Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Outro minuto em Groningen, a cidade-modelo da mobilidade

MC, 26.11.13

Veneza é a cidade europeia onde o automóvel é mais... desincentivado, mas não por escolha própria. Esse título cabe a Groningen, uma cidade estudantil no norte da Holanda, onde as pessoas são reis da cidade através da quase inexistência de estacionamento automóvel à superfície e fortíssimas medidas de acalmia de tráfego.

Num dos meus posts preferidos aqui do blog, o António deixava um vídeo de um minuto num cruzamento numa praça central de Groningen. Hoje fica o meu minuto passado em Groningen, noutro cruzamento da cidade. E tal como no outro, este cruzamento também não é numa zona pedonal.

Apesar do frio (o vídeo foi feito em junho e há só se vêem casacos pesados), e da chuva constante (no dia do vídeo o chão está molhado e há vários guarda-chuvas), é uma cidade cheia de vida e comércio. São as cidades que são menos convidativas ao automóvel, as que acabam por ser mais humanas e ter mais vida, não o contrário.
É uma cidade para todos: vêem-se bebés a serem transportados em bicicletas e cadeiras de rodas a passar - e isto foi mero acaso, apenas gravei o vídeo uma vez.
Repare-se também como tudo flui sem precisar de semáforos ou regras rígidas de trânsito. Peões, bicicletas, aceleras e até um coche (!), todos se cruzam sem problema.
......................................
Para não destoar, a leitura recomendada de hoje é um vídeo que conta um projecto de país ingleses que fecham ruas do bairro durante umas horas para que os crianças possam brincar e socializar livremente na rua, como era o hábito há umas décadas, no Copenhagenhize.

Acalmia de tráfego X & Redução de Tráfego I

MC, 01.12.09

1. Acalmia

Sentidos proibidos são um modo muito simples e eficaz de reduzir a circulação automóvel. Colocando cirurgicamente sentidos proibidos em uma ou algumas ruas, podemos afastar a circulação automóvel do interior de um bairro porque afastamos o tráfego de atravessamento para as vias principais. Não se proíbe o acesso do automóvel ao bairro, mas torna-se o acesso tão complicado que apenas quer entrar quem tem um como destino final um ponto dentro do bairro.

Um exemplo que eu gosto de dar é o da Avenida Guerra Junqueiro em Lisboa. A Avenida servia há uns anos de via de atravessamento (a azul), qualquer carro vindo da Almirante Reis com destino à Praça de Londres, Av Roma, Campo Pequeno, etc. passava por ali, porque era o caminho mais simples. Quando foi invertido o sentido de circulação (a vermelho), deixou de fazer sentido passar por lá, porque os sentidos obrigatórios levam o carro quase ao ponto de partida. Resultado: forte quebra no tráfego e aumento do comércio local.

 

2. Redução

Em Groningen na Holanda (cidade exemplar em termos de mobilidade, como se pode ver numa das minhas postas preferidas do blogue), este conceito foi aplicado a todo o centro da cidade para os automóveis (as bicicletas e os transportes público não têm restrições). O automóvel continua a ter acesso a quase todas as ruas, mas os sentidos do trânsito são tão labirínticos que o automóvel tem de percorrer uma distância enorme para trajectos teoricamente curtos. A imagem mostra o percurso mais curto entre A e B.

O automóvel é colocado tão em desvantagem face ao autocarro, ciclista e peão, que praticamente ninguém o usa no centro.

 

 


Brilhante, um tribunal americano reconheceu o automóvel como uma arma mortífera: um automobilista que abalroou propositadamente dois ciclistas, foi condenado por ataque com arma mortífera. (via)

Zona Comercial de Sucesso sem acesso para Automóveis.

António C., 07.03.09

Aqui está 1 minuto para mostrar como existem zonas comerciais de sucesso no centro de cidades onde a circulação automóvel é fortemente restringida.

 

Voltamos a Groningen, para um vídeo de 1 minuto que ilustra bem a segurança e qualidade de vida que é possível ter em espaços centrais da cidade e a céu aberto (não é preciso grandes centro comerciais).

 

 

 

Repare que apesar de existir uma passadeira desenhada e sinalizada poucos se sentem obrigados a respeitar. Pessoas, bicicletas, peões em moletas, ciclistas transportanto bébés, pequenas motos e até um taxi no final do video, partilham um espaço em segurança.

 

De referir ainda o sistema de silos e parques automóveis da cidade, aqui disponível em inglês. Os dois silos automóveis juntos a esta parte comercial da cidade, apenas têm 500 lugares (200+300) e o seu preço é 1,60€ por cada 50 minutos e o parque à superfície em lugares nas ruas é 1,70€ por hora.

 

Parques mais baratos existem fora da cidade com a possibilidade de usar transportes públicos para chegar ao centro.

 

 

40% dos atropelamentos são nas passadeiras

MC, 28.10.08

Notícia no DD

Quase 40 por cento dos peões são atropelados nas passadeiras [sic], um facto que a PSP atribui essencialmente a questões comportamentais e ao desrespeito pelas regras de trânsito. (em Lisboa).

 

Eu já nem falo dos outros 60% dos acidentes, muitos dos quais certamente não aconteceriam se as nossas cidades e leis fossem pensadas para as pessoas e não para os automóveis (como tanta vez por aqui mostramos). 40% é um valor enorme, e deita por terra a ideia de que a culpa é quase sempre dos peões que não respeitam as leis injustas. E nestes 40% quem se lixou foi o peão, não foi o culpado.

 


Post recomendado: a história da mobilidade em Groningen no Observatório da Baixa, a cidade holandesa sobre a qual o António escreveu recentemente.

Groningen Vs Lisboa

António C., 18.10.08

 Inspirado neste post do blog do fórum CidadaniaLx, e sobre um outro post mais antigo do mesmo blog, sobre a Universidade de Lisboa decidi repôr a verdade sobre a cidade de Groningen, uma vez que conheço bem...

 

Segundo os dados do Eurostat, em 2005 o Pib per Capita dos países baixos relativos á média europeia a 27 países, era de 131.1% enquanto o Pib per Capita Português era de 75.4%.

 

Seria injusto comparar Lisboa e Groningen uma vez que Lisboa é a Capital e Groningen é uma zona longínqua da Holanda e longe da actividade económica do Sul da Holanda. Com sorte, no mesmo relatório pode-se ver o Pib per Capita de Lisboa, zona mais rica de Portugal e também o Pib Per Capita de Groningen... Lisboa supera a média Europeia em 106.4% enquanto que Groningen apresenta um supreendente valor de 164% da média Europeia!

 

As imagens e comentários que se seguem podem ser chocantes para alguns dos alunos da Universidade de Lisboa.

 

 

 

 Em Groningen também não é fácil encontrar lugar para estacionar.

 

 

Em Groningen, obrigam os mais velhos a deslocarem-se de bicicleta, mesmo em dias chuvosos.

 

 

Em Groningen é comum ter que andar á boleia, mas sempre, no luxuoso lugar de trás.

 

 

Em Groningen, uma das duas praças centrais já chegou a ser um grande estacionamento automóvel nos anos 70, hoje em dia existe mercado 3 dias por semana, e é raro que nos outros dias não haja qualquer outra actividade ou animação na rua. Ah, e claro, os carros são proibidos de se deslocar no centro.

 

 

 Em Groningen, para se levar um carro (ou meio) para o centro é preciso ser criativo.

 

Obviamente, Groningen não é Lisboa, Groningen apesar de não ser totalmente plana, não tem os declives de Lisboa, mas em Groningen, as temperaturas baixas, o vento e a chuva são uma constante.

 

Groningen tem características únicas, mesmo na holanda, como por exemplo uma isenção de horário de fecho para os establecimentos de diversão nocturna.

 

Groningen não tem grafittis nas paredes (poucos), tem 40 mil estudantes, dos quais, cerca de 2500 são estrangeiros, dos quais cerca de 15 são Portugueses.

 

Em Groningen, as casas que não estão habitadas podem ser legalmente ocupadas ao fim de um ano.

 

É uma cidade compacta, onde vivem 180 mil pessoas, todos os espaços são aproveitados e as interacções sociais são uma constante. Uma cidade que não adia actividades ao ar livre por causa do mau tempo. Uma cidade criativa que não se queixa mas cria. A criativade faz falta a Lisboa, na forma de enfrentar os problemas, na forma de repensar os assuntos...

 

Por outro lado, existem na Holanda políticas de limitação da criacção de centros comerciais e as lojas de grande consumo e multinacionais convivem lado a lado com o comércio tradicional, tornando-se importantes âncoras para a dinamização do mesmo. Em Portugal, os centros comerciais longe dos centros urbanos proliferaram nos últimos anos. Incentiva-se e torna-se o uso do automóvel essencial. Terá mesmo de ser assim?

 

Porque não utilizar políticas de ocupação legal de casas devolutas, para combater a desertificação do centro de Lisboa?

 

Porque não limitar o estacionamento automóvel em zonas como a Cidade Universitária (ou deverei dizer 'Parque de estacionamento Universitário')?

 

Porquê insistir na criação de mais centros comerciais longe dos centro urbanos?

 

Lisboa, nunca será Groningen, mas o que faz pena é que também poderia ser uma óptima cidade para se viver!  (Visita recomendada ao blog Lisboa SOS)