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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

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Se o estacionamento não fosse subsidiado, cada americano conduziria menos 1500km por ano

MC, 27.07.17

Ter um lugar de estacionamento grátis (ou quase) nos sítios onde queremos ir, é um grande convite a optar pelo automóvel. As nossas escolhas seriam diferentes, se o estacionamento fosse cobrado ao mesmo preço que são as outras ocupações de espaço (seja público ou privado, exterior ou interior). Por exemplo, a propósito das alterações dos parquímetros em Lisboa, alguém contava a um jornalista que tinha deixado de andar de automóvel para não ter de pagar estacionamento.

O que aconteceria então? Um economista de transportes americano, fez a sua estimativa num relatório recente, tendo chegado à conclusão que os americanos conduziriam menos 500 mil milhões de km por ano! Isto são mais de 1500km por pessoa que deixariam de ser feitos se o automóvel não fosse subsidiado e pagasse um preço justo. As nossas cidades e ambiente seriam tão melhores.

Pagar 372 milhões pelo que é público

MC, 23.01.12

As esplanadas, os contentores, uma banca na rua, etc. são tudo exemplos de ocupação do espaço público que é paga por quem dela usufrui. Pagar pelo estacionamento de um automóvel no espaço público não é, assim, uma aberração como os carrocratas nos querem fazer crer, mas um pagamento justo pela privatização de algo público que é feito em tantas outras situações. É acima de tudo uma ferramenta indispensável para uma boa gestão do espaço público que é um bem escasso numa cidade. Se as esplanadas fossem gratuitas, todos os cafés e restaurantes ocupariam abusivamente o espaço à sua frente. Estacionamento pago garante que o espaço não seja ocupado ad aeternum por alguém, mas que haja rotação e possibilidade de todos o usarem.

Hoje descobri o valor de outra ocupação por algo público... o ar. Ou melhor, uma pequeníssima parte do espectro electromagnético (as frequências das emissões rádio), pela qual as três operadoras de telemóvel pagaram 372 milhões de euros! O ar é de todos, mas se o seu uso fosse gratuito, seria impossível ver televisão ou telefonar.

 

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E para nos lembrar a importância dum espaço público livre de automóvel, o A Nossa Terrinha compara algumas praças em localidades portugueses e espanholas.

Parquímetro: não se deve cobrar pelo que é de todos? O contra-exemplo do ar

MC, 18.04.10

Aqui defendi que o argumento usado contra os parquímetros, segundo o qual se trataria de uma fonte de receitas imoral por cobrar pelo que é público, não faz sentido porque a ocupação de um estacionamento implica que o espaço deixa de ser público. O parquímetro é a cobrança pública pela privatização do que é público. Dei ainda o exemplo de outras cobranças por ocupações na cidade, que chegam a 150€/m2 por mês.

Outro exemplo deste tipo de cobrança é o próprio ar, falando do espectro electro-magnético onde passeiam as ondas rádio. Quando uma rádio emite em 100,0 MHz ou quando o meu telemóvel emite em 900MHz, mais ninguém pode usar essa frequência (nem as vizinhas) sob pena de nenhum dos sinais fazer sentido. Tal como o espaço para estacionamento, o espectro electro-magnético é público mas é limitado. O uso do ar tem assim de ser altamente regulado. As rádios têm que se candidatar e pagar por uma frequência, as operadoras de telemóvel pagam milhares de milhões pelo ar (os Magalhães são pagos pelos parquímetros do ar), etc. restando apenas uma pequena banda que pode ser usado por todos - e mesmo para esta é necessário ter um certificado.

Entre regular os estacionamentos de um modo tão centralizado como as ondas rádio, ou disponibilizá-los para todos em troca de um pagamento, eu prefiro claramente a segunda.

 


Bem a propósito, recomendo um excelente texto de Adriano António Pinto de Sousa na Transportes em Revista, intitulado O estacionamento tarifado - É preciso explicar!

Separadores dos sentidos de trânsito no passeio?

MC, 20.07.09

No CidadaniaLx pus a seguinte foto (tirada num bairro residencial central de Lisboa) e pedi ajuda para perceber o que seriam os pedaços de metal colocados no passeio. Ainda pensei que fosse um modo de sinalizar aos peões que só deveriam caminhar na parte de dentro do passeio, para deixar o espaço para estacionamento livre, mas houve uma sugestão melhor dos leitores, a que está no título.

Julgo que a "coisa" é bastante recente, e isso explica porque é que os carros ainda não aproveitaram mais este espaçozinho roubado ao peão.

 


Ainda a propósito do baixo preço dos parquímetros em Lisboa, uma estatística sobre o preço diário de um parquímetro em várias cidades do mundo, via Cantos de Lisboa.

Lisboa custa entre 12$ e 21$ consoante a frequência em que se mete a moedinha. Basicamente com um preço semelhante a São Paulo e mais barato que Moscovo. Países onde os salários são mais baixos que os portugueses.

Os parquímetros são caros?!

MC, 14.07.09

Nesta posta mostrei que em Lisboa o automóvel tem preços de desconto na ocupação do espaço público, comparado com outras ocupações. Nesta outra tinha referido que os parquímetros no centro de Amesterdão era ligeiramente mais caros que os portugueses: 4.80€. Depois de um rico, agora um exemplo de um país mais pobre, o Chile.

330 pesos por meia hora que por acaso correspondem ao preço de Lisboa, 0,40€. Mas primeiro, trata-se de uma foto de uma pequena cidade chilena, e não da capital. Segundo, o preço de uma refeição completa equivale a 2h ou 2h30 de parquímetro. Em Lisboa, não há tascas a fazer refeições por 1,80€. Terceiro, se compararmos com o PIB per capita (nominal) o parquímetro chileno é 2,5 vezes mais caro.

O preço ridiculamente baixo praticado por cá, e a quantidade de protesto contra o seu suposto exagero, apenas provam o quão o espaço urbano em Portugal é escravizado pelo automóvel.

Pessoalmente já ficaria contente se o sistema funcionasse com os preços actuais...

 


A ler: nem de propósito Eurico Cordeiro queixa-se no LXsustentável de como a vida na cidade foi destruida graças ao automóvel ao longo das últimas décadas.

Pagar pelo que é público? Parquímetros e portagens...

MC, 04.05.09

Há muitas razões pelas quais eu compreendo que se possa discordar dos parquímetros e das portagens urbanas, mas há uma que é constantemente repetida que eu não entendo. Os parquímetros/portagens são vistos com uma taxa que temos que pagar para usufruir de algo que deveria pertencer a todos, uma mercantilização de algo que não pertence a quem colhe os lucros.

 

1. Há aqui uma falácia neste raciocínio. Eu quando respiro o ar, não estou a impedir ninguém de o fazer também. Quando eu ocupo o espaço público ele deixa de ser público e passa a ser exclusivamente meu, mais ninguém o pode usar. O estacionamento na via pública é uma privatização do espaço público.

 

2. Ao contrário de outras "mercantilizações", o lucro destes pagamentos não reverte para um privado, mas para todos. São lucros públicos da privatizção do que é público.

 

3. O espaço público é pago (e bem) em milhentas situações. Um contentor de entulho (esse sim, não tem a possibilidade de ser colocado a umas centenas de metros mais longe) paga 7,83€ por m² por mês em Lisboa. Um lugar de estacionamento tem sensivelmente 10m², ou seja pagaria 78,3€ por mês. Um quiosque paga 22,8€ e uma esplanada aberta entre 19€ e 22€ - 190€ a 220€ para os 10m². Mas uma melhor comparação com um carro estacionado (em termos de impacto visual e qualidade do ambiente urbano) será uma esplanada fechada, e mesmo esta pode ser disfrutada por todos e não monopolizada por quem nem se encontra no local! Ela paga 136€ a 156€ por mês, 1360€ a 1560€ para o espaço do carro. Nunca ouvi ninguém a revoltar-se contra a existência destas taxas.

 

Independentemente destes pontos, o pagamento pelo uso do espaço urbano é uma excelente ferramenta na gestão da mobilidade urbana, que não tem alternativas à altura (assumindo que não queremos acabar com a possibilidade da sua ocupação).

 


A ler: podemos ser lisboetas de fernanda câncio no jugular.

A atitude imperial dos detentores de automóvel, que reagem com selvajaria a qualquer acção que encarem como limitadora dos seus “direitos naturais”, foi notória na recente limitação do tráfego na zona da Baixa, devido às obras na Praça do Comércio, e promete ser ainda mais retumbante quando se efectivar a prometida limitação permanente do trânsito nessa zona. O Automóvel Club de Portugal até já prometeu acções em tribunal para combater a restrição...

Parquímetros de borla

MC, 19.02.08

Parquímetro no centro de Amesterdão

Em Amesterdão o parquímetro custa 4,80€ por hora, em Lisboa 0,75€ nas zonas mais caras.Tendo em conta o PIB per capita da duas regiões, isto equivaleria a 2,60€ em Lisboa. DOIS EUROS E SESSENTA! Já para não falar da baixíssima probabilidade de se ser multado e da baixíssima multa que acontece em Lisboa.
Isto sim é um verdadeiro incentivo ao transporte público. Sem desentupir as ruas de congestionamento, estacionamento abusivo e mesmo estacionamento regular à superfície, dificilmente pode haver uma boa rede de transportes públicos.

P.S. No Courrier Internacional deste mês ficamos a saber que em Seelow, Alemanha, as autoridades esvaziam os pneus aos automóveis com multas atrasadas. E em Frankfurt, nos casos mais extremos, os carros são leiloados. Por cá, o popó é intocável em todas as situações.

A necessidade de parquímetros explicada a crianças

MC, 14.01.08
Mais um filme da StreetFilms que dá outro argumento para a existência de parquímetros nas cidades, neste caso o argumento da necessidade de haver uma grande rotação dos lugares de estacionamento para que não haja ainda mais congestionamento (e ruído e poluição) causado pelos carros à procura de estacionamento. Por sua vez isto ajuda as cargas e descargas e a acabar com segundas filas. E como todos os que andam de autocarro na cidade sabem, esta é também a principal razão pela qual o serviço não é melhor.
A receita é simples: um pequeno custo para poucos que traz ganhos a muitos... (mas como em tudo ligado à ditadura do automóvel o egoísmo impera o que não torna as coisas nada fáceis).

De São Francisco chega uma ideia relacionada bem engenhosa através do Carectomy (um engraçado título para um blog, que em português seria algo como carroctomia ou seja a remoção cirúrgica do automóvel): colocar os preços do estacionamento à superfície mais elevados do que os dos parques subterrâneos. Assim o primeiro reflexo dos automobilistas é estacionar nos parques, em vez de andar às voltas à procura de um lugar.

Ainda ligado a este problema, julgo ter sido esta razão pela qual se acabou em Lisboa com o estacionamento à superfície na Avenida Fontes Pereira de Melo: a enorme quantidade de carros que ou andava devagar ou fazia manobras para estacionar só atrapalhavam ainda mais os transportes públicos. Agora é só aumentar os anémicos passeios - onde eles ainda existem - e espalhar a ideia pelo resto das avenidas.

Adenda: (19 de Janeiro) Nem de propósito, numa conferência ontem no Porto foi dito exactamente o mesmo que aqui escrevi. 40% ou 50% do trânsito no centro das cidades é de condutores á procura de lugar para estacionar, e a melhor forma para resolver isto é aumentar os preços de estacionamento na rua ou pura e simplesmente acabar com o estacionamento.

O estacionamento da cidade tem que ser pago

MC, 03.10.07
O Blogue Speakers Corner Liberal Social tem um excelente post sobre uma ideia que já defendi aqui várias vezes: o estacionamento nas cidades tem que ser pago. Aqui ficam alguns excertos:

Criar parques para estacionar tem custos, mesmo quando feito por entidades privadas, como centros comerciais. Esses custos (...) são passados indirectamente para todos os utilizadores das áreas comerciais, via preços superiores nos bens que adquirem.

(...)

Para piorar a situação, estacionamento de superfície a mais nas nossas cidades, mata efectivamente as cidades e o ambiente urbano. Eu diria, que o estacionamento de superfície é precisamente um dos factores que está a matar o nosso comércio "tradicional". As pessoas gostam de passear em sítio calmos e arranjados, com passeios largos, não em passeios apertados, que foram cortados de boa parte da sua largura, para criar lugares de estacionamento extra. Ou seja, rouba-se espaço de circulação às pessoas, para criar espaço para colocar carros, em que cada espaço de estacionamento ocupa o espaço de circulação de muitas pessoas.

Mas, é necessário espaço de estacionamento, dizem vocês?

Eu respondo, sim, é preciso, mas, quem o deseje deve pagar por ele. Em vez de EMEL e companhia, deveriam leiloar-se os estacionamentos de superfície, que deveriam ser reduzidos em número, a concessionários que explorariam os mesmos aos preços que entendessem (...) O cidadão que não usa automóvel não tem nada que andar a subsidiar a utilização do automóvel por outros. Obviamente, também deveriam ser criadas alternativas em silos e em garagens, para criar estacionamento adicional, mas, tudo pago ao preço justo, ou seja, ao valor necessário para cobrir os investimentos feitos por privados nessas infraestruturas.

Então e nas periferias junto às interfaces de transportes públicos, o parqueamento não deveria ser gratuito? Não. Mais uma vez, por cada lugar de estacionamento gratuito junto a uma estação de comboio, isso significa que algum inocente, que vai de bicicleta para a estação, tem que pagar mais uns cêntimos pelo bilhete, para cobrir o custo do indivíduo que optou por levar a sua viatura para a estação (ou então, pior ainda, todos temos que pagar mais impostos para subsidiar o investimento do Estado em estacionamento gratuito).

(...)

O estacionamento gratuito é uma medida extremamente anti-ecológica que promove o desperdício e a irracionalidade ao nível do transporte e da compra de habitação. Pior, o estacionamento gratuito é uma injustiça para com os cidadãos que não usam automóvel, onerando-os injustamente com custos que deveriam ser imputados apenas aos que usam automóvel. No fundo, o estacionamento gratuito, não passa de mais um imposto injusto.