Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Michael Hartmann - Autoschreck

MC, 04.04.09

Há muitos anos que ouvi falar de Michael Hartmann, um conhecido activista pelos direitos dos peões em Munique. Soube na altura em que um tribunal tinha decretado que ele não deveria ser penalizado por caminhar em cima dos automóveis estacionados no passeio, porque não o fazia com o intuito de danificar.

Exactamente, caminhar sobre os carros estacionados no espaço do peão. Um dia em que ia pelo passeio com a namorada, fartou-se de estar constantemente a interromper a conversa e afastar-se dela, por os carros estacionados ilegalmente impedirem a passassem de duas pessoas lado a lado. Fartou-se e foi em frente, tal como era suposto. Por se irritar com a ocupação do espaço dos peões por caixas de metal, decidiu também passar a ser peão no local reservado para as caixas de metal.

Já há uns tempos que descobri na net um documentário famoso sobre ele, o Autoschreck (algo como  Susto do Automóvel) de 1995, um "clássico" do activismo pró-peão e anti-automóvel, mas sempre tive receio de o referir. Convenhamos que o senhor tem um pouco de doido, e  ninguém gosta de associar doidos à sua causa. Mas à parte da sua figura, será que faz realmente sentido acharmos que alguém que decide caminhar pelo alcatrão é doido? Qual é a diferença entre um peão a ocupar a zona dos carros e um carro a ocupar a zona dos peões? Ainda por cima um carro que está na zona dos peões nem tem uma pessoa lá dentro, é apenas uma caixa de metal. Parece-me que o doido é o outro.

Como o documentário mostra (e nem precisava de mostrar), um peão a ocupar o alcatrão é violentamente maltratado pelos automobilistas, mesmo em frente às câmaras. Mas nunca vi um automobilista a estacionar no passeio e a ser violentamente tratado por um peão.

 

Aqui fica o documentário de 15min. Veja-se pelo menos dos 0:30 aos 1:30, onde numa cena trágica (um pouco à 24 Horas mas trágica e muito frequente) se mostra bem como a parte mais fraca na mobilidade é apenas uma formiga que pode ser esmagada acidentalmente.

 

 

O autocolante contra o desrespeito dos automobilistas

MC, 26.03.09

Um grupo de Lisboetas arrancou esta semana com uma iniciativa contra o estacionamento abusivo que perturbe os peões. Este e tantos outros blogues estão cheios de exemplos disso nas cidades portuguesas, desde passadeiras obstruídas, a ruas onde os passeios estão totalmente ocupados por automóveis obrigando os peões a caminhar perigosamente na rua.

Fartos do total desrespeito de muitos automobilistas (alguns nem percebem que o seu comportamento possa ser grave, como já escrevi por aqui), fartos do sentimento de impunidade de quem comete esta ilegalidade e violação dos direitos dos mais fracos na cidade, fartos dos discursos autárquicos de tolerância zero que não passam de discursos, fartos da conivência terceiro-mundista das autoridades policiais, este grupo sentiu que não tinha outra saída senão uma acção em força. Inspirados numa experiência grega muito semelhante, e com muito êxito em Atenas, criaram o seguinte autocolante:

Mais informações na página da iniciativa: passeiolivre.blogspot.com

 


A ler: um notícia do Expresso, onde é dito que a circulação dos automóveis vai ser afectada por um simulacro. Repare-se autocarros, peões, bicicletas, etc. não são mencionados, apenas os automóveis! Talvez por serem invisíveis...

Que se foda Lisboa!

António C., 22.10.08

Este texto, encontrado aqui podia ter sido escrito por qualquer das famílias Lisboetas que já tentaram passear com um carrinho de Bebé pelas ruas de Lisboa... Esta mãe, que se apresenta como Rititi, decidiu libertar a sua indignação nesta fantástica verborreia. Da nossa parte, estamos totalmente de acordo com a indignação.

 

E lá na Grande Alface, decidimos os senhores de Pinheiro levar o Rititi Boy da Estrela até ao Chiado, empurrando carrinho que é como se passeiam os bebés desde que o mundo ficou motorizado. Ah, que grandes aventuras que gostamos nós de viver! Porque uma coisa é Madrid, uma cidade com passeios largos e mentalidade europeia e outra bem diferente é a nossa querida Lisboa, tão decadente, tão luminosa e tão desconfortável para o caminhante.
Mas comecemos pelo princípio, a saída de casa. Impossível, ficámos presos. Estacionada à porta do prédio eis que estava uma bela de uma carrinha audi A35, com os seus dez metros de cumprimento escarrapachados no passeio. Matizo: à porta não, dentro da porta. Porque em Lisboa o conceito de estacionamento vai mais além dos limites lógicos da física, o dono da carrinha achou que a sua viatura estaria mais segura tapando a saída da minha casa. Foi mais ou menos quando Mr. Pinheiro começou aos pontapés à carrinha que eu me dei conta da odisseia em que se ia transformar um simples e simpático passeio pelas ruas da cidade. E como se tira um carrinho de bebé de uma casa lisboeta? À bruta. Apanha-se no carrinho com garra e atitude e poisa-se em cima da viatura que obstaculiza a saída do prédio. Ah, mas assim risca-se o carro, ouço por aí dizer. Pois é, que se foda o carro.
Seguimos: já na rua reparamos que não há passeios livres porque como ficou lá atrás explicado o lugar onde se estacionam os carros é em cima do passeio. Como ainda não tirei o curso de voar na escola de pássaros nem o meu marido gosta de exibir em público a seu superpoder do tele-transporte, não tivemos mais opção que empurrar o carrinho pela estrada, ali da rua de São Bernardo à Alvares Cabral. Um saltinho. Cinco minutos. Claro que não estávamos sozinhos. Taxis, carros, motas e camionetas faziam o favor de nos seguir, qual romaria à nossa senhora dos carrinhos, à trepidante velocidade de 0,010 km por hora. E que linda sinfonia que ouvíamos, senhores! Saiam-me da frente, buuuuu, fora daí seus caralhos,
piiiii, e assim ficou o Rititi Boy a conhecer o dialecto da capital. Ah, mas assim entupiam o trânsito, ouço por aí dizer. Pois é, que se foda o trânsito.
Mais: a Alvares Cabral é uma grande avenida e o Rato, uma zona central, e a Rua da Escola Politécnica uma arteria das que chamam principal, com o Tribunal Constitucional a comandar a via. Pois muito bem, já andei em adeias do terceiro mundo melhor pavimentadas que estas, por não falar já da lógica de pôr candeeiros no meio do passeio que impedem o normal caminhar ou do estado lamentável
da puta da calçada portuguesa. Há partes da calçada, palavra de honra, que parecem remendadas por manetas cegos com ódios concretos aos pais com carrinhos e senhores em cadeiras de rodas. Obras sem sinalizar, cruzamentos tapados por camionetas e polícias que nem se dignam a parar o trânsito quando não se pode passar com o carrinho por culpa de uma betoneira no meio do passeio. Ah, mas o polícia só estava ali para fiscalizar a obras, ouço por aí dizer. Pois é, que se foda o polícia.
Até à Trindade encontrei um total de sete carrinhos de bebés, sendo de cinco eram empurrados por turistas nórdicos e dois por criadas sem medo a morrer atropeladas por um autocarro psicopata. Nativos, zero, o que também não é de estranhar devido ao pouco interesse que os autarcas municipais mostram por ter as ruas cheias de crianças. O centro de Lisboa, nesse sábado, aliás, estava, como sempre, às moscas, sem famílias, sem crianças que devem estar refundidas na expo ou nalgum centro comercial com estacionamento regulado e elevadores com capacidade para dez carrinhos de bebés. Já podem vir com teorias para reabilitar o centro ou gastar dinheiro em merdas de espectáculos de rua, mas bastava com arranjar os passeios, regular o estacionamento, que a gente ia lá, gozar a cidade, como se gozam todas as capitais europeias.
Ah, mas Lisboa é gira porque é caótica, ouço por aí dizer. Pois é, que se foda Lisboa, então.

 

 

Estádios: Chegado Por E-mail

António C., 16.01.08

"(...) Deixo-lhe aqui um email que acabei de enviar para o Governo Civil e para a C.M. De Lisboa, para fazer com ele o que quiser, até simplesmente apagá-lo se verificar que nada acrescenta, ou de que nada serve, e se assim o entender. É sobre o problema “ Estádios VS Viver perto deles em Lisboa (...)

D. A."

 

"Exmos. Senhores, venho por este meio, e na qualidade de residente de Telheiras, manifestar a minha indignação pelo que se passa neste bairro sempre que se realiza um jogo de futebol no estádio de Alvalade. É inadmissível que os moradores da rua Prof. Manuel Cavaleiro de Ferreira tenham de passar por cima do passeio para conseguirem estacionar os seu veículos nas respectivas garagens. É inadmissível que haja carros estacionados em cima de quase todos os passeios, danificando-os, e passadeiras não permitindo a sua utilização pela parte dos peões, gerando-se situações de extrema insegurança. É inadmissível que haja carros estacionados em cima de grande parte da ciclovia, nalguns casos cortanto o acesso à mesma e não permitindo a sua utilização. É inadmissível que haja carros estacionados em quase todos os espaços verdes desta zona, em cima de zonas de prado, que ficam obviamente danificadas. É inadmissível que, apesar de tudo o já descrevi, haja parques, como o parque subterrâneo da Praça Central e o enorme parque entre o Eixo NS e a Rua Prof. Mark Athias, estejam quase vazios na altura em que se realizam os jogos, já para não falar do parque do próprio Estádio de Alvalade. É inadmissível que as ruas circundantes ao estádio fiquem num estado deplorável, cheias de lixo. É inadmissível que se gerem situações como a que passo a descrever: Há uns tempos a minha mulher sentiu-se mal, metemo-nos no carro na garagem, demorámos quase 5 mnts, entre variadíssimas manobras, para conseguir sair da garagem. Seguimos até à Rua Prof. Francisco Lucas Pires e eis que nos deparamos com duas filas de trânsito paralelas, ambas no mesmo sentido embora a dita rua tenha dois. Eramos três carros a "remar" contra a maré de viaturas que tentava sair desta zona para a Segunda Circular. Fui agredido verbalmente por outros condutores, chamaram-me "Palhaço" entre outras coisas que prefiro não repetir, tudo porque eu não estava a facilitar a circulação dos carros cujos condutores vinham do estádio. Estivemos quase 30 mnts. nesta situação absurda. Resumo, quem reside nesta zona não tem literalmente forma de sair de carro daqui sempre que há um jogo, e pior que isso há pelos visto que fugir a conjugar a busca de tratamento para um qualquer mal estar físico com os início e final dos jogos em Alvalade. É Absurdo. Ou seja, quem aqui viva e que queira fazê-lo em segurança, precise ou busque apoio médico, queira utilizar a ciclovia ou simplesmente queira estacionar na sua propriedade ou junto da mesma, tem necessáriamente que conhecer o calendário de jogos do Sporting C.P independentemente de se gostar ou não de futebol ou do mesmo ter um nível de importância significativo na sua vida... Isto parece-me, no mínimo, absurdo, quase anedótico.
Ora, se eu me dirigir a um hospital e deixar a minha viatura mal estacionada sou multado e eventualmente é-me rebocada a viatura, regra estabelecida da qual sou a favor, no entanto se me dirigir a um qualquer estádio de futebol (pois o que descrevi não se passa apenas no estádio do Sporting) já não sou multado. O futebol justifica a falta de civismo? É inadmissível. Não estaremos perante uma nova forma de tirania?
Durante o Euro2004 o processo de entradas e saídas dos estádios correu bem, as pessoas deslocavam-se de transportes públicos para o estádio, e esta e outras zonas não ficavam entupidas de carros, agora voltou-se atrás? Na altura era literalmente para Inglês ver? Que se passa Srs. autarcas?
Ajudem-nos por favor.

Com os melhores cumprimentos
e desde já obrigado pela atenção

D.A.”


 


Adenda a 24jan por MC: A Assembleia Municipal de Lisboa aprovou uma recomendação do PEV para resolver este problema que inclui a promoção dos transportes públicos para estas ocasiões e uma maior fiscalização do estacionamento ilegal.