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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

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Transportes e Cidadania

TMC, 10.01.11

É para mim um facto, intuído, que as formas de deslocação que escolhemos influenciam o sentido da nossa atenção e a subsequente ligação afectiva que temos às nossas redondezas. Tentarei de seguida mostrar quão plausível é essa ligação entre os modos de transporte e os afectos às nossas vizinhanças, esperando mostrar assim que a cidadania, enquanto exercício de defesa do espaço público e protecção dos direitos a ele associados, pode ser favorecida ou desfavorecida consoante o modo de deslocação que escolhemos.

 

 

Por um lado, temos os transportes públicos de superfície, que por não exigirem aos passageiros que se ocupem da condução, permitem a possibilidade da atenção poder lançar-se para outra actividade: ora um livro, ou um jogo, ou para a música que vem dos auscultadores, ou, através do olhar, para o exterior. Um exemplo: é por este facto perceptual que muitas cidades apostam no autocarro de dois andares para dar aos visitantes um apelativo panorama em movimento da cidade.

 

 

A bicicleta e o andar a pé não têm a vantagem do autocarro: exigem sempre que o utilizador da bicicleta ou o peão ocupem a sua atenção na condução ou no trajecto entre obstáculos dos passeios; por outro lado, nenhuma bicicleta ou movimento pedonal são limitados por cápsulas de metal, de ruído ou por um código da estrada como são os veículos motorizados; ambos são bastante mais livres e também expostos às condições climatéricas e de circulação, e daí que quem os adopte conheça a cidade mais pessoalmente; mais importante, a velocidade da bicicleta e do andar a pé, por ser causada em exclusivo pelo corpo, permite que a atenção ao ambiente por onde a bicicleta ou um peão viajem sejam omnipresentes, e mais penetrantes, tornando qualquer modificação desse ambiente, nefasta ou não, em algo mais passível de se tornar familiar ao utilizador de bicicleta ou ao peão.

 

 

É por não viajar pelas ruas, encruzilhadas e passeios às velocidades proporcionadas por um motor de combustão que alguém sentando num selim ou dependente de umas solas repara logo num buraco causado pelas chuvas, seja ele no passeio ou na estrada, tal como repara na quantidade de estacionamento em segunda fila ou na adequação ou desadequação dos pilaretes e passadeiras ao movimento dos peões. É também por esse motivo que essa pessoa, a pouco e pouco e se continuar a deslocar-se desse modo, se vai sentindo mais próxima do espaço desses trajectos e das mudanças de uso que ele sofre, seja a invasão pelo lixo ou pela quantidade de carros.

 

 

Concluímos que a atenção exigida pela deslocação, no caso da bicicleta e do andar a pé, coincide com a atenção ao ambiente. Pelo contrário, a atenção à condução de um condutor de automóvel não acarreta uma atenção ao ambiente, mas implica até uma distanciação. Tal deve-se a vários factores: o ruído do motor, combinado com a rádio, não permite que o automobilista ouça o som das redondezas; a carapaça de metal não o deixa sentir a chuva, o vento, o sol ou a poluição atmosférica como os sentiria um ciclista ou um peão; a velocidade proporcionada pelo automóvel impede um mínimo de atenção ao que quer de interessante que apareça através das janelas; algo que é visto torna-se logo em algo que fica abandonado, já só lobrigado pelo retrovisor; e o seu conforto, a possibilidade de controlar o ambiente interior à custa do consumo de energia, apenas contribuem para que o automobilista se sinta como uma parte completamente isolada do espaço que o rodeia, e ao qual exige mais condições para circular. Um facto curioso de que me dou conta enquanto peão e utilizador de bicicleta é a quantidade de contacto visual, olhos nos olhos, que tendo a estabelecer com automobilistas e outros peões, tornando a resolução das prioridades em rotundas, cruzamentos e passadeiras em algo relativamente fácil de ser alcançado.

 

 

Se admitirmos ainda que o automobilista ideal dispõe com facilidade de dois lugares de estacionamento, no local onde reside e no local onde trabalha, a sua familiaridade e preocupações sérias com o espaço ficam resumidas à esfera privada e à esfera do trabalho, e só essas esferas o interessarão; a partir do momento em que chega ou sai de sua casa, o trajecto em que ele anda a pé é mínimo e corresponde ao percurso entre a porta de casa e a porta do carro, o qual até poderá estar numa garagem. Idem para o trabalho, onde um dos privilégios é um local para estacionamento. É relativamente fácil concluir que a consciência do direito ao exercício da cidadania esteja limitado aos espaços representados pelos pontos inicial e final dessas viagens; o que existe entre eles não é apercebido senão muito indirectamente; só lhe merecerá preocupação aquilo que afecta o espaço do seu lar ou do seu trabalho; as ruas da cidade, por onde se desloca nos termos que ilustrámos, não são sentidas como suas, e por isso dificilmente são consideradas como possuindo valor intrínseco. Só conservamos e cuidamos daquilo de que gostamos.

 

 

Por outro lado, a natureza do andar a pé e do andar de bicicleta favorecem uma intimação com todos os pontos entre o local de residência e o local de trabalho; esse percurso não é apenas reduzido à esfera privada e à esfera do trabalho, mas alargada até incluir as várias localizações entre esses dois pontos. A velocidade, por ser menor, e por não haver isolamento artificial através das cápsulas de metal e ruído, acrescenta a cada ponto de passagem desse percurso quotidiano uma componente de paragem, em que as ligações afectivas nascem. Os transportes públicos de superfície estarão a meio caminho, entre o isolamento automático e falso do carro e a abertura às redondezas da bicicleta e do andar a pé.

 

Um exemplo não pessoal que corrobora o que foi dito é dado pelo modo como os bairros históricos, construídos numa época em que não existiam carros e com as actuais reduções à circulação automóvel, incutem quase automaticamente nos seus habitantes uma sensibilidade colectiva a tudo o que é de interesse do bairro, o que contrasta com as áreas mais recentes da cidade, onde o sentido de vizinhança está quase completamente ausente. Claro que nos bairros históricos pode haver o caso depormenores chatos de bisbilhotice, mas o ponto é que o sentido alargado de cidadania para com o espaço público é despertado pela ausência da circulação automóvel.

 

 


 

A bicicleta conseguiu aparecer nas presidenciais.

 

No meio de tanta acefalia dada pelos apoiantes de um candidato:

 

 

Em que foi assegurada a passagem de testemunho dos problemas de ocupação do espaço público causados pelos automóveis comuns para os automóveis eléctricos:

 

 

Repare-se na pérola: «Acredito num Portugal mais ecológico», «Acredito num Portugal sustentável». Na falta de palavras, rir é o melhor remédio.

 

 

Eis que brilha um herói solitário e as suas palavras sábias:

 

 

 

José Novais à jornalista que o tomou como excêntrico:

 

Está a ver? Não tive problemas em estacionar. Vim de bicicleta porque gosto. Moro no Estoril, é perto, e costumo andar de bicicleta no dia a dia, por isso nem hesitei, disse, garantindo que é este o meio de transporte que usa para ir trabalhar e até para ir às compras. Tenho pena que não venham mais pessoas como eu, disse, explicando que faz parte de uma associação, Amigos do Paredão, que procura precisamente que haja melhores condições para os ciclistas, para incentivar mais pessoas a andar de bicicletas.  

 

Cavaco Silva já disse que não punha outdoors para não gastar dinheiro, podia, em vez disso, usar pessoas de bicicleta a fazer campanha. Não gastava dinheiro, não poluía e chamava a atenção para este meio de transporte.

 

E se chover?, perguntaram-lhe. Meto-a no comboio, respondeu.

A poluição e as bicicletas

TMC, 09.12.10

Um artigo no Le Figaro dá conta da melhoria da qualidade do ar na região de Paris no período de 1998 a 2008.

 

Os autores do estudo apresentam um conjunto de razões que contribuíram para a diminuição da poluição atmosférica:

 

- melhoria da idade do parque automóvel
- melhoria das tecnologias de combustão e de eficiência energética
- normas europeias de emissões mais restritivas
- redução da circulação automóvel em Paris, através da diminuição de 8% nas deslocações nos subúrbios e de 27% na cidade de Paris

 

O cômputo geral foi uma diminuição em 80%, independentemente do trajecto, do monóxido de carbono (gás irritante) e do benzeno (substância cancerígena); os níveis de dióxido de azoto e das partículas finas (vulgo PM10) estabilizaram, mas em níveis pouco recomendáveis.

 

O estudo é porém mais interessante porque especifica a exposição à poluição atmosférica consoante o modo de transporte escolhido: a pé, de bicicleta, de autocarro, de tram, de metro e de automóvel particular. Os resultados mostram que os utilizadores da viatura particular são os mais expostos aos poluentes gasosos (monóxido de carbono, tolueno, benzeno e dióxido de azoto); isto talvez se deva ao facto da circulação ser feita no meio de outros veículos emissores e do clima interior do automóvel estar confinado do exterior, não se regenerando. Os peões e os passageiros de tram são os menos expostos, quaisquer que sejam os poluentes, enquanto os utilizadores de bicicleta encontram-se numa situação intermédia.

 

 

E contudo, este não é o fim da história. Estaria errado afirmar que estamos perante uma situação universal: a de que quem circula em automóvel está mais exposto aos poluentes atmosféricos ou que quem circula a pé e de transportes públicos o está menos. Embora haja certas tendências, constantes noutros estudos, as extrapolações para Lisboa ou Porto são tentadoras, mas perigosas. É necessário ter em conta a orografia da cidade, a distribuição do tráfego, o regime dos ventos e das chuvas.

 

Outro estudo, feito para Copenhaga,  coloca também os utilizadores de automóveis como os mais expostos às partículas finas e ao benzeno e os utilizadores de bicicleta como os menos expostos, indo contra a intuição que afirmaria que estes estariam nos primeiros lugares por circularem sem protecção no meio do tráfego rodoviário. Este artigo, por exemplo, conclui novamente que os utilizadores de automóveis são os mais expostos; os utilizadores de bicicletas que circulam nas estradas, contudo,são mais prejudicados do que os utilizadores de bicicleta que circulam em ciclo-vias segregadas.

 

Só que a exposição à poluição atmosférica é uma questão muito delicada. Se eu estiver algum tempo exposto ao fogo, sei que me queimarei; há uma relação directa entre o tempo de exposição ao fogo e os danos que ele me causa. Com os poluentes atmosféricos, regra geral, não é assim. A exposição não significa obrigatoriamente dano imediato; entram muitos factores em conta, como o metabolismo pessoal de cada um, que dificultam a tarefa daqueles que pretendem estabelecer uma correlação directa entre doenças cárdio-respiratórias, vasculares ou o cancro e a exposição crónica a níveis excessivos de diversos poluentes. Não é por passarmos um dia na poluída Avenida da Liberdade lisboeta que desenvolveremos qualquer tipo de doença; mas se a percorrermos todos os dias em hora de ponta, talvez.

 

É assim complicado defender politicamente, por razões de saúde pública, que um certo tipo de meio de transporte deva ser preferivelmente utilizado pelas pessoas de uma dada cidade, embora seja possível dar orientações. O primeiro passo é fazer estudos, para que pelo menos a população activa dessa cidade saiba os níveis da sua exposição se andar mais de bicicleta, a pé, de transportes públicos ou de carro. Para Lisboa, encontrei só esta brincadeira, e já lá vão uns anos.

 

O melhor (ou o pior) ficou para o final. Nenhum destes estudos simulou, porém, o sistema respitário humano. Aquele estudo que o fez, para Dublin, encontrou diferenças na afectação real à exposição atmosférica depois da simulação da respiração. Como muitos outros, verificou que sem essa simulação, os automobilistas eram os mais expostos (e, depreende-se, os mais afectados) e os utilizadores de bicicletas os menos afectados; mas depois de simular a respiração humana e tendo em conta os níveis mais elevados de respiração alcançados por um ciclista, verificou que os utilizadores de bicicleta tornaram-se no grupo dos mais afectados!

 

Extrapolando para Lisboa e Porto: para os utilizadores de bicicleta mais teimosos, pode ser um motivo para exigirem cortes à circulação automóvel nas cidades; ou construção de ciclovias longe das estradas; para os utilizadores mais casuais ou inexperientes, pode ser um motivo para abandonarem o que lhes parecia uma boa ideia. O fundamental, para Portugal, é lembrarmo-nos de que não existem estudos, por isso estamos todos um pouco sem chão para actuar. Estamos no domínio especulativo.

 

Adoptando porém a perspectiva mais pessimista de serem os utilizadores de bicicleta os mais prejudicados pela poluição atmosférica, parece-me que continuam (contínuamos) a ser os papalvos: ajudamos à melhoria da qualidade do ar da cidade e do seu ambiente por não contríbuirmos nem com emissões, nem com ruído, nem com espaço ocupado mas somos os mais expostos a acidentes e a doenças.

Tiro ao lado (3)

TMC, 05.05.10

Um resumo bem mais simpático e apresentável do que fiz nas postas anteriores pode ser encontrado na Resolução do Conselho de Ministros nº 169/2005, vulgo Estratégia Nacional para a Energia. É também um recordar de todo o propósito deste blogue. Tem cinco anos mas já diz o seguinte:

 

Neste quadro, Portugal assumiu o compromisso de produzir, em 2010, 39% da sua electricidade final com origem em fontes renováveis de energia. Tendo tal valor sido já atingido pontualmente no passado, em anos húmidos, alcançá-lo no futuro tem-se revelado poder ser problemático, dado que a taxa de crescimento anual dos consumos de electricidade (5% a 6%, por ano, em média) tem superado a capacidade de incremento da produção baseada em fontes renováveis de energia, tanto mais que a variabilidade da hidraulicidade afecta seriamente esses resultados. O consumo da energia em Portugal tem mantido um crescimento elevado ao longo dos anos, em correspondência com o progresso económico e social verificado nas últimas décadas, mas também em resultado de uma elevada ineficiência energética induzida pelo crescimento dominante de consumos nos sectores doméstico, dos serviços e dos transportes, em contracorrente com a tendência verificada na generalidade dos Estados membros.

 

As mais altas taxas de crescimento dos consumos têm-se verificado, sobretudo, nos edifícios e nos transportes. Isto, por razões que se ligam directamente com o tipo de comportamento dos cidadãos, menos sujeitos à disciplina do mercado do que as empresas, bem como à ausência de políticas coerentes e consensuais sobre o ordenamento do território e a energia, em particular no que toca a medidas de controlo dos custos, de eficiência energética e de sustentação ambiental.Do mesmo modo, os transportes, cuja prevalência do privado face ao público tem sido condicionada pelas opções de ordenamento do território, constituem um enorme desafio à eficiência no planeamento e na gestão dos sistemas urbanos. Um melhor ordenamento de território bem como edifícios e transportes energeticamente eficientes deverão ser objectivos nacionais, que não podem deixar de ser também traduzidos a nível autárquico. Em suma, é necessário alterar hábitos e padrões de consumo, através de políticas que incentivem os cidadãos às melhores opções energéticas e ambientais, por via de instrumentos económicos adequados e do reforço do acesso à informação e à educação naqueles domínios.

 

 


 

Viva o Papa Bento XVI! Se não sou católico ou cristão, porque festejo? Porque quando no dia 11, pela manhã, o Papa iniciar a viagem entre o aeroporto de Lisboa e a Nunciatura Apostólica, na Rua Luís Bivar, cerca de uma centena de ruas da capital (aquelas por onde irá passar o papamóvel e todas as laterais) não terão um único carro estacionado. Um exercício para todos aqueles que acham impossível haver uma cidade com menos carros.

 


 

Outros parabéns, mas desta vez para o vereador da mobilidade da Câmara Municipal de Lisboa e para a EMEL. Estacionar no centro da cidade vai passar a custar o dobro e com duas horas como limite máximo de estacionamento. Uma óptima medida para alterar alguns hábitos nocivos. Claro que os comentários dos que confundem viajar com andar de carro não se fizeram esperar:

 

ISTO É UMA VERGONHA. NÃO HÁ ALTERNATIVAS DECENTES E MAIS UMA VEZ É IR DIRECTAMENTE AO BOLSO DAS PESSOAS. MAIS UM EXEMPLO DO QUE AO QUE CHEGOU ESTE PAÍS.


Ler também uma breve crónica de Francisco José Viegas sobre as alterações paisagísticas no Douro causadas pelo frenesim de alcatrão

Tiro ao lado (2)

TMC, 03.05.10

Por sugestão do leitor PJ, aqui seguem os gráficos das questões abordadas em baixo, seguidas de breves comentários. As fontes são, principalmente, a DGEG, via o Balanço Energético Anual, mas também o INE.

 

Parecia também estar mal explicado a diferença entre a fonte de um dado tipo de energia e o tipo de utilização final. Assim, por exemplo, a energia eléctrica que usamos pode derivar da queima de combustíveis fósseis (carvão, gás...) via centrais termoeléctricas mas também vir de barragens, ventoinhas ou até de biomassa. Assim, o petróleo que importamos e que é usado principalmente nos tranportes e na indústria, até ser convertido em combustíveis como a gasolina ou o gasóleo, tem de ser refinado e transportado. À energia disponível em bruto e ainda necessariamente sujeita a processos de transformação e transporte chamamos-lhe energia primária; à energia pronta a ser usada pelo utilizador sem estes custos chamamos-lhe energia final. É óbvio que esta tem de ser sempre inferior àquela.

 

O gráfico seguinte permite responder à dúvida do mesmo leitor:

 

 

Esta é a evolução dos consumos de energia final, em mega toneladas de petróleo equivalente; quando digo que o consumo de energia de petróleo é de 52,8% é de petróleo, não significa que o resto seja de energia eléctrica; de facto, há mais fontes de energia final, como o gás natural e a biomassa.

 

Os outros valores e relações de que falei estão nos gráficos seguintes. Espero que desta vez tornem tudo o que disse mais intelígivel:

 

 

1) repara-se na distância entre a linha verde e a linha vermelha! O debate actual sobre energia apenas respeita à altura da linha a verde.

2) veja-se a insistência, quanto a mim exagerada, na produção de electricidade de energias renováveis (linha a roxo) e da sua relativa insignificância quanto ao total

3) compare-se a semelhança de valores de energia eléctrica importada (linha azul) e de energia eléctrica produzida em Portugal a partir de fontes renováveis

 

 

1) parece haver uma contradição: porque é que até 2000 importávamos tanto petróleo (linha verde) (mais do que o total da energia final) e agora só importamos cerca de 90%? Bom, a razão não é que  nos tornámos mais parcimoniosos no consumo, embora a introdução de tecnologia tenha permitido mais eficiência em cada indústria. No caso dos transportes, o parque automóvel continuou sempre a crescer, embora cada veíclulo, por ser novo, exija menos combustível por km percorrido. Mas a razão principal deve-se à entrada do gás natural como substituição do petróleo nas termoeléctricas.

2) a roxo está a nossa dependência energética em termos de transportes rodoviários, em mercadorias e transportes de passageiros. Quase 40% e continua a aumentar!

3) a vermelho está a partição que é actualmente discutida no debate sobre energia na comunicação social apesar de...

4) ...a quantidade de energia eléctrica produzida domesticamente se ter mantido quase constante (linha azul escura)...

5) ...e a importação de energia eléctrica ter aumentado (linha azul clara)!

 

Tudo porque o consumo de energia eléctrica (linha vermelha) está a aumentar mais depressa do que a nossa capacidade de instalação de energias renováveis!

 

 

É por este gráfico que defendo que não vamos lá sem alterações de comportamento. Insistir em exclusivo nas soluções tecnológicas é fanatismo.

 

Comparados com os nívels de 1990, todos os consumos subiram. Todos menos o da produção de energia eléctrica, dadas as dificuldades de armazenamento e distribuição. Este aumento é previsível porque foi a partir de 1990 que, como todos sabemos, se deu o crescimento mais económico mais recente. Só que há vários tipos de aumento de consumo. Há uns que não são sustentáveis e que até são prejudiciais. É o caso. Produzíamos mais riqueza com a mesma quantidade de energia em 1990 do que agora. As linhas a azul (consumo de energia eléctrica) e a verde (procura de petróleo rodoviário) apenas assinalam a mudança estrutural que ocorreu. Temos agora uma economia de serviços, com muito mais urbanizações e que são exigentes em termos de energia eléctrica e em que a deslocação em automóvel particular é o paradigma.