1. O governo aumentou ontem a contribuição que todos nós oferecemos a quem já esteja farto do seu popó antigo e queira comprar um novo. Agora pode chegar ao 1800€.
Como já escrevi, defender isto sob o manto da protecção ambiental é gozar com a inteligência das pessoas. Notei agora mais duas incoerências: se a ideia é promover a compra de veículos menos poluidores (o que deveria ser feito por penalização dos mais poluidores, não por descontos pagos por todos) porque é que quem compra um carro pela primeira vez não tem direito a este benefício? Se a ideia é reduzir o consumo de combustível, porque é que o mesmo benefício não é dado à compra de carros em segunda mãos menos poluidores, mas apenas aos novos?
Veja-se isto por onde se veja, este programa do governo (que é coordenado pela UE mas decidido a nível local) é pura e simplesmente um enorme e inexplicável subsídio à indústria e ao comércio automóvel.
Sinceramente estou farto do meu portátil (isso sim, um instrumento de trabalho) e sinto-me discriminado pelo Estado não me ajudar a comprar um novo. Alguém percebe isto?
2. Há dias um representante do sector do comércio dizia que o sector estava mal porque não havia incentivos ao consumo! Mas haverá algum sector que não estivesse melhor se houvessem "incentivos ao consumo"?! Isto só prova que estão habituados a ter um tratamento especial.
3. Como antecipei na primeira posta, e já referi numa nota, a crise no sector automóvel já vinha de trás. A actual crise económica serviu apenas para atirar areia para os olhos das pessoas, quando se canalizam verbas públicas na Europa e EUA para a indústria automóvel.
4. A compra de automóveis segue um padrão de aquilo que em economia se chama procura elástica. Ao contrário da comida, onde o consumo é mais ou menos estável em bons e maus períodos económicos, as compras de automóveis variam muito com a conjuntura.
Isto é um fenómeno que a humanidade conhece há milénios. Os celeiros existem para armazenar cereais, já que a sua colheita varia muito de ano para ano. O mesmo se pode dizer de muitos sectores económicos que aprenderam a viver com essa flutuação (turismo, artigos de luxo, etc.). Muitos mas não todos, o sector automóvel, que também sabia que a coisa viria abaixo, é neste momento o único a contar com um celeiro chamado dinheiro dos contribuintes.
A ler: Mania das grandezas por José Saramago. Acho as conclusões do artigo a que ele se refere um bocado parvas (porquê 9 e não 5 ou 20?), mas isso não é o essencial.