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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

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Mais Metro?

TMC, 16.11.09

Em Setembro último, talvez por ser um mês entalado pelo calor febril de Agosto e a cedência à demagogia do período eleitoral, surgiram algumas notícias acerca dos transportes na cidade de Lisboa e nos seus concelhos límitrofes. Até houve uma corrida entre uma bicicleta, o metropolitano e um bólide, com o vencedor natural (a bicicleta).

 

A então secretária de estado dos transportes quer ligar o metro até ao hospital Amadora-Sintra em 2015 porque então muito do tráfego que se faz através do IC19 deixará de se fazer; já o cacique-mor do PS, Marcos Perestrelo, também disse que era uma boa ideia o metro ligar-se ao concelho de Oeiras porque muitos dos habitantes de Oeiras que hoje têm que se deslocar para Lisboa em viatura, poderão deslocar-se de metro, com menos carros a poluir, menos carros a ocupar espaço.

 

Esta imagem, um pouco panfletária, acabou por aparecer:

 

clique na opção Ver Imagem do Firefox para ver maior

 

Claro que num país mais próspero, sem uma autarquia da capital à rasca para sanar as suas contas e a empresa pública do metropolitano com um passivo de 3300 milhões de euros e cerca de 240 milhões de euros de custos anuais, eu até entendia que extendessem o metro à Azambuja, a Loures e a Sintra.

 

Acho este plano um exagero megalómano. E pelas afirmações recolhidas parece que não há outra alternativa para reduzir o trágego automóvel. Repare-se que não questiono a pertinência das novas extensões do metro, apenas digo que parece tratar-se de outro caso de considerar-se a solução óptima e não uma solução muito mais razoável e económica.

 

NA sua construção, o custo por quilómetro do metropolitano é exorbitantemente alto porque ele é, como todos sabemos, subterrâneo. Estes custos são supostamente compensados pelo seu uso e, globalmente, pela conservação do tráfego à superfície, já que o espaço existente não é afectado. O que questiono é precisamente a insistência, nestas novas extensões, do metro continuar a ser subterrâneo e não de superfície; um metro com estas características, além de ser bastante menos oneroso, exige aquilo que os automóveis não gostam de ceder: o espaço que lhes foi dado e não conquistado.

 

Defendo por isso o metro de superfície ou a implementação de mais eléctricos porque combinam um transporte público de qualidade, eficiência e menores custos com a reivindicação do espaço que neste momento é só dos automóveis. Não vejo desvantagens nesta proposta e considero-a ser exequível. Foi pois com agrado que li a posta do Fernando Jorge no Observatório da BaixaLisboa nunca mais investiu neste tipo de transporte público desde a inauguração do eléctrico de nova geração entre a Praça da Figueira e Algés em 1995.

 


Quão frágeis são as estruturas das nossas cidades? Em termos de transportes, parece que bastaram algumas chuvadas para paralisar o Porto. Corte-se a VCI e a cidade bloqueia; ou melhor, confirmou-se que a cidade depende em primeiro lugar dos automóveis, só depois das pessoas. Como faria o leitor se amanhã não pudesse usar nenhum carro?

Não tenho nada contra a tecnologia...

TMC, 26.08.09

...mas ao ler acerca do novo projecto City Motion, albergando várias empresas de transporte público, centros de investigação universitários e as próprias autarquias de Lisboa e Porto não pude evitar algum cepticismo. Além disso, sei bem o resultado destes projectos mirabolantes e mui cooperantes. Estudei e trabalho numa faculdade com vários departamentos de transporte em que o campus é usado como estacionamento gratuito para alunos, professores e funcionários , apesar de estar rodeado  por transportes públicos de qualidade.

 

A notícia do projecto também não é muito promissora, simplesmente porque o objectivo do projecto - mudar profundamente a mobilidade nas grandes cidades - parece advir de três factores:

 

1) articulação dos vários agentes interessados (a minha tradução para stakeholders)

2) fusão de dados e respectiva gestão numa plataforma logística  digital em tempo real

3) usufruto dessa informação para o utilizador dos transportes públicos

 

O ponto 1) é desejável em qualquer projecto mas no caso dos problemas de mobilidade concretos que assolam Lisboa e Porto o ponto 2) e especialmente o 3) são inócuos. Poderão melhorar um pouco a mobilidade mas só o farão para quem já usa os transportes públicos. Não há nada no projecto que ataque o problema principal que é uso excessivo do automóvel nas cidades.

 

Ou seja, o projecto não é nada realista. Falha o alvo. Assume que  qualquer utilizador de transportes públicos usará os resultados via telemóvel e atribui  ao acesso à informação o ónus da mudança na mobilidade urbana. Não há nada no projecto que permita cativar utilizadores de viaturas particulares para as públicas e ignora a falta de sustentabilidade das empresas de transporte públicos, precisamente por estas ainda não captarem clientes suficientes.

 

Ninguém gosta de esmolar mas face a todos os incentivos concedidos pelos sucessivos governos à viatura particular, é claro que o resultado só poderia ser o prejuízo das empresas de transportes públicos. 

 

A bicicleta é um disparate nas grandes cidades por causa das grandes distâncias

MC, 10.02.08
Este é mais um daqueles argumentos contra a bicicleta como transporte urbano que aparentemente só se aplica às cidades portuguesas. Senão vejamos:
Os programas de bicicletas públicas em Paris, Lyon, Barcelona, etc... vão de vento em poupa. Em Paris, nos primeiros seis meses do programa, houve 75 mil viagens por dias com apenas 10 mil bicicletas disponíveis.
Para acompanhar no Bike-sharing Blog
Em Londres vão ser criadas "auto-estradas para bicicletas" na cidade e vai ser também introduzido um programa de bicicletas públicas, num investimento de 540 milhões de euros.
E para que não restem dúvidas sobre o tamanho das cidades:
Paris: 9,9 milhões de habitantes
Londres: 9,3 milhões
Lisboa: 2,4 milhões
Porto: 1,3 milhões

Claro que há muitos Lisboetas e Portuenses que fazem enormes deslocações no dia-a-dia, mas também haverá muitos cujas deslocações não chegam aos 5km. E mesmo para os primeiros é necessário investir em transportes públicos com capacidade para levarem bicicletas e bicicletas públicas disponíveis por toda a cidade.

Campeões do Alcatrão III

MC, 07.01.08
Fixe bem esta foto:

A fotografia de satélite não está actualizada, mas o que se vê ali são as auto-estradas A1 e A29 (entretanto já a funcionar) na zona de Ovar/Estarreja. Não, elas não se vão encontrar mais à frente, foram planeadas e construídas para serem paralelas! Isso mesmo, uma do Porto a Aveiro não chegava, por isso toca de construir mais uma.
Lembre-se desta fotografia quando alguma vez ouvir em algum lado que Portugal não tem fundos seja lá para que investimento for. Nós construímos auto-estradas paralelas, só podemos ser o país mais rico do mundo (como se pode comparar aqui).
E a história ainda piora. Soube hoje (via Ondas3) que o Governo aprovou a semana passada uma terceira auto-estrada paralela a passar por Oliveira de Azeméis e São João da Madeira, ou seja a menos de 10km da A1.
Esta gente droga-se brutalmente.

7ª Arte ou a Morte do Porto

MC, 20.11.07
Há 20 anos os cartazes de filmes reduziam-se a duas secções: Lisboa e Porto. Os cinemas estavam praticamente todos concentrados nesses dois concelhos. Felizmente hoje já não é assim, e há mais salas de cinema por todo o país.
Por outro lado, não posso deixar de notar que o Porto (a cidade em si) tem cada vez um peso menor. Já chegou a ter umas meras 4 ou 5 salas de cinema, enquanto Gaia tinha dezenas. Agora recuperou graças a novos shoppings. Não tenho nada contra Gaia (e Maia e Matosinhos), apenas contra o que está por detrás desta mudança. Ir ao cinema cada vez mais significa metermo-nos no carro na auto-estrada até um shopping (ou plaza que está agora mais na moda), deixá-lo numa cave, e passearmos num espaço fechado igualzinho a outros shoppings. Com isto perde a cidade, fica sem vida e mais insegura, perdemos todos em qualidade de vida, perde a sociedade porque cada um anda na sua caixinha separada em vez de um passeio pelas ruas. A cidade deixa de ser uma povoação humana cheia de diversidade e torna-se num cruzamento de estradas.
Lisboa, que ainda conseguia aguentar um pequeníssimo número de "cinemas de bairro" teve a semana passada uma péssima e triste notícia, o encerramento do antigo VOX e actual King, que era sem dúvida a sala com melhores filmes da capital. Ironia dos tempos, o King foi comprado para ser... um parque de estacionamento.
 

Exemplos concretos

MC, 22.10.07
Muito poucos admitem andar de carro na cidade por comodismo, escondendo-se geralmente por trás da má qualidade dos transportes públicos. Ficam aqui dois casos de pessoas minhas conhecidas.

O percurso diário de X é casa-emprego-ginásio-casa. Todos os percursos são no centro da cidade, e a sua distância média não chega a um quilómetro. X vai de carro.

Y mora à porta da estação de comboio, nem uns 200 metros serão. O emprego é a meio quilómetro, um quilómetro de outra estação da mesma linha, no centro da cidade. Y vai de carro.

X e Y não são deficientes motores, não têm horários irregulares, não fazem deslocações durante o dia, não têm que se preocupar com filhos e nenhum dos percursos é numa zona perigosa. Todos conheceremos muitíssimos casos assim. São milhares e milhares que diariamente tornam a cidade mais desumana. Faz sentido sermos prejudicados pelo comodismos deles?



A propósito o João do Pedalófilo descobriu um enorme elogio aos transportes públicos do Porto escrita por uma irlandesa que os compara com os de Belfast.

We (...) were absolutely astounded at the modernity and efficiency of its public transport system.

The tickets are totally interchangeable.
The trains arrive on the minute, are constant and encompass the whole of the urban and rural outskirts of the city.

Buses (which run on gas so therefore no diesel fumes), trains and trams are equally punctual. What absolute luxury!


Claro que não são perfeitos, mas lá se vai a desculpa do "eu andaria de transportes se fossem bons como no estrangeiro".

Mapa do relevo de Bruxelas

MC, 11.10.07
As autoridades da região de Bruxelas (que em termos de relevo padece do mesmo problema de muitas cidades portuguesas)  preocupadas em aumentar o número de viagens em bicicleta na  cidade, decidiram realizar um mapa das ruas de Bruxelas usando cores diferentes consoante a inclinação das ruas. Assim os ciclistas poderão mais facilmente planear o caminho a tomar.
Apesar de 99% do trânsito de Lisboa NÃO passar por subidas de Santa Apolónia ao Castelo ou de Santos à Estrela (como os críticos das bicicletas muito gostam de dar a entender), o relevo é um problema para as bicicletas em Lisboa. Quem diz isto, diz da Ribeira à Batalha no Porto, do Largo da Portagem à Universidade em Coimbra. Uma iniciativa deste género seria excelente para Portugal tanto para quem já anda e quer fazer um percurso fora do habitual mas especialmente para quem quer passar a usar a bicicleta como transporte. Isto porque quem está habituado a pensar nos percursos dentro da cidade em termos de viagens de automóvel não tem, ou não quer ter, a plasticidade mental para perceber que muitas vezes um pequeno desvio de um quarteirão é suficiente para evitar uma subida (exemplos disto há aos milhares).  Pessoalmente nunca deixo de fazer uma deslocação de bicicleta por causa do relevo.
Já agora lembro que a bicicleta tem muito mais flexibilidade dentro da cidade do que o automóvel, porque não fica presa no trânsito e porque pode fazer percursos proibidos para o automóvel - por exemplo, virar à esquerda nas avenidas pode sempre fazer-se levando a bicicleta durante uns metros pela mão nas passadeiras. Logo fazer desvios é muito mais fácil.

Por fim tenho que admitir que ando com esta ideia na cabeça há muito tempo, mas rapidamente chego à conclusão que é difícil medir a inclinação de uma rua "a olhómetro ". Voluntários?



(notícia via Rad-Spannerei Blog)

Mobilidade Sustentável, uma ova!

MC, 10.10.07
Obviamente que não dou qualquer importância aos carros "amigos do ambiente" e outras aldrabices semelhantes inventadas pela indústria que percebe que começa a ser alvo de várias críticas. Agora quando esta fantochada é apoiada por organismo estatal, nomeadamente pela Câmara Municipal do Porto, chegamos ao ponto do intolerável.
Vai ser produzido um carro eléctrico numa grande parceria com uma indústria nacional. Ele é um popó a) "amigo-do-ambiente " e b) "inteligente", c) "sem emissões de CO2 " que traz d) "benefícios (...) do ponto de vista social", que visa e) "uma estratégia inovadora de mobilidade sustentável".
a) E os custos ambientais de produção, manutenção, circulação (pneus, óleos, peças) e desmantelamento? Será que cresce nas árvores e é biodegradável?
b) Em bom português, "esta passou-me ao lado".
c) A electricidade vem de onde? Não será do carvão e do petróleo?
d) Outra que me passou ao lado.
e) Inovadora em quê? Sustentabilidade? Será que não provoca trânsito nem acidentes como os outros automóveis? Será que não afecta a qualidade de vida das cidades, devido ao desperdício de espaço urbano?
Os automóveis eléctricos têm as suas vantagens, agora não venham vender gato por lebre.