Para uma boa lista de carros "menos inimigos do ambiente" consulte a página topten.pt da Quercus
Recordo-me de uma capa da revista do ACP no fim dos anos 80, aquando da implementação da gasolina sem chumbo em Portugal, que tinha na capa um fotomontagem com um automóvel com flores a sair do tubo de escape.
Hoje qualquer um sabe que esta visão era um verdadeiro disparate (o chumbo era apenas um dos vários poluentes), mas era esta na altura a mensagem que se passava: a gasolina sem chumbo é "amiga do ambiente".
Neste momento passamos por mais uma vaga de consciência ambiental (isto é um fenómeno cíclico), propícia ao greenwash por parte da indústria e algumas autoridades. Eles são "carros verdes", que "poupam o futuro do planeta", que "reduzem a emissão de CO2 " (como se o CO2 fosse o único gás emitido preocupante), etc... Sejamos claros:
não há carros amigos do ambiente, há apenas alguns menos inimigos do ambiente (o que já é obviamente de aplaudir). Em vez de um cancro que mata o doente num ano, provocam um que mata o doente num ano e uns meses.
Aqui fica um pequeno manual de interpretação dos "carros verdes".
Híbridos: um carro híbrido não é um carro a gasolina e electricidade. O único combustível é a gasolina, mas o carro tem uma bateria que é carregada nas travagens e que depois é usada para funcionar um motor eléctrico. Há aqui um problema imediato: se um condutor já tiver uma condução "verde" e suave, fará poucas travagens, e a bateria não é muito carregada. Há alguma poupança de combustível com este sistema, mas também há muitos híbridos com consumos e emissões bem acima da média dos convencionais.
Biocombustíveis : Ao contrário do que se diz, um automóvel que use um combustível convencional com alguma adição de biocombustível (e é disso que se trata),
não emite menos gases do que os que usam o combustível convencional a 100%! A vantagem está no facto de parte do carbono que é emitido, não provir do petróleo mas do carbono de plantas, ou seja carbono que foi capturado à atmosfera por fotossíntese. Há uma espécie de reciclagem do carbono, em vez de uma adição contínua de CO e CO2 à atmosfera. De qualquer modo, apenas as emissões de carbono são "reduzidas", mas há outras. Acresce a isto duas desvantagens: primeiro o biocombustível não cresce dentro das estações de serviço. É necessário produzi-lo em larga escala, processá-lo, transportá-lo, etc.. o que tem um enorme impacto ambiental. Segundo, um aumento da procura de produtos agrícolas para a sua produção leva a um aumento do seu preço, o que afecta especialmente as populações mais pobres. (Para mais informações consultar o
tema biocombustíveis no excelente blogue Ondas3 ).
Eléctricos, ar comprimido, hidrogénio, etc...: Os automóveis equipados com esta tecnologia não emitem de facto poluentes localmente, mas o "combustível" usado teve que ser produzido em algum lado. Ou seja os custos ambientais não se vêem quando se olha para o carro, mas eles estão na central eléctrica, que produziu a energia primária (e não, não é possível ter um país inteiro a consumir electricidade e a andar de carro baseado apenas em energia eólica, solar e afins). Acresce ainda um problema tecnológico, o da baixa eficiência energética destes propulsores. Por uma quantidade x de energia gasta na locomoção do carro, foram produzidos 10x ou 20x de energia eléctrica (no caso dos eléctricos as perdas são menores).
Por fim,
esta análise apenas toma em conta as emissões de gases, mas os custos ambientais não se ficam por aí. A produção industrial de automóveis, pneus, o desmantelamento do carros velhos, a poluição sonora, etc... têm também enormes custos ambientais.
Por estas e por outras é que o
governo norueguês proibiu o uso de "expressões verdes" na publicidade a automóveis, tal como a publicidade ao tabaco e comida pouco saudável não pode usar expressões como light ", "suave", "magro", etc...
(notícia via Ondas3)