Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Comissão Europeia volta ao greenwash dos biocombustíveis

MC, 23.07.11

A Comissão Europeia, que quer que em 2020 os combustíveis tenham uma incorporação mínima de 10% de biocombustíveis (combustível produzidos a partir plantas), acedeu a algumas críticas que eram feitas a esta política, tendo redifinido o que considera ser um biocombustível

Uma das críticas prendia-se com o aumento da procura de cereais, que levou várias empresas agrícolas a ocupar florestas tropicais e terrenos ecologicamente sensíveis na América do Sul e na Ásia. Para evitar este problema, a CE exige agora que os cereais para os biocombustíveis provenham de terrenos que já eram agrícolas. Isto contudo não muda em nada o essencial: os biocombustíveis fazem concorrência aos alimentos na luta pelos recursos. Mesmo que as florestas não sejam destruídas para os combustíveis, sê-lo-ão para alimentação devido ao aumento de procura de espaços aráveis.

De qualquer modo, qualquer alteração legislativa nada faz para contornar os dois principais problemas desta aposta:

1. Os biocombustíveis chocam com a necessidade de recursos (terreno, mão-de-obra, água, etc.) para o cultivo de alimentos. O aumento do preço dos alimentos básicos que se tem observado nos últimos tempos, e que muitos têm atribuido ao crescimento dos biocombustíveis, não será mitigado pelas novas regras.

2. Os biocombustíveis servem para prolongar o modelo vigente de mobilidade. Uma mobilidade sustentável precisa de mais transportes públicos e menos de automóveis.

 

.........................................................

A Agência Europeia do Ambiente é muito clara num dos seus últimos relatórios: se a UE não vai cumprir os limites de emissões de óxidos de azoto (dos piores poluentes automóveis) e a culpa é dos automóveis. O relatório diz que o sector rodoviário não teve o comportamento que era esperado.

Bio-combustíveis podem levar a emissões de carbono quatro vezes maiores

MC, 22.04.10

Um relatório preparado para Comissão Europeia, afirma que os bio-combustíveis à base de soja levam a um nível de emissões de 339,9Kg de CO2 por GJ, quatro vez mais que os combustíveis convencionais. Estes valores são baixam para 150,3 Kg no caso de biodiesel produzido por colza na Europa, e 100.3 Kg para a beterraba europeia. Todos estes valores ficam acima dos 85Kg do diesel e gasolina convencionais.

Estes dados constam de um estudo que já estava nas mãos da Comissão Europeia há vários meses, mas que não tinha sido publicado. Foi apenas por pressão judicial da Reuters e ONGs que a Comissão foi obrigado a divulgá-lo.

Fugas de outros estudos para a Comissão, mencionadas pela Reuters, apresentam outros problemas dos biocombustíveis como aumento dos preços dos alimentos e destruição de ecossistemas.

De lembrar que a queima do bio-combustível em si, terá uma emissão próxima dos combustíveis convencionais. Mas a este valor deve subtrair-se o carbono que foi caputrado da atmosfera (100% se o combustível for 100% bio) mas deve somar-se os custos de produção (cultivo, recolha, processamento, distruição) que são maiores do que no caso dos convencionais.

 

A indústria e as autoridades andam agarradas ao paradigma automóvel tentando contornar todos os problemas energéticos e ambientais que ele tem. Como diz James Howard Kunstler, andam preocupadas em como vamos continuar a andar de carro daqui poucas décadas, quando a questão que se põe é como a sociedade vai funcionar sem automóveis.


A CM de Lisboa já estar a dar o seu passinho, tendo criado uma página sobre a bicicleta em Lisboa. Parabéns!

Tanta conversa sobre o preço da gasolina

MC, 16.04.10

 

Desculpem... não resisti à piadinha fácil.

Algo mais sério para ler, um artigo do Earth Policy Institute sobre os enormes recursos necessários para pôr os automóveis a mover-se a "biocombustíveis", intitulado U.S. Feeds One Quarter of its Grain to Cars While Hunger is on the Rise. A quantidade de cereais usada para mover automóveis poderia alimentar 330 milhões de pessoas. Sendo a incorporação de biocombustíveis ainda baixa e havendo já uma forte competição entre alimentação e automóveis, imagine-se como será quanto essa incorporação chegar aos 20%.

 

 

Biocombustíveis, mais dúvidas

MC, 05.07.08

Não são propriamente grandes novidades, mas duas notícias recentes sobre os biocombustíveis.

 

O Banco Mundial diz que 75% da subida do preço dos alimentos desde 2002 se deve ao aumento da procura de bens agrícolas para biocombustíveis.

 

Estudo publicado na Science diz que os biocombustíveis têm aumentado os gases de efeito de estufa.

 

O Público tem hoje uma interessante reportagem exactamente sobre este tema, infelizmente não está online, onde se lembra que, por outro lado, nem todos os combustíveis são iguais. O caso do etanol no Brasil é ambientalmente aconselhável (não deixa de utilizar recursos que poderiam servir para alimentação), mas ele parece estar pouco acompanhado.

 


A guerra por petróleo no Iraque já deu mais frutos, com a abertura dos campos petrolíferos a empresas estrangeiras (via CarfreeUSA).

E o teu "carro verde", quantas pessoas faz aos 100km?

MC, 04.05.08
Apanhado na World CarFree News
"Speculation and so-called Bio-fuels are leading us to a shortening of raw food sources world-wide. The consequence: Poor people go even hungrier, so that the rich can drive their cars in a supposedly environmentally friendly way. This shows the duality of the term bio-fuels. "Bio" means life. In this case, it is the life of those, who must give them up for our gas station fill-ups.
Perhaps we should, as cynical as it sounds, indicate the usage of a car in terms of hungering people per one hundred kilometers. An SUV uses the equivalent of one year of a person's food needs for every full tank of bio-fuel. Depending on your driving style, every hundred kilometers you are using 0.2 to 0.3 people! I would rather stick to my bicycle."

Marco Walter, Constance, Germany, reported in the taz

(Tradução do mais importante: Um SUV usa o equivalente às necessidades alimentares de uma pessoa, quando se enche um tanque de biocombustível. Dependendo do teu estilo de condução, podes estar a gastar 0,2 a 0,3 de pessoas aos 100km.)



Viariato Soromenho Marques sobre os sustentabilidade nos transportes em Portugal – “Embora tenhamos uma Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável e um discurso oficial sólido e coerente nos compromissos internacionais em matéria de alterações climáticas, (…) continuamos a ter uma política nos transportes que vai no sentido inverso. O nosso plano rodoviário continua a privilegiar as auto-estradas, a prevista terceira travessia do Tejo tem uma valência rodoviária e ferroviária e já se fala na possibilidade de a ferrovia só entrar em funcionamento numa segunda fase, quando deveria ser o contrário. O argumento é muito simples: o comboio não paga portagens. (…)”



Post recomendado: Diminuer l’accessibilité automobile (sobre soluções urbanas de acalmia e redução de tráfego) no Carfree France.

Carros Verdes / Carros Amigos do Ambiente / Carros Ecológicos

MC, 21.09.07
Para uma boa lista de carros "menos inimigos do ambiente" consulte a página topten.pt da Quercus

Recordo-me de uma capa da revista do ACP no fim dos anos 80, aquando da implementação da gasolina sem chumbo em Portugal, que tinha na capa um fotomontagem com um automóvel com flores a sair do tubo de escape.
Hoje qualquer um sabe que esta visão era um verdadeiro disparate (o chumbo era apenas um dos vários poluentes), mas era esta na altura a mensagem que se passava: a gasolina sem chumbo é "amiga do ambiente".
Neste momento passamos por mais uma vaga de consciência ambiental (isto é um fenómeno cíclico), propícia ao greenwash por parte da indústria e algumas autoridades. Eles são "carros verdes", que "poupam o futuro do planeta", que "reduzem a emissão de CO2 " (como se o CO2 fosse o único gás emitido preocupante), etc... Sejamos claros: não há carros amigos do ambiente, há apenas alguns menos inimigos do ambiente (o que já é obviamente de aplaudir). Em vez de um cancro que mata o doente num ano, provocam um que mata o doente num ano e uns meses.

Aqui fica um pequeno manual de interpretação dos "carros verdes".

Híbridos: um carro híbrido não é um carro a gasolina e electricidade. O único combustível é a gasolina, mas o carro tem uma bateria que é carregada nas travagens e que depois é usada para funcionar um motor eléctrico. Há aqui um problema imediato: se um condutor já tiver uma condução "verde" e suave, fará poucas travagens, e a bateria não é muito carregada. Há alguma poupança de combustível com este sistema, mas também há muitos híbridos com consumos e emissões bem acima da média dos convencionais.
Biocombustíveis : Ao contrário do que se diz, um automóvel que use um combustível convencional com alguma adição de biocombustível (e é disso que se trata), não emite menos gases do que os que usam o combustível convencional a 100%! A vantagem está no facto de parte do carbono que é emitido, não provir do petróleo mas do carbono de plantas, ou seja carbono que foi capturado à atmosfera por fotossíntese. Há uma espécie de reciclagem do carbono, em vez de uma adição contínua de CO e CO2 à atmosfera. De qualquer modo, apenas as emissões de carbono são "reduzidas", mas há outras. Acresce a isto duas desvantagens: primeiro o biocombustível não cresce dentro das estações de serviço. É necessário produzi-lo em larga escala, processá-lo, transportá-lo, etc.. o que tem um enorme impacto ambiental. Segundo, um aumento da procura de produtos agrícolas para a sua produção leva a um aumento do seu preço, o que afecta especialmente as populações mais pobres. (Para mais informações consultar o tema biocombustíveis no excelente blogue Ondas3 ).
Eléctricos, ar comprimido, hidrogénio, etc...: Os automóveis equipados com esta tecnologia não emitem de facto poluentes localmente, mas o "combustível" usado teve que ser produzido em algum lado. Ou seja os custos ambientais não se vêem quando se olha para o carro, mas eles estão na central eléctrica, que produziu a energia primária (e não, não é possível ter um país inteiro a consumir electricidade e a andar de carro baseado apenas em energia eólica, solar e afins). Acresce ainda um problema tecnológico, o da baixa eficiência energética destes propulsores. Por uma quantidade x de energia gasta na locomoção do carro, foram produzidos 10x ou 20x de energia eléctrica (no caso dos eléctricos as perdas são menores).

Por fim, esta análise apenas toma em conta as emissões de gases, mas os custos ambientais não se ficam por aí. A produção industrial de automóveis, pneus, o desmantelamento do carros velhos, a poluição sonora, etc... têm também enormes custos ambientais.

Por estas e por outras é que o governo norueguês proibiu o uso de "expressões verdes" na publicidade a automóveis, tal como a publicidade ao tabaco e comida pouco saudável não pode usar expressões como light ", "suave", "magro", etc... (notícia via Ondas3)

A América a óleo de fritar

MC, 02.04.07
Dois norte-americanos acabaram recentemente a sua travessia da América, do Alasca ao sul da Argentina, a óleo alimentar (notícia no Público). Pelo caminho iam pedido óleos alimentares (peixe, soja, palma, etc...) a restaurantes e transformando-os em combustível a bordo do seu camião "baby".
Para lá do gozo da viagem, a ideia era chamar a atenção para o uso de biocombustíveis em vez de combustíveis fósseis. As grandes vantagens dos primeiros sobre os segundos é que os biocombustíveis são renováveis e ao provirem de plantas, que crescem graças à fotossíntese, todo o carbono libertado na queima foi anteriormente capturado da atmosfera.
Infelizmente nem tudo são rosas, e apesar das vantagens referidas os biocombustíveis nunca serão A Solução. Mas isso fica para outro post.
(Curiosamente o Público cai no erro recorrente de dizer que só os combustíveis fósseis emitem «gases com efeito de estufa» [sic].)