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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

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Boa notícia: 4 milhões para radares

MC, 17.11.11

Finalmente uma boa notícia vinda deste governo, um investimento de 4 milhões de euros em novos radares de controlo de velocidade.

Quando Portugal tem das maiores taxas de incumprimento do código da estrada na Europa, quando temos dos números mais baixos em termos de multas passadas, quando o Estado tem penalizado quem trabalha e quem produz - através dos impostos sobre o consumo e os rendimentos - porque não penalizar os comportamentos ilegais? Não percebo porque pode chocar  que o Estado triplique ou "ventuplique" as suas receitas em termos de multas, em vez de o fazer através do IVA e do IRS.

Será importante assegurar que as multas não sejam só passadas, mas também cobradas. Para tal bastaria que houvesse cruzamento de dados com outras cobranças e pagamentos do Estado. Tal como um clube de futebol não pode participar num campeonato se tiver dívidas em atraso, poder-se-ia reter a devolução do IRS/IVA a automobilistas com multas em atraso por exemplo.

 

 

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Para algo totalmente diferente, um apelo da Cicloficina semanal dos Anjos (Lisboa):

 

Radares

TMC, 20.04.10

 

Quando surgiram, os radares foram apelidados de, e cito de memória, um “atentado aos direitos dos condutores”, uma “caça à multa” e outros protestos quejandos, vindos de um grupo de pessoas que, não sendo automobilista profissional, pretendia fazer finca-pé dessa regalia de usar algumas ruas de Lisboa e Porto como pistas para os bólides. Uns protestaram porque achavam tudo muito natural, outros, mais temerários, até se atreveram a falar em ganhos ou perdas de tempo e até de produtividade. Enfim. Compreende-se este alarido. Para o curioso, não deixa de ser extremamente irónico haver um grupo de pessoas dispostas a perder tempo a defender os direitos dos automóveis. Mas não é assim tão simples.

 

Os resultados até são indesmentivelmente positivos. O efeito psicológico do número 50, envolto numa auréola vermelha lembra esse limite que, no velocímetro, está logo no princípio da escala. 50km/h. É esse, afinal, o limite previsto pelo código da estrada e que tem razão de ser: a partir dessa velocidade, um impacto entre peões e automóveis é quase uma garantia de morte certa para um deles e de pena suspensa ou ilibação para o outro. Há, assim, uma prevenção de segurança por precaução das velocidades praticadas; e os próprios números de sinistralidade, segundo a Polícia Municipal, têm diminuído.

 

Não deixa de parecer absurdo, porém, ao automobilista comum, que o seu bólide, marcando velocidades até, pelo menos, os 120km/h (o limite nas auto-estradas) tenha que se restringir a essa mísera meta de 50km/h nas cidades. Uma miséria. Não se compreende. Se o código da estrada apresenta limites de 50km/h para as localidades e de 120km/h para as auto-estradas – o percurso comum do automobilista comum que reside num subúrbio – porque teriam as empresas construtoras de automóveis construído motores que permitem ultrapassar esses limites sem dificuldades? Porque somos constantemente bombardeados com a potencial rapidez e robustez dos automóveis, escarrapachada de forma quase pornográfica em anúncios de rádio, televisão e revistas?

 

 

Estremunhado, na cama, é frequente ouvir da rádio um anúncio da Autoridade para a Segurança Rodoviária com gritos e música melancólica, logo seguido de outro apelando o leitor a comprar um carro e das respectivas características.

 

Mas os absurdos não acabam aqui e, para mim, nem são sequer os mais graves. Não sei qual dos fenómenos foi responsável pelo outro; desconfio até que sejam mutuamente originantes. Basta olhar para as estradas em que foram colocados os radares. São largas, desérticas, de pelo menos duas faixas em cada sentido, sem edificado e algumas até têm um ou outro peão, que se aventura num ambiente que não é o seu. São autênticas auto-estradas urbanas que rasgam a cidade. Perante este tipo de estrutura, como não acelerar para além de 50km/h?

 

 

Foram os urbanistas que também permitiram, através da forma dada à cidade, que os condutores tenham essa prática espontânea de acelerarem acima do limite legal. As estradas com radares são hoje elementos estranhos ao seu tecido e que foram construídas com o propósito de satisfazer os paradigmas de velocidade e poupança de tempo. Paradigmas falsos.

 

Medidas avulsas como os radares são bem-vindas mas devemos recordar-nos que são remendos possíveis no erro crasso de origem. Como alguém que tendo começado a construir a casa em areias movediças acha que tem de mudar a cor das paredes.

O carro vs o peão - o que interessa é o tamanho

MC, 12.08.09

Neste curioso artigo sobre a ditadura do automóvel em LIsboa escrito em 1926, sugerido aqui por um leitor, há um parágrafo interessante:

 

O transeunte não precisa andar descuidado para encontrar a morte sob as rodas dum automóvel. De resto é uma teoria errada e contraria a todos os princípios de colectivismo, defendidos sempre em todos os regimens, essa de que os peões, sendo maioria, é que devem andar preocupados com os veículos que estão ao serviço e comodidade duma minoria. Hoje não se pode atravessar certas ruas da cidade (...) sem se fazer um seguro de vida. (...)E actualmente é inegável que os automóveis constituem uma constante ameaça à vida da população. O publico não está educado, é certo; mas temos de afirmar mais uma vez que não é o publico que deve estar educado para os automóveis, mas sim os automóveis para o publico. Pelo próprio instincto de conservação, o publico defende-se e defender-se-há, sempre que o possa fazer, do perigo que o ameaçar; o mesmo, porem, não sucederá com os automóveis. . .

 

O primeiro sublinhado mostra como os argumentos mudam ao longo dos tempos. Há 80 anos, os peões é que tinham que se amanhar porque eram a maioria. Hoje o argumento  habitual diz que os peões é que têm que se amanhar porque são a minoria! (serão realmente?) Sejamos claros o que interessa é o tamanho, o peso e o status. Quando alguém está dentro de uma caixa metálica pesadíssima a grande velocidade, que lhe custou vários salários, esse alguém acha-se superior a quem caminha a pé. Depois embeleza-se a argumentação.

 

O segundo sublinhado é exactamente o que repito sempre. Se o peão se engana, quem morre é o peão. Mas se o automobilista se engana, quem morre é o peão. Qualquer regra de convivência tem que partir desta assimetria básica.

 


A ler: o número de infracções em Lisboa tem vindo a diminuir com os radares. Em dois anos baixou-se de 261.770 infracções por semestre para 55.081. Quem acha que a "caça à multa" - seja lá o que isso for - não altera comportamentos, tem aqui uma desilusão.

Fim da governação Carmona/Santana

MC, 17.05.07
Chegou entretanto ao fim o executivo camarário onde Santana e Carmona se foram alternando no poder. Ao longo destes 5 ou 6 anos pouco mudou na mobilidade de Lisboa, mas aqui deixo alguns pontos que me vêm à memória.
NEGATIVOS
  • Túnel do Marquês. Lisboa tem agora uma auto-estrada que acaba no centro da cidade, não podendo por isso haver maior convite à entrada de automóveis em Lisboa. Esta péssima decisão bate qualquer boa medida que a CML tenha adoptado a favor da mobilidade (excepto se tivesse introduzido portagens, o que contrariaria o convite ao transporte privado).
  • Bicicleta. Apesar de haver um aumento de lisboetas a deslocarem-se de bicicleta, esta foi totalmente negligenciada pela CML. Nem como complemento aos transportes públicos foi promovida (bastaria um parque de bicicletas à porta do Metro).
  • Remodelação da rede da Carris. Houve bairros que deixaram de ter cobertura a toda a hora, avenidas e ruas centrais onde a frequência dos autocarros foi significativamente reduzida, etc... (ver positivo)
  • Barreira na Avenida da  República. Poucos se lembraram disto, mas em plena cidade Lisboa, numa das suas principais avenidas, foram colocadas barreiras entre as faixas de rodagem. A desculpa foi a protecção dos peões que insistiam em atravessar a Avenida (mas que parvoíce! as avenidas não foram feitas para as pessoas atravessar!), mas ajudou à transformação da avenida na actual via-rápida.
  • Pouco. Descontando algumas melhorias no estacionamento (havia passeios que os peões não viam há décadas) fica a sensação de que muito pouco mudou em seis anos. E em seis anos pode-se fazer muito.

POSITIVOS
  • Fecho do Bairro Alto, Alfama e Sta Catarina ao trânsito de não-residentes. Os bairros tornaram-se mais calmos e agradáveis. Os residentes também estacionam agora mais facilmente. O caso do Bairro Alto foi um grande sucesso. Havia vários receios que o afastamento do automóvel reduziria o número de pessoas a frequentar o bairro, mas aconteceu exactamente o contrário, provando que até no país mais carro-dependente menos automóveis significa mais vida e mais pessoas.
  • Pilaretes. Foi mantida a política de colocação de pilaretes para melhor combater o estacionamento selvagem que impedia a circulação de peões (com especiais problemas para os deficientes, os idosos e os pais com carrinho de bebé).
  • Remodelação da rede da Carris. A rede que existia tinha sido desenhada há décadas, quando a cidade era completamente diferente. As pessoas, os empregos e o comércio deslocaram-se, a cidade cresceu, o metro cresceu, etc... (ver negativo)
  • Radares. Infelizmente ainda não operacionais devido a problemas legais, os radares serão um excelente dissuasor às perigosas velocidades praticadas em Lisboa. Em muitas cidades europeias leva-se multa acima dos 30, em Lisboa leva-se uma buzinadela abaixo dos 80.
  • EMEL. Reforço da actividade da EMEL que permitiu algum controlo do estacionamento selvagem, criando barreiras à entrada de veículos na cidade.
(Lista em aberto)