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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

"O sr. tem carro, certo?"

MC, 06.10.11

Chamada de telemarketing sobre um seguro bancário:

 

- blá, blá, vantagem 1, blá blá, férias, blá blá, vantagem 2, blá blá, cartões bancários, blá blá

- ok, ok

- blá blá, o senhor tem carro, certo? (com tom assertivo, e de quem nem ia esperar pela resposta)

- Não! Não tenho.

- (longo silêncio) Ah... (pausa) Desculpe... (pausa) é que hoje em dia... (pausa)

 

O pobre rapaz, nem sabia o que havia de dizer. Gostei especialmente que me tivesse pedido desculpa, como quem se desculpa depois de perguntar pelos pais a uma pessoa jovem, sem saber que eles já morreram.

 

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A ver, 3 vídeos da FPCUB e da CM Lisboa, apanhado pelo Lisbon Cycle Chic, com várias dicas para quem começar a andar de bicicleta na cidade. O primeiro aborda o comportamento mais correcto do ciclista, o segundo sobre bicicleta nos transportes públicos, o terceiro sobre como prender a bicicleta.

"Samos" os maiores nas estradas

MC, 07.09.11

Saiu hoje o famoso ranking anual da competitividade do Fórum Económico Mundial, onde Portugal até subiu uma posição para o 45º lugar. Das dezenas de variáveis consideradas para elaborar o relatório, adivinhem aquela onde Portugal se safa melhor.

Ora claro está: estradas! O país alcatifado a alcatrão fica em 45º no geral, mas em 5º mundial nas estradas. A França é o único país da União Europeia que fica à nossa frente.

 

 

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Para quem está em Lisboa, hoje (quarta-feira 7) recomeça a habitual Cicloficina dos Anjos depois da pausa do Verão. Continua a ser todas as quartas, das 19h às 23h na Rua Regueirão dos Anjos (atrás do Banco de Portugal).

Convite de casamento

MC, 12.08.11

Recebi um convite para um casamento na Alemanha.

O convite indicava como chegar ao local da festa de transportes públicos.

Alguma vez alguém viu tal coisa em Portugal?

 

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E para ajudar as coisas a mudar, que tal ajudar uma tese de Mestrado em Mobilidade em Ciclável, respondendo a este inquérito?

Primeiro o ovo ou a galinha? A carro-dependência ou a sociedade do automóvel?

MC, 27.05.11

Dizem-me frequentemente que as pessoas necessitam do automóvel, porque a sociedade a isso obriga. É preciso o carro para ir trabalhar, é preciso o carro para ir às compras, etc. Sabemos bem que esta necessidade é muitas vezes meramente aparente, e que muita gente a usa para auto-justificar o seu abuso do automóvel. Este blogue está cheio de exemplos disso, sendo que talvez o melhor de todos seja relatado por este brilhante post do A Nossa Terrinha. Resumidamente, diz-se que é a sociedade do automóvel que força a carro-dependência.

Ora, isto é não ter alguma perspicácia sobre o funcionamento da economia. Se no imediato a procura (os consumidores) têm que se adaptar à oferta, no longo-prazo ou seja nas grandes transformações, é a oferta que se adapta à procura. Hoje ouvimos música com MP3s em vez de cassetes, mas isso não foi porque alguém decidiu forçar-nos a comprar iPods em vez de walkmans. Sim, no imediato, se eu entrar numa loja de eletrónica vou ser forçado a comprar um MP3, mas a mudança não aconteceu porque a indústria eletrónica mudou a sua produção por acaso. Os walkman desapareceram e vieram os iPods porque os consumidores preferiam ter um sistema mais compacto e de melhor qualidade. A indústria foi forçada a adaptar-se - com enormes custos aliás.

O mesmo se passa com a sociedade do automóvel. Foi a carro-dependência, a vontade de centrar a vida das cidades no automóvel, que levou ao nascimento dos shoppings junto à auto-estrada, ao enfraquecimento do comércio local, à transformação das cidades em parques de estacionamento sem vida, ao abandono dos centros onde é difícil estacionar e a mudança para os subúrbios com garagens e parques de estacionamento, à deslocação de postos de trabalho da cidade para as bermas das auto-estradas.

A nossa sociedade do automóvel não é uma fatalidade dos tempos modernos, aí estão Londres, Estocolmo, Amesterdão, e todas as cidades do Norte europeu desenvolvido para provar o contrário. Esta sociedade é meramente fruto da nossa cultura sedentária, ostentativa e novo-rica.

 

Felizmente há cada vez mais razões para sorrir. As cadeias dos hipermercados investem no comércio de rua, abrem-se salas de cinema na cidade, a procura de casas no centro histórico (onde não se pode estacionar) cresce, o comércio tradicional renasce com mais carácter, cada vez há mais bicicletas na rua, etc.

 

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O Independent fala-nos até no Peak Car, o ponto onde o carro chegou ao máximo da importância e daqui para a frente só decresce. Exemplo: cada vez há menos jovens britânicos a tirar a carta.

Duas histórias do Portugal carro-dependente

MC, 04.05.11

1. Uma amiga estrangeira a visitar Lisboa, ficou numa casa de uma colega, que mora a "10 minutos a pé do Colombo" (para quem não sabe, o Colombo tem uma estação de metro). O facto de a colega portuguesa trabalhar no Saldanha, a apenas 5+1 estações de metro de distância, e usar exclusivamente o carro, já deixava adivinhar o que vinha.

Pouco depois de combinar um café na Baixa, ela volta a ligar aflita a perguntar se eu tinha carro. Não tendo eu carro, ela não poderia ir ter à Baixa por falta de tempo. É que a portuguesa carro-dependente lhe garantiu que de Benfica à Baixa era uma hora de transportes públicos! (São 10 paragens de metro, na mesma linha, 14 minutos segundo o Google Maps).

É impressionante como tanta gente faz um esforço intelectual para se convencer que o automóvel é a única alternativa.

 

2. Uma leitora conta que ao comprar um telemóvel, perguntou a opinião ao vendedor. O vendedor disse-lhe que muita gente se queixava dos telemóveis com ecrã tátil em vez de teclado, porque demoravam mais tempo a escrever mensagens quando guiavam.........

 

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O A Nossa Terrinha conta mais uma história do Portugal carro-dependente, de carros que ganham vida.

À rasca?

TMC, 15.03.11

 

 

Fica o facto: os jovens portugueses são os que compram mais carros novos entre os congéneres europeus. De acordo com as palavras da comentadora, há contudo duas questões que me parecem equivocadas:

 

1- os jovens portugueses não aderem mais ao carro apenas porque não existe uma rede mais densa e eficiente de transportes. Faltam mais restrições à procura, como maiores taxas de fiscalização do estacionamento. Que nenhum condutor se queixe disto: se meteram voluntariamente o pescoço na corda sujeitaram-se aos apetites do verdugo. Comprar um carro é ficar com menos liberdade.

 

2- associar carros híbridos e eléctricos à ecologia e à protecção da natureza é uma frase várias vezes repetida mas sem fundamento. Funciona para quaisquer duas fontes de poluição distintas: uma será sempre preferível à outra porque polui menos, mas não se torna verde apenas porque não polui tanto como a outra. A discussão mais relevante é acerca da necessidade de se continuar a manter na sociedade qualquer uma das fontes de poluição, não deve ser acerca da obrigatoriedade de escolher entre ambas.

 


O nosso texto "O comércio e a rua" foi nomeada para os "Green Blogger Awards". É ir votar :) Se ganharmos prometemos investir na biblioteca de  mobilidade sustentável para continuarmos a tentar apresentar textos de qualidade. Como o blogue A Nossa Terrinha.

Os submarinos e os transportes

MC, 04.03.11

Foi preciso a Wikileaks divulgar um telegrama do embaixador americano em Lisboa para ficar claro o que todos já sabiamos: os submarinos foram um brinquedo tecnológico caríssimo que o "Ministro de Estado, da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar" da altura quis comprar. O telegrama diz ainda, que dado o tamanho da costa portuguesa, seria muito mais proveitoso ter mais fragatas para controlar atentados ambientais, tráfico de droga, etc.

Esta atitude de querer brinquedos tecnológicos em vez de meios que sejam realmente úteis e eficientes é um mal que se repete noutras áreas, especialmente nos transportes públicos.

Lisboa e Porto têm sistemas bilhéticos de tecnologia de ponta (embora incompatíveis entre si, e até dentro de Lisboa há incompatibilidade), que na realidade prestam um serviço pior aos clientes do que o sistema baseado em papel que a Holanda tem (tinha) desde há 30 anos.

A beleza das estações de metro de Lisboa fazem corar os outros metropolitanos europeus, com a exceção de Moscovo (outros que gostam de brinquedos, aliás). Contudo não se pode dizer o mesmo da extensão da rede, que seria mais importante.

Os autocarros da Carris são do mais moderno e confortável que eu tenho visto em toda a Europa. Lisboa é até das poucas cidades com autocarros com wi-fi disponível. Os autocarros são seguidos por GPS, e a informação está disponível ao segundo para os clientes por SMS e por e-mail. A Carris tem ainda entretido-se a criar serviços paralelos, como uma cópia barata deste blogue, um serviço de carsharing, etc. Tudo  de algum modo útil, mas o principal problema serviço da Carris que é apontado há décadas, a baixa frequência dos autocarros, sé tem piorado (ainda esta semana outra vez).

Portugal tem das melhores redes de auto-estradas do mundo, mas falta-lhe o básico. Não há comboio em muitas cidades e o planeamento territorial é tão mau que mesmo o automóvel sai prejudicado.

Gastamos dinheiros em iPads que dão nas vistas, mas contamos os tostões no supermercado.

 

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O Passeio Livre conta uma história parecida, uma escola com parque de estacionamento mas sem campo de jogos.

A propósito do TGV

TMC, 05.09.10

Reproduzo o artigo de Armando Pires no Público de hoje (penso não existir nenhuma ligação):

 

Paul Krugman não defende o TGV

 

Paul Krugman (Nobel da Economia em 2008), devido ao papel central que atriui aos custos de transporte no comércio internacional e na localização da actividade económica, tem sido citado pelo actual governo na defesa do TGV. Em particular, advoga-se que o TGV - ao diminuir o tempo de ligação e, como tal, os custos de transporte entre Lisboa e Madrid - irá aumentar as trocas comerciais e favorecerá uma distribuição mais equitativa da actividade económica na península Ibérica. Mas é mesmo isso que as teorias desenvolvidas por Krugman prevêem? Não necessariamente.

 

De facto, Krugman demonstra que uma redução dos custos de transporte tenderá a conduzir à aglomeração da actividade económica nos centros económicos. Isto acontece porque, ao localizarem-se nos mercados centrais, os agentes económicos podem simultaneamente servir as regiões periféricas com taxas de transporte favoráveis e explorar as vantagens da aglomeração nos centros económicos (economias de escala e spillovers tecnológicos). Assumindo que os centros económicos da península Ibértica são Madrid e Lisboa, isto poderia revelar-se benéfico para Portugal se os ganhos de Lisboa compensassem as perdas nas restantes regiões. Infelizmente, Lisboa não é um centro económico a nível ibérico. Num trabalho meu (ver referência abaixo) demonstrei que existem três centros na península Ibérica: Madrid, Catalunha e País Basco. Lisboa - a região mais central de Portugal - só é marginalmente mais central que a região mais periférica de Espanha, a Galiza. Sendo assim, segundo as teorias de Krugman, Portugal sairia perdedor com uma redução dos custos de ligação a Espanha.

 

Curiosamente, Krugman chegou a analisar um caso semelhante ao de Espanha e Portugal: dois países, cada um com o seu centro económico (Madrid e Lisboa), mas em que um deles é mais periférico que o outro (assim como Madrid é mais central que Lisboa), mas em que um deles é mais periférico que o outro (assim como Madrid é mais central que Lisboa). Nesta situação, Krugman defende que a melhor estratégia do país com o centro mais periférico (Portugal) é desenvolver as redes de transporte internas, de forma a permitir ao seu centro explorar o seu hinterland. Para Krugman, só quando Lisboa se tornar um centro ibérico é que se deve reduzir os custos de transporte entre Madrid e Lisboa.

 

Neste sentido, o desenvolvimento da infra-estrutura rodoviária e ferroviária em Portugal apresenta-se como prioritário. No entanto, enquanto os sucessivos governos apostaram na primeira, a segunda tem sido bastante negligenciada. O desinvestimento ferroviário é ainda mais preocupante, pois é sabido, da experiência do TGV noutros países, que este só é eficaz se interligado com as linhas de comboios convencionais. Ora, enquanto estas estão amplamente desenvolvidas em Espanha, tal não é o caso em Portugal. Corre-se, pois, o risco de o investimento no TGV se revelar ineficiente. Para além do mais, a existência de uma rede ferroviária forte em Portugal poderia ser a alternativa que as populações defendem às estradas pagas. No entanto, a mentalidade rodoviária está tão enraizada que a opção ferroviária não é sequer considerada na discussão sobre as Scut.

 

Todo este debate se mantém com ou sém o défice externo, mas ganha especial relevância no contexto actual, em que os investimentos públicos se devem restringir aos que de facto têm potencial para promover o crescimento tão ansiado da economia portuguesa.

 

Referências: Pires, Armando, 2005, Market Potential and Welfare: Evidence from the Iberian Peninsula, Portuguese Economic Journal, 4, 107-127.

 


O Público de hoje (o único jornal que ainda não adoptou o acordo ortográfico) contém ainda mais duas referências à mobilidade sustentável.

 

A crónica de Carlos Fiolhais versa sobre as diferenças civilizacionais da Alemanha e Portugal no âmbito dos transportes públicos. Está aqui.

O caderno CIDADES apresenta na reportagem "Gente feliz sem carro" vários testemunhos de lisboetas e portuenses que não precisam do carro para viverem as suas vidas. E gostam disso! Pode ser consultado aqui, mas aproveitem, porque em breve deixará de estar em linha.