Não podemos estar indiferentes à escolha dos outros
É apelativa a ideia que não devemos interferir na escolha de mobilidade dos outros, tal como ninguém tem nada a ver com o que eu como, visto, leio, etc. Só que por um lado já vimos que é impossível uma câmara municipal não interferir nessa decisão por muito que queira; ao escolher quanto espaço urbano vai para alcatrão e quanto vai para passeio, já tem uma enorme influência. Por outro, mesmo que fosse possível não interferir nas escolhas pessoais, isso não seria desejável pela natureza do que está em causa.
- É muito frequente ouvir pessoas que dizem que não andam de mota, bicicleta ou até a pé (idosos) por medo dos automóveis. Quando eu escolho comer pizza não estou a impossibilitar os outros de escolherem outra refeição, mas quando escolho o automóvel estou a interferir e até restringir a escolha dos outros.
- Se muitas pessoas escolhem o automóvel, então teremos congestionamento que fará perder muito tempo a muitas pessoas (até às que andam de carro). Quando escolho vestir uma camisa azul, não vou fazer com que outros que têm camisas azuis ou blusas verdes, percam 1h do seu dia.
- O aumentado de sinistralidade causado por mais uma pessoa a andar de automóvel, é muito maior que a sinistralidade causada se essa pessoa tivesse feito outra escolha. Quando escolho ver um filme, não estou a causar perigo a quem decide ver um jogo de futebol.
- A poluição atmosférica e sonora criada pela pessoa que escolheu o automóvel cria um rol infindável de problemas ambientais e de saúde aos outros. Quando escolho ler um romance não causo doenças respiratórias a quem decide ler um policial.
Não podemos ver a escolha do transporte como uma decisão inteiramente pessoal como a escolha da camisa que vou vestir. Escolher andar de automóvel na cidade deve sim, ser visto como a escolha de quando toco bateria no meu prédio.