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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

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Esta gente droga-se mesmo

MC, 10.01.08
O primeiro-ministro acaba de anunciar mais uma ponte rodoviária em Lisboa sobre o Tejo! Em 10 anos tivemos a ponte Vasco da Gama e a ponte a norte de Vila Franca de Xira, que pelos vistos não são "suficientes". Para que é que queremos mais automóveis a entrar na cidade? Porque é que demoramos tanto tempo a chegar a conclusões às quais já se chegou há décadas noutros países em termos de transportes, nomeadamente que os automóveis nas cidades não podem ser bem-vindos, muito menos convidados a entrar como agora é feito?
Há 15 anos quando foi lançada a Ponte Vasco da Gama fiquei totalmente surpreendido por esta não incluir ferrovia, mas para "compensar" rapidamente se falou em construir uma terceira só para a ferrovia.
Mas isso seria um sacrilégio, uma ponte SÓ para comboios? Tanto betão e fundos a serem desperdiçados não poderia ser. Toca a tornar a terceira travessia em ponte com ambas as valências.

Nem de propósito, uma amiga de Barcelona (reparem não é da Dinamarca ou da Alemanha) acabada de chegar ao Estoril vinda do Aeroporto  comentava - como primeiras impressões da cidade - as enormes velocidades nas auto-estradas urbanas e a enorme quantidade de trânsito nos arredores.

Acalmia no Trânsito V

MC, 01.11.07
Mais exemplos de maneiras simples de acalmar o trânsito:


Redução do largura da via e supressão do estacionamento para haver melhor visibilidade nas passagens de peões.


Chicane e separadores em passagens de peões


Efeito "portão" com vegetação e redução da largura da rua à entrada de uma povoação ou zona residencial.

Imagens do Expresso de 2 Junho 2001. Obrigado Mário!

Filas de trânsito à holandesa

MC, 04.10.07

Na foto vêem-se uma dúzia de bicicletas a ocupar sensivelmente o mesmo espaço que um automóvel. Quando cair o verde vão atravessar todas a rua em pouco segundos.
Se em vez de 12 bicicletas tivéssemos 12 automóveis, estes ocupariam 12 vezes mais espaço, provavelmente entupindo o cruzamento anterior, o que provocaria outra fila de outros tantos carros. Precisariam também de maior largura para circular, pois a da ciclovia não é suficiente. Seria necessário o triplo do tempo para que todos os automóveis passassem, aumentado assim o tempo de espera e o tamanho da fila nas outras ruas do cruzamento.
A isto chama-se eficiência.
Bem a propósito, recomendo o meu vídeo preferido aqui do blogue.

"Eles deviam era pôr melhores autocarros"

MC, 26.09.07
A qualquer medida de limitação do uso automóvel na cidade (sejam radares, parquímetros, portagens, zonas fechadas ao trânsito, etc...) retorque-se sempre com o argumento de que as pessoas só usam o automóvel por falta de transportes públicos e que se deveria começar por melhora-los.
Como já aqui escrevi várias vezes, este argumento é demagógico e inválido. O principal problema (claro que há muitos mais) dos transportes públicos nas cidades portuguesas é.... o excesso de carros. O trânsito obriga os autocarros a circularem a 10km/h em média, e com esta limitação nunca haverá um bom serviço. É uma pescadinha de rabo na boca que só pode ser resolvida limitando o trânsito automóvel.
Se a velocidade média de circulação fosse o dobro, teríamos o dobro da frequência de passagem (logo metade do tempo de espera) e metade do tempo de viagem com o mesmo número de autocarros e motoristas.
Um estudo internacional divulgado recentemente pela secretária de estado dos transportes Ana Paula Vitorino, vem indirectamente dizer isto mesmo. Segundo  Público de 22.09.07 o estudo compara o serviço da STCP com outras cidades. O Porto fica nos primeiros lugares em vários items, com duas importantes excepções: velocidade média e pontualidade, ambos por culpa de terceiros e não do serviço de transportes. Como disse a secretária de estado, "o problema reside na baixa velocidade e na pontualidade, pelo que não depede da empresa, mas sim da envolvente".

Acalmia no Trânsito II

MC, 01.09.07
Outra maneira bem simples e baratíssima (além das lombas sinusoidais) de baixar a velocidade média dos automóveis nas ruas secundárias da cidade, é obrigar o trânsito a fazer uns zig-zagues. Nem é necessário pôr canteiros ou reconstruir os passeios como na foto, basta pintar os lugares de estacionamento dum lado da estrada rua durante 100 metros, e depois do outro lado, etc...
As crianças a brincar na rua, os peões e os habitantes agradecem (ou melhor agradeceriam se houvesse o mínimo de vontade política).

Acalmia no trânsito I

MC, 24.08.07
Com a polémica dos radares em Lisboa a prolongar-se (ainda há muita gente que acha que uma cidade deve ser constituída de vias-rápidas em vez de ruas e avenidas) venho deixar uma sugestão aos nossos autarcas: lombas de forma sinusoidal como a da foto, muito comuns na Holanda em bairros residenciais.
lomba
Ao contrário das lombas que se vêem em Portugal, que apenas chateiam (e colocam em perigo as motas), estas obrigam mesmo um automóvel a reduzir a velocidade até uns 30km/h devido à sua forma. Acima desta velocidade o chassis ou o pára-choques bate mesmo no chão. É um modo barato, simples e eficaz de acalmar o trânsito em ruas secundárias com a vantagem de não prejudicar as motas e as bicicletas, e de facilitar a passagem de peões com pouca mobilidade por estar ao nível dos passeios.

Nota: bem sei que há lombas compridas em Portugal, mas são geralmente planas em cima, servindo apenas para chatear não para abrandar.

Custos do automóvel na cidade

MC, 05.06.07
S. Proost and K. van Dender da Universidade de Leuven publicaram em 2001 um estudo na revista Regional Science and Urban Economics sobre o impacto de um automóvel a circular em Bruxelas em hora de ponta. Os custos que são causados nos outros (ou seja a quem não está dentro de esse automóvel) em termos de poluição, congestionamento, acidentes e ruído - as chamadas externalides - é de cerca de 1,895 euros por quilómetro! O valor é ainda ligeiramente maior para automóveis a diesel, devido à emissão de partículas. Para contrabalançar cada automóvel paga apenas 0,12 euros por quilómetro de imposto.
Fazendo uma continhas... dando de barato que o número está sobreavaliado e tomando metade dele para Lisboa, assumindo que cada automóvel faz um percurso diário de 10+10km (a média deve ser bem mais alta), isto dá cerca de 19 euros por automóvel por dia de danos que cada automobilista inflige ao resto da sociedade, pagando apenas 2,4 euros em troca!
Temos que meter de um vez por todas na cabeça que o automóvel na cidade é um enorme custo para todos (e um custo estúpido porque há alternativas). Há que interiorizar a ideia de que não são os transporte públicos mas sim os automóveis particulares que estão a ser barbaramente financiados por todos.
Por uma questão de ambiente, de qualidade de vida, de bom planeamento mas principalmente de justiça social, este valor tem que ser pago por quem deve. Seja por portagens urbanas, parquímetros, taxas de circulação, seja o que for.

O que mais gosto nas greves dos transportes públicos...

MC, 31.05.07
As greves têm um benefício inegável, que é o de provar a quem estava esquecido (desde a última greve) que as cidades não podem viver baseadas na mobilidade em automóvel. Lisboa (e suponho que todas as cidades portuguesas) teve ontem um trânsito infernal, porque muitos lisboetas foram forçados a usar o seu carro.
Há ainda dois pontos a agravar. Primeiro, a fazer fé nos dados da CGTP (para quem tem fé), meio país não foi trabalhar, logo seriam mais outros milhares de automóveis a circular. Segundo, o serviço da Carris não foi muito afectado, permitindo o transporte de muitos lisboetas, que caso contrário iriam somar aos números do barulho, do trânsito e da poluição.