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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

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Casos de polícia

TMC, 13.07.10

Ao consultar o sítio da acção cívica contra a construção do actual traçado que completará a CRIL, deparei com a seguinte sugestão de leitura presente na galeria de imagens e vídeos:

 

Acidentes de Viação - Responsabilidade Civil e Criminal por Defeitos de Construção e Manutenção das Estradas

 

 

Da introdução:

 

A nossa classe política, aproveitando a apatia que domina a vida nacional, acarinha a tese segundo a qual a elevadíssima sinistralidade rodoviária resulta, unicamente, da culpa dos automobilistas portugueses. Como sinal dessa deformação, não existe tradição judiciária no tocante à responsabilização das entidades que têm a seu cargo a construção e manutenção das estradas, quando os defeitos da sua geometria e traçado, geram forças vivamente presentes na sinistralidade rodoviária mortal.
Os actuais horizontes de discussão não excedem os problemas de manutenção da via, que se reconduzem aos animais que invadem a auto-estrada, ou ao despiste provocado pela acumulação de água no pavimento, e, além destes limites, a discussão não se consegue libertar do dogma da culpa do condutor, o qual assenta pobremente em bases empíricas e não normativas. Recentes estudos técnicos e científicos de engenheiros civis portugueses, membros do OSEC, concluíram, sem margem para dúvidas, que em casos muito numerosos, as nossas antigas e modernas estradas apresentam gravíssimos defeitos de projecto, de construção e de sinalização, causais a violentos acidentes.

[...] O autor, vítima de acidente de viação, nos Tribunais administrativos, pode alicerçar a sua pretensão na imputação da responsabilidade civil extracontratual ao ente colectivo em questão.

 

É precisamente a alusão que Manuel João Ramos, da ACA-M, deixa na introdução trágica ao seu livro Sinais do Trânsito.

 

 

Se o primeiro é um livro para especialistas e a ser consultado pelos intervenientes em questões de justiça, o último reporta mais a uma sensibilidade para as consequências concretas na vida das pessoas da falta de ordenamento do território e pelo mau desenho das vias rodoviárias.

 

A questão é a seguinte: se há legislação ambiental e criminal que acautelaria e preveniria o aparecimento deste tipo de situações porquê as crónicas mortes na estrada e os atropelos ao ordenamento do território? Porque são raras as condenações de técnicos de estradas e de automobilistas assassinos de peões?

 

 


Para quem não conhece o caso do desenho surreal do troço de acabamento da CRIL é um imperativo visitar o seu sítio. Os vídeos são particularmente esclarecedores e mostram quais as forças políticas atentas a esta trapalhada monumental. Uma vergonha nacional à revelia da Declaração de Impacto Ambiental, da falta de condições de segurança e de transparência (ver o caso dos terrenos da Falagueira), patrocionada pelo (des)governo do costume. A opinião do vereador de mobilidade Fernando Nunes da Silva é taxativa: "se isto fosse um estado de direito já tinham rolado cabeças".

 

 

Exemplos:

 

 

Imagem publicitada pelo governo.

 

 

Foto de Junho

 

Creio que esta foto demonstra bem a dimensão do que se anuncia:

 

Metro de superfície entre Amadora e Odivelas

MC, 18.05.07
Segundo o JN de ontem as Câmaras de Amadora e Odivelas estão a pensar construir um metro de superfície ligando os dois concelhos, e mais importante ligando estações do metro de Lisboa. Ainda segundo a notícia está a ser considerada a utilização de um veículo eléctrico "completamente não poluente" [sic]. (Há muita gente ingénua... Então e a electricidade vem de painéis solares instalados em cima das composições? A manutenção do metro será feita por bactérias microscópicas licenciados em engenharia?)

Embora haja aqui uma tentativa de integrar este novo transporte com o metro, tenho as piores expectativas para este projecto. Será mais uma empresa no já complexo sistema de transportes da Grande Lisboa, mais um horário a fixar, mais um bilhete ou mais um passe que os passageiros terão que ter, e pior de tudo mais uma mudança que os passageiros terão de fazer (muitas vezes o número de mudanças tem mais peso que o próprio tempo de deslocação nas decisões das pessoas). Porque não integrar este percurso numa das linhas do metro de Lisboa? Porque não realizar o trajecto de autocarro? Porque não se aprende com os erros do passado, como o de Oeiras?

Para quando uma Autoridade Metropolitana de Transportes de Lisboa com reais poderes para poder cozer a manta de retalhos que são os transportes públicos de Lisboa?

Schritttempo

MC, 20.01.07
Nos países mais desenvolvidos da Europa a velocidade do trânsito está limitada a 30km/h na maioria das ruas das zonas residênciais. Apenas nas ruas principais os 50 são permitidos. Tornam-se os bairros mais calmos - por se afastar o trânsito - e mais seguros para os peões, especialmente as crianças - por se reduzir a velocidade. A Alemanha, que provavelmente nem estará só, vai mais longe e obriga os carros a circular em "Schritttempo" em algumas zonas. Schritttempo significa literalmente "ritmo de passo", ou seja à velocidade dos peões.

Não tenho a certeza, mas julgo ter ouvido recentemente que Portugal era o único país da União Europeia a 15 onde não havia zonas com o limite dos 30km/h. Aliás em Portugal ainda se fica espantado por a Câmara de Lisboa colocar radares para controlar a velocidade acima dos 50km/h, havendo muitos que lhe chamam uma "caça à multa". Radares estes que no espaço de um mês apanharam mais de 71 mil automóveis em excesso de velocidade, alguns acima de 200km/h. Haverá melhor prova que em Portugal, comparando com o resto da Europa, o carro é rei e senhor?


Este post vem a propósito de uma boa notícia publicada no DN, sob o título "Experiência alemã avança em pracetas da Amadora". A Câmara da Amadora vai limitar a velocidade a 30km/h em algumas pracetas por razões de segurança e tranquilidade. Não se trata de schritttempo, nem se alarga a bairros inteiros, mas é uma excelente novidade para Portugal. Fica apenas a dúvida: a experiência alemã a que a notícia se refere passou-se nos anos 70 ou foi uma experiência de aumento do trânsito?