracção da qualidade do ar nas cidades, o governo vai finalmente apresentar algumas propostas envergonhadas (ao contrário do que o título dá entender, são apenas ideias e não dados adquiridos). O notícia destaca a criação de faixas exclusivas para veículos com mais de um ocupante, algo que a Quercus defende há milhentos anos.

Se isto for aplicado em vias sem autocarros, acho excelente. Caso contrário é vergonhoso que se queira dar o mesmo benefício a um carro com 2 pessoas e a um autocarro com 40.

Pormenor sórdido, apesar de Portugal violar a legislação da qualidade do ar há muitos anos, o Governo vai pedir a suspensão temporária da legislação por já haver "programas em curso".

A indústria automóvel não brinca em serviço

MC, 03.12.08

A coisa andava aí a pairar, e hoje somos brindados com dois favorzecos das nossas autoridades para a indústria automóvel.

 

1. No meio de uma crise internacional - onde todos os sectores estão a passar por dificuldades - a indústria consegue mexer os cordelinhos nas altas esferas do poder, conseguindo milhões de ajuda para se safar da crise. O governo português  (que não está só nesta questão) avança com um apoio de 900 000 000* de euros para a indústria, o equivalente a 5 ou 6 vezes o custo de um novo hospitaldistrital! Outra comparação, baixar o IVA de 21% para 20% custou apenas 600 milhões.

Se há razões económicas especiais para os governos apoiarem o sector bancário em tempos de crise (onde é fundamental que haja crédito e liquidez disponíveis) - e note-se que estes valores não se aproximam nem de perto nem de longe ao dinheiro gasto no apoio à banca - não há absolutamente razão nenhuma para apoiar a indústrta automóvel em detrimentos de outros sectores.  Aliás, apoiar uma indústria que está na base de vários problemas mundiais actuais (crise energética, aquecimento global, guerras), parece-me um absurdo. A única razão que encontro para esta ajuda, é aquilo a em economia se designa tecnicamente por uma "ganda cunha".

P.S. Ainda bem que o Ministro Pinho afirma que a crise no sector automóvel português não é tão grave como no resto da Europa. Nem quero imaginar o que o governo teria feito se fosse da mesma gravidade... (obrigado Tiago)

 

*Com notícias que vieram entretanto a público, ficou-se a perceber que parte deste montante, mais exactamente 200 milhões, fazem parte de uma linha de crédito - logo não são "dados" à indústria. Apenas emprestados em condições especiais. É importante sublinhar a diferença, porque no caso da banca houve muito sensacionalismo na imprensa para empolar os gastos públicos.

 

2. Claro que dinheiro não chega. Os governos da UE voltaram a afrouxar as exigências ambientais à indústria automóvel. O limite dos 130g/km de CO2 que deveria ser cumprido em 2012, foi novamente chutado para 2015. Para enquadrar bem a questão, noto três coisas:

- a mesma indústria convenceu em 1998 as autoridades europeias que não seria necessária qualquer regulação ambiental, tendo-se na altura comprometido a baixar as emissões para 140g/km em 2008. O valor médio em 2005 era contudo de 159g/km! Como diz a BUND, organização ambientalista alemã, o "cumprido não é devido".

- em 2006 esteve para ser aprovada legislação a obrigar a indústria aos 120g/km em 2012, mas os cordelinhos de última hora conseguiram facilitar a coisa para os 130.

- esta semana, a Agência Ambiental Europeia veio dizer que a Europa não vai cumprir os limites estabelecidos na directiva de limites de emissões (estamos a falar de 4 poluentes diferentes!) devido... ao transporte rodoviário!

 


Uma boa notícia em Lisboa para compensar, o programa de bicicletas públicas/partilhadas que tinha sido chumbado pela maioria PSD na AML, foi hoje aprovada em reunião de vereadores - depois de algumas alterações ao seu financiamento.

Mais uma prova da nossa bizarra obsessão pelo carro

MC, 23.06.08

As famílias portuguesas são as segundas na UE27 a gastar uma maior fracção do seu rendimento para andar de carro, segundo dados do Eurostat citados pelo Público.

Os dados são também bons para acabar com dois mitos.. Primeiro, o facto de gastarmos percentualmente mais com o automóvel não tem nada a ver com o nosso rendimento ser relativamente baixo, em primeiro está a Itália (mais rica) e em último a Bulgária. Segundo, não são as famílias mais pobres que são as mais afectadas pelo preço dos transportes. O quinto mais pobre gasta 8,1% e o quinto mais rico gasta 14,4% do seu rendimento em transportes.

 

Outros recordes:

Terceiro país com mais automóveis

Lisboa é a região europeia com mais auto-estradas

Segundo país em termos de peso do automóvel no transporte de pessoas

Último em termos de deslocações a pé

Terceiro país com mais quilómetros de auto-estradas por quilómetro de ferrovia

 

 


Leitura recomendada: Mobilidade sem automóvel como política de saúde, na França um projecto-lei defende que a obesidade deve ser combatida ao nível do planeamento local da mobilidade. No Carfree France.

A ver passar comboios I

MC, 22.04.08
Do mesmo documento que diz que Lisboa é a região da Europa com maior densidade de auto-estradas, podemos tirar mais outros dados curiosos. Por exemplo, das 20 regiões mais ricas, só uma tem mais de 100km de auto-estrada por km^2. Lisboa tem 220!! Desenvolvimento e auto-estradas não têm claramente muito a ver um com o outro.

Mas o mais chocante é o nosso abandono do comboio:
- Somos o terceiro país com menos comboio por habitante.
- Somos o oitavo com menos comboio por área do país (bom, dois dos que estão à frente são praticamente desabitados em grande parte, a Suécia e a Finlândia).
E já aqui tinha mostrado como os quilómetros de auto-estrada não param de subir e subir, e os de comboio não param de descer, contrariando toda a lógica de eficiência, de poupança, de respeito pelo ambiente, etc... que nos deveria guiar.

Claro que ciclicamente ouvimos os governantes dizer que desta é que é, vamos apostar no comboio. Ainda hoje, tivemos a secretária de estado dos transportes a assumir o empenho do Governo em retomar o "primado do caminho-de-ferro". Pois...