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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

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Na primeira metade de 2018, as mortes de peões aumentaram 50%

MC, 14.05.19

Na primeira metade deste ano foram assassinadas 50 pessoas, pelo facto de andarem a pé.
Num mundo em que todos andássemos a pé, não haveria um único peão assassinado. Por muito "negligente" que seja um peão, ele nunca morreria se não houvesse alguém que tivesse escolhido andar de carro. Os automobilistas têm uma responsabilidade extra para com os outros, tal como médicos e enfermeiros têm.
Infelizmente o sentimento de impunidade é grande, e estes números continuarão a envergonhar-nos.

https://www.tsf.pt/sociedade/interior/mortes-de-peoes-aumentaram-50-nos-primeiros-seis-meses-do-ano-9900804.html

Caça à multa ou ao disparate? III

MC, 06.02.15

Acho que posso dar como dado adquirido que há mais aceleras cá, do que na Holanda, por exemplo. Assim, se as polícias dos dois países controlassem o mesmo número de automobilistas, a portuguesa iria certamente apanhar mais infrações.
Mas se o número de infrações fosse semelhante, teríamos de concluir que a polícia portuguesa é mais branda que a holandesa.

E se vos disser que não é semelhante, nem sequer é ligeiramente menor por cá, mas é 50 vezes menor apesar de ser ridiculamente fácil avistar um acelera em Portugal? Teríamos de concluir que a nossa polícia é, no mínimo, conivente com o excesso de velocidade. A verdade é que, de acordo com o relatório da ETSC (European Transport Safety Council), Portugal está em último lugar na Europa, em termos de número de aceleras multados por cada 1000 habitantes.

Screenshot from 2015-02-06 17:35:43.pngSim, o relatório já tem uns anos, mas infelizmente é o mais recente e estes números são difíceis de encontrar para todos os países para anos mais recentes. Mas desengane-se quem achar que muita coisa mudou desde então.  Tem havido de facto um aumento, mas muito tímido face a disparidade expressa acima. A semana passada saíram os dados de 2014. Subimos para as 25 multas por excesso de velocidade por mil habitantes.  Vergonhosamente pouco.

Enquanto as nossas cidades e estradas continuam a ser o faroeste rodoviário, a imprensa e o "senso-comum" continuam convencidos que há uma caça à multa...

(obrigado Miguel)

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O excesso de velocidade de uns, e a fiscalização ao incumprimento dos outros

MC, 24.10.14

Já todos sabíamos mas não havia muitos números que o provassem: ninguém leva a sério os limites de velocidade legais em Portugal. O Público conta-nos contudo de um estudo da Prevenção Rodoviária Portuguesa, que não deixa margens para dúvidas:

 

  • "na Avenida da República [Lisboa], a velocidade aumentou de 44 para 55 km/h e agora seis em cada dez automóveis circula acima do máximo legal"
  • "No Porto, a avenida Fernando Magalhães continua com 71% de veículos em excesso de velocidade"
  • "na A2, para o Algarve, [a média dos carros ligeiros] chega a 128 km/h. Quase dois terços dos condutores ultrapassa os limites."

Se estes números não fossem por si só chocantes, é importante lembrar que eles são medidos num dado instante. Sendo que até o campeão dos aceleras circulará dentros dos limites a certa altura do percurso, o inverso também se aplica: os poucos que naquele dado instante cumpriam a lei, muito provavelmente não a cumprirão um quilómetro à frente. Será por isso seguro afirmar que, ao longo das vias referidas, o número de automobilistas que ultrapassam a velocidade máxima estará mais perto dos 80% ou 90%. 

Isto atira mais achas para a fogueira para a discussão de quem desrespeita mais o código e causa mais perigo, se automobilistas, peões, etc. Mas toda esta conversa fica totalmente inquinada quando se quer comparar directamente actos de pessoas dentro de uma caixa metálica de 1,5 toneladas, com pessoas a pé, ou em cima de bicicletas de 15kg.

Vejamos, o serviço de prestar refeições em restaurantes ou cantinas, é altamente regulamentado. E bem. Há vários padrões de higiene a ser cumpridos por estar em causa a saúde dos outros. Se eu usar ovos estragados no meu restaurante, posso estar a atirar alguém para o hospital, devendo por isso ser condenado. Por outro lado, não há qualquer legislação sobre a higiene que devo ter em casa. O bom-senso é suficiente para eu não querer pôr em perigo a minha saúde e da minha família.

O respeito pelo código da estradas é muito semelhante à história dos ovos estragados. Os "descuidos" de um automobilista põe acima de tudo a integridade física dos outros em perigo, enquanto a única vítima do descuido de um peão/ciclista é principalmente ele próprio. Defender que haja mais controlo dos peões/ciclistas, é quase como defender que haja legislação para os ovos que eu uso em casa e que a ASAE deve controlar a minha cozinha. Claro que em alguns dos casos há outras vítimas (tal como pode haver um vizinho que possa provar às escondidas a comida estragada). E obviamente que se tratando de um espaço público, onde os fluxos se cruzam, o comportamento de cada um deve ser regulado. Contudo, no que toca à relevância da negligência de uns e outros para o bem comum, a situação é semelhante.

 

Para concluir, mais um números números elucidativos sobre o respeito dos automobilistas pelo código.

  • "num milhão de condutores são 25 mil a falar no telemóvel, só naquele momento"
  • "quatro em cada dez automobilistas (39%) não pararam no semáforo nos três segundos depois de passar a vermelho.

Distrações

MC, 25.02.13

Hoje de manhã, ao atravessar uma rua, por muito pouco não fui atropelado por um automobilista. Eu ia a pé e tinha verde, ele que virava tinha um amarelo intermitente... mas "distraiu-se". Nem pediu desculpa. Eu já contava com a "distração", mas se não contasse poderia ter ido desta para melhor. Por "distração" do automobilista.
Na situação inversa, se um peão "distraído" atravessar quando está verde para o automobilista, também é o peão que vai desta para melhor.


Não querer perceber esta assimetria, e pôr em pé de igualdade as "distrações" de uns e outros, é criminoso.


Repito aqui uma imagem antiga.Um peão, que apesar de ter verde, pára, olha para verificar que não vem nenhum automóvel, e só depois avança. Basta passar uns segundos num cruzamento para ver peões a ter este comportamento. Poderíamos passar anos no mesmo cruzamento, e não veríamos um automobilista perante um verde a parar, verificar que não vêm peões, e a avançar depois. Apontar o dedo à "distração" dos peões como causa de atropelamentos é criminoso.



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Vídeo recomendado de hoje,um vídeo do Passeio Livre sobre O automóvel sagrado e o estacionamento ilegal.




Manifestação nacional contra a sinistralidade dos modos suaves

MC, 18.01.13

Amanhã (sábado, 18) às 15h, vai decorrer em várias cidades do país uma manifestação contra a sinistralidade que afecta os peões e os ciclistas (modos suaves). É a maior iniciativa de sempre pelos modos suaves de transporte, não faltes!

 

* Lisboa, Terreiro do Paço

* Porto, Av. dos Aliados

* Faro, Jardim Manuel Bivar

* Guarda, Largo da Sé

* Barcelos, Largo da Porta Nova

* Coimbra, Praça da República

* Braga, Chafariz da Arcada

* Leiria, Praça Rodrigo Lobo

* Machico, Praça Forúm Machico

* Seia, Largo da Câmara Municipal

* V.N. Famalicão, Praça D. Maria II

* V. R. St. António, Praça Marquês de Pombal

* Tavira, Praça da República

* Póvoa do Varzim, Praça do Almada

* Aveiro,Praça do Peixe

* Setúbal, Praça do Bocage

* Peso da Régua, Parque Multiusos

* Beja, Praça da República

* Portalegre, Praça da República

* Figueira da Foz, Paços do Município

* Évora, Praça do Giraldo

* Guimarães, Largo do Toural

* Portimão, Largo Heleodoro Salgado

* Águeda, Praça do Município

* Vila Nova de Santo André, Praça da Concórdia

* Santarém, Largo do Seminário

* Estremoz, Edifício da Câmara Municipal



Existe diferença entre um 'acidente' de viação e um homicídio por negligência?

MC, 27.03.12

A palavra acidente já é, por si, uma escolha de mau gosto. O dicionário diz que é um "acontecimento casual ou inesperado", um "acaso". Dá a ideia de algo fora do nosso controlo, exclui à partida a existência de culpa, quando na realidade transportar uma caixa metálica de 2 toneladas, a 20 metros por segundo, no meio de uma povoação, é por definição uma atividade de enorme perigo.

Na verdade,  atropelar mortalmente um peão é um homicídio por negligência tal como um disparo mal-direcionado de uma arma, como ter um médico a não tomar atenção a todos os sintomas de um paciente, um educador de infância que deixa uma criança cair de uma janela. A única diferença é o homicida ter um volante na mão. Tal como em tantas outras coisas, um cidadão com um volante na mão não é igual a um cidadão sem.

A Scotland Yard lançou o repto na Inglaterra: vamos tratar uma morte na estrada como um homicídio por negligência. Esperemos que o debate se alastre pela Europa.

 

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Via bananalogic, recomendo hoje úma história de automobilistas que julgam ter mais direitos que os peões.

Requiem por uma pistola

TMC, 16.02.11

Quando estava a tirar a carta de condução, um dos meus professores disse o seguinte durante uma aula de código:

 

Vocês não estão a tirar uma licença de condução. Estão a tirar uma licença de porte de arma.

  

A brutalidade de um acidente de viação, visto ou vivido, lembra-nos o que o conforto da cabine do carro vai paulatinamente apagando: uma tonelada e meia a 50km/h ou mais tem efeitos mortíferos. A responsabilidade de um condutor perante a própria vida e a vida dos outros é enorme. Perante tanta publicidade automóvel na imprensa, nas rádios e nas televisões, deveria haver uma quota parte de prevenção rodoviária: metade a cada campo (ou, como já defendi, que se banisse a publicidade automóvel, como a do tabaco); os vendedores seduzem-nos para as curvas e velocidades; o estado alertar-nos-ia para o efeito da sinistralidade, e de forma violenta e chocante. Porque é essa a realidade: vidas acabadas subitamente e de forma absurda, cadeiras de rodas e mazelas emocionais que já não deixarão as vítimas e uma justiça complacente.

 

Não sei se é a própria língua portuguesa que contribui para o alheamento da responsabilidade dos condutores. Parece que por chamarmos acidente ao facto de um autómovel embater com outro ou com um peão tornamos a situação acidental. Se eu guiar um carro, posso controlar a probabilidade da ocorrência de acidentes através de uma condução defensiva. Devo ser incitado a fazê-lo e penalizado se não o fizer. Não há nada de acidental na ocorrência de um acidente se eu conduzir de maneira desleixada. Não há como desculpar o condutor porque ele controla, como ser humano com livre arbítrio, as probabilidades de ocorrência de acidentes violentos.

 

No actual estado de coisas, não é assim que acontece. Se quiserem matar alguém, usem um carro. Sairão ilesos. Mesmo que tenham guiado a 100km/h dentro de uma cidade. Mesmo que tenham vindo de uma festa. Mesmo que tenham morto duas pessoas inocentes.


Na quinta-feira, no centro social do Regueirão dos Anjos em Lisboa pelas 20h, haverá um jantar vegetariano com o apoio do GAIA, seguido de uma mostra de filmes sobre bicicletas e intervenções no espaço público.

 

 

E no Domingo pelas 15h (o cartaz diz 17h mas podem e devem aparecer antes) a ciclo-oficina de Lisboa muda-se para o mesmo espaço, onde estará abrigada do previsível mau tempo. É divulgar e aparecer para um serão ou uma tarde bem passadas!

 

 

32 meses de cadeia por homicídio ao volante

MC, 25.01.11

Um camionista português foi condenado a 32 meses de prisão por condução perigosa e subsequente acidente, homicídio de uma pessoa e ferimentos graves noutra. Pequeno detalhe da notícia, isto ocorreu no Reino Unido. Já há dois anos os media portugueses faziam uma cobertura sobre um outro condutor português que matou 6 no Reino Unido e que ia para a prisão, sempre com um tom de empatia para com o homicida.

Por cá, uma pessoa ao volante nunca tem culpa de nada aos olhos da sociedade e da Justiça. Por isso, boas notícias como esta só nos chegam de fora.

 

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Uma dica bem mais positiva para os lisboetas: a página Lisboa Ciclável da CM tem um mapa com vários postos de venda e reparação de bicicletas em Lisboa. Basta ir a Pesquisas (terceiro símbolo no canto superior esquerdo) e depois Venda e Reparações de Bicicletas.

Os carros devem ter mais deveres e menos direitos que os peões, explicado às crianças e ao Carlos Barbosa

MC, 21.01.11

Tentem perceber se há algo de estranho na seguinte fotografia:

Vemos uma mulher que abrandou o passo e verifica se os carros estão parados antes de atravessar o verde. Algo de estranho?

Talvez reformulando: apesar de estar verde a mulher, 1. abranda o passo, e 2. verifica se os carros estão parados. Em poucos minutos tirei várias fotos a peões com este comportamento, mas mesmo que tivesse passado um mês no cruzamento, não teria visto um único automobilista a abrandar perante um verde e a verificar se os peões estavam parados. Esta falta de cuidado do automobilista acontece mesmo sabendo que ele tem uma percepção muito pior do que se passa à sua volta - mesmo que abrandasse - em comparação com o peão mais apressado, porque pura e simplesmente o condutor vai a uma velocidade maior. Se alguém precisaria de abrandar para se inteirar da segurança, deveria ser ele e não o peão.

Mas por que é que o peão abranda e olha apesar do semáforo dizer que pode passar livremente (e nem se trata de um semáforo onde o verde dos peões pode coincidir com o amarelo intermitente dos automóveis!)? Porque o peão sabe que a sua vida está em jogo, sabe que um descuido da sua parte ou da parte dos outros o pode pôr tetraplégico. O automobilista está protegido por uma caixa de metal de duas toneladas, e não será sequer arranhado por um peão. É um desrespeito para com os milhares de peões assassinados afirmar que os peões não prestam atenção.

Esta fotografia prova sem a mínima dúvida que em média um peão está muito mais atento ao que se passa e que se comporta com muito mais cuidado do que quem tem a arma potencial nas mãos. Claro que se cometem erros, mas ambos os lados o fazem e nem todos são evitáveis. É exactamente por isso que quem leva a arma deve ser mais escrutinado.

É por o peão ter mais cuidado que campanhas de culpabilização do peão são patéticas, e que no Norte da Europa se atribui sempre a culpa à partida ao automobilista em caso de acidente, cabendo a este provar que tudo fez para evitar o acidente.

 

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Notícia via Lisboa Bike: Só um condutor perdeu a carta por excesso de infracções desde 2008

A Culpa Não Foi Minha: Culpa e Comportamento de Risco nas Estradas Portuguesas

TMC, 10.12.10

Sessão de apresentação do livro “A Culpa Não Foi Minha”: Culpa e Comportamento de Risco nas Estradas Portuguesas, de Maria João Martins

 

Apresentado por Rui Zink 

 

10 de Dezembro (6ª-feira) | 18h30m |Cooperativa Popular Cultural Barreirense | Barreiro

 
 
 


A ACA-M e a Câmara Municipal do Barreiro convida-o/a para a sessão de lançamento do seu novo livro "A Culpa Não Foi Minha" Culpa e Comportamento de Risco nas Estradas Portuguesas: Culpa e Comportamento de Risco nas Estradas Portuguesas, de Maria João Martins, apresentado por Rui Zink.

 

No início da sessão, será apresentado um conjunto de filmes sobre risco rodoviário.

 

O lançamento terá lugar no próximo dia 10 de Dezembro, às 18h30, na Cooperativa Popular Cultural Barreirense, junto aos Paços do Concelho, no Barreiro.

A autora do livro, Maria João Martins é Licenciada em Enfermagem e Mestre em Risco, Trauma e Sociedade pelo ISCTE. Desempenha a sua profissão no Centro Hospitalar de Setúbal - Hospital Ortopédico Sant'Iago do Outão e desenvolve investigação científica especialmente focada na área da Prevenção Rodoviária e Risco.

 

Este livro analisa percursos, percepções e argumentos de protagonistas de graves colisões, despistes e atropelamentos que aconteceram nas estradas portuguesas da actualidade.

 

Trata-se de um estudo em psicologia social que nos mostra que todos nós somos, ou podemos vir a ser, vítimas de um ambiente viário pervertido e de uma cultura desresponsabilizadora. Como uns e outros, vítimas e agressores, gerem a "culpa", seja ela efectivamente sentida ou imputada exteriormente, é o tema central e assumido do livro.

 

Mas nestas páginas desenvolve-se um argumento particularmente perturbador: a culpa existe? Ou melhor, ao concentrarmo-nos demasiadamente na busca persecutória do culposo, não estamos a pretender esconder o sol (da responsabilidade, e da co-responsabilização) com a peneira da atribuição de culpa?


Este livro é o primeiro da nova colecção "Risco Rodoviário" da ACA-M. Foi publicado com o apoio da Liberty Seguros.

O lançamento tem a colaboração da Câmara Municipal do Barreiro, da Cooperativa Cultural Popular Barreirense e do Bar Água e Sal, e conta ainda, para a apresentação dos filmes, com o apoio da Toyota Caetano Portugal e da CR&M - Formação Activa de Condução.