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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Vinte anos do primeiro dia sem carros

MC, 22.09.20

Há exatamente vinte anos Aveiro, Évora, Leiria, Lisboa e Porto fecharam o seu centro ao trânsito de automóveis privados, no primeiro grande Dia Europeu Sem Carros por cá. Quando digo centro, não falo em duas ruas e uma praça. Em Lisboa foi um área enorme (a leste da Av Ceuta e sul do Campo Pequeno) onde apenas os residentes podiam circular no sentido de saída. Lembro-me do Marquês cheirar a Parque Eduardo VII e não à tradicional fuligem que o caracteriza há mais de meio século.

Pensar que há vinte anos (vinte!) houve coragem para fazer isto deixa-me triste. Primeiro porque relativiza as pequenas coragens de hoje da devolução da cidade às pessoas; têm resultados mais importantes, certamente, mas duas décadas de consciencialização para o problema dever-nos-iam ter dado mais decisões disruptivas, não menos. Segundo, porque afinal as mudanças ainda são mais lentas do que poderíamos pensar. Sim, Amesterdão não fui humanizada de um dia para o outro, mas quem teria dito na altura que Aveiro, Évora, Leiria, Lisboa e Porto ainda teriam dado tão poucos passos até hoje?

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Percursos para velocidades de Fórmula Um no meio de Lisboa

MC, 25.07.20

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Ainda sobre o cruzamento de há dias; reparem nos raios de curvatura para o automóvel. Em vez de curvas apertadas - quase de ângulo reto - como mandam os manuais de segurança, o carro descreve curvas super suaves que convidam à velocidade, logo em cruzamento onde a visibilidade é pior.
Os atalhos a vermelho são especialmente absurdos.
1. são desnecessários, o carro poderia virar no cruzamento como é normal.
2. criam mais um semáforo para o peão, mais um local de conflito
Tudo para não empatar o popó

Peão, cidadão de terceira

MC, 23.07.20

https://pbs.twimg.com/media/EdisETbXsAEX3OM?format=jpg&name=small

Cruzamento da Av Eua com a Av Roma, dizem que é uma zona nobre e central de Lisboa. Um carro aqui *nunca* tem de esperar por mais que um semáforo para atravessar. Uma pessoa pode chegar a esperar por seis; por quatro passa sempre. Quem desenhou assim a cidade, está a dizer ao peão "o teu tempo é me indiferente comparado com o do carro", "és um cidadão de terceira", "se não quisesses esperar, que andasses de carro".

E as pessoas obedecem, fugindo dali!

Com as passadeiras são 8 travessias que um peão faz num único cruzamento. Isto funciona como uma barreira invisível, mas bem real, para as pessoas. Apesar do muito comércio e habitação da zona, vê-se um décimo do que haveria se a cidade fosse desenhada para as pessoas.

Isto é tão comum nas nossas cidades, e feito de tantas formas, que duvido que alguém que passe ali, repare nesta injustiça E se o houver, deve encolher os ombros e pensar que o carro como máxima prioridade é a ordem natural das coisas

Mais uma ciclovia pintada por ativistas em Lisboa

MC, 03.06.20

Na madrugada do Dia Mundial da Bicicleta, vários cicloativistas tentaram fazer aquilo que a CML já deveria ter feito há muito: uma melhor partilha da Av Roma entre automóveis e bicicletas.

Manifesto da intervenção:

Esta intervenção é uma iniciativa cidadã levada a cabo por um grupo de utilizadores de bicicleta, anónimos sem qualquer associação entre si ou com outras entidades, que tem por objectivo ligar as recém-realizadas ciclovias da Praça de Londres, Avenida Guerra Junqueiro e Avenida Manuel da Maia, à ciclovia com mais de 10 anos que liga a estação do Areeiro a Entrecampos, para assinalar o Dia Mundial da Bicicleta.

Esta acção é um sinal de encorajamento à Camara Municipal de Lisboa, para mostrar total apoio às “ciclovias pop-up” que têm sido feitas nas últimas semanas (sem ter sido, até ao momento, anunciado oficialmente um plano concreto de mobilidade para resposta à pandemia) e alertar para a necessidade de acelerar o muito que está por fazer.

É urgente implementar já todas as ciclovias que estavam planeadas para os próximos anos, e ampliar esse planeamento para que todas as zonas de Lisboa sejam servidas por ciclovia.

Ainda vivemos a Maior Pandemia do Século de uma Doença Respiratória, que estudos apontam ser seriamente agravada pela poluição atmosférica – que já era um grave problema para a saúde dos cidadãos antes da pandemia.

É hora de agir. Assim como no pós-terramoto de 1755 não se fez a reconstrução da cidade de Lisboa nos moldes da cidade medieval, depois do estado de emergência, a mobilidade dos cidadãos não pode voltar aos moldes pré-Covid-19.

Precisamos de mais ciclovias, a funcionar em rede interligadas entre si e ligadas aos principais acessos cicláveis dos concelhos limítrofes, que garantam a todos os que vivem, estudam e trabalham em Lisboa, ou visitam a cidade, possam deslocar-se de qualquer ponto da cidade a outro em qualquer horário, de forma rápida, confortável e acima de tudo segura.

Precisamos de uma rede de ciclovias que assegure a nossa segurança bem como dos nossos filhos, dos nossos netos. Queremos deslocar-nos de forma mais segura e queremos que sejam facultadas as condições para que ainda mais gente opte pela mobilidade suave, activa e limpa na nossa cidade.

É urgente reduzir drasticamente os veículos com motor a combustão do centro da cidade para diminuir a poluição atmosférica. É urgente reduzir a velocidade automóvel nas ruas e avenidas de Lisboa para 30km/h de forma a diminuir a poluição e a sinistralidade rodoviária dentro do concelho.

Sendo precisamente neste ano de 2020 a Capital Verde Europeia e a VeloCity em 2021, Lisboa tem a responsabilidade e a oportunidade de ser o farol para o futuro da mobilidade, não só do país, mas da Europa.

(* a solução correcta a implementar definitivamente seria uma ciclovia segregada em cada sentido em toda a extensão da avenida)


https://sites.google.com/view/ciclomanifesto/

Acalmia de Tráfego na Abade Faria em Lisboa

MC, 27.01.20
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Todas as ruas secundárias deveria começar e acabar como a Rua Abade Faria em Lisboa
1. É o carro que tem de galgar o passeio para circular, em vez de ser o peão a atravessar o alcatrão. É mais confortável para o peão, e obriga o carro a abrandar.
2. O piso no cruzamento é calçada e não alcatrão, transmitindo a ideia que aquele espaço é do peão e não do carro.
3. O percurso do carro antes do cruzamento é apertado, desacelarando o carro .
4. Nesses metros não há estacionamento, para que os peões sejam bem visíveis.
Muito bem Camara Municipal De Lisboa!
 
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Porquê pôr 500 carros à porta do metro, quando se pode pôr 1000 pessoas a viver à porta do metro?

MC, 22.10.19

Construction | Pragosa (Português)

Mesmo em frente ao metro da Ameixoeira, a CML decidiu construir um estacionamento com 15000m², para albergar 501 automóveis. A ideia é quem vem de fora, não entrar na cidade com o automóvel, mudando para o metro. Esqueçamos o facto do estacionamento ser fortissimamente subsidiado (os 50 cêntimos nem pagam o funcionamento do parque, quanto mais as obras e o valor do terreno).

Em vez de manter as pessoas longe do centro, e paga-las para virem de carro, não faria mais sentido dar a possibilidade das pessoas viverem em frente ao metro? Nesses 1,5 hectares poderiam viver 500 (usando a densidade média do centro de Lisboa) ou 1000 (com a densidade que existe no local) pessoas. E a CML nem precisaria de gastar dinheiro. Poderia oferecer o terreno a privados, em troca de rendas controladas, ou vendê-los pura e simplesmente (o valor de mercado andará nos 30 milhões).

Podem-me chamar demagógico, mas não há outra maneira de ver isto. Entre gastar dinheiro para atrair carros para a cidade, ou fazer dinheiro para ter pessoas a morar na cidade... a CML prefere a primeira. Quando é que vamos admitir que as câmaras se preocupam mais com os automóveis do que com as pessoas?

 

 

https://www.jf-santaclara.pt/single-post/2017/01/15/NOVO-PARQUE-DE-ESTACIONAMENTO-DISSUASOR

CML acha que é sua função construir um estacionamento por cada casa

MC, 10.10.18

Fernando Medina diz explicitamente que é obrigação da CML criar um lugar de estacionamento por cada casa em Lisboa, e que está a trabalhar nisso. Isto é a resposta que dá aos Deputados Municipais do LIVRE em Lisboa*, quando lhe perguntam se ele não vê a incoerência entre proclamar a importância de uma mobilidade sustentável, ao mesmo tempo que a CML gasta tantos recursos a criar milhares de estacionamentos.

Ter uma câmara a gastar recursos público em mais estacionamento é ERRADO, porque cria mais facilidades ao uso do automóvel. Quem dantes tinha dúvidas porque não sabia se encontrava lugar no regresso a casa/no seu destino, agora deixa de ter. Quem estava indeciso entre ter carro no centro da cidade, deixa de estar. Não admira que Zurique tenha proibido o aumento do estacionamento, tirando um lugar na rua, por cada estacionamento privado criado - nem se põe a hipótese de ser criado na rua. Tóquio só deixa as pessoas registarem um automóvel, se provarem que têm lugar para estacionar.

Ter uma câmara a gastar recursos público em mais estacionamento é INJUSTO, quando o espaço urbano é algo tão valioso e há outros usos tão mais deficitários. Num momento em que é impossível encontrar um quarto a menos de 300€ na cidade, a CML vai gastar recursos públicos para garantir que há um lugar de estacionamento (requer aproximadamente a mesma área que um quarto, curiosamente) para cada casa a 1€.

 

*ver comentários

Será Lisboa a cidade mais atafulhada de carros estacionados no mundo?

MC, 12.09.18

Será Lisboa a cidade mais atafulhada de carros estacionados no mundo?

Este post estava pendente há anos (!) e é também um pedido da vossa ajuda. Estava pendente porque não queria ser injusto mas tendo acabado de visitar quatro novos países, menos "desenvolvidos", fico cada vez mais convencido que não haverá no mundo uma grande cidade que dedique tanto do seu espaço público ao estacionamento automóvel como Lisboa, seja estacionamento legal ou ilegal. Aliás, conhecendo cinquenta países, sempre com atenção à mobilidade, não consigo claramente dar um exemplo pior.
Responder seriamente à pergunta implicaria anos a recolher dados, mas posso dar quatro razões (ver fotos) que me levam a pensar assim.

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1) Nunca vi ruas de 20m de largura, onde se conseguisse enfiar 4 filas de estacionamento automóvel (para lá de 2 vias de circulação), e Lisboa tem dezenas de exemplos assim.

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2) Nunca vi ruas estreitas, onde os passeios têm apenas meio metro, mas há espaço para estacionamento.

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3) Pequenos cruzamentos urbanos onde chegam a haver 4 carros impunemente estacionados em CADA esquina, pondo em perigo os peões e tapando a passadeira (quando existe).


4) É muito comum haver ruas e avenidas sem qualquer estacionamento à superfície no centro das cidades (tentem uma cidade ao calhas no google maps). Nos países mais "desenvolvidos" chegam a ser mais de metade. Em Lisboa conta-se pelos dedos das mãos, os casos assim.

Sei que Fernando Medina discorda - ainda há dois meses repetiu que um dos grandes problemas de Lisboa é a falta de estacionamento, e vocês conhecem algo pior?

Fernando Medina, olhe para o que esbanja antes de pedir aos outros

MC, 03.09.18

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Fernando Medina fez uma importantíssima e corajosa proposta este fim-de-semana. Defendeu uma enorme simplificação dos passes de transportes públicos em Lisboa, um para o centro da cidade e outro para a Grande Lisboa, combinada com uma forte redução dos preços através de financiamento do orçamento do Estado.
As redes sociais explodiram com a discussão sobre se fará sentido o resto do país apoiar ainda mais os transportes de Lisboa e Porto, mas ninguém - nem Medina - se lembrou da vaca sagrada. É que ainda há umas semanas o presidente da CML se orgulhava dos milhões que tem gasto a financiar estacionamento automóvel. Dizia ele que desde que tomou posse já criou 22 parques de estacionamento, mais 3000 lugares, com recursos públicos.
Faz sentido haver quartos por 500€/mês em Lisboa, e a CML usar os seus recursos públicos para garantir mais uns milhares de estacionamento a preço simbólico? Faz sentido Lisboa reclamar mais financiamento do resto do país para os seus transportes públicos, quando esbanja assim em automóveis?

 

E se todos quiséssemos lugar para estacionar?

MC, 22.08.18

 E se somarmos as deslocações a pé, comboio, bicicleta, mota e taxi dentro de Lisboa, imaginem o que sobraria.

Dados:
Carris transportou 140,6 milhões de passageiros em 2017.
http://www.carris.pt/pt/indicadores-de-atividade/
Metro transportou 161,5 milhões
https://www.metrolisboa.pt/.../mais-de-160-milhoes-de.../
Um parque de estacionamento consegue ter um automóvel por cada 26m² (contando com espaço para manobra, e as vias de ligação internas)
https://menos1carro.blogs.sapo.pt/164229.html

São 827 mil deslocações por dia, que precisariam de um lugar de estacionamento à chegada.