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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

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Os preços dos combustíveis explicados às crianças e ao Carlos Barbosa

MC, 19.03.12

O presidente do ACP ao Público:

 

"Nem eu nem nenhum português entende como é que o barril de Brent está a 124,98 [dólares]”, quando em 2008 “estava a 160 dólares e nós tínhamos combustível mais barato”.

Só posso saudar as declaração de Carlos Barbosa, porque o primeiro passo é sempre reconhecermos as nossas falhas, neste caso reconhecer a sua habitual incapacidade de perceber o mundo à sua volta. Já não lhe fica tão bem dizer que os outros todos também sofrem do mesmo problema, o que nem é verdade, mas enfim. Pior é quando mente, e confunde 148$ (o preço máximo a que o Brent chegou) com 160$.

 

Caras crianças e caro Carlos Barbosa,

os senhores que vendem o petróleo não aceitam as nossas notas que usamos na Europa, querem apenas umas notas que se usa na América, os dólares. Por isso quando compramos o petróleo, temos primeiro de trocar os euros pelos dólares. Para comparar os preços entre hoje e 2008, temos que pensar nessas duas compras, e não só na segunda. Se fomos fazer as contas, e basta uma calculadora daquelas da escola, em 2008 o preço tocou os 86€. A semana passada, este valor chegou aos 96€ (12% mais, para quem já aprendeu as percentagens). É por isso que hoje os combustíveis estão mais caros.

 

Mais textos da mesma série:

A importância do acesso automóvel para o comércio local explicado às crianças e ao Carlos Barbosa

Os carros devem ter mais deveres e menos direitos que os peões, explicado às crianças e ao Carlos Barbosa

 

Adenda:

outras pérolas recentes do senhor, apanhadas pelo A Nossa Terrinha 

 

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A ler uma notícia que já tinha colocado no Facebook do Blog: o preço da gasolina já chegou aos 2€ nas bombas de Paris.

"A chave não é encontrar uma forma de arranjar gasolina mais barata, a chave aqui é sair da estrada"

MC, 21.05.10

Uma interessante entrevista do economista Jeff Rubin ao DN, que vai de encontro ao que nós temos escrito por aqui sobre política energética e transportes, e à declaração de James Howard Kunstler que eu gosto muito: quem está a pensar em como vamos continuar a andar de carro, não percebe que a questão com a qual nos deparamos num futuro próximo é como vamos viver sem andar de carro.

 

Algumas partes:

 

Que vantagens vamos tirar daí?

Estamos a ficar sem reservas?

Não estamos a ficar sem petróleo, mas antes sem petróleo que temos capacidade de queimar. Todos os anos o mundo perde cerca de 4 milhões de barris por dia e consome 85 milhões. O que isso quer dizer é que temos de arranjar 20 milhões de barris por dia nos próximos cinco anos para que daqui a outros cinco possamos consumir a mesma quantidade que em 2010. Estamos a substituir petróleo low cost por high cost, além dos elevados custos ambientais das novas reservas.

 

O que aconteceu em 2008 vai voltar a repetir-se?

Antes da crise da Grécia, o barril estava a ser comprado a 85 dólares. E repare que a maioria das economias consumidoras de petróleo não está nas mesmas condições que estava antes de começar a recessão. O petróleo até pode voltar aos 40 dólares, isto se continuarmos em recessão, não digo que não. O que digo é que não podemos sobreviver como economia global se o preço do petróleo voltar aos três dígitos. E, quando isso acontece, a distância custa dinheiro. O modelo de economia global deixa de fazer sentido.

 

Quando é que isso vai acontecer?

Está a acontecer enquanto falamos. O petróleo esteve agora a custar 85 dólares por barril. Há três anos, esse preço seria um recorde inacreditável e agora é o que se paga quando metade do mundo está em recessão. Vamos chegar aos 150 dólares por barril. E não me parece que a economia esteja mais apta para lidar com esses preços do que estava em 2008. É por isso que acho que temos de mudar. Não faz sentido irmos buscar tudo à Índia ou à China porque os salários são mais baixos. O custo de importação vai ser mais caro. Aquilo que poupamos em custos de pessoal gastamos para trazer os produtos.

 

Vamos ter de nos habituar a outra forma de vida?

Sim, em tudo. No que comemos, onde trabalhamos, onde vivemos, como gerimos o nosso negócio, que tipo de trabalhos temos. Essas serão as mudanças que nos permitirão adaptar a preços de três dígitos. Mas não vamos deixar de comer. O problema é que nos Estados Unidos, Canadá ou Europa Ocidental metade dos terrenos agrícolas são hoje sítios pavimentados. As mesmas forças económicas que acabaram com as fábricas e as levaram para a China vão ter de reverter isso. Rendibilizar novamente os locais não porque o governo diz mas porque os preços do petróleo o dizem.

 

E acha que as pessoas estão preparadas para esta reviravolta?

A única vez em que concordei com George W. Bush foi quando ele disse "estamos viciados no petróleo". E estava 100% certo. Mas ninguém está mais viciado do que os norte-americanos. Contudo, é uma mensagem que as pessoas não querem ouvir. Preferimos fingir que conseguimos encontrar novas fontes de energia porque não queremos cortar no nosso consumo. Mas a chave não é encontrar uma forma de arranjar gasolina mais barata, a chave aqui é sair da estrada. Nisso acho que os europeus estão mais habituados. Pelo menos têm sistemas de transporte muito mais desenvolvidos.

 


Cada vez há mais iniciativas a favor da bicicleta: mais uma interessante numa escola de Faro a ler no Planeta QI.

 

Tanta conversa sobre o preço da gasolina

MC, 16.04.10

 

Desculpem... não resisti à piadinha fácil.

Algo mais sério para ler, um artigo do Earth Policy Institute sobre os enormes recursos necessários para pôr os automóveis a mover-se a "biocombustíveis", intitulado U.S. Feeds One Quarter of its Grain to Cars While Hunger is on the Rise. A quantidade de cereais usada para mover automóveis poderia alimentar 330 milhões de pessoas. Sendo a incorporação de biocombustíveis ainda baixa e havendo já uma forte competição entre alimentação e automóveis, imagine-se como será quanto essa incorporação chegar aos 20%.

 

 

Ponto de ordem à mesa: a electricidade e os combustíveis são baratos em Portugal

MC, 22.08.09

Já por várias vezes tive a discussão sobre o preço da electricidade e os combustíveis aqui nos comentários do blogue. Há a ideia errada que em Portugal  os preços são elevados face à média europeia. Seja porque as pessoas só comparam com Espanha, seja porque confiam no que lêem nos jornais que não têm muitas vezes falta de pudor em vender sensacionalismo (cheguei a encontrar um título de jornal sobre os preços da electricidade, que era na realidade baseado num artigo de opinião de um sindicalista, que tinha ido buscar os preços pagos por uma família cujo consumo médio estaria ao nível de uma TV em stand-by sem mais nada... mas eu não conheço nenhuma família assim). Faço assim copy-pate de informação que deixei em comentários.

 

Preço final pago pelos consumidores, 1º semestre 2008 em €/kWh, dados do Eurostat:

UE27            0.1691 0.1633 0.1508

Zona Euro    0.1733 0.1711  0.1587
Portugal       0.1691 0.1480 0.1326

As colunas são consumos baixos, médios e altos (deixei os muito baixos e muito altos de fora). Portugal está abaixo da média europeia, e bem abaixo da média da Zona Euro.

 

 

Preço final dos combustíveis em €/L, fonte relatório da DG de Energia e Transportes da Comissão Europeia, complementar com base de dados de energia Eurostat em 2005,2006 e 2007 (os últimos que o relatório tem)

Gasóleo

UE25         0.948  1.094 1.052
Portugal    0.834  0.981 1.019

Gasolina 95

UE25         1.034 1.192 1.150

Portugal    0.996 1.196 1.239

 

Das seis comparações, Portugal apenas fica acima da média numa (e por uma margem minúscula).

 


A ler: histórias de miúdos que foram proibidos oficialmente de ir para a escola de bicicleta , porque era perigoso (possivelmente porque os país dos outros miúdos os levam de carro). Alguém imagina proibir-se um automóvel de circular porque corre perigo devido às bicicletas? No Carectomy

Défices...

MC, 08.03.09

E por falar em economia, um dos temas da moda nos últimos tempos tem sido o grave défice externo português (quanto ficamos a dever ao estrangeiro a cada ano). Grande parte do défice externo é causado pelo défice comercial, isto é o que compramos a mais ao estrangeiro comparado com o que vendemos, que em 2007 foi de 19,5 mil milhões de euros.  Ano após ano, Portugal está a comprar mais do que vende, o que não é sustentável*. Desses 19,5 há 6,2 que vêm de uma só categoria comercial, a dos "combustíveis e lubrificantes"!

 

 

Claro que o que não existe cá tem que ser importado. Claro que é impossível viver sem petróleo. Tudo bem. Mas dada a gravidade do problema, não faria todo o sentido diminuir a nossa dependência do petróleo? Em vez de centenas de kms como este governo fez, não faria sentido ter feito centenas de kms de comboio, que gasta muito menos energia do que o automóvel e que além disso usa uma energia que pode ser produzida em Portugal, a electricidade?

 

* bom, a coisa não é assim tão simples... mas para aqui chega.


A ler, um texto já com alguns meses, "Cidade do século XXI deverá ter menos carros e mais transportes públicos de qualidade". Uma notícia do Público sobre a opinião do Arq Manuel Graça Dias, no blogue AM de Lisboa. (obrigado Hugo!)

Vale sempre a pena lembrar: conduzir depressa custa... e muito!

MC, 25.06.08

Para quem precisa mesmo, mesmo, mesmo (mesmo?), mesmo de andar de automóvel é sempre bom lembrar que as velocidades altas pagam-se, e pagam-se bem.

 

A revista alemã Auto Bild fez uns testes medindo o consumo de combustível consoante a velocidade:

 

A velocidades entre os 100 e os 150 km/h, o consumo aumenta qualquer coisa como 0,8l/100km por cada 10km/ de velocidade, sendo que o aumento é bem maior nos motores a gasolina (a amarelo nos gráficos).

Por exemplo, numa viagem Lisboa-Porto para se ganhar 10 minutos, é preciso gastar  pelo menos mais 2,4l ou seja mais 3,5€. Vale a pena por 10 minutos? E digo "pelo menos" porque conduzir rápido numa estrada com trânsito implica mais travagens e acelerações, logo muito mais consumo.

 

Para quem não liga ao dinheiro vale a pena lembrar o aumento da sinistralidade com a velocidade, e que todas as emissões poluentes sobem com a velocidade a partir dos 80km/h.

 

Outras dicas da revista alemã:

Menos peso (menos 0,5l por cada 100kg)

Nada no tejadilho (bicicletas podem aumentar até 4,6l)

Pneus cheios (menos 0,2 bar significa mais 2% de consumo)

Bom lubrificante (mais 10€ na compra mas menos 5% no consumo)

Revisões frequentes

Não esperar enquanto o motor aquece

Acelerações a fundo (está bem traduzido!) em vez de acelerações lentas quando a baixas rotações e com motor a gasolina

Mudanças baixas (a 50km/h a quinta gasta menos 4,7l do que a segunda)

Deixar ir em vez de acelerar e travar na cidade

Poupar na electricidade (ar condicionado 0,7l, faróis de nevoeiro 0,3l, rádio 0,2l)

Desligar o motor quando parado (menos 1l na cidade)

Combustível normal em vez de super

 


Leitura recomendada: High Fuel Costs Could Spur a New Rationalism

Baixar os impostos sobre os combustíveis é ajudar os ricos

MC, 09.06.08

Já o aqui tinha defendido, e agora repito-o com números.

Segundo jornal OJE de sexta, há um estudo do FMI feito em 5 países em vias de desenvolvimento que indica que as famílias 20% mais ricas beneficiam de 42% dos subsídios aos combustíveis enquanto as 20% mais pobres apenas de 10%.

A situação não a mesma que em Portugal, mas não vejo razão para que os números se invertam.

 

Sobre este assunto, o Marcelo Rebelo de Sousa dizia há uns dias que, havendo uma larga maioria de adultos portugueses com automóvel (70% segundo as contas da cabeça dele), não era verdade que baixar o ISP apenas beneficiaria uma minoria. "Esqueceu-se" de dizer que a grande maioria dos mais pobres e dos idosos estão nos outros 30%... Aliás aqueles 70% até são mais um argumento para não se baixar artificialmente os custos dos combustíveis, só mostram a irracionalidade e o desperdício da mobilidade em Portugal, que devem ser desincentivados.

 

 


Post recomendado: o Paulo dos 100 dias de bicicleta em Lisboa pôs uns estrangeiros a pedalar por Lisboa. A desculpa das sete colinas não pegou.

Afinal há alternativas ao automóvel para o dia-a-dia II

MC, 28.05.08

Há 10 e 20 anos o número de passageiros transportados nos transportes públicos de Lisboa era assombrosamente maior do que é hoje. Sendo que no seu global os transporte públicos não pioraram, tendo muitos até melhorado consideravelmente (metro, comboio Lisboa-Setúbal), como é que se pode dizer que em geral (não estou a falar de casos particulares) não há alternativas?

Não será que há uma boa dose de comodismo e novo-riquismo por detrás?

 

Claro que há uma alteração que pode ajudar a explicar isto, a localização dos habitações e dos empregos. Custa-me a querer que isto explique a maior parte da queda abrupta nos transporte públicos, mas é possível que explique parte. Estes casos só me convencem que os combustíveis devem continuar caros, porque são situações insustentáveis. No futuro próximo teremos que depender menos do automóvel, e nem sequer falo aqui de qualidade de vida, falo da queda da produção de petróleo e as alterações climáticas. É preciso mostrar a quem se afastou da cidade e dos transportes, que essa decisão tem (e terá cada vez mais) enormes custos, e evitar que outros façam o mesmo.

14* milhões de euros, queimadinhos todos os dias

MC, 22.05.08

Segundo a DGEE, Portugal importou em termos líquidos em 2007 cerca de 5 mil milhões de euros em petróleo e refinados (livres de impostos), ou seja 14 milhões de euros por dia. E isto foi no ano passado, quando o famoso Brent custou em média 52,7€. Neste preciso momento está a 84€, o que dá para imaginar quanto vai subir este custo em 2008.

São 14 milhões que todos os dias saem do  país porque nas últimas décadas apostámos exclusivamente no automóvel. 14 milhões porque construímos 2000km de auto-estradas e outros tantos de IPs e ICs, enquanto destruíamos a ferrovia e descurávamos os transportes públicos. 14 milhões porque as nossas cidades estão pensadas para quem anda de automóvel, e desprezam os outros modos bem mais poupadores de energia. 14 milhões porque queimar combustível dentro do carro dá status na nossa sociedade... e quanto mais  eles queimam, mais status dão.

14 milhões que vão enriquecer governos, que na sua maioria são corruptos.

14 milhões que poderiam ser bem menos, se já há muito tempo tivéssemos arrepiado caminho e feito as escolhas correctas.

Baixar os impostos agora é um convite ao "deixa andar", é adiar uma mudança inevitável, e é acima de tudo diminuir o dinheiro que fica por cá e ao mesmo tempo garantir às Arábias Sauditas, Iraques, Rússias, Angolas e Venezuelas que lhe vamos continuar a oferecer prendas cada vez mais chorudas todos os dias nas próximas décadas.

 

* 14 foi a conta que fiz, e trata-se das importações líquidas. Aqui cita-se o Diário Económico, onde se diz que o valor é de 18 milhões ao dia a preços de 2007, e que hoje será de 21. De qualquer modo estes 18 ou 21 são o valor da importação total, mas como nós reexportamos combustível, o custo estará certamente mais próximo dos 14.

 


Para um post bem mais optimista, dêem uma olhada nas notícias sobre o PediBus lisboeta recolhidos no bananalogic!

Boas notícias da súbida do petróleo

MC, 21.05.08

No dia de mais um record no preço do crude, fiquei a saber de mais algumas boas notícias causada por este aumento.

 

1. Diz a SIC que a Carris sente mais passageiros desde o ano passado... Até ver uma boa análise dos números, eu desconfio sempre, mas diria que é verdade.

 

2. Leio no Carfree Times 50 - jornal online que recomendo muito - que o preços das casas nos subúrbios americanos têm caído a pique  chegando aos 18%, especialmente nas zonas sem transportes públicos. Isto quer dizer que os americanos preferem agora arranjar casas mais centrais e casas com fácil acesso a transportes devido ao aumento do combustível, que por lá é bem maior. Ou seja começaram a tomar atitudes mais racionais morando mais perto do trabalho em detrimento dos arredores, andando mais de transportes do que anteriormente. Assim reduz-se o congestionamento, o stress, a sinistralidade, a poluição, a "necessidade" de fazer mais e mais auto-estradas,  aumenta-se o número de pessoas nos transportes o que permite baixar os seus preços, etc...

 

Peço desculpa por me repetir, mas é exactamente por isto que defendo portagens, parquímetros e afins. Quando alguém toma uma decisão tem que ter noção dos custos reais dela. Os americanos que dantes queriam morar longe, já têm essa noção.