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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

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O carro é anti-social II

MC, 01.03.11

A agressividade que as pessoas ganham quando se sentam ao volante é um fenómeno que eu não consigo explicar. Há alguma coisa no automóvel que dá a ideia a quem o guia, que se é o senhor do mundo. A pessoa mais calma fora do volante, é capaz de coisas inimagináveis quando está atrás dele. Todos conhecemos histórias de condutores que se convertem em hooligans mesmo à frente dos filhos.

Isto é algo que as empresas de publicidade sabem bem, e o que não falta são anúncios onde há sempre algum espírito agressivo e competitivo implícito, algo que nunca se viria em publicidade a detergentes, bicicletas ou seguradoras. O próprio design de muitos automóveis é agressivo, há cada vez mais SUVs com aspeto de tanque de guerra.

Em Porto Alegre no Brasil, na Bicicletada/Massa Crítica de sexta-feira passada, houve um condutor (acompanhado do filho de 15 anos) que investiu contra os ciclistas, provocando vários feridos. A minha solidariedade para eles, e todos os ativistas de Porto Alegre. Na de Lisboa, vi carros a forçarem fisicamente a passagem quando a lei diz que não tẽm prioridade, um louco que acelerou aos zigue-zagues entre vários blocos de ciclistas dispersos, etc.

Há frequentemente cenas de pugilato entre condutores por pequenas e ridículas zangas no trânsito, há uns anos em Lisboa chegou a haver quem carregasse no gatilho e tenha assassinado o outro condutor.

Como escreveu um leitor num comentário antigo: alguém imagina dois peões ou dois ciclistas ao insulto ou à pancada, porque um passou à frente do outro?

 

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E algo completamente diferente para dar uma olhada, um relatório do Eurostat sobre as emissões de gases com efeito de estufa na Europa. Qual foi o sector que mais aumentou as emissões nos últimos 10 anos, contrariando a tendência de descida? Claro os transportes, dominados (83%) pelo automóvel.

O visível e o invisível

TMC, 13.12.10

Muitos dos nossos comportamentos são tão frequentes precisamente por estarmos na ignorância das condições que os possibilitam. É também a frequência dessas acções que as torna habituais e, por isso, inquestionáveis. Se soubéssemos a lógica que proporcionou o aparecimento de um certo produto e a lógica do desaparecimento desse mesmo produto, alguns dos nossos gestos quotidianos não pareceriam tão inocentes ou leves, sem quaisquer consequências. De outro modo, parece que um dado produto existe autonomamente, por si só, desligado do mundo que o rodeia.

 

Saber as condições de aparecimento e desaparecimento de um produto ou do gesto que adquire esse produto é conjugar o invisível no visível. Conhecer essas condições dá-nos mais liberdade de escolha e torna-nos mais conscientes das nossas acções.

 

Aplicando, com a preciosa ajuda do fotógrafo Edward Burtynsky, é ver que isto:

 

 

E isto:

 

 

Acarretam necessariamente isto: exploração, refinação e transporte do petróleo.

 

 

 

 

 

Desastre no golfo do México.

 

 

Cada civilização é lembrada pelas suas ruínas. As nossas poderão ser estas:

 

Hong Kong.

 

 

Los Angeles

 

 

As cidades tornaram-se no resuldato de um planeamento urbano que depende demasiado de um recurso finito.

 

Subúrbios de Las Vegas

 

 

Quando o petróleo acaba ou os automóveis chegam ao seu fim de vida, o que fica?

 

Baku

 

 

Sucatas.

 

 

 

 

Ver mais fotos de Edward Burtynsky aqui. Um filme sobre como seu trabalho documenta a alteração das paisagens está aqui.

O carro é anti-social I

MC, 13.11.10

O carro é um objecto altamente anti-social, por ser a principal causa de morte entre jovens, por transformar cidades em redes de auto-estradas sem vida, e por muito mais.

Para começar esta série de postas, nada melhor que o Donald Appleyard e o livro que publicou em 1981, o Livable Streets, um ano antes de ser assassinado por um carro. Este urbanista estudou várias ruas de São Fransico que se assemelhavam o mais possível, com uma excepção: a intensidade do trânsito. Os principais resultados resumem-se nestas duas figuras (clicar para ver em grande).

 

A figura de cima é uma rua com pouco trânsito, a de baixo com muito. Os pontos representam locais onde ele viu pessoas a falarem e as linhas representam conhecimentos na rua. Em cima as pessoas têm 3 amigos na rua e 6,3 conhecidos. Em baixo apenas 0,9 e 3,1.

Foi ainda perguntado aos habitantes qual era a sua zona de conforto, onde é que se sentiam em casa. Com pouco trânsito houve quem chegasse a responder a rua toda, com trânsito intenso alguns ficaram-se pela própria casa.

É claro que no segundo caso haverá mais casos de solidão, mais sentimento de insegurança tanto na rua como em casa, menos compreensão para com os vizinhos, mais crianças fechadas em casa, etc.

 

 

O StreetFilms tem como sempre um excelente vídeo sobre o trabalho de Donald Appleyard

 

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O blog CidadaniaLx fala-nos do "Largo do Carro Santo" na Baixa Pombalina.