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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Conduzir o carro em Manhattan causa um atraso de mais de 3 horas para os outros

MC, 22.03.13

Todos sabemos que cada pessoa perde facilmente meia hora no trânsito se há congestionamento, mas não temos ideia do impacto que um simples carro a mais pode provocar. Um carro numa fila de trânsito vai atrasar o carro imediatamente atrás por uns segundos, que podia estar uns metros à frente. E ele atrasa o que vem atrás, etc. Num semáforo, o carro pode ser o último a passar antes do vermelho, fazendo com o que ficou atrás tenha de esperar mais 2 minutos. Imaginando que um único carro consegue atrapalhar uns 120 durante o seu percurso, atrasando cada um por um minuto, facilmente chegamos ao número incrível de duas horas.

Pelas contas do economista Charles Komanoff, em Manhattan o número exacto é 3 horas e 16 minutos em tempo perdido, graças a um único carro! Isto equivale a um custo de 160$, só em tempo perdido.

Escolher andar de carro em Manhattan é como ter uma fila de 20 pessoas numa caixa de hipermercado, e passar à frente delas e demorar 10 minutos a ser atendido! Por alguma razão estranha, o segundo comportamento é social inaceitável, mas a grande maioria das pessoas tem dificuldade em perceber porque é que o primeiro deve ser desincentivado.

É exactamente por isto que os economistas de transportes defendem que deve haver portagens à entrada das cidades: é fundamental que os automobilistas tenham noção dos custos das suas escolhas, devendo ser por isso desincentivados. A portagem tem a vantagem extra de angariar dinheiro para investir em transportes públicos.

 

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Recomendo hoje a leitura de uma entrevista com o economista chefe da Agência Internacional da Energia que critica a posição branda da UE sobre a eficiência do uso dos combustíveis.

Psicologia do estacionamento abusivo ou em segunda fila

TMC, 23.06.11

Como já escrevi diversas vezes, a bicicleta, entre outras vantagens, possui a inegável capacidade de revelar ao seu utilizador muitos mais pormenores da cidade do que outros modos de transporte.

 

Como ciclista, um dos fenómenos em que mais reparo, devido à sua ocorrência elevada, é a quantidade de carros estacionados em segunda fila com os piscas ligados. Reparo neles porque são obstáculos, e nunca sei se dentro deles estará um braço prestes a abrir uma quiçá mortífera porta. O que vou dizer pode contudo ser aplicado também ao estacionamento abusivo.

 

Os donos de tais carros em segunda fila justificam essa paragem momentânea com os "minutinhos" que levam a fazer umas comprinhas na farmácia, no supermercado, na tabacaria, no oculista, etc: "vou ali e já venho" é o mote, e por isso não consideram que valha a pena andarem uns minutos extra em busca de um lugar livre. Claro que os problemas de tráfego que geram por estarem na faixa de rodagem não entram na sua contabilidade ou consideração. É para mim frequente ver um autocarro encalhado ao pé de um carro a piscar; este álibi luminoso é suficiente para que o seu dono não tenha qualquer pejo em prejudicar quem anda de transportes públicos.

 

Para qualquer percurso, qualquer viajante traça um mapa mental com o trajecto entre o ponto em que se encontra e o ponto em que estará; este mapeamento mental vem contudo afectado por sermos, automaticamente, pessoas que andam, peões. A própria projecção desse mapa mental vem por isso enformada pelo facto de nos imaginarmos a falar frente a frente com uma pessoa atrás de um balcão, pedindo-lhe um serviço.

 

Só que o mapeamento do trajecto em automóvel não pode assentar numa simples ligação de pontos; devido ao espaço que ocupam, um trajecto no espaço feito em automóvel tem de assentar numa ligação de zonas, não de pontos. Enquanto pensar como um ser humano andante, como o peão que é, qualquer condutor vai querer ficar com um lugar escancarado a poucos metros do destino final. É esta ilusão que força a existência do estacionamento em segunda fila e do estacionamento abusivo. Este facto psicológico corre em paralelo à consideração do automóvel como algo que só tem vantagens; as desvantagens, como o tempo gasto em congestionamento ou na procura de um lugar livre, são ilusóriamente obliteradas, para prejuízo de todos.

 

A não ser que os políticos julguem ser mais fácil modificar o comportamento humano (as tragédias do séc. XX incorreram nessa tentativa de criar um novo homem), este facto psicológico deverá nortear o planeamento do estacionamento. Um condutor pensará sempre como um ciclista (e como um peão), querendo sair do seu assento a escassos metros do seu destino. A fiscalização autoritária e recorrente deverá constituir uma barreira dissuasora sem qualquer receio de ser criticada.

 

Dado o seu tamanho e flexibilidade de estacionamento, conclui-se que a bicicleta é o meio de transporte mais adequado ao modo como a mente humana planeia o seu percurso no espaço citadino. O uso de qualquer outro modo de transporte incorrerá em problemas na racionalização do uso do espaço.

E ainda há quem se espante...

MC, 16.10.09

Uma semana depois da abertura de mais uma auto-estrada em Lisboa, a TSF diz que "ao contrário das expectativas"  o "caos de trânsito no IC-19 continua apesar da nova A-16". Nas última duas décadas foram inauguradas centenas de quilómetros auto-estradas e vias-rápidas na Grande Lisboa. Foram feitas dezenas de túneis e alargadas vias. O trânsito continua um caos, apesar do número de habitantes não ter variado.

Aparentemente ainda há muita gente que não percebeu que esta é a receita errada.

 


A ler: TGV sobre a trapalhada que é o serviço da CP.

Lisboa tem muito trânsito... há 28 anos

MC, 17.09.09

E mais uma música, esta de 1981 de Adelaide Ferreira onde ela já se queixava das horas de ponta e que "Lisboa tem muito trânsito".

Reparem na data, 1981! 28 anos depois, dezenas de túneis depois, centenas de quilómetros de auto-estradas e vias-rápidas depois, vários alargamentos de ruas (e diminuição de passeios) depois, vários parques de estacionamento depois, não consta que a situação esteja melhor. Eu diria que até está pior.

 

Melhor sorte tem o Joe Dassin da música anterior, que vive em Paris onde já se percebeu há  anos que a solução é exactamente a oposta da que é feita em Lisboa: tornar a vida mais difícil ao automóvel. Em Paris houve redução do estacionamento à superfície, redução das faixas de rodagem, eliminação de uma via-rápida no centro, criação de ciclovias e bicicletas públicas. E a diferença está bem à vista.

 


Em dia de música e boas notícias, mais uma excelente para o Norte do país. O PROT da região Norte prevê a criação de ferrovia entre Braga e Guimarães, duas cidades  em forte crescimento e cada vez mais próximas (têm uma universidade em comum) mas com uma vergonhosa ligação em transportes públicas. E esta não é a única ligação ferroviária prevista. A ler no Moving People.

 

Os autocarros não funcionam por culpa dos carros

MC, 09.08.09

No relatório de 2008 da Carris lê-se que a velocidade média dos transportes da Carris nos últimos cinco anos oscilou entre os 14,30 e os 14,54km/h. Uma velocidade ridícula. Alerta ainda que que este valor é especialmente alto dada o grande número de carreiras nocturnas, onde a velocidade é muito maior.

E porquê? Porque de noite não há trânsito causado por quem anda de carro. Não faz sentido exigir um bom serviço de autocarros antes de introduzir restrições aos automóveis, porque são os automóveis que causam o mau serviço.

 

É um exercício muito interessante, apanhar a mesma carreira durante a madrugada e durante a hora de ponta da manhã. Muitas carreiras da madrugada estão tão cheias como as outras (logo o mesmo número de passageiros a demorar nas paragens), mas não há trânsito de madrugada. A diferença na qualidade de serviço é alucinante.

 


Página muito interessante sobre programas de bicicletas públicas, a OBIS. Uma página com o apoio da UE com informações sobre os vários programas existentes. (via Bike-Sharing Blog)

 

Não sou eu, és tu

MC, 05.06.09

Ao caro automobilista,

que perdeu meia hora devido ao congestionamento provocado pelos outros automobilistas - ai que bom seria se todos os outros fossem de autocarro, assim não te empatariam,

que agora não aguenta perder 5 segundos devido a mim,

 

um "lento" ciclista,

que não se quer desviar para bem junto dos carros estacionados em segunda fila reduzindo o número de faixas,

e que tem o displante de andar mais depressa que tu em grande parte das ruas entupidas da cidade:

 

já pensaste que, se fosses de bicicleta, de mota ou num carro mais estreito, me conseguirias ultrapassar sem problema? O problema não é a minha velocidade, mas a enorme caixa de metal que insistes em levar para todo o lado.

 


A ler n'Os Verdes em Lisboa:

Um especialista em desenvolvimento sustentável considerou hoje que em Portugal “há demasiado investimento em auto-estradas em detrimento da mobilidade ecológica”, lamentando que o consumo de energia no sector do transporte seja “cada vez mais parecido ao dos EUA”.

Cenas do Quotidiano do Automobilista Imperador do Universo I

MC, 04.06.09

De manhã a televisão mostra-nos incessantemente imagens de várias auto-estradas e vias-rápidas de Lisboa e Porto. O locutor vai-nos enunciado o estado do congestionamento em todas elas. De 15 em 15 minutos repete-se a longa e enfadonha lenga-lenga. Mesmo fora desses minutos, o Exmo. Sr. Dr. Automobilista é constantemente informado através de uma caixa no rodapé da televisão.

Muda-se e remuda-se de canal, mas a cena repete-se.

Liga-se a rádio, troca-se e retroca-se de estação, e nada nos salva do "trânsito muito complicado nos acessos à IC324 na zona de Vila do Popó". Há até rádios que têm números de telefone gratuitos para informação sobre o estado do trânsito. Agora já não é tão comum, mas antes das modernices das câmaras na estrada, havia helicópetros a sobrevoar Lisboa apenas para informar os Exmos automobilistas ouvintes das rádios sobre o congestionamento.

Para lá da maioria dos portugueses, que não vivendo nas grandes cidades, têm que aturar com isto, o que me choca é que nunca há qualquer informação para quem anda de transportes públicos. Metade da população de Lisboa e Porto tem todos os media a pensar neles constantemente, enquanto a outra metade não tem direito a saber de interrupções em faixas BUS que provocam longos atrasos nos autocarros, sobre problemas de circulação nas linhas de metro e de comboio, sobre carreiras de autocarro momentaneamente afectadas. Absolutamente zero.

 

Eu vou escrever às TVs e rádios a criticar a situação, queixa-te tu também.

 

P.S. Nem de propósito, pouco tempo antes de eu ter escrito esta posta houve uma interrupção na linha amarela do Metro de Lisboa que durou 20 a 30 minutos. Não passou na rádio (pelo menos na que eu estava a ouvir) nem aparece qualquer referência no Google News. Um interrupção semelhante numa AE teria direito a cobertura em grande, agora esta coitada não meteu carros...


Blogues relacionados que descobri recentemente:

Moving People (PT)

Diário do Tripulante (PT)

Wheels vs Legs (PT)

Por Cidades Mais Sustentáveis (BR)

Cidade Ideal (PT)

Lisbonize (PT)

Três artigos sobre ideias "radicais" em mobilidade do Times

MC, 08.05.09

Just step out, pedestrians are told. Drivers will stop 

Sobre uma experiência de Shared Space em Inglaterra. Ao contrário do que o senso comum pensa, semáforos, passadeiras, passeios altos, barreiras para peões, e outro tipo de condicionamentos e regulações nas cidades são prejudiciais à segurança. O motivo é simples, e é muito fácil de o constatar em Lisboa: quando há um sinal verde e está claramente definido como é que os peões e os veículos se devem comportar (passadeiras, semáforos, barreiras, faixas pintadas), os automobilistas ganham uma sensação falsa de segurança. Assumem que não há perigo, o que leva a velocidades altas e ao total alienamento do que passa à sua volta.


We pedestrians have reached a crossroad 

Sobre diferentes tipos de passagens de peões, incluindo o famoso Barnes Dance, onde um cruzamento inteiro tem um período de verde exclusivamente para peões. Assim não se obriga o peão a esperar 3 ou 4 vezes para atravessar uma simples rua.


Traffic lights covered up by Ealing Council to test congestion 'cure' 

Uma das zonas de Londres descobriu por acaso, o que muitos especialistas em mobilidade "alternativa" há muito dizem: os semáforos não só causam perigo, como podem atrasar o trânsito. Em Ealing houve um dia sem semáforos por avaria, e o trânsito fluiu melhor. Agora vão desligá-los durante 6 meses de propósito.

Tem uma referência ao famoso caso de Drachten: In the Dutch town of Drachten the removal of traffic lights at one big junction resulted in crashes falling from 36 in the four years before the scheme was introduced to two in the next two years. The average time for each vehicle to cross the junction fell from 50 seconds to 30 seconds despite a rise in the volume of traffic.

Ovo de colombo

MC, 23.02.09

Quando comecei a deslocar-me de bicicleta em Lisboa, há mais de uma década atrás, habituei-me a ouvir graçolas, que só mostravam a visão terceiro-mundista sobre quem se deslocava num transporte que custa cem vezes menos do que um carro. Felizmente já não há ninguém que fique espantado com um ciclista em Lisboa, e os comentários patetas passaram.
Há dias, para compensar, ouvi a melhor boca de sempre. Em hora de ponta numa avenida de Lisboa, o trânsito a avançar a passo de caracol, uma barulheira de buzinas, os carros apertavam-se para avançar pelos buraquinhos, os cruzamentos entupidos com os carros que tinham ficado do verde anterior, os peões a ziguezaguearem entre a muralha de automóveis para atravessar a avenida. Eu de bicicleta, a passar nas frestas onde as motas não cabiam, era claramente o mais rápido na avenida. Um homem que tentava atravessar a rua ao ver-me, comentou com quem ia lado num tom de quem acabou de descobrir a solução dum quebra-cabeças:

"Olha, boa!"

 


Triste notícia para Coimbra (já atrasada): os planos para o IC2 na zona de Coimbra prevêem o atravessamento de um viaduto de 40 metros de largura, ao longo de 150m pela Mata Nacional do Choupal (parque histórico de 79ha ao longo do rio, utilizado por muitos para lazer). Parece inacreditável, não é? Mais uma vez nada impede os viadutos de atravessarem áreas protegidas, bairros residenciais, jardins, etc.

Mais na página da Plataforma contra o viaduto.

Obrigado Tiago