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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

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Para que servem mais sistemas de transportes públicos? Perguntem ao Christoph

MC, 03.08.09

Um amigo alemão não-chamado Christoph, que trabalha numa cidade e vive de 5a a 2a noutra cidade a 300km, explica assim porque não viaja de transportes públicos entre um local e o outro:

Eu tenho que mudar duas vezes de comboio e depois ainda apanhar um autocarro para chegar a casa. Eu bem preferia ir de comboio porque iria a ler, agora assim acaba por não dar jeito.

Reparem que ele não contabiliza as viagens de transportes públicos com o tempo de viagem ou o dinheiro gasto, mas o número de mudanças. Muitas páginas de planeamento de viagens em transportes público (comboios e/ou autocarros) referem para lá do tempo de viagem, o número de mudanças modais que temos de fazer. Todos que andamos de transportes públicos sabemos que este número é fundamental. É mais um horário a fixar, mais um horário a compatibilizar, maior a probabilidade de falhar uma ligação, mais um bilhete a comprar, mais um incómodo, mais um levantar, mais um caminhar, mais uma procura do próximo transporte, mais uma espera, mais uma procura de um lugar, etc. Só refiro o  Christoph, porque no caso dele não se trata de falta de frequência ou de pontualidade dos transportes que acontecem muitas vezes por cá. Ter que mudar é pura e simplesmente tão ou mais inconveniente como demorar mais meia-hora.

Mas nada disto é óbvio para muitos decisores políticos que raramente saem do seu automóvel com motorista. Só assim se explica absurdos como o comboiozinho do Isaltino em Oeiras; o facto das infra-estruturas do metro de Lisboa, o comboio na ponte e o metro da margem sul serem incompatíveis - o que signfica que o sistema à partida obriga a grande maioria das pessoas a apanhar 3 vezes um comboio e que tal nunca poderá ser mudado; a criação de um eléctrico de superfície na periferia de Lisboa independente dos outros sistemas já existentes; mas o pior de tudo são as localizações da estações de comboio. Lisboa, Coimbra, Santarém (inclusivé a nova estação a ser criada!), Leiria, etc. todas elas têm a principal estação bem longe do centro. Quem anda de motorista dificilmente consegue perceber o quão estúpido isto é.

 

Façam um exercício. No Google Maps, procurem a distância a pé entre "Lisboa" e "Gare do Oriente". São 7,5km! Agora tentem descobrir outra cidade onde a distância seja maior.

Madrid 1,4km

Barcelona 3,1km

Sevilha 2,4km

Valencia 0,3km

Roma 1,8km

Milão 2,9km

Turim 1,2km

Nápoles 2,6km

Amesterdão 0,8km

Bruxelas 0,2km

Lyon 2,2km

Boa sorte!

 


Duas frases brilhantes:

Earl Blumenauer, US Congress, "Let's have a moment of silence for every American stuck in traffic on their way to a health club to ride a stationary bicycle".

Santana Lopes: “eu também não quero governar para os carros, quero governar para as pessoas, mas são as pessoas que têm menos posses, que não têm outro forma de se deslocarem sem ser de carro, que precisam dele para levar os filhos às creches”

Mais alcatrão para Gaia

MC, 21.02.07
Labirinto de GaiaVila Nova de Gaia é dos concelhos que mais tem crescido nas últimas décadas em Portugal. É já o terceiro em termos de população, à frente até do concelho do Porto! Quem conhece bem Gaia sabe que (descontando a Avenida da República) é um dos melhores exemplos do que não fazer em termos de planeamento urbano. Blocos de prédio no meio do nada, zonas de prédio intercaladas por quintas abandonadas e terrenos baldios, rede viária totalmente caótica onde todos os percursos são feitos aos esses, onde a uns metros de rua larga seguem uns metros de rua estreitíssima, onde qualquer pessoa de fora precisa de um GPS para conseguir se movimentar. Aliás basta olhar para o mapa ao lado retirado do maps.google.com para o comprovar.
Claro que com este planeamento a maioria das pessoas é forçada a usar o transporte individual. Pior ainda, o caos torna quase impossível conceber uma boa rede de transportes públicos no futuro.
A Câmara anuncia hoje uma fuga para a frente: o investimento em mais vias-rápidas. Mais 9 milhões de euros para cortar ainda mais o caótico tecido urbano. Até quando?