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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

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O Hermann está de volta

MC, 05.12.09

Hermann Knoflacher, professor de Transportes na Universidade de Viena e um dos gurus do movimento anti-automóvel, está de volta com o livro Virus Auto, Vírus Automóvel. Já encomendei o meu e prometo falar dele por aqui.  Foi este senhor que meteu um andomóvel às costas e metendo o dedo na ferida questionou o que aconteceria se todos os peões exigissem o direito a andarem por aí com esta estrutura às costas, e a terem locais especiais para as arrumarem:

 

No comunicado de impressa do lançamento do livro ele explica porque compara o automóvel a um vírus:

A proporção de tamanho de um vírus face a uma célula do corpo é aproximadamente igual  às proporções do carro face à sociedade humana. A célula humana e a sociedade humana são sistemas altamente complexos. Comparativamente os vírus e os carros são muito primitivos. Tal como um vírus, que não é viável sem a sua célula hospedeira, o carro não pode existir sozinho. Mas a maior semelhança entre os vírus e os carros está relacionada com as suas consequências: os vírus alteram as células de tal modo, que elas actuam apenas segundo os propósitos do vírus. Uma célula infectada é uma marioneta do vírus. Tal como com o carro. Se uma sociedade é infectada pelo carro, então ela redirecciona toda a sua vida de acordo com o carro; as habitações, os empregos e as infra-estruturas são concebidos de modo a que o maior número possível de automóveis tenha lugar. O carro passa a ser o padrão das coisas, não o homem.

Isso pode ver-se muito bem nos E.U.A.: os habitantes de Los Angeles percorrem 330 milhões de quilómetros de carro - e todos os dias! Isto com todas as consequências para a qualidade de vida local e o ambiente! A velocidade média dos motoristas não passa de resto dos  20km/h...

 

No seu livro, você também traz exemplos de sucesso no tratamento do vírus automóvel. No centro de Seul foi demolida uma auto-estrada onde circulavam cerca de 220.000 veículos por dia, apesar dos enormes protestos...

Sim, como compensação foram criadas 16 linhas de autocarro, o espaço público foi alterado de modo a servir de habitat para as pessoas, o rio que estava coberto pela estrada foi reposto e circundado com áreas verdes, etc. O resultado foi uma melhor qualidade do ar - e para a surpresa da economia, um aumento nas vendas nas áreas que de repente passaram a poder ser utilizadas por pessoas! (...)


E o que é que o Defensor dos Peões das Nações Unidas pensa do facto da Alemanha  gastar 4,5 mil milhões de euros em empréstimos e garantias estatais de modo a manter quatro fábricas da Opel e limitar os despedimentos a "apenas" 3000 trabalhadores?


Estes são os últimos espasmos de um sistema doente.

 

A reler uma entrevista antiga dele publicada aqui no blog.

 


Posta a ler no Ecomovilidade: não foi só a Rua Fuencarral, bem no centro de Madrid, que se viu livre de automóveis. A centralíssima Plaza de Callao foi totalmente pedonalizada:

 

Rua fechada ao trânsito leva a melhoria do comércio em Madrid

MC, 05.10.09

Mais um exemplo de como a sociedade do automóvel é o maior inimigo do comércio local. A Calle Fuencarral em Madrid foi fechada ao trânsito há poucos meses, tendo passado disto

 

a isto

 

 

O NY Times conta como o comércio da zona se revitalizou. Independentemente do comércio, julgo que as duas fotos mostram o quanto ficamos a perder quando as cidades são feitas para o automóvel e não para as pessoas.

(via Por Cidades Mais Sustentáveis)

 


Fui naive quando escrevi que o Passeio Livre ia forçar os candidatos à CML a discutir a mobilidade pedonal, o tema que está sempre ausente nas eleições em oposição ao automóvel que enche páginas de jornais. Também neste debate os candidatos levaram a conversa para... o automóvel.

Resumos a ler e ouvir no Spectrum, no bananalogic, e na TSF. Ficheiros audio (ogg e mp3) do debate aqui.

 

Dois artigos interessantes

MC, 20.01.09

Eu costumo enviar os artigos para o fim dos posts, mas acho que estes dois merecem destaque. Aconselho a leitura deles, mas para quem não tem tempo, aqui ficam os destaques.

 

1. Bons investimentos públicos do Rui Rodrigues do maquinistas.org (obrigado Mário)

 

A cidade americana de Houston é uma referência, como um exemplo a não seguir, por ter graves problemas de mobilidade, e está a pagar muito caro por ter baseado a sua circulação apenas no automóvel.
Para se ter uma ideia da gravidade da situação, a União Internacional de Transporte Público (UITP) dá como exemplo a comparação entre as cidades de Singapura e Houston, que possuem aproximadamente a mesma população e rendimento per capita. Por ano, Singapura gasta menos 10 mil milhões de dólares para transportar os seus habitantes que a cidade de Houston, o que representa cerca de menos de 3000 dólares por habitante.
Esta diferença, em parte, também se explica devido à diferença da densidade populacional mas, mais importante, deve-se ao facto de que em Singapura 52,75% dos seus habitantes utilizam o transporte público, enquanto que, em Houston, 95,5 %, utilizam o veículo privado.
Na Europa, o transporte público consome quatro vezes menos energia que o transporte individual e, no Japão, esse valor é 10 vezes inferior. Por outro lado, segundo estudos realizados pela APTA (American Public Transport Association) o transporte público cria duas a três vezes mais postos de trabalho que o privado

(...)

Nas famílias portuguesas, os gastos em combustíveis atingem entre 76 a 125 Euros por mês. (...) Concluiu-se que, num país como o nosso, com poucos recursos económicos, dirigiu-se o maior esforço para o modo de transporte mais caro, mais poluente e que maior número de mortes, feridos e prejuízos provoca na sociedade.

 

2. Revolução na mobilidade urbana em Espanha no El Pais (em castelhano) (obrigado pedro santos)

Refere-se vários exemplos de mudanças que já aconteceram em Espanha, mas insiste que é preciso uma autêntica revolução - e que a necessidade desta é cada vez mais premente e consensual. O mais engraçado queixar-se que a Espanha está sempre na cauda da Europa em termos de mobilidade, que as coisas só são feitas muito depois, que a ditadura do automóvel e dos seus lobbies continuam a predominar... claramente o autor nunca veio a Portugal. Deixaria de dizer que Espanha está na cauda da Europa.

Uma coisa que me parece estar implícita, e que eu já insisti várias vezes: para uma melhor mobilidade urbana não é apenas lutar pelos transportes públicos, é lutar também contra o automóvel (algo que é quase um tabu em Portugal). Isto porque não se pode ter boas alternativas enquanto a ditadura do automóvel perdurar, porque o automóvel tem um enorme impacto negativo sobre as suas alternativas (autocarro, peões, bicicleta).

 


Aconselho a reportagem rádio (em alemão, mas com uma amável tradução e transcrição do  Jorge Tiago e Heidi Koenig nos comentários ao post!) da Deutschland Radio, a gozar literalmente com a obsessão do nosso primeiro-ministro pelas auto-estradas. Mostra o absurdo de haver um país pobre, com vários problemas estruturais, com uma das melhor rede de auto-estradas do mundo, que tem planeado a construcção de mais mil e tal kms nos próximos anos.

(obrigado Patrick)

 

 

Sevilha

MC, 10.09.07
Av constitucion dantesHá muitos anos que não voltava a Sevilha, e fiquei positivamente impressionado pelo que vi em termos de devolução das ruas e da cidade às pessoas. E isto é especialmente importante por todas as semelhanças que Sevilha tem com Lisboa e Porto em termos de tamanho, de nível de desenvolvimento, de riqueza histórica, de turismo e principalmente em termos culturais (não estamos a falar de uma cidade nórdica, mas da Europa do Sul).

Sevilha hojeA Avenida de la Constitucion, que atravessa o centro histórico, era na minha memória uma avenida cheia de trânsito, barulho e fumo que servia de convite para regressar ao bairro muçulmano. Um pouco como a Avenida da Liberdade em Lisboa, como se vê na fotografia de cima.
Encontrei uma avenida totalmente fechada ao trânsito em toda a sua extensão, cheia de vida, comércio e esplanadas, onde apenas passa uma linha de eléctrico que foi construída recentemente.


Sevilha tem agora uma zona "pedonal" que deve ser mais do que todas as zonas pedonais de Portugal somadas. E para grande espanto dos lusos defensores da carro-dependência nas cidades, o comércio não esmoreceu nem estagnou, bem pelo contrário. A Rua Augusta e a Rua de Sta Catarina, "apesar" do relativamente fácil acesso por carro são bem mais desérticas que o centro de Sevilha.


Sevilha aderiu também à moda das bicicletas urbanas públicas como tantas cidades europeias (Sr António Costa, olhe que em Barcelona até dão lucro).

Por fim, algo que nem sei se me faz rir ou chorar: a foto do único carro que vi escandalosamente estacionado no centro histórico, em cima do passeio a atrapalhar os peões. Repare bem na matrícula... Sim, por cima do símbolo da União Europeia está um P. Também aqui se vê o nível de desenvolvimento de um país.