A Zara na rua, e a Salsa no shopping
Chegada à penosa altura dos saldos (penosa por ser a altura em que compro roupa), noto sempre uma escolha intrigante por parte das grandes cadeias de lojas de roupa. É raríssimo - nalguns casos mesmo impossível - encontrar uma loja de roupa de marca portuguesa (Salsa, Cheyenne, Sacoor, Throttleman, Quebramar, etc.) na rua. Parece haver alguma alergia a abrir lojas na cidade, onde as pessoas vivem, trabalham e passeiam, onde há vida. Contudo essas mesmas cadeias abundam nos shoppings.
Por outro lado não faltam as Zaras, Benettons, Springfields, etc. em zonas comerciais do centro de Lisboa.
Ou os estrangeiros estão a enterrar dinheiro porque lhes apetece, ou na cabeça dos empresários portugueses os consumidores que andam a pé e de transportes públicos, que vivem e dão vida à cidade, são uns pobretanas miseráveis. Um triste exemplo de como nós vemos as cidades e a mobilidade nelas?
Não me lembro das outras cidades portuguesas, mas duvido que seja diferente de Lisboa. Façam a experiência, por exemplo na Guerra Junqueiro. Uma avenida, que desde que foi condicionado o trânsito (bastou inverter o sentido do trânsito para reduzir fortemente a circulação, o barulho e a poluição), não tem parado de crescer como foco de comércio dito tradicional... Diz-se até que há lojas lá, que são as que mais vendem por m² dentro da sua cadeia.
Vão lá, espantem-se, e expliquem-me isto sff.
Para que fique nos anais da luta anti-automóvel na cidade, uma foto de uma pequena acção contra o buraco do marquês que ajudei a organizar em 2004:
(Entretanto, enquanto escrevia isto vi da minha janela, uma mulher que estacionou o carro em segunda fila, ninguém apitou - o caso seria bem diferente se fosse um peão a atrapalhar o trânsito por meros segundos, a mulher sai do carro para ir ver uma montra, e um polícia municipal que por coincidência passou, nem se incomodou.)