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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

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Um dia de carro

MC, 05.03.12

O automóvel é sempre o ponto de comparação quando pensamos em mobilidade e cidades. O andar de automóvel é o status quo, a visão do automobilista é o padrão. Dá jeito andar de metro? Parte-se sempre do ponto de vista do automobilista para se responder.

Mas o que será um dia de trabalho feito de carro, do ponto de vista de quem faz da bicicleta e dos transportes o seu padrão? Há uns 7 anos que eu não usava o carro num dia de trabalho em Lisboa, e tive de o fazer há dias (carro emprestado, obrigações familiares).

A primeira coisa que chamou a atenção é o tamanho da coisa. O blog está cheio de problemas que isso causa às cidades, mas o transtorno é igualmente grande para quem anda nele. Ficar completamente imobilizado durante minutos numa fila de trânsito, é claustrofóbico para um ciclista. Numa rua estreita, quando há um carro que decide estacionar, há uns 10 que ficam imobilizados à espera. Impensável. Chegar a um semáforo vermelho, ver o verde a passar e o vermelho a cair, e ter de esperar outra vez porque nem todos conseguiram passar, é desesperante. E estacionar? De que serve chegar ao local 2 minutos antes, se demoramos um quarto de hora a desenvencilhar-nos da coisa e a voltar a pé até ao sítio onde realmente queríamos estar? Uma vez foram voltas e voltas aos quarteirões para estacionar bem longe. Noutra, um parque subterrâneo, onde havia de atravessar um labirinto de pilares para alcançar os lugares disponíveis, ter de andar a pedir trocos para ir para a fila para pagar. De bicicleta escolho um poste à porta do destino, em segundos ponho e tiro o cadeado. Simples. 

Uma coisa chocante foi a falta de respeito pelas regras, pondo os outros em perigo. Os primeiros segundos do vermelho contam como amarelo. Andar a 50km/h numa avenida de Lisboa é ver os outros a passar a alta velocidade, e sujeitar-nos a uma businadela. 
Por último, o egoísmo latente em todos os comportamentos. Nas caixas de um supermercado ninguém pára uma fila para falar ao telemóvel, mas estranhamente este comportamento é socialmente aceite quando um automobilista interrompe uma faixa de rodagem para ir ao Multibanco.

No global, a verdade é que os automobilistas subiram na minha consideração. Por muito calmo que seja, não sei se aguentaria tamanho stress dia sim, dia sim.

 

 

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O conselho para hoje, foi sugerido por um leitor há tempos: uma pequena reportagem da BBC sobre o comportamento dos condutores.

O carro é anti-social II

MC, 01.03.11

A agressividade que as pessoas ganham quando se sentam ao volante é um fenómeno que eu não consigo explicar. Há alguma coisa no automóvel que dá a ideia a quem o guia, que se é o senhor do mundo. A pessoa mais calma fora do volante, é capaz de coisas inimagináveis quando está atrás dele. Todos conhecemos histórias de condutores que se convertem em hooligans mesmo à frente dos filhos.

Isto é algo que as empresas de publicidade sabem bem, e o que não falta são anúncios onde há sempre algum espírito agressivo e competitivo implícito, algo que nunca se viria em publicidade a detergentes, bicicletas ou seguradoras. O próprio design de muitos automóveis é agressivo, há cada vez mais SUVs com aspeto de tanque de guerra.

Em Porto Alegre no Brasil, na Bicicletada/Massa Crítica de sexta-feira passada, houve um condutor (acompanhado do filho de 15 anos) que investiu contra os ciclistas, provocando vários feridos. A minha solidariedade para eles, e todos os ativistas de Porto Alegre. Na de Lisboa, vi carros a forçarem fisicamente a passagem quando a lei diz que não tẽm prioridade, um louco que acelerou aos zigue-zagues entre vários blocos de ciclistas dispersos, etc.

Há frequentemente cenas de pugilato entre condutores por pequenas e ridículas zangas no trânsito, há uns anos em Lisboa chegou a haver quem carregasse no gatilho e tenha assassinado o outro condutor.

Como escreveu um leitor num comentário antigo: alguém imagina dois peões ou dois ciclistas ao insulto ou à pancada, porque um passou à frente do outro?

 

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E algo completamente diferente para dar uma olhada, um relatório do Eurostat sobre as emissões de gases com efeito de estufa na Europa. Qual foi o sector que mais aumentou as emissões nos últimos 10 anos, contrariando a tendência de descida? Claro os transportes, dominados (83%) pelo automóvel.

Pequenos "efeitos colaterais" da ditadura do automóvel VIII

MC, 03.01.08
Stress.
Ansiedade.
O pára-arranca.
O gajo da frente que não arrancou logo.
O gajo que estacionou em segunda fila e agora não me deixa sair.
Estou parado há 10 minutos.
Demorei um quarto-de-hora a fazer meio quilómetro.
Vê por onde andas, seu #@€$§!
O vermelho que se prolonga e o verde que demora e é fugaz.
Tou atrasado!
Meto-me pela auto-estrada ou pelos becos?
Deixem passar a ambulância!
Anda mais depressa, c#$%&!!
Não vês que não dá para avançar?
Porra, não encontro lugar para estacionar.
Eh pá, agora não posso virar à esquerda.
Anda pá!

Stress mesmo para quem é peão, está dentro de casa ou a trabalhar, com aquela barulheira infernal que não deixa ninguém calmo.

Não admira que de vez em quando haja quem expluda.
Obrigado Tiago

Buzinão

MC, 18.01.07
Proibido buzinarUma das primeiras coisas que se nota mal se regressa a Portugal é a enorme barulheira das cidades. Não apenas pela quantidade de trânsito mas também pelo motor das motas alterado para assinalar a sua presença com 5 quarteirões de antecedência e principalmente pelo buzinar por-dá-cá-aquela-palha.
Em Portugal apita-se por tudo e por nada. Desde o "está verde há 1 segundo e ainda não te mexeste" ao mais simpático "passe, passe", passando pelo prolongado "estacionaste em 2ª fila e agora não consigo sair". O meu favorito vai para o automobilista numa interminável fila de trânsito, onde tudo está parado, que desata a buzinar incessantemente... até hoje ainda não percebi porquê.
Para lá do incómodo, stress e ansiedade causado a quem trabalha, estuda, dorme, descansa, circula etc... nessa rua que deveriam ser suficientes para pôr a mão na consciência - sou um sonhador! - dos condutores, buzinar também é proibido. Talvez seja óbvio mas duvido que as autoridades o saibam. Alguma vez viram um automobilista a ser autuado? Para que não fiquem dúvidas, cá fica a citação do código da estrada:

                                 Artigo 21.º
1 Os sinais sonoros devem ser breves.
2 Só é permitida a utilização de sinais sonoros:
  a)     Em caso de perigo iminente;
  b)     Fora das localidades, para prevenir um condutor da intenção de o
          ultrapassar e, bem assim, nas curvas, cruzamentos, entroncamentos e
          lombas de visibilidade reduzida.
7 Quem infringir o disposto nos n.ºs 1 e 2 é sancionado com coima de 60 a 300
  euros.