Motas 125cc & bicicletas
O PCP é um partido estranho no que toca às questões da mobilidade na sua ligação ao ambiente.
O primeiro apecto respeita à maneira dupla com tem dois discursos para agradar a diferentes eleitorados; a posição acerca das questões de mobilidade ligadas ao ambiente são relegadas ao apêndice chamado "Os Verdes"; não quero minorar as posições deste partido, porque, por exemplo, no que toca às barragens e à defesa da linha do Tua, a deputada Heloísa Apolónio tem posto o dedo na ferida. Já o PCP, por outro lado, é a favor da componente rodoviária na Terceira Travessia do Tejo (felizmente suspensa) e contra o uso das bicicletas em Lisboa. Na prática, os eleitores poderão votar nas mesmas pessoas, mas possivelmente atraídos por discursos antagónicos.
Noutro aspecto, tenho algumas dúvidas acerca da sua eficácia e pontaria. Isto deve-se à promoção do uso das motas 125cc. É da autoria do PCP um projecto de lei que permitu a abrangência da carta de condução normal para a condução de motas 125cc. Uma mota é um veículo poluidor e possivelmente ruidoso, concordemos. Se a compararmos com a bicicleta, não apresenta tantas vantagens; por outro lado, gasta menos combustível e ocupa menos espaço público do que um automóvel.
Quanto ao alcance da medida em termos de mobilidade sustentável, é necessário fazer a pergunta: é desejável a promoção do uso das motas 125cc?
Não tenho uma posição firme sobre isto porque não tenho acesso a dados. Mas para mim é uma medida que faz muito mais por haver menos carros em circulação do que a promoção da bicicleta nos termos actuais. Hoje em dia, penso que é mais provável a quem adoptar a bicicleta como meio de transporte abandonar o uso de transportes públicos do que abandonar o uso do carro; pelo contrário, quem adopte uma moto 125cc parece-me mais facilmente abandonar o uso do automóvel.
Isto concerna ao fluxo das escolhas de mobilidade. Não é por haver mais bicicletas em circulação que haverão menos carros em circulação; para os utilizadores de bicicleta, o abandono pode, e muitas vezes será, do uso de transportes públicos.
Isto não é razão para preterir a promoção da bicicleta. Pelo contrário, deve-se criar mais condições para que a sua adopção provenha de indivíduos que normalmente usam o automóvel.