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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

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Em Alfama, joga-se à bola na rua

MC, 22.07.12
A foto está com uma péssima qualidade, mas não engana: em Alfama os miúdos jogam à bola na rua. 
O que têm os miúdos de Alfama de diferente dos miúdos de outros bairros de Lisboa, ou de qualquer cidade portuguesa? Também têm televisão, facebooks, playstations, etc. Têm tudo o que supostamente faz com que os miúdos de hoje fiquem fechados sozinhos em casa, mas mesmo assim insistem em jogar à bola na rua com os amigos.
Têm uma coisa que os outros não têm. Tal como os de Veneza, moram num sítio onde o espaço público pertence às pessoas e não aos carros.
E isto explica por que os outros miúdos não brincam também. Não é uma consequência das novas tecnologias, foi porque os pais decidiram que o automóvel era mais importante.
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A ler: um artigo belga (via ASPO-Portugal) sobre outra estranha prioridade da ditadura do automóvel; pôr os combustíveis acima da alimentação. De acordo com o artigo, em 2020, se se cumprir as metas para o uso de bio-combustíveis, metade dos terrenos agrícolas belgas servirão o automóvel: Nourrir avant de fournir des carburants

A poluição automóvel e a saúde de crianças e idosos

MC, 09.07.09

Notícia do DN já com um mês (versão completa aqui):

 

Urgências enchem-se de crianças com picos de poluição

 

(...)

Os picos de poluição em Lisboa fazem disparar o número de crianças com problemas respiratórios e também aumentar o risco de mortalidade, sobretudo na população idosa. É no eixo central da cidade, que corre do Lumiar para o castelo, que se incluem as zonas mais poluídas e o tráfego automóvel demonstrou ser o factor mais importante para a concentração excessiva de partículas no ar que os lisboetas respiram.

(...)

Os dados mostram, pela primeira vez, que, na sequência de picos de poluição (três a cinco dias depois), a afluência às urgências pediátricas do Hospital D. Estefânia por infecções respiratórias tem um aumento significativo. Isto, apesar de, habitualmente, estas doenças já representarem um terço dos atendimentos na unidade, sobretudo por infecções agudas, asma e pneumonia.

(...)

A equipa avaliou todas as faixas etárias e concluiu que há uma subida do risco de morte em 0,66% com um ligeiro aumento da poluição, que se situa em dez microgramas por metro cúbico (um micrograma é a milésima parte do miligrama). Mas para a população idosa, com mais de 75 anos, "esse risco é aumentado, sobretudo para as pessoas que sofrem de doenças respiratórias e do aparelho circulatório", explica.

(...)

"Lisboa tem em algumas zonas concentrações de partículas no ar muito acima dos valores-limite estabelecidos pela UE, com base nas recomendações da Organização Mundial de Saúde, e por isso decidimos fazer um estudo que caracterizasse essa poluição", conta Francisco Ferreira.

(...)

De acordo com a directiva europeia para a qualidade do ar, a concentração de partículas PM10, por exemplo, não pode ser superior a 50 microgramas por metro cúbico em mais de 35 dias ao longo do ano. Mas, à excepção de 2002, Lisboa tem excedido todos os anos esse limite.

 

Por curiosidade, segundo o qualar.org, hoje às 13h (uma hora com pouco trânsito, num dia em que já há muita gente de férias, num dia algo ventoso 30km/h segundo o Yahoo Weather) havia 43µg/m3 na "avenida" da Liberdade... pouco abaixo dos 50 máximos.

 


A ler, com especial dedicação ao Paulo Lourenço do JN: In Amsterdam, more trips now by bike than by car

Espaço para automóvel vs crianças

MC, 04.03.09

O vídeo (1min) que deixei neste post antigo dá que pensar nas restrições à alegria e crescimento emocional das crianças, que são causadas pela monopolização do espaço público por parte do automóvel.

Uma notícia recente da BBC quantifica este problema. De 1973 para 2006, a proporção de crianças inglesas que brinca na rua caiu de 75% para 15% (o meu exemplo pessoal aqui). Isto causou uma epidemia de obesidade infantil, e segundo um especialista consultado, esta alteração contribui para a baixa auto-estima, má condição física e emocional, e falta de sentido de inclusão das crianças.

Curiosamente umas das fotografias preferidas de J.H. Crawford, especialista em urbanismo livre de automóveis e responsável pelo Carfree Times, tem duas crianças a jogar à bola numa rua no Bairro Alto, um dos poucos bairros onde isso ainda é possível fazer em Lisboa:

 


Medidas radicais por esse mundo:

Cidade do México obriga os alunos a irem para a escola de autocarro. Um projecto piloto reduziu a poluição e o congestionamento na zona da escola.

Os funcionários camarários de Jakarta vão ser obrigados a deslocar-se de bicicleta quando em serviço.

 

Não estou a defender medidas semelhantes, apenas a querer enquadrar as reacções paranóicas que há em Portugal sempre que se fala em  ninharias como multar carros no passeio, colocar pilaretes, reduzir estacionamento, controlar velocidades, etc.

As crianças e o espaço público

MC, 15.12.08

Foi perguntado a uma turma de crianças de um infantário nova-iorquino, o que fariam se não houvessem carros na rua. Acho que vale mesmo a pena ver as respostas neste vídeo da StreetFilms, e pensarmos nas consequências da monopolização do nosso espaço público por parte do automóvel. Pensarmos nas crianças que vivem fechadas em casa, nas pessoas fechadas em casa, na falta de interacção social, na falta de aprendizagem social das crianças  na falta de espaços de lazer para coisas básicas como andar de skate, subir às árvores, jogar à bola, etc. Isto tudo porque há quem se arroga o direito de ocupar esse mesmo espaço usando o modo mais irracional que existe para se deslocar.

 


Foto recomendada:

Roubada do CidadaniaLx, e tirada numa ampla praça lisboeta recentemente renovada, e inserida numa zona residencial e comercial, o Campo Pequeno. Do lado direito da foto já SEIS faixas para automóveis.

Respeito pelas crianças.

António C., 25.07.07
Voltou hoje a surgir na imprensa uma notícia sobre o atropelamento de uma criança de 3 anos em Portugal.

Não sei quais são as razões de morte infantil nos últimos anos em Portugal, mas gostaria de lembrar uma estatística públicada num estudo da Unicef de 2001 que pode ser consultado aqui.

Na página 10 do referido estudo, Figura 7 apresentam-se o número de mortes em acidentes rodoviários por cada 100.000 crianças no espaço de tempo entre 1991 a 1995, comparando diversas nações. Se olharmos para o gráfico vemos que Portugal é o país Europeu com maior sinistralidade, tendo mesmo perto do dobro do número de mortes dos restantes países europeus.

Alguma coisa ia mal naquela altura, será que, hoje em dia a realidade é diferente ou continuaremos com uma taxa de morte infantil vítima de acidentes rodoviários de fazer corar de vergonha qualquer automobilista, e mais abrangentemente qualquer cidadão?
Será que esta estatística está já desactualizada?
Seja qual for a resposta, o facto é que hoje morreu mais uma criança... as causas serão muitas, e dirão os mais cépticos que não há nada a fazer senão lamentar...

Eu diria que há muito a fazer, começando precisamente por compreender a razão para a existência de limites de velocidade... não será a única razão para os acidentes acontecerem, no entanto. parece por vezes, difícil a muita gente compreender porque razões não se deve andar a velocidades superiores a 50 km/h nas cidades.