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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

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Eu até me ria, se não fosse a sério

MC, 09.09.09

Acabo de ouvir Santana Lopes a prometer um novo túnel para Lisboa se for eleito. Quer ele ligar o fim da auto-estrada de Loures, vulgo Av. Padre Cruz, ao Campo Pequeno. Haveriam assim vários quilómetros consecutivos sem semáforos dentro da cidade.

Quando todas as cidades europeias fazem exactamente o oposto há várias décadas, cobrando portagens à entrada das cidades, restringindo a circulação de automóveis em várias zonas, acabando com todo o estacionamento gratuito, Santana quer uma auto-estrada até ao centro. Perdão, uma segunda, já que a primeira já ele a fez.

 


E porque nem tudo são más notícias, em Castelo Branco há várias vozes a pedir o fim do estacionamento no centro histórico, na RTP.

(obrigado Tiago)

Afinal o túnel do Marquês trouxe mais automóveis para a cidade

MC, 06.02.08
Já há dados sobre a circulação automóvel desde a abertura do buraco do Marquês. Ao contrário do que o mui nobre e brilhante ex-(e muito ex)-presidente da CML Santana Lopes nos prometia, o número de carros a circular naquela zona aumentou. Suponho que a teoria do ar estar agora mais limpo também tenha vindo por água abaixo. (Notícia do CM resumida n'Os Verdes em Lisboa)
Ou seja enterrámos 27 milhões de euros para aumentar o trânsito numa zona onde em 2006 os limites comunitários de poluição atmosférica foram ultrapassados em 180 dias ("Avenida" da Liberdade), quando o máximo são 35 dias.
Tenhamos coragem de enterrar agora o buraco, e acabar com aquele crime urbanístico.

"Túnel do Marquês é bom para Lisboa"

MC, 04.07.07
A primeira capa do último Expresso tinha um "Túnel do Marquês é bom para Lisboa" que remetia para um "Túnel do Marquês dá razão a Santana" no interior. Quem lesse apenas as letras gordas ficava convencido de tal título, mas com mais atenção é óbvio que isso não é assim. As novidades (que não são propriamente novidades, apenas confirmações das previsões dos críticos do túnel em termos de trânsito) podem ser resumidas a: mais fluidez ao longo do percurso do túnel, menos fluidez nas restantes vias e mais automóveis a entrar na cidade. Quando é consensual que Lisboa precisa de menos automóveis é curioso que estes dados sejam "bons para Lisboa".

Número chave: de 88 mil automóveis por dia a circular no Marquês, antes do túnel e antes das obras passámos para 102 mil por dia!

Curioso que o excerto com citações de técnicos e da polícia é remetido para o fim e contrasta com as citações dos populares que aparecem em destaque:

O túnel atrai trânsito e vias próximas do Marquês de Pombal têm trânsito como nunca tiveram. É o caso dos últimos dois quarteirões, no sentido ascendente, da Avenida da Liberdade. “Actualmente, ocorrem intensidades jamais observadas”, reconhece a Divisão de Tráfego. O recorde atinge os três mil veículos/hora, no período de ponta da tarde. Há várias leituras. E é junto de especialistas que se ouvem as primeiras críticas ou, então, avaliações menos encomiásticas. “O túnel gerou maiores engarrafamentos na Avenida da Liberdade, pois há menor capacidade de escoamento à superfície”, afirma Fernando Nunes da Silva, professor do Instituto Superior Técnico. “O mesmo acontece para quem desce a Fontes Pereira de Melo e pretende dirigir-se para a Baixa ou para o Largo do Rato”, acrescenta.
Vasco Colaço, consultor na área dos transportes, coloca o dedo na mesma ferida. “Quem perde é quem circula em Lisboa, pois a Fontes Pereira de Melo ficou estrangulada. Os tempos semafóricos foram muito alterados e isso nota-se. E hoje circula-se pior na Avenida da Liberdade, sobretudo no sentido ascendente”.

Pode também deprender-se dos destacados comentários dos populares que estes estão a comparar 2006 - quando havia obras que atrapalhavam toda a zona - com o trânsito hoje, o que é claramente uma comparação abusiva.

Resta ainda acrescentar que 2 meses em termos de tráfego é muito pouco para se poder tirar conclusões. Primeiro porque os dados são ainda pouco precisos. Segundo porque a adaptação ao fluxo de trânsito aquando da abertura de uma nova via demora muitos meses (basta pensar nas auto-estradas que quando abrem estão vazias durante meses), sendo que os primeiros meses são sempre marcados por uma fluidez melhor do que aquela que acontece em equilíbrio.

Ainda o túnel do Marquês de Pombal

MC, 25.05.07
  •  O Público escreve hoje (notícia não disponível online) que o trânsito tem estado muito congestionado em todas as avenidas próximas do túnel. Há quem responsabilize a falta de reajustamento dos sinais de trânsito (o que é plausível). Há quem diga que a Câmara está apenas a tentar maximizar a fluidez do trânsito saído do túnel para calar os críticos (também plausível). E há quem culpe as obras no Saldanha (um absurdo dado estas obras estarem em cursos há mais um ano). Eu avanço com uma teoria mais simples: o túnel traz mais trânsito que obviamente não pode ser escoado pelas vias subsequentes, entupindo toda aquela zona da cidade.
  • Santana Lopes volta a afirmar que o túnel reduz o número de automóveis na cidade: "Lisboa está muito melhor, (...) libertou-se espaço para os transportes públicos andarem mais depressa, que é o que as pessoas precisam para haver menos carros". Ai, ai...

O Buraco do Marquês

MC, 25.04.07
Foi hoje "inaugurado" (por apenas 3 horas) em Lisboa um dos maiores buracos em Portugal. Foi já há seis anos que Santana Lopes meteu na cabeça que iria prolongar o túnel das Amoreiras até ao Marquês de Pombal. Supõe-se que a ideia seria melhorar a fluidez do trânsito.
Mobilidade: Aqui começa o absurdo. Enquanto todo o mundo desenvolvido opta por dificultar a entrada de automóveis nos centros das cidades através de portagens urbanas, parquímetros, faixas e ruas exclusivas para transportes públicos, zonas sem trânsito, etc... Lisboa prolonga uma auto-estrada até ao centro da cidade. A partir de hoje é possível chegar à Avenida Fontes Pereira de Melo sem passar por um único semáforo. Se isto não é uma promoção do transporte individual, não sei o que será. Santana Lopes teve ainda o descaramento hipócrita de afirmar, aquando do início das obras, que ao apelar ao uso do transporte público - de modo a reduzir as óbvias complicações no trânsito durante as obras  - a Câmara estava a enviar um forte sinal aos cidadãos para que estes mudassem os seus hábitos deixando o automóvel em casa.
O estudo do tráfego foi também severamente criticado, entre outras coisas por usar contagens feitas num só dia.
Falta de Planeamento: A maioria dos lisboetas nunca se apercebeu que o concurso público foi lançado sem um plano concreto do buraco. Já as obras estavam a decorrer há largos meses e ainda se discutia se haveria saída na Av. Fontes Pereira de Melo, na Av. António Augusto Aguiar (não confundir com Joaquim António Aguiar onde começa o buraco) e para o parque de estacionamento.
Ambiente: Embora a necessidade de um estudo de impacto ambiental seja discutível (foi precisamente isso que levou o buraco a tribunal), neste caso seria fundamental devido às correntes de águas subterrâneas, tal como alertou Gonçalo Ribeiro Telles (que foi prontamente corrido da CML). Mas não é preciso ser especialista para perceber que a construção de um túnel que atravessa o vale de um lado ao outro vai ter um forte impacto na hidrologia do local e por consequência na estabilidade dos solos em toda a zona do Marquês.
Outro atentado ambiental foi o corte que foi necessário fazer a dezenas de árvores centenárias que havia no local.
Outros problemas ainda: ruído, destruição da paisagem urbana, poluição atmosférica.
Segurança: Há ainda a óbvia perigosidade de um túnel que tem o dobro da inclinação máxima recomendada. Em caso de acidente poderá haver um choque em cadeia, cujas vítimas dificilmente serão socorridas num curto espaço de tempo devido aos difíceis acessos. Vários bombeiros apontaram para várias falhas de segurança. Isto a somar à curta distância (poucas dezenas de centímetros) entre este túnel e o do Metro. A Câmara insiste que é um túnel seguro, teimosamente confundido vigilância apertada do funcionamento com segurança. Curiosamente a circulação foi proibida a pesados por motivos de segurança e a Câmara tem vindo a distribuir panfletos sobre os procedimentos em caso de acidente.
Oposição: Descontando o José Sá Fernandes, a oposição só soube tocar timidamente no ponto da segurança. Nunca se atreveu a questionar o impacto no ambiente e na mobilidade da cidade.
Os movimentos ambientalistas (Quercus, GAIA, PEV, Lisboa Verde, LPN, etc... ) ainda recolheram assinaturas para um referendo (não aprovado), organizaram uma manifestação, publicaram vários comunicados e tiveram várias reuniões, mas infelizmente o seu poder foi demasiado fraco.
Meios de Comunicação: Os jornalistas foram estranhamente servis. O expoente máximo terá sido há um mês quando se lia e dizia que o túnel tinha sido considerado um dos mais seguros da Europa. Só quem leu atentamente as notícias percebeu qual era a fonte: Santana Lopes, esse especialista em Engenharia Civil.
Ponto Alto da Imbecilidade: Na sua cega defesa do buraco Carmona Rodrigues tem insistido nos últimos dias que o ar dentro do buraco será menos poluído que cá fora. Será que foram instaladas condutas desde a Serra de Sintra?
Ler Mais: A ACA-M publicou um excelente comunicado (mais factual e técnico que este post e com vários links com mais informação) sobre o buraco.