Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Distrações

MC, 25.02.13

Hoje de manhã, ao atravessar uma rua, por muito pouco não fui atropelado por um automobilista. Eu ia a pé e tinha verde, ele que virava tinha um amarelo intermitente... mas "distraiu-se". Nem pediu desculpa. Eu já contava com a "distração", mas se não contasse poderia ter ido desta para melhor. Por "distração" do automobilista.
Na situação inversa, se um peão "distraído" atravessar quando está verde para o automobilista, também é o peão que vai desta para melhor.


Não querer perceber esta assimetria, e pôr em pé de igualdade as "distrações" de uns e outros, é criminoso.


Repito aqui uma imagem antiga.Um peão, que apesar de ter verde, pára, olha para verificar que não vem nenhum automóvel, e só depois avança. Basta passar uns segundos num cruzamento para ver peões a ter este comportamento. Poderíamos passar anos no mesmo cruzamento, e não veríamos um automobilista perante um verde a parar, verificar que não vêm peões, e a avançar depois. Apontar o dedo à "distração" dos peões como causa de atropelamentos é criminoso.



...........................................................................................

Vídeo recomendado de hoje,um vídeo do Passeio Livre sobre O automóvel sagrado e o estacionamento ilegal.




Provar que se foi atropelado

MC, 16.11.11

"No presente estado do trânsito motorizado, estou convencido que qualquer sistema legal civilizado deve requerer, por um questão de princípio, que a pessoa que usa o instrumento mais perigoso nas estradas - espalhando morte e destruição - deve ser responsável por compensar todos aqueles que sejam mortos ou feridos como consequência desse seu uso. Deve haver responsabilidade sem haver prova de culpa. Requerer a uma pessoa ferida que prove a culpa [dos outros], é a mais grave injustiça que se pode fazer a muitas pessoas inocentes que não têm meios para o fazer.", Lorde Denning 1982

 

A TVI tem uma reportagem (à TVI) sobre crianças que ficaram gravemente feridas num atropelamento. Os pais contam o que sofrem hoje, as dificuldades que têm a ter acesso a apoio, e as longas guerras judiciais para obter uma coisita (alguns nem isso) da parte do criminoso.

Em muitos países do Norte da Europa isto nunca aconteceria: não cabe ao peão provar que foi atropelado - como acontece absurdamente em Portugal - cabe sim a quem conduz um automóvel de duas toneladas (uma arma potencial), provar que fez tudo para evitar o desastre. A chamada strict liability põe a culpa à partida no condutor, e não lhe basta provar que cumpriu o mínimo das regras, tem mesmo que mostrar que era impossível evitar o acidente. Um peão nunca atropelará um automobilista, logo a situação não é simétrica à partida. Não podemos pedir aos pais destas crianças que provem que os filhos foram atropelados.

 

......................................................................................

Continuando no absurdo da sociedade do Deus Automóvel, a leitura recomendada de hoje é mais um brilhante post do A Nossa Terrinha. Conta-nos de uma câmara que institui um apoio social ao automobilista - sendo este mais fácil obter que um subsídio de acção social escolar.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

"Arreda! Arreda!" versão 2010

MC, 16.09.10

Afonso de Bragança, duque do Porto, irmão do penúltimo rei português e um dos primeiros carro-dependentes portugueses, ficou conhecido como o Arreda graças ao seu modo de conduzir. Lançando o seu carro a altas velocidades pelo Porto, gritava incessantemente "arreda, arreda!" às pessoas que lhe apareciam no caminho.

Um século depois a monarquia morreu mas o arredismo ainda está bem no sangue de muitos. O lóbi do popó lança hoje uma campanha, ironicamente começando no Porto e com o vergonhoso apoio das Câmaras, da PSP e a ANSR,  que quer sensibilizar os peões a terem cuidado a atravessarem a rua. Não há uma única menção de sensibilização dos condutores (que em Portugal são mais protegidos do que no Norte da Europa no caso de atropelamentos).

Centrar a sensibilização e a repressão nas potenciais vítimas é exatamente o raciocínio que seguem os extremistas islâmicos que defendem o uso de véus  e burkas para que as mulheres não sejam violadas, como defendi aqui. De onde volto a repetir: se Portugal tem dos piores registos em termos de atropelamentos de crianças, e sendo que as crianças são inconscientes em qualquer parte do mundo, o nosso problema não está certamente no comportamento dos peões.

 

Adenda: excelente resposta da ACA-M, "não há memória de um peão ter atropelado um automóvel".

 

 


O túnel do Marquês, um dos símbolos da ditadura do automóvel em Lisboa, vai ser fechado ao trânsito motorizado durante a noite de 21 de Setembro. Para essa noite está marcada uma grande descida de bicicleta dentro do túnel. Aparece!

 

Peões vítimas de atropelamento

MC, 30.04.07
A pior consequência do (ab)uso do automóvel nas nossas cidades será os peões mortos e feridos em atropelamentos. A ACA-M e a CML em jeito de homenagem e de alerta pintaram o nome (falso por razões óbvias) de várias vítimas de atropelamento numa passadeira nos Restauradores em Lisboa. Outras praças e artérias da capital seguirão.
Até quando teremos bestas a conduzir impunemente dentro da cidade como se de uma auto-estrada tratasse?
Uma besta minha conhecida, depois de ter sido apanhada a conduzir a quase 120 numa avenida de Lisboa, ao ser questionada se não achava a sua velocidade perigosa para a situação, respondeu "não, o meu carro é seguro"!
Eu conheço uma família destruída por um atropelamento. Quem não conhece?
(Foto roubada ao blogue O Carmo e a Trindade)