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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

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Privatização do Espaço Público

MC, 19.11.08

No dia em que, em pleno centro de Lisboa, quando eu estava a conversar no passeio junto a uma passadeira, uma automobilista me pediu para desviar para ela poder estacionar, lembrei-me de partihar estas fotos que um amigo me tinha enviado. São fotos de ruas de bairro no centro de Colónia, mas que poderiam ser de tantas outras cidades:

 

 

Para comparação, duas fotos de dois bairros centrais de Lisboa (Campo de Ourique e Campo Pequeno, ambos tidos como tendo uma boa qualidade de vida, tal como os preços das casas podem comprovar):

 

 

Na Alemanha, há aqui e ali alguns lugares de estacionamento. Em Lisboa... é o caos que se vê (os carros na foto debaixo estão estacionados, não estão a circular).

Eu nem gosto de mandar este tipo de bocas, mas a falta de respeito pelo espaço público é um sinal de subdesenvolvimento. Os automobilistas (e os responsáveis autárquicos que os apoiam) acham que têm o direito de ocupar o espaço público, independentemente de isso tornar a cidade mais feia, mais desagradável e mais inimiga dos peões. O que não falta são famílias com 2 e 3 carros, que se julgam no direito de abusar do espaço público. "Eu tenho que deixar o carro em algum lado, e este espaço é de todos" dirão muitos. Há até quem se queixe da EMEL - empresa pública - argumentando que o que é público não deve ser pago, mesmo sendo as receitas públicas, esquecendo-se que ele deixa de ser todos a partir do momento que o privatizam sem pedir autorização aos outros.

A responsabilidade de arranjar lugar para estacionar não deve caber à sociedade, mas a quem decide movimentar-se de carro. As cidades alemãs mostram-no bem, reduzindo os lugares públicos. Em Tóquio, antes de se comprar um automóvel é necessário provar que se tem um lugar para o colocar.

O "pesadelo" alemão II

MC, 08.04.08
Segunda parte do texto sobre Dresden, cidade que foi considerada como a segunda cidade pior (!) para ciclistas na Alemanha.

Outro aspecto importante é a possibilidade de se estacionar a bicicleta nos mais distintos locais da cidade. A regra é que todos os espaços urbanos de maior importância (estações de comboios, zonas comercias, hospitais, escolas, etc, etc) tenham condições para se prender a bicicleta (a seguinte foto mostra o pátio de um edifício universitário com condições para estacionar aprox. uma centena de bicicletas. Durante a época de aulas o número de bicicletas aqui estacionas excede este valor.).

Para além disso, lojas, centros comerciais, etc, fornecem aos seus clientes a possibilidade de prenderem as bicicletas em frente aos seus estabelecimentos (e imagino que os estabelecimentos que não o façam tenham uma redução significativa de clientes.)

Dresden tem um sistema de transportes públicos excelente, muito melhor do que muitas cidades alemãs ou europeias que já tenha visitado. E como não podia deixar de ser o transporte de bicicletas nos transportes públicos é possível (para casos em que se tenha um furo ou a bezana seja demais para se poder conduzir). A nova geração de eléctricos (que começou a circular de há uns anos para cá) tem para além dos compartimentos especialmente reservados para as cadeiras de rodas e mães e pais com carrinhos de bebés, um compartimento reservado para bicicletas. É quase inacreditável, mas assim o é. Tirei umas fotos que mostram esta secção do eléctrico onde se podem transportar diversas bicicletas de uma só vez.

O impressionante é que o transporte de bicicletas nos eléctricos é gratuito (o mesmo é válido para os comboios e autocarros). Nos autocarros, devido à escassez de espaço, o transportes de bicicletas só se pode efectuar fora das horas de ponta.

Bem, ficam aqui algumas impressões da segunda pior cidade alemã para se deslocar em bicicleta. Pergunto-me como serão as cidades que “realmente” proporcionam condições aos ciclistas, heheheh.

O "pesadelo" alemão I

MC, 12.03.08
Do nosso "correspondente" na Alemanha:

Vivo há 12 anos na Alemanha. Há 4 anos mudei-me para Dresden, a capital da Saxónia, na parte leste da Alemanha. Poucos meses depois de me ter mudado para esta cidade saiu um estudo efectuado a nível nacional que revelava as condições para ciclistas nas maiores cidades alemãs. Para o meu espanto, Dresden encontrava-se em penúltimo lugar de uma lista de dezenas de cidades.
Há muito que estou para relatar sobre as “péssimas” condições com que se deparam os ciclistas por estes lados. Finalmente tomei a iniciativa de juntar algumas imagens e escrever algumas linhas sobre o “pesadelo” de Dresden.
Praticamente todos os eixos rodoviários de maior importância da cidade possuem vias especialmente reservadas para ciclistas. A seguinte imagem que saquei do googlemaps mostra a avenida que liga o norte com o sul da cidade, uma das mais movimentadas (ironicamente a foto não mostra praticamente trânsito nenhum). Ao longo de Kms existem faixas reservadas para bicicletas (indicadas na foto com setas). Nas horas de ponta a utilização destas por ciclistas chega a ser tanta, que a distância entre duas biciletas pode ser menos que um metro (experiência própria).

Para continuar, decidi sacar mais duas imagens do googlemaps que mostram dois cruzamentos relativamente típicos para Dresden. Encontram-se numa zona universitária (e fazem parte do meu percurso diário para o trabalho). Repare-se na quantidade de faixas (grande parte delas vermelhas) para bicicletas e nas imensas possibilidades de ligações entre elas.


A próxima fotografia foi tirada no cruzamento que se vê na última imagem. Indicado com a seta nr.1 vê-se um exemplo de sinalização destinada a ciclistas. Em toda a cidade podem-se encontrar este tipo de sinalização, não só para esclarecer situações de prioridade ou de outras regras de trânsito, mas também indicando os percursos mais curtos para se chegar a certos locais (sim, porque os percursos que se realizam com automóveis raramente são os mais curtos). Presente por todo lado está a semaforização para ciclistas (seta 2 na foto). Acho muito interessante os semáforos para ciclistas passarem de vermelho para verde com alguns segundos de antecedência respectivamente aos semáforos para o trânsito automóvel. Imagino que seja para possibilitar aos automobilistas aperceberem-se da presença de ciclistas antes de acelerarem.

Protecção dos peões na Alemanha

MC, 13.12.07
aqui tinha referido que na Alemanha tem que se conduzir devagar junto a um autocarro a (des)carregar passageiros, para evitar acidentes. Reparem bem, apesar de não haver absolutamente nenhuma alteração no trânsito, os automóveis são obrigados a prevenir qualquer descuido dos peões.
Aqui fica a minha tradução (adaptada) da lei onde isto está estabelecido. Vale a pena ler.

(1) Junto de autocarros, eléctricos e autocarros escolares parados em paragens, só se pode passar a conduzir com precaução, mesmo no sentido contrário.
(2) Quando há passageiros a entrar ou sair, à direita só se pode conduzir a velocidade de passo e apenas quando se mantem uma distância que exclua a colocação em perigo dos passageiros. (...) Se necessário o condutor deve esperar.
(3) Os autocarros que se aproximem de uma paragem e que têm todos os piscas ligados não podem ser ultrapassados.
(4) Quando o autocarro está parado com todos os piscas aplica-se o (2) para todos os veículos, mesmo os em sentido contrário.

Sai uma destas aqui para o burgo, sff.

Culpa dos peões III

MC, 14.11.07
Depois de publicar o comentário de um amigo a viver na Alemanha sobre este post, republiquei-o também no CidadaniaLx onde a autenticidade da informação foi posta em causa. O meu amigo encontrou então um interessante exemplo da aplicação da lei numa notícia do Spiegel.
O caso em causa só foi notícia porque a lei foi aplicada para lá do seu âmbito usual, comportamento negligente por parte do peão, num caso de comportamento incorrecto do peão.

Aqui fica a tradução:


Peão comete erro – Condutor é culpado

Não são raras as vezes que acidentes de gravidade são causadas devido ao comportamento negligente de peões ao atravessarem uma estrada.
Na maioria dos casos é o automobilista a ser culpabilizado. Tal também é valido aquando dum comportamento incorrecto da parte do peão – assim o decidiu um tribunal superior.
Por princípio os automobilistas devem poder contar com um bom comportamento de qualquer peão adulto na via pública. São no entanto obrigados a reagir imediatamente, mal seja óbvio que um peão esteja a comportar-se incorrectamente e de que a situação se possa tornar perigosa. Assim consta num veredicto emitido pelo tribunal superior de Rostock, informa o grupo de trabalho “código da estrada” da associação alemã de advogados.
No caso concreto trata-se da iniciativa de uma senhora de 71 anos de atravessar uma estrada fora da sua localidade. Na acto da travessia acabou por ficar parada na faixa da esquerda, apesar de ter tido a possibilidade de finalizar a travessia antes que viesse o próximo carro. Entretanto aproximava-se um carro a um velocidade de 80 Km/h. Pouco antes do carro alcançar o local onde se encontrava a senhora, esta retomou subitamente a sua travessia, sendo atropelada e gravemente ferida. Em reacção ao sucedido a sua segurança social acusou o automobilista.
O tribunal teve que constatar, que grande parte da culpa no acidente se devia ao comportamento do peão, que deveria ter aproveitado a possibilidade de atravessar a estrada enquanto podia. No entanto, devido ao comportamento insólito do peão com o qual a condutora se viu confrontada, ela deveria ter reduzido a velocidade e preparando-se para qualquer eventualidade que exigisse uma travagem brusca. Os juízes concluíram, que num caso normal, ou seja, de um peão se encontrar na margem da estrada, um condutor não precisa de partir do princípio de que o peão possa ter um comportamento incorrecto. No caso presente o peão encontrava-se no meio da estrada. O automobilista tinha-se dado conta de tal comportamento fora do vulgar e deveria ter reagido.

Adenda:
Um leitor deixou este exemplo holandês noutro post: Drunk driver gets two years jail

Culpa dos peões II - comentário

MC, 13.11.07
Comentário recebido por mail dum colaborador secreto do Menos Um Carroao post anterior.

Como português que fez a carta de condução na Alemanha não posso deixar de comentar este post.
Primeiro: não só na Holanda, como também na Alemanha (e acredito que em grande parte da Europa) a lei parte sempre do princípio que num incidente (para não falar logo de acidentes) rodoviário envolvendo também peões ou ciclistas, a culpa está do lado do automobilista. Está claro que a minha reacção na altura que soube desta lei (e ainda com a minha  típica mentalidade  portuguesa) foi a de pensar "estes alemães são é malucos, então o peão é que faz a merda e o automobilista é que paga, mas que estupidez!".
Um exemplo que o nosso instrutor gostava muito de dar para justificar a lei era o seguinte:
Imagine-se como condutor numa zona residencial, estrada não muito larga, à esquerda e à direita densas filas de automóveis estacionados que não lhe permitem como condutor de ver o que se passa por detrás delas. Uma das situações mais típicas que se podem passar nestas condições (e como dizia, estamos numa zona residencial) é a de haver por detrás destas autênticas muralhas de automóveis uma ou mais crianças a brincarem com a sua bola de futebol, que mais cedo ou mais tarde acaba por saltar para o meio da rua. É claro que a reacção espontânea de qualquer criança é a de correr atrás da bola, inconsciente do perigo à qual está exposta ao reagir desta maneira. A probabilidade de um condutor atropelar uma criança nestas circunstâncias é bastante grande, e maior ainda é a probabilidade do atropelamento ser mortal, quanto mais alta for a velocidade do condutor. Uma reacção típica em Portugal seria qualquer coisa do género "Ó pá, é uma tragédia a criança ter morrido,  mas olha, acontece. Da próxima vez que tome mais atenção!  E está claro que a culpa é dos pais que não estavam no local para tomar conta das crianças." Tal comentário parece quase macabro, mas infelizmente é a realidade no nosso país.
Recordo uma tragédia que se passou no meu bairro há coisa de 15 anos atrás: era carnaval e um bom amigo do meu irmão (na altura teria uns 10 anos), ao fugir de outras crianças que lhe atiravam com ovos (outra tradição de carnaval que nunca cheguei a compreender),  correu para o meio da rua onde um automóvel a "alta" velocidade (isto no meio de um bairro residencial)  o atropelou mortalmente. O bairro todo ficou chocado com o sucedido, mas o comentário geral das pessoas foi "Ó pá, são azares da vida! Pena, era um puto tão bacano ...Também, que coisa mais estúpida essa de se atirarem com ovos." Em nenhuma altura se considerou o condutor responsável pelo atropelamento como culpado do que quer que seja... O sucedido foi pura e simplesmente aceite como um azar da vida. Ora, um condutor envolvido numa mesma situação na Alemanha ou na Holanda muito provavelmente teria ido parar na cadeia. E porquê? Devido à tal lei, que culpabiliza sempre o condutor - o que entretanto me parece mais que lógico, porque quem sai a perder são sempre o peões e os ciclistas. O resultado de uma tal lei é que os condutores preferem reduzir a sua velocidade  e adaptá-la às circunstâncias, em vez de terem que passar parte de suas vidas na prisão. E acreditem-me que uma tal lei intimida qualquer condutor e poupa muitas vidas.

Culpa dos peões II

MC, 12.11.07
Exemplos de como estamos nos antípodas do que é feito na Europa do Norte em termos de protecção dos peões:

- Na Holanda a lei parte sempre do princípio que a culpa é do automobilista e não do peão ou da bicicleta.
- Na Alemanha os automóveis são obrigados a reduzir para 30km/h quando próximos de um autocarro a deixar passageiros.

Publicidade contra as alterações climáticas

MC, 04.04.07
A maior associação ambientalista alemão, a BUND, lançou em jeito de brincadeira um concurso publicitário contra a indústria automóvel e o seu desrespeito pelo ambiente. A campanha chama-se Versprochen, Gebrochen (prometido, não cumprido) e é dedicada à promessa que a indústria europeia fez em 1998 de reduzir voluntariamente o consumo médio dos automóveis novos. A União Europeia queria forçar por meio de uma directiva mas a indústria assumiu o compromisso... que obviamente falhou. Felizmente a Comissão Europeia não foi na cantiga segunda vez, e a redução de emissões de CO2 proposta tem agora forma de lei com penalizações para os prevaricadores.
Aqui estão os meus favoritos:
Alterações climáticas. Agora mais rápidas, graças ao nosso Know How. E o seu apoioAlterações climáticas. Agora ainda mais rápidas. Com o nosso Know How. E o seu apoio.

Os carros não provocam emissão de CO2 como é sabido
Os carros não provocam emissão de CO2 como é sabido

Finalmente um verão sem fim. Obrigado VWFinalmente um verão sem fim. Obrigado VW

Viva o amanhã já hoje
Viva o amanhã já hoje

Limite de velocidade nas auto-estradas alemãs

MC, 18.03.07
A Alemanha é conhecida pela sua vasta rede de auto-estradas e por nelas historicamente não haver limite de velocidade (excepto com mau tempo). Felizmente a Alemanha também é dos países mais empenhados em questões ambientais e a situação pode estar perto de uma mudança. Tal como já escrevi aqui, os gases poluentes emitidos por um automóvel crescem brutalmente com a velocidade, ou seja a poluição emitida por um carro a 140km/h é muito maior do que um a 120.
Quem lançou o debate foi o comissário europeu para o ambiente, que apelidou a situação de "uso sem sentido de energia" que ainda por cima "prejudica o clima". Embora o ministro dos transportes alemães se mostre pouco interessado em mexer na vaca sagrada, uma sondagem recente mostra que 58% dos alemães é a favor de um limite de 130km/h.
Há esperança.