Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Uma foto, duas notícias e uma situação indescritível

MC, 08.02.11

1. Não é só na Murtosa (e na zona de Aveiro em geral) que se vêem bicicletas nas escolas. A fotografia abaixo foi tirada há poucos dias (ou seja numa dia de inverno) à porta de uma escola preparatória em Lisboa, junto da ciclovia do Campo Pequeno.

Uma foto assim era inimaginável em Lisboa ainda há poucos anos! Talvez um dia cheguemos ao nível holandês. (Obrigado Tomás)

 

2. O Público Ecosfera conta-nos que os níveis de poluição em Madrid têm ultrapassado perigosamente os limites máximos. As autoridades pediram aos automobilistas para deixar os carros em casa... e a queda de tráfego foi de 0,23%.

Ao menos ficamos a saber que não é só a Câmara de Faro que é ingénua no que toca ao altruísmo dos automobilistas.

 

3. O Público também nos conta como o car-sharing (rede de partilha de carros, não confundir com car-pooling,  várias pessoas no mesmo carro) não tem tido adeptos no Porto. Como diz o entrevistado "em Portugal, o veículo é a projecção de uma posição social, é uma questão de estatuto, e isso é uma barreira muito difícil de ultrapassar".

A vantagem do car-sharing, que é dirigido a quem quer carro para movimentações esporádicas, é reduzir-se o espaço necessário para estacionar tanto popó nas cidades, e mais importante ainda o desincentivo à compra de carro próprio (que levaria a maior utilização, mesmo que esporádica).

 

4. Em Braga, e descontando o magnífico centro histórico, o conceito de rua e avenida há muito deixou de fazer sentido. O Filipe d'o avesso do avesso fez-me chegar este caso. Na "Rua" do Caires, têm acontecido inúmeros atropelamentos graças ao perfil de auto-estrada que convida os automobilistas a excesso de velocidade.

O Bloco de Esquerda local felizmente propôs uma medida, que eu classificaria de muito tímida até, colocar lombas para reduzir a velocidade (petição aqui). O presidente da Junta local respondeu "não concordo de maneira alguma com as lombas de borracha. Se me pusessem lombas de borracha na minha rua arrancava-as. Porque fazem um barulho tremendo à noite e não deixam ninguém dormir". O presidente queixa-se ainda que os peões não respeitam os locais apropriados para atravessar...

E agora sentem-se antes de ver a próxima foto. Um dos tais locais apropriados para atravessar, numa rua normal e numa zona densamente povoada é o seguinte:


Será que esta coisa pode ser definida como uma cidade de pessoas?

A decorrer: semana demonstrativa do futuro automobilizado

MC, 07.02.11

Adoro greves dos transportes públicos.

E esta semana temos várias em Lisboa e Porto.

Sempre que alguém defender combustíveis mais baratos, mais lugares de estacionamento seja em parques ou em cima do passeio, mais auto-estradas e pontes dentro das cidades, imposto automóvel mais barato, apoios a carros elétricos, empresas de transportes numa lógica de lucro, que as bicicletas não atrapalhem os carros, etc. está a defender um modelo de cidade semelhante ao que os alfacinhas e os tripeiros vão vivenciar esta semana.

Lembrem-se disto!

 

.....................................................................................

A MUBi, a Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta, tem uma página totalmente renovada e está com nova energia. Inscrevam-se como sócios e inscrevam-se nos vários projectos!

"Arreda! Arreda!" versão 2010

MC, 16.09.10

Afonso de Bragança, duque do Porto, irmão do penúltimo rei português e um dos primeiros carro-dependentes portugueses, ficou conhecido como o Arreda graças ao seu modo de conduzir. Lançando o seu carro a altas velocidades pelo Porto, gritava incessantemente "arreda, arreda!" às pessoas que lhe apareciam no caminho.

Um século depois a monarquia morreu mas o arredismo ainda está bem no sangue de muitos. O lóbi do popó lança hoje uma campanha, ironicamente começando no Porto e com o vergonhoso apoio das Câmaras, da PSP e a ANSR,  que quer sensibilizar os peões a terem cuidado a atravessarem a rua. Não há uma única menção de sensibilização dos condutores (que em Portugal são mais protegidos do que no Norte da Europa no caso de atropelamentos).

Centrar a sensibilização e a repressão nas potenciais vítimas é exatamente o raciocínio que seguem os extremistas islâmicos que defendem o uso de véus  e burkas para que as mulheres não sejam violadas, como defendi aqui. De onde volto a repetir: se Portugal tem dos piores registos em termos de atropelamentos de crianças, e sendo que as crianças são inconscientes em qualquer parte do mundo, o nosso problema não está certamente no comportamento dos peões.

 

Adenda: excelente resposta da ACA-M, "não há memória de um peão ter atropelado um automóvel".

 

 


O túnel do Marquês, um dos símbolos da ditadura do automóvel em Lisboa, vai ser fechado ao trânsito motorizado durante a noite de 21 de Setembro. Para essa noite está marcada uma grande descida de bicicleta dentro do túnel. Aparece!

 

Seria difícil tornar a bicicleta no principal transporte nas nossas cidades?

MC, 06.09.10

Embora Lisboa e Porto sejam bem mais cicláveis do que o senso comum (ou seja de quem nunca experimentou) diz, seriam necessárias algumas adaptações para fazer com que a bicicleta fosse uma boa alternativa para, digamos, metade dos habitantes da Grande Lisboa e Grande Porto.

  • Para vencer as grandes distâncias típicas de uma grande cidade, seriam necessários metros, comboios e autocarros preparados para transportar bicicletas*.
  • Nas zonas com relevo difícil (Castelo em Lisboa, da Ribeira para a Baixa no Porto, etc.), deveria haver autocarros de alta frequência com o intuito de levar os ciclistas para o topo.
  • As empresas e escolas deveriam ter duches para quem fizesse grandes distâncias*.

Estas medidas podem parecer de difícil e cara aplicação, mas sê-lo-ão para quem nunca pensou nas condições necessárias para fazer do automóvel uma alternativa:

  • Auto-estradas e vias rápidas
  • Túneis
  • Viadutos
  • Passagens pedonais superiores, etc.
  • Sistema de semáforos, com grandes custos, e sinalização.
  • Sistemas de controlo de tráfego, com monitorização por câmaras de vigilância, computador Gerturdes, técnicos, etc.
  • Sistema de informação sobre o trânsito (rádio, tv, online)
  • Rede de parques de estacionamento subterrâneos
  • Rede de estacionamento à superfície e respectivo controlo
  • Forças policias de controlo
  • Estacionamentos nas empresas (compare-se este custo com o custo do duche!!)
  • Rede de garagens para reparação
  • Rede de centros de inspeção de automóveis
  • Escolas de condução
  • Sistema legal para cartas de condução, livretes, matrículas, etc.
  • Seguro automóvel e respetivo sistema legal
  • Rede de distribuição de combustíveis

Claro que isto tudo existiria com menos automóveis mas os custos são proporcionais à sua utilização.

Entre a primeira lista e a segunda, façam as vossas estimativas e pensem em qual será mais custosa e complicada de pôr em prática.

 

*Note-se que isto também se aplica às Mecas da bicicleta: Amesterdão e Copenhaga.

 


No artigo do Público deixado no último post, ficámos a saber que o José Soeiro não está só, já há outra deputada a ir de bicicleta para o Parlamento :)

Mais Soltas

MC, 01.09.10

1. Os transportes no Porto estão de parabéns! Perdi o link da notícia que já tem umas semanas, mas recordo-me do essencial: vão ser instalados painéis com o tempo real de chegada dos autocarros (como existem em Lisboa), mas nas estações do Metro! Isto é interoperacionalidade. Depois de ter um sistema de bilhetes comuns a todos os transportes públicos, é mais um bom exemplo que deveria ser seguido em Lisboa onde as empresas ainda se tratam umas às outras como concorrentes (no Porto felizmente não existe essa divisão administrativa).

 

2. Não é só Copenhaga que tem um Copenhagen Cycle Chic, Lisboa tem agora o seu Lisbon Cycle Chic!

 

3. Outra novidade para Lisboa... o Bycicle Repair Man! Assistência em viagem (ou ao domicílio) para bicicletas. É só ligar o 91 748 96 31. A deslocação até ao local custa apenas 4€, e o preço das reparações também é bastante baixo (desde 5€).

 

4. Depois do governo inglês mostrar algum incómodo com o tema do Peak Oil (altura a partir da qual a extração de petróleo começará a diminuir), um estudo (em inglês aqui) encomendado pelo exército alemão admite que este ponto já tenha chegado ou que ocorra em 2010. O relatório prevê que o comércio de petróleo se torne num importante factor das relações internacionais, com um aumento do poder político dos países produtores. Refer ainda um aumento brusco dos bens de consumo, a necessidade de racionamento, etc.

 

5. A EMEL (Lisboa) vai lançar um sistema de aluguer de bicicletas em alguns parques de estacionamento em Lisboa, para pegar depois de estacionar. Nem sei o que pensar. Gosto da ideia, mas estranho serem apenas 12 bicicletas, estarem localizadas mais numa lógica de lazer (junto ao rio) do que de transporte, serem lançadas agora quando a CML se prepara para lançar um sistema de bicicletas públicas em larga escala (ainda mais costas viradas entre serviços públicos em Lisboa?).

Duas cidades, duas medidas

TMC, 11.05.10

É sabido que Lisboa está a rebentar pelas costuras em termos da capacidade de absorver mais automóveis. Apesar disso, o presidente António Costa já veio exigir explicações ao governo para o adiamento da terceira travessia do Tejo, que envolve uma componente rodoviária. Quando a contestou, não foi por esta pressupor uma componente rodoviária, mas devido ao seu enquadramento paisagístico não ser o melhor. Um pouco como discutir, perante uma ameaça de fogo, se se deita gasolina ou gasóleo.

 

No dia em que quiserem encalacrar alguém do PCP ou d'Os Verdes sobre a mobilidade em Lisboa, basta recordar-lhes o contraditório da sua posição perante a nova ponte sobre o Tejo.

 

No Porto, por outro lado, a Câmara quer, com o objectivo de melhorar a mobilidade, aumentar  a eficiência de rebocamento de automóveis em 5000 viaturas. A medida foi aprovada com os votos contra do BE e PCP.

 

Uma lição sobre como fazer mais com menos.

"Ditadura do Automóvel" - a não perder amanhã ao vivo, em Lisboa e Porto

MC, 26.04.10

Devo ser das poucas pessoas que adora greves de transportes públicos, aqueles dias em que se demora horas para fazer poucos quilómetros, quando o ruído e a poluição são insuportáveis, quando as pessoas desesperam à beira de um ataque de nervos dentro do automóvel.

Adoro porque estes dias mostram, ao vivo e a cores, como seriam/serão as nossas cidades se não houvesse portagens, nem parquímetros e (ainda) mais estacionamento, se os combustíveis fossem (mais) baratos, se não houver investimentos nos transportes públicos, se os ciclistas e peões continuarem a ser desprezados pelas câmaras, se continuar a haver poucas faixas BUS e a todas as ruas continuarem abertas ao automóvel.

Todas as pessoas que defendem mais facilidades ao trânsito automóvel estão a defender cidades como aquela que amanhã os lisboetas e portuenses vão ver.

A não perder.

 

 


Saiu há poucos meses a primeira edição da Itinerante, uma revista portuguesa sobre turismo e passeios e pé. Aconselho vivamente porque já a li e porque, ao contrário do que o Instituto para a Conservação da Natureza julga, o melhor método para conhecer a natureza é a pé.

Os peões não respeitam as regras porque...

MC, 26.03.10

Uma multa de trânsito não serve como castigo, mas como método de disuasão de quem está prestes a quebrar uma regra. No caso dos peões, existe nas nossas cidades um método de disuasão extra fora do sistema legal que é bem mais penoso e daí mais eficaz: a eventualidade de atropelamento. Um automobilista diminui a sua velocidade se sabe que há uma probabilidade maior de apanhar uma multa em caso de excesso, e um peão não atravessa uma rua sem olhar porque sabe que há uma probabilidade muito grande de não chegar ao outro lado com vida. (É devido a esta assimetria que considero ridículo um reforço do policiamento dos peões).

Mas por que é que os peões desrespeitam as regras, colocando a vida em risco? Este blogue está cheio de exemplo de como os peões são pornograficamente desprezados no planeamento das. nossas cidades (os meus favoritos são este e este) e junto agora um outro interessante, do JN via blog do Nuno Gomes Lopes, porque compara o Porto com Oslo:

 

O especialista comparou a realidade portuense à da artéria pedonal Skippergata, em Oslo, na Noruega, e defende a adopção do exemplo norueguês (ler caixa). Nos dois locais, os peões são a maioria dos utentes do cruzamento (78% no Porto e 82% em Oslo). Em Santa Catarina, a espera ultrapassa os três minutos. Em Skippergata, quem anda a pé tem de aguardar 25 segundos. Constatou-se que 77% dos peões noruegueses só atravessaram o cruzamento com sinal verde. No Porto, sucede o inverso: 70% cruzam a rua com vermelho.

 

Andar a pé nas nossas cidade é desesperante e revoltante. O que me espanta são so 30% dos portuenses que passam com verde.

Vale a pena ler o artigo todo do JN.

 


Posta a ler no ecomovilidad.net: Muere más gente por contaminación [de poluição automóvel] que por accidentes de tráfico

 

 


Antídoto contra o bloqueamento de transportes públicos: crianças mascaradas

MC, 12.03.10

Mais um exemplo da absurda tolerância que existe para com o mau comportamento dos automobilistas. Por dia há em média um elétrico que fica sem circular no Porto devido ao estacionamento de automóveis. A STCP com o apoio de várias autoridades (incluindo a PSP) vai pôr 20 crianças fardadas de polícias a distribuir panfletos de sensibilização durante um dia!

Agora imagine-se o inverso. Dezenas (sim, porque um transporte público é um veículo que leva dezenas de pessoas) de automobilistas bloqueados diariamente por um autocarro mal estacionado, por miúdos que já não tendo onde jogar à bola o foram fazer para o meio da rua. Alguém acredita que isto seria tratado com crianças mascaradas a distribuir panfletos?

 


O Passeio Livre conta mais um caso desta tolerância, desta feita sobre a insignificância das multas de estacionamento.
 

Tram-trains

MC, 09.01.10

O tram-train é um comboio que é eléctrico (trem que é bonde em brasileiro) e um eléctrico que é comboio. É um veículo que está preparado para funcionar tanto a velocidades altas e poucas paragens como a velocidades baixas e muitas paragens. Muito mais importante ainda é  circularem nos dois sistemas diferentes, dentro e fora da cidade, que usam sistemas de alimentação eléctricos diferentes (voltagem, etc.). Pensem nos cabos que há nas linhas da CP e nos cabos dos eléctricos/trolleys citadinos e só daí perceberam a diferença.

O tram-train nasceu nos anos 80 em Karlsruhe, quando a cidade se apercebeu dum problema que estava a afastar muita gente dos transportes públicos: quem morava fora da cidade podia chegar facilmente à cidade de comboio, mas o comboio não os deixava onde queriam. Para a maioria era necessário mudar para o eléctrico (o que implica desconforto, mais uma espera, mais um horário a saber, mais incerteza no tempo de viagem, etc.) para chegarem ao destino final. A solução passaria por ter um comboio que vinha de longe e entraria pela cidade dentro (aqui fica a minha dedicatória a quem acha irrelevante o facto de as principais estações de Lisboa, Porto e Coimbra estarem longe do centro, porque "têm boas ligações"). Com um pouco de imaginação de engenheiro, o sistema híbrido foi criado e inaugurado em 1991. A solução foi um sucesso, tendo sido alargado a outras linhas de Karlsruhe e a várias cidades por todo o mundo.

 

Esta semana há notícias da chegada de um tram-train ao Porto, na linha da Póvoa. Não é exactamente um tram-train no verdadeiro sentido da palavra, mas um eléctrico que está preparado a atingir grandes velocidades (100km/h) quando circula nas linhas sub-urbanas. Tem ainda a capacidade de devolver à rede eléctrica a energia cinética (energia do movimento) quando trava, poupando assim até 30% do consumo.

 


A ler o artigo Do Cars Cause 100.000 US Deaths a Year no blog do Carbusters, onde se mostra que os homicidios ligados à sinistralidade automóvel são apenas uma parte do grave problema de saúde pública que é a ditadura automóvel.