Um carro estacionado no passeio, parcial ou totalmente, aponta, na ausência de lugares vagos, para uma escolha do condutor acerca de quem prefere ele incomodar; sendo o espaço disponível limitado, o condutor manifesta com esse comportamento que prefere invadir o espaço dos peões do que incomodar os colegas automobilistas, estacionando na própria rua onde circulava. Uma buzina e as típicas bocas dos enfurecidos do trânsito podem mais que os peões cabisbaixos e desgraçados que “andam por onde podem”.
Uma rua com estacionamento abusivo pode transformar-se numa rua com passeios agradáveis de duas maneiras. Através da dissuasão por acções fiscalizadoras das autoridades ou por pilaretes, por impossibilidade física. A Polícia Municipal de Lisboa, por exemplo, convive com situações crónicas de estacionamento abusivo em locais bem identificados; ou é incompetente, ou não tem agentes suficientes, ou pretende manter a situação favorável aos condutores. Esta última hipótesse é explicada por absurdo: se a Polícia Municipal tivesse uma acção profissional e banisse significativamente ou de vez o estacionamento abusivo, acabava-se o seu propósito e os seus efectivos teriam de ser reduzidos. Fiscalizando, multando e bloqueando esporadicamente, vai conseguindo injectar nos cofres da autarquia alguns milhares de euros. É do seu interesse manter o estacionamento abusivo. Só que não é do interesse dos peões que essa situação se mantenha, tal como não deve ser de qualquer autarquia ou freguesia.
Um Polícia Municipal da capital ganhará à volta de 900€ e fiscalizará o estacionamento de uma rua durante um mês; passado esse mês, a situação, aos poucos, voltará ao normal e os automobilistas continuarão a fazer o que sempre até aí tinham feito.
Um pedreiro ganha o ordenado mínimo mais o pagamento à hora e num dia consegue instalar 40 pilaretes (eu próprio perguntei). O preço de um pilarete varia muito, podendo ir desde os 30€ aos 150€, consoante a função e a estética pretendida. Num mês, um pedreiro conseguirá instalar mais ou menos 800 pilaretes; se a distância entre pilaretes for de 1,5m, um pedreiro conseguirá impedir permanentemente o acesso a cerca de 530m de passeio.
A EMEL de Lisboa é bastante mais eficiente que a PM e funciona na mesma lógica; a sua fonte de lucro são as infracções dos condutores, pelo que não lhe interessa acabar completamente com essas infracções. Só que a EMEL administra e gere também parques de estacionamento, frequentemente vazios, pelo que conseguiria justificar a sua existência se endurecesse a sua fiscalização.
Acabe-se com a Polícia Municipal e invista-se o dinheiro nas freguesias que deverão contratar empresas que instalem pilaretes. Os peões agradecem. Outra questão que ignoro é se será legal associações de moradores comprarem elas próprias os seus pilaretes e resolverem a invasão dos seus passeios de vez.
Os automobilistas continuarão com falta de espaço para estacionar, claro; só que com a solução pilaretes instalada só poderão estacionar na própriar estrada, ao contrário do que costumam fazer. E nesse caso serão os outros automobilistas em trânsito a sentirem o seu espaço invadido, tal como deveria ser. O problema gerado por condutores retorna ao respectivo domínio: deve ser resolvido pelos condutores, e não pelos peões.
Nota: não quis defender que os pilaretes são uma solução universal para todas as situações de estacionamento abusivo. Em ruas estreitas não fazem sentido absolutamente nenhum:
![]()
Ver a situação desoladora do estacionamento na cidade de Coimbra; já antes o blogue A Nossa Terrinha tinha retratado a situação na Universidade de Coimbra; de certeza que assim serão património mundial da humanidade.