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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

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Adeus shoppings do subúrbio, olá cidades humanas

MC, 30.05.12

De entre os países desenvolvidos, Portugal e os Estados Unidos são daqueles onde o automóvel tem um maior peso na sociedade. As cidades e mesmo alguns bairros, estão cercados por mais e mais auto-estradas, o comércio local tem menos peso que os shoppings onde só se chega de carro, as cidades são parques de estacionamento e zonas de atravessamento de trânsito. há mais carros a passar do que pessoas, etc.

Mas há cada vez mais bons sinais de mudança nos dois países. Num artigo do NY Times (que já passou no nosso Facebook) mostra-se que nos últimos 15 anos, os americanos estão a procurar mais o centro da cidade para viver, e menos os subúrbios. Prova disso é o valor das casas, que subiu mais no centro.

De Portugal tem havido histórias de hipermercados a fechar e de falta de vontade em abrir mais shoppings. Esta poderia ser uma história da crise generalizada, mas hoje o Diário Económico conta que a procura de espaços comerciais no centro de Lisboa e Porto  (especial destaque para o Chiado) tem vindo a aumentar, apesar dos preços serem claramente altos.

Excelentes notícias!

 

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E da cidade mais europeia da América, mais uma notícia europeia: Nova Iorque também vai ter um sistema de bicicletas públicas partilhadas.

Trabalho de casa

TMC, 27.06.11

O NY Times tem um artigo dedicado à onda de políticas limitadoras de tráfego na Europa e a sua comparação com a realidade homóloga nos Estados Unidos da América. Os sublinhados são meus:

 

 

Europe Stifles Drivers in Favor of Alternatives

 

 

“In the United States, there has been much more of a tendency to adapt cities to accommodate driving,” said Peder Jensen, head of the Energy and Transport Group at the European Environment Agency. “Here there has been more movement to make cities more livable for people, to get cities relatively free of cars.

 

 

Europe’s cities generally have stronger incentives to act. Built for the most part before the advent of cars, their narrow roads are poor at handling heavy traffic. Public transportation is generally better in Europe than in the United States, and gas often costs over $8 a gallon, contributing to driving costs that are two to three times greater per mile than in the United States, Dr. Schipper said.

 

 

Michael Kodransky, global research manager at the Institute for Transportation and Development Policy in New York, which works with cities to reduce transport emissions, said that Europe was previously “on the same trajectory as the United States, with more people wanting to own more cars.” But in the past decade, there had been “a conscious shift in thinking, and firm policy,” he said. And it is having an effect.

 

 

Today 91 percent of the delegates to the Swiss Parliament take the tram to work.

 

 

European cities also realized they could not meet increasingly strict World Health Organization guidelines for fine-particulate air pollution if cars continued to reign.

 

 

“Parking is everywhere in the United States, but it’s disappearing from the urban space in Europe,” said Mr. Kodransky, whose recent report “Europe’s Parking U-Turn” surveys the shift. While Mayor Michael R. Bloomberg has generated controversy in New York by “pedestrianizing” a few areas like Times Square, many European cities have already closed vast areas to car traffic. Store owners in Zurich had worried that the closings would mean a drop in business, but that fear has proved unfounded, Mr. Fellmann said, because pedestrian traffic increased 30 to 40 percent where cars were banned.


 

 

Portugal está na Europa; a infra-estrutura das suas cidades foi construída antes do aparecimento do carro. Poderemos dizer por isso que em termos de tais políticas, Portugal segue a Europa e não os E.U.A. no destaque concedido ao carro nas suas cidades? Terão elas aceitação entre a população?

 

Ar poluído por ozono em três concelhos do distrito do Porto

Níveis de ozono em Lisboa ultrapassam limites mas as autoridades não emitiram nenhum alerta

 

Menos 4 milhões de carros

António C., 15.01.10

Qualquer produto que exista no mercado está sempre sujeito às seguintes fases do ciclo de vida do produto. Desde a fase de desenvolvimento à fase de declínio o percurso passa sempre por estas 4 fases representadas na figura.

 

 

Obviamente que o tempo correspondente a cada uma destas fases varia de produto para produto sendo que o maior exemplo para a fase de maturidade mais curta seguindo uma fase de grande crescimento é o Tamagotchi . Mas de resto essa foi uma excepção que quase ninguém se recorda. Um produto que vendeu imenso e numa questão de meses saíu do mercado, podendo apenas ser agora uma raridade escondida numa qualquer loja de artigos chineses para os mais saudosistas.

 

Numa aula de empreendorismo e inovação em 2008, falava-se deste ciclo dos produtos e um professor, referiu que uma excepção a este ciclo seria o da Indústria automóvel, porque uma vez atingida a fase de maturidade, esta se iria prolongar indefinidamente e não era prevísível a entrada na fase de declínio.

 

Na altura comentei que se o andar a pé ou transporte público de qualidade em massa viesse a ser visto como fonte de bem estar pelas pessoas então o automóvel também teria o seu declínio como qualquer outro produto.

 

Ora que nos chegam agora notícias, que na maior sociedade automobilizada do mundo, apenas num ano o parque automóvel diminuiu em 4 milhões de unidades.

 

 

Este valor representa apenas 1,6% de diminuição do parque automóvel, mas mesmo assim mostra que foram enviados para abate 14 milhões de automóveis e "apenas" foram comprados 10 milhões.

 

Podemos estar assim a assistir ao declínio do produto que o tal professor afirmava ter uma fase de maturidade contínua e prolongada no tempo. É óbvio que se podem atribuir estes valores à crise internacional que se viveu em 2009, mas será também interessante perceber se a Indústria terá capacidade para criar um novo ciclo, nomeadamente com a implementação dos carros eléctricos. Carros estes, que para já, do ponto de vista funcional não terão tantas "supostas" vantagens como os veículos a combustão.

 

Ou seja, estarão os consumidores prontos para gastar dinheiro num produto que tem uma cápsula igual, mas que não lhes garante, nem o status, nem a utilidade dos carros de outrora?

 

Esperemos que estes indicadores sejam o indício de uma tendência e que mais notícias como esta de aposta em transportes colectivos nos cheguem do outro lado do atlântico.

 

Por fim, agradeço ao nosso leitor e amigo CM que nos enviou estes links e me inspirou para este artigo.

Um americano sobre as cidades europeias

MC, 14.04.09

People still stroll in Europe. The older people often walk with their hands behind their backs, with one hand clasping the opposite wrist, in The European Dream, Jeremy Rifkin

 

As pessoas ainda passeiam a pé na Europa. Os idosos caminham muitas vezes com as mãos atrás das costas, com uma mão agarrando o pulso oposto.


Não há nada de especial em passear a pé, mas exactamente por isso é que sorri ao ler um americano a fazer este comentário sobre as nossas cidades. Nos EUA as  cidades são parques de estacionamento. Não há praças com velhotes a jogar à sueca, nem ruas pedonais com comércio local. É possível andar a pé sem nunca nos cruzarmos com outro peão.

Mais recentemente soube de empresas nos EUA que têm guarda-costas especialmente contratados para acompanhar os cidadãos estrangeiros a trabalhar lá temporariamente, quando eles têm o estranho hábito de ir dar uma volta a pé até a um supermercado, ao centro ou seja o que for. 


E como todo o mundo é composto de mudança, em Nova Iorque, umas das poucas "cidades europeias" nos EUA, o espaço urbano começa a ser devolvido às pessoas. Tenho que admitir que a esplanada não parece minimamente agradável para um europeu, mas a mudança é importante pelo próprio simbolismo da devolução. Falo de mais uma reportagem da StreetFilms.

 

Boa notícia em Lisboa, bem a propósito: o Largo de Camões volta a ter, mais de um século depois,  um quiosque com bebida e comida. Claro que é das zonas mais humanas da cidade, mas é sempre bom ver uma praça a ganhar ainda mais vida.

Boas notícias da súbida do petróleo

MC, 21.05.08

No dia de mais um record no preço do crude, fiquei a saber de mais algumas boas notícias causada por este aumento.

 

1. Diz a SIC que a Carris sente mais passageiros desde o ano passado... Até ver uma boa análise dos números, eu desconfio sempre, mas diria que é verdade.

 

2. Leio no Carfree Times 50 - jornal online que recomendo muito - que o preços das casas nos subúrbios americanos têm caído a pique  chegando aos 18%, especialmente nas zonas sem transportes públicos. Isto quer dizer que os americanos preferem agora arranjar casas mais centrais e casas com fácil acesso a transportes devido ao aumento do combustível, que por lá é bem maior. Ou seja começaram a tomar atitudes mais racionais morando mais perto do trabalho em detrimento dos arredores, andando mais de transportes do que anteriormente. Assim reduz-se o congestionamento, o stress, a sinistralidade, a poluição, a "necessidade" de fazer mais e mais auto-estradas,  aumenta-se o número de pessoas nos transportes o que permite baixar os seus preços, etc...

 

Peço desculpa por me repetir, mas é exactamente por isto que defendo portagens, parquímetros e afins. Quando alguém toma uma decisão tem que ter noção dos custos reais dela. Os americanos que dantes queriam morar longe, já têm essa noção.

Destruam-se as vias-rápidas

MC, 22.11.07
Parece que o caso de Seul, onde uma via-rápida foi desmantelada, não é único. No Carfree USA fiquei a saber que em Seattle se está a discutir a hipótese de acabar com uma via-rápida ao longo da costa, para devolver a beira-mar à cidade.
Há até uma página com vários casos de remoção de vias-rápidas urbanas nos EUA. O caso mais famoso é a Embarcadero Freeway em São Francisco, que originalmente foi destruída por um sismo em 1989 e mais tarde se decidiu que não seria reconstruída.

Antes:

e depois:


A Central Freeway de São Francisco antes

e depois:



Dão ainda o exemplo da via-rápida ao longo do Sena em Paris que foi convertida na famosa praia de Paris (veja-se contudo comentário a este post de Strider de 15 de Maio):

É interessantíssimo ler cada uma das histórias porque mostra como as cidades ficaram a ganhar com a mudança.

A principal mensagem aqui é a necessidade de ter coragem de admitir que houve erros no passado que custaram milhões. Mas só o facto de terem custado milhões não pode servir de argumento para não os corrigirmos. Ao ver estas fotografias fico cheio de esperança de vir a ver no futuro as nossas cidades mais humanas e agradáveis.
Em Lisboa há tantos, tantos casos destes que é difícil decidir. Há a segunda circular, o eixo Norte-Sul, etc... que são especialmente gritantes por estarem no meio do tecido urbano.  Mas acho que votaria em acabar com os túneis da via-rápida avenida da República no Campo Pequeno e Entrecampos. A zona mais parece a A1 do que uma cidade.

Como dizia o outro, deixem-me sonhar.

Peão = delinquente?

MC, 27.09.07
Contaram-me há um pouco uma história impressionante a propósito da carro-dependência no seu país natal, os EUA. Um familiar de uma amiga, um homem de negócios, europeu, dos seus 50/60 anos, que numa visita de trabalho a Los Angeles teve a estranha ideia de dar um passeio a pé pela cidade. Dado a raridade do acto, levantou suspeitas a uma patrulha de polícia que o abordou e perguntou o que andava ali a fazer.

"Caça à Multa" à Americana

MC, 02.09.07
Neste país onde o automóvel é rei e senhor, não estamos habituados a que a autoridade do rei seja posta em causa. Qualquer ameaça de fiscalização é sempre tomada como uma afronta. Quando as câmaras começaram a colocar pilaretes nos passeios, houve berraria. Quando a EMEL começou a aplicar o Código da Estrada, berraria. Radares há uns anos no Porto, e agora em Lisboa, berraria.
Obviamente que nunca houve contestação quando as leis foram aprovadas, porque sempre se partiu do princípio que o carro estaria sempre impune. Só quando cheira a aplicação das leis, é que temos "aqui d'el rei"!

À conversa com amigos a trabalhar nos EUA, pátria da carro-dependência, fiquei a conhecer alguns casos, que ao aconterem em Portugal seriam o fim do mundo.
- Multas de estacionamento passadas de madrugada cinco minutos após o prazo.
- Os lugares para estacionar com a indicação "máximo de 2 horas", são mesmo só para duas horas. Um fiscal vai fazendo a ronda marcando os pneus com giz, para contabilizar o tempo.
- A EMEL lá do sítio não tem pachorrentos funcionários, que ora conversam, ora vão andando. Os fiscais vão de carrinho na faixa direita e munidos de um espelho/periscópio vão rapidamente controlando os parquímetros. E a multa não demora horas a ser passada, é passada em segundos.

Que me dera...

Menos Carros = Menos Pessoas? I

MC, 11.07.07
Este é para mim um post fundamental, por estar relacionado com o modo como queremos organizar as nossas cidades, e a nossa vida urbana. Quero também tentar contrariar uma ideia, que eu classifico de mito urbano, que tem sido badalado dia-sim, dia-sim, na comunicação social.

Em Portugal, especialmente agora com as eleições em Lisboa, sempre que se menciona alguma medida que possa restringir de algum modo a circulação automóvel no centro das cidades, sejam parquímetros, diminuição do estacionamento, faixas bus, sentidos proibidos, lombas ou até portagens urbanas, há logo alguém que alerta para os perigos desta alteração. Diz-se que lesa o comércio tradicional, afasta a classe media/alta da cidade, leva à saída das firmas e dos empregos para  a periferia, etc... Ainda anteontem no debate sobre Lisboa, foi dito várias vezes que não era verdade que a cidade precisasse de menos automóveis. A argumentação é simples: dificultando o acesso, as pessoas e as identidades a pouco e pouco optam por se deslocar para locais onde esse acesso não esteja dificultado.

Bom eu poderia desde já argumentar, que menos trânsito torna uma zona mais agradável, atraindo por isso moradores e peões, e por consequência comércio.

Mas em vez de discutir em abstracto temos a sorte de poder comparar o que acontece na realidade, o sonho de qualquer cientista social, que ao contrário da maioria dos cientistas naturais, não pode realizar experiências. Podemos comparar o que acontece nos EUA e na Europa.

(Bem sei que há diferenças culturais, históricas, geográficas, etc... mas acho que isto não explica a diferença).

Nos EUA as avenidas são larguíssimas, há enormes parques de estacionamento em todos os recantos das cidades. Na Europa há enormes áreas de ruas fechadas ao trânsito, outras só para transportes públicos, as ruas são mais estreitas, há pouco estacionamento, o uso do automóvel é desincentivado, há portagens para entrar em cidades, há lombas nas ruas, não há um único local nos centros sem parquímetros, etc...  Nos EUA menos de 10% da população urbana usa o transporte público, enquanto na Europa 40% a 50% a isso é forçada.

Todos concordarão que a diferença é abismal. Mais, esta diferença não é de hoje, mas de há décadas. Tratatam-se portanto de modos opostos de pensar as cidades.

Quanto às consequências. Na Europa os centros das cidades são animadíssimos, com comércio tradicional em todos os recantos (ao contrário dos EUA onde predomina o comércio em grandes superfícies fora da cidade), há muitos peões (nos EUA há por vezes ruas sem passeio e sem peões mesmo nas cidades), as casas no centro da cidade são muito caras sendo por isso habitadas pela classe média/alta enquanto os subúrbios servem para os menos abastados (nos EUA viver nos subúrbios significa ser rico - basta a ver a conotação de suburban nas séries americanas).

Temos portanto umas 100 grandes cidades no mundo ocidental rico que podemos usar na nossa análise, e quase todas (ou todas) mostram exactamente o contrário das acusações feitas em cima à restrição da circulação automóvel, seja em termos de comércio/ empregos/ firmas, seja em termos da classe média/alta serem expulsos das cidades.