Miguel Barroso: "Sobre o real custo da hipermobilidade automóvel"
Voltamos a ter o prazer de ter um texto escrito por alguém de fora, logo melhorzito que os nossos. O texto de hoje é do Miguel Barroso, autor do inspirador Lisbon Cycle Chic (que está a organizar o segundo encontro Cycle Chic em Lisboa no dia 19 de Maio) e um membro activo da FPCUB.
Obrigado Miguel!
Sobre o real custo da hipermobilidade automóvel
Para quem diz que os automóvel e os combustíveis estão sujeitos a muitos impostos, vejam esta reportagem, e comecem a somar os nºs...
Não há IA nem ISP juntos que paguem tamanha factura!... E isto é apenas uma ponta do véu - os custos conjuntos de construção e manutenção das Ex-SCUTS e AEs, cujo tráfego é cada vez menor, são simplesmente assustadores. Juntem a isto todos os nós viários, variantes, viadutos e afins, construídos nos arredores (e no interior!!!) das cidades. Não defendendo o TGV, que nos dias de hoje é uma carta fora do baralho, vejam quantos seriam possíveis de construir com estes montantes aqui falados.
Sim, a mobilidade automóvel é brutalmente financiada pelo estado!
E as redes de transportes colectivos saem penalizadas, pois a "fuga" para o transporte individual resultante deste financiamento, traduziu-se em menos utilizadores dos transportes públicos, e por conseguinte, menor sustentabilidade económica destes...
É urgente inverter esta lógica, trazer seriedade a estas negociações, e tentar minimizar o estrago que já foi feito (temos o país rasgado por autoestradas sobredimensionadas e em quantidade exagerada, cuja manutenção é impossível de comportar). A reportagem já não é nova, e não sei em que ponto estará esta situação agora.
Para o comum cidadão, o real custo da mobilidade automóvel está longe de ser compreendida... Todos continuam a protestar, pois é cada vez mais caro, mas na realidade, esse custo é ainda uma fracção do custo global - o resto, continua a ser pago pelo erário público, ou seja, somos todos a pagar . A tendência será para que os utilizadores do automóvel paguem uma fatia cada vez maior dessa factura global.
Claro que serão sempre necessárias infraestruturas rodoviárias - a questão aqui reside na quantidade pornográfica que foi construida nas últimas décadas. O país foi desfigurado em nome de um suposto progresso, em nome de um modelo de desenvolvimento distorcido e com contornos financeiros pouco claros e muito perversos.