É muito difícil discutir mobilidade urbana racionalmente (corolário do post anterior)
No último post contei quatro histórias pessoais que tinham uma coisa em comum: a mesma pessoa perante uma situação onde um automobilista causa mais mossa que um ciclista, aponta o dedo exclusivamente ao ciclista desculpando o automobilista.
A recente obsessão da CML e da ANSR com as transgressões dos ciclistas urbanos - que convivem ao lado de automóveis que circulam a 80km/h no centro da cidade, que tapam a passagem dos peões estacionando no passeio, que fazem razias ao ciclistas não respeitando os 1,5m legais, etc. - são mais um exemplo disto. Aliás são mais graves, porque são posições institucionais. Uma visita pelo Facebook da ANSR é algo assustador: grande parte da energia é gasta em educar o peão, e não quem se passeia com 2 toneladas a 80km/h pela cidade.
Há um corolário triste desta discriminação. É muito difícil discutir racionalmente a mobilidade dos peões e das bicicletas com leigos ou mesmo com as autoridades. A maioria das pessoas cresceu e viveu durante décadas em cidades onde a posição do automóvel era um dado adquirido, e todas as restantes necessidades da cidade vêm a seguir. É muito difícil obriga-las a dar um passo atrás e ver as coisas em perspectiva. Mas só obrigando-as a fazer isso, é que poderemos falar.
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A leitura recomendada é um texto de alguém que faz exactamente isso, o Miguel Barroso no CodigoDaEstrada.Org lembra-nos que o problema não é o ratinho mas o elefante na loja de loiças.