Fietsstraat é, traduzido à letra, uma rua de bicicletas. O conceito é mais uma das engenhosas soluções anti-automóvel que os engenheiros de transportes holandeses têm brindado o mundo, que podem ser resumidas no seguinte sinal:
(carros como convidados)
Sendo que as nossas cidades são planeadas para o automóvel, por muito que se tente contrariar esta tendência, a verdade é que mesmo nas Holandas, Alemanhas e Dinamarcas, as ruas são do carro e as bicicletas são toleradas. A ideia fundamental das fietsstraten é dar a volta a isto, é ter uma rua desenhada para bicicletas, onde a circulação de carros é tolerada:
Há muitas coisas que aconteceram na Carris nos últimos anos, das quais eu discordo frontalmente. A cobertura foi drasticamente reduzida (sob o eufemismo dos "reajustamentos locais" e "modernização da rede") sem que os recursos libertados tenham sido usados para aumentar a frequência das carreiras que se mantiveram; foram gastos recursos em projectos que, apesar de válidos, só fariam sentido se o serviço de base fosse aceitável, e que assim acabam por ser luxos como o mob CarSharing, a wi-fi nos autocarros, etc.; este blog foi vergonhosamente plagiado pelo Menos Um Carro, a Cópia (com o qual não temos qualquer ligação); etc. Contudo há que reconhecer que houve uma boa gestão da empresa, e que esta está hoje bem mais virada para os clientes do que há uns anos. Um bom exemplo é o serviço de SMS/e-mails que indicam em tempo real, o tempo de espera dos autocarros.
O presidente da Carris, Silva Rodrigues, é alguém que partilha a nossa visão sobre a mobilidade urbana: o automóvel tem de ser discriminado negativamente, e sem isso nem vale a pena falar em melhorias dos transportes públicos. É por isso que a sua nomeação para dirigir a nova empresa de transportes públicos de Lisboa (Carris e Metro vão finalmente ser fundidas, e bem) é uma boa notícia.
Recordo aqui algumas declarações de Silva Rodrigues:
"O congestionamento automóvel permanente penaliza gravemente a qualidade de vida e a competitividade da cidade"
A autarquia da capital, que "tem de assegurar transportes colectivos de qualidade" e deixar de planear a cidade para o automóvel.
Limitar, tornar mais caro e sobretudo fiscalizar o estacionamento são as medidas que a câmara deveria tomar (...) "O estacionamento não pode continuar a ser feito da forma que o fazemos em Lisboa, sem regras claras e sem uma política rigorosa" (...) "Aumentar o espaço de estacionamento na cidade é andar ao contrário do que deve ser feito. É relativamente fácil gerir esta variável e, se na AML não a gerimos adequadamente, então na cidade não a gerimos de todo: é só ver as segundas filas, os passeios cheios de carros, a falta de fiscalização e o sentimento de impunidade generalizado dos cidadãos"
"Dizem que querem uma cidade descongestionada e depois anunciam novos parques no centro da cidade. Qual a coerência deste modelo?"
Faixas BUS: "Se estiver parado nos sinais e vir os autocarros a avançar, se calhar até penso mudar de meio de transporte"
"A nossa frota anda uma média de 14,5 quilómetros por hora. Se nos deixassem andar a mais um quilómetro pouparíamos cinco milhões de euros por ano."
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A recomendação de hoje tem a ver com transportes públicos e bicicletas, como é que a Holanda os conjuga:
(obrigado Dário)
Quem não tem experiência costuma apontar o relevo de Lisboa como "A" grande barreira a vencer para torná-la numa cidade onde a bicicleta seja dos principais meios de transporte. Mas quem tem uma longa experiência a circular cá e em cidades cheias de bicicletas, sabe bem que o relevo é apenas uma entre várias diferenças que separam Lisboa de Amesterdão. Se um génio da lâmpada me desse a escolher entre acabar com o problema do relevo, ou acabar com as barreiras que nós criámos na cidade, eu não teria dúvidas em escolher a segunda.
Uma barreira humana, decorrente da ditadura do automóvel sobre o nosso espaço urbano, é o excesso de semáforos. Só quem não conhece outras realidades é que não se apercebe do tempo excessivo que se perde a olhar para um semáforo vermelho em Lisboa, o que é responsável por um parte substancial do tempo de viagem. Isto é especialmente incómodo para o esforço dos ciclistas, que têm constantemente de perder e voltar a ganhar momento.
Em cidades como Amesterdão (mas não tanto em Copenhaga) há um enorme desincentivo ao automóvel, e como não são necessários semáforos para gerir cruzamentos de peões, bicicletas e transportes públicos, há muito menos semáforos. Além disso há canais próprias para circulação de bicicletas. Ou seja há percursos pensados para permitir uma circulação quase contínua das bicicletas, seja fazendo ciclovias ao longo de linhas de comboio e auto-estradas (vias com poucos cruzamentos), seja colocando as bicicletas em ruas exclusivamente para elas - ou compartilhadas com transportes públicos - e com prioridade nos cruzamentos, seja criando as "auto-estradas" de bicicletas (que tanto sucesso têm tido em Londres) onde a sequência de verdes está feita para quem circula a 20km/h e não a 50, etc.
Abaixo, a velocidade que eu fiz em quatro percursos urbanos em Portugal e na Holanda. À esquerda há constantemente acelarações e travagens e tempos mortos. Esquecendo os declives, não é difícil perceber em quais deles é que eu despendi mais tempo e energia por km percorrido.
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Bem a propósito, o leitor P.M. sugeriu-nos este excelente vídeo (do também excelente blog A View from the Cycle Path) sobre o aparecimento das estruturas cicláveis na Holanda:
Vídeo de um minuto apenas com vários exemplos de acalmia de tráfego e afins.
(O YouTube não gosta de acentos)
Bem a propósito, o bananalogic tem um vídeo do centro de uma cidade holandesa, de onde foram retirados os automóveis nas últimas décadas.
Depois da França ter introduzido um imposto sobre as emissões de carbono, temos mais um país a ir na direcção do aumento da taxação do uso do automóvel. A Holanda vai acabar com os impostos fixos (sobre a compra do automóvel e o imposto anual de circulação) e cobrar 6,70€ por cada 100km percorridos. Em vez de se penalizar quem tem um automóvel, passa-se a penalizar quem o usa mais. Para ter uma ideia, um carro que gaste 6l/100km de gasolina além dos 7€ que pagará de combustível por cada 100km, pagará mais 6,70€ de imposto. Quase o dobro. Um carro que gaste 12l/100km apenas passa dos 14€ para os 20,70€.
Em comparação com a solução francesa, este imposto tem a vantagem de reconhecer que os custos que o automóvel causam à sociedade (externalidades) não advêm apenas do consumo de combustível (custos ambientais) mas do uso do carro independentemente de ser muito ou pouco eficiente. Por outras palavras, um carro alimentado a energia solar e um carro que gasta 20l/100km causam exactamente o mesmo nível de problemas em termos de congestionamento, sinistralidade, necessidade de infra-estruturas, ocupação do espaço urbano, etc. e a Holanda passa a penalizar o dono do carro solar por isso. Aliás, o principal objectivo do governo Holandẽs não é a melhoria ambiental, mas a resolução do enorme problema de congestionamento que acontece em todas as auto-estradas do país.
A terrível desvantagem do sistema holandês: cada carro vai ser equipado com um GPS que contabilizará as deslocações! Obviamente que este Big Brother já está a levantar protestos. É caso para dizer, uma boa ideia mas muito mal executada. Exactamente a mesma ideia, mas sem os contornos pidescos pode ser alcançado através de um método muito simples: portagens! Pois é, os países do Sul da Europa há muito que cobram ao km... infelizmente só em algumas AEs.
N' O Canhoto, a diferença entre Portugal e Espanha em termos de investimentos ferroviários.
Aqui está 1 minuto para mostrar como existem zonas comerciais de sucesso no centro de cidades onde a circulação automóvel é fortemente restringida.
Voltamos a Groningen, para um vídeo de 1 minuto que ilustra bem a segurança e qualidade de vida que é possível ter em espaços centrais da cidade e a céu aberto (não é preciso grandes centro comerciais).
Repare que apesar de existir uma passadeira desenhada e sinalizada poucos se sentem obrigados a respeitar. Pessoas, bicicletas, peões em moletas, ciclistas transportanto bébés, pequenas motos e até um taxi no final do video, partilham um espaço em segurança.
De referir ainda o sistema de silos e parques automóveis da cidade, aqui disponível em inglês. Os dois silos automóveis juntos a esta parte comercial da cidade, apenas têm 500 lugares (200+300) e o seu preço é 1,60€ por cada 50 minutos e o parque à superfície em lugares nas ruas é 1,70€ por hora.
Parques mais baratos existem fora da cidade com a possibilidade de usar transportes públicos para chegar ao centro.
Mais três exemplos de como os carros são os causadores dos conflitos na ocupação do espaço urbano, que leva a semáforos, regras, conflitos, sinistralidade, sinais, congestionamentos, etc.
1. Peões & Transportes Públicos
Não são necessários semáforos e regras, bom senso e atenção são suficientes para a convivência.
2. Peões & Bicicletas vs Peões & Carros
Apesar de ser um cruzamento com igual número de carros, peões e bicicletas, reparem que não há nenhuma linha - muito menos semáforos - no local onde os peões e as bicicletas se cruzam... o mesmo já não se pode dizer dos carros. Aliás, alguém já alguma vez viu um semáforo a regular um cruzamento de bicicletas com peões?
3. Carros & bicicletas
Rua de sentido único para automóveis, MAS de duplo sentido para bicicletas (e para peões, já agora!). Este caso é muito comum nos países onde a bicicleta é vista como um transporte. E percebe-se porquê, a bicicleta por ocupar muito menos espaço não atrapalha se for em sentido contrário. Um carro em sentido contrário provavelmente nem caberia (e por lá não se reduzem passeios).
Quem atrapalha o trânsito são os carros! I
Histórias de Lisboa por outros blogues.
Um carro-dependente que se queixa da EMEL rebocar carros estacionados em cima do passeio, quando "não existe nenhum sinal de proibição de estacionar"!! - "Oh seu guarda, não sabia que era proibido roubar, não havia nenhum cartaz a avisar na loja!"
A vergonhosa condescendência da polícia lisboeta para com o estacionamento ilegal.
Um post que eu queria escrever, mas que alguém escreveu por mim: o egoísmo de quem não se dá ao trabalho de deslocar alguns metros a sua carripana, prejudicando assim imensas pessoas.
A praça mais monumental do país transformada em parque de estacionamento.
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