O metropolitano de Lisboa, uma empresa pública com elevados montantes de dívida, anunciou que quer construir mais estações no "miolo" da cidade de Lisboa.
Não concordo. Isto não se deve só a sucessivas derrapagens orçamentais na gestão da empresa, ao incómodo causado nos cidadãos pela dimensão dos estaleiros das obras ou ao crónico prolongamento para além dos prazos estabelecidos do tempo de obras. Razões talvez mais do que suficientes em tempo de vacas magras e que traduzem a habitual voracidade de recursos públicos para empresas da capital portuguesa.
O metro é o modo de transporte público mais importante para a cidade de Lisboa; mas tudo é que é demais é em erro. Esta empresa quer provocar a crença na necessidade da sua nova oferta.
As estações anunciadas no miolo (são Bento, Santos, Alcântara, Estrela) não têm razão de ser. Por várias razões. O metro não tem de ser a única rede de transportes que pela sua elevada densidade proporcione a garantia de acessibilidade. Ele tem é de ser complementar a outras redes já existentes. É absurdo querer densificar-se tanto a rede de metro, porque a oferta de pontos de embarque não está só a cabo de uma modalidade de transporte público.
Nesta época cabe mais às empresas de transporte a tarefa de articular o que já se tem: metro, comboio, autocarros e eléctricos; escalavrar durante anos os subterrâneos da capital é uma aventura onerosa, exactamente daquelas que tem todas as condições para correr mal. Por custos mais baixos, a bilhética poderia ser simplicada e as estações de comboio urbanas da CP poderiam ser concertadas com o metro num passe e mapa únicos.
A lógica de densificação de estações de metro no miolo está também, quanto a mim, profundamente errada. O meu pressuposto é que a distância entre as futuras estações será talvez demasiado curta, obrigando a gastos desnecessários; como no Rossio e na Baixa-Chiado ou nos Restauradores e Martim Moniz, quatro estações bem no centro da cidade e que poderiam ser praticamente todas reduzidas a uma. Esta lógica quer fazer das pessoas deficientes motoras, como se andar a pé durante dez minutos fosse uma condição a ser "melhorada" por mais tecnologia, ao invés de uma capacidade inata a ser estimulada.
Outro aspecto desta lógica é o prolongamento e salvaguarda do estatuto privilegiado do modo de transporte à superfície: o automóvel. O seu uso deveria ser o mais limitado possível precisamente no miolo. O metro não faz isso porque não entra numa competição directa com ele pelo mesmo recurso limitado: o espaço. O que deveria ser feito em termos de transportes públicos no miolo de Lisboa, além da já referida articulação, era a adopção de eléctricos de baixa capacidade mas de elevada frequência, como uma ligação entre as Amoreiras e Alcântara, por exemplo, através da Rua de São Bento. Ao entrarem em conflito directo com o automóvel obrigariam os decisores a escolher entre privilegiar apenas um dos dos dois. Claro que aqui já estamos no plano da utopia.
A cicloficina dos Anjos está com uma saúde incrível. De frequência semanal, tem tido uma elevada afluência e ajudado a dinamizar a comunidade de utilizadores de bicicleta de Lisboa. Como participante activo, recomendo uma visita ao respectivo blogue e facebook!
Não esquecer também que nesta sexta-feira há outra Massa Crítica, no Sábado o evento CycleChic repete-se e no Domingo temos a primeira World Naked Bike Parade em Portugal!