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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

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Agora é Pontevedra a mostrar que cidade com menos carros, é cidade mais viva

MC, 19.09.18

Os nossos irmãos galegos a mostrar como as cidades devem ser: para as pessoas e não para os automóveis, pondo Pontevedra em destaque no Guardian. O centro estava morto e entregue aos automóveis. Mal a cidade foi devolvida às pessoas, tudo voltou a florescer: uma cidade menos poluição sonora e atmosférica, com mais comércio, mais pessoas a querer viver nela. O parágrafo essencial é este:

Miguel Anxo Fernández Lores has been mayor of the Galician city since 1999. His philosophy is simple: owning a car doesn’t give you the right to occupy the public space.

Artigo completo: For me, this is paradise': life in the Spanish city that banned cars

 

Será Lisboa a cidade mais atafulhada de carros estacionados no mundo?

MC, 12.09.18

Será Lisboa a cidade mais atafulhada de carros estacionados no mundo?

Este post estava pendente há anos (!) e é também um pedido da vossa ajuda. Estava pendente porque não queria ser injusto mas tendo acabado de visitar quatro novos países, menos "desenvolvidos", fico cada vez mais convencido que não haverá no mundo uma grande cidade que dedique tanto do seu espaço público ao estacionamento automóvel como Lisboa, seja estacionamento legal ou ilegal. Aliás, conhecendo cinquenta países, sempre com atenção à mobilidade, não consigo claramente dar um exemplo pior.
Responder seriamente à pergunta implicaria anos a recolher dados, mas posso dar quatro razões (ver fotos) que me levam a pensar assim.

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1) Nunca vi ruas de 20m de largura, onde se conseguisse enfiar 4 filas de estacionamento automóvel (para lá de 2 vias de circulação), e Lisboa tem dezenas de exemplos assim.

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2) Nunca vi ruas estreitas, onde os passeios têm apenas meio metro, mas há espaço para estacionamento.

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3) Pequenos cruzamentos urbanos onde chegam a haver 4 carros impunemente estacionados em CADA esquina, pondo em perigo os peões e tapando a passadeira (quando existe).


4) É muito comum haver ruas e avenidas sem qualquer estacionamento à superfície no centro das cidades (tentem uma cidade ao calhas no google maps). Nos países mais "desenvolvidos" chegam a ser mais de metade. Em Lisboa conta-se pelos dedos das mãos, os casos assim.

Sei que Fernando Medina discorda - ainda há dois meses repetiu que um dos grandes problemas de Lisboa é a falta de estacionamento, e vocês conhecem algo pior?

EMEL manda os automobilistas bloquerem o passeio

MC, 11.09.18

Não, o título não é exagerado, e não é temporário. Nas fotos vemos várias dezenas de lugares marcados recentemente* pela EMEL a indicar estacionamento sobre o passeio.

Já não é novidade nenhuma a CML autorizar estacionamento no passeio é legal (Av Gago Coutinho entre muitos outros), este caso é especialmente vergonhoso porque 1) indica que se deve bloquear por completo o passeio, 2) é estacionamento recentemente "ordenado" pela EMEL, 3) do outro lado do quarteirão abriu há menos de dois anos um parque de estacionamento subsidiado por todos nós.

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Não podemos estar indiferentes à escolha dos outros

MC, 10.10.17

É apelativa a ideia que não devemos interferir na escolha de mobilidade dos outros, tal como ninguém tem nada a ver com o que eu como, visto, leio, etc. Só que por um lado já vimos que é impossível uma câmara municipal não interferir nessa decisão por muito que queira; ao escolher quanto espaço urbano vai para alcatrão e quanto vai para passeio, já tem uma enorme influência. Por outro, mesmo que fosse possível não interferir nas escolhas pessoais, isso não seria desejável pela natureza do que está em causa.

  • É muito frequente ouvir pessoas que dizem que não andam de mota, bicicleta ou até a pé (idosos) por medo dos automóveis. Quando eu escolho comer pizza não estou a impossibilitar os outros de escolherem outra refeição, mas quando escolho o automóvel estou a interferir e até restringir a escolha dos outros.
  • Se muitas pessoas escolhem o automóvel, então teremos congestionamento que fará perder muito tempo a muitas pessoas (até às que andam de carro). Quando escolho vestir uma camisa azul, não vou fazer com que outros que têm camisas azuis ou blusas verdes, percam 1h do seu dia.
  • O aumentado de sinistralidade causado por mais uma pessoa a andar de automóvel, é muito maior que a sinistralidade causada se essa pessoa tivesse feito outra escolha. Quando escolho ver um filme, não estou a causar perigo a quem decide ver um jogo de futebol.
  • A poluição atmosférica e sonora criada pela pessoa que escolheu o automóvel cria um rol infindável de problemas ambientais e de saúde aos outros. Quando escolho ler um romance não causo doenças respiratórias a quem decide ler um policial.

Não podemos ver a escolha do transporte como uma decisão inteiramente pessoal como a escolha da camisa que vou vestir. Escolher andar de automóvel na cidade deve sim, ser visto como a escolha de quando toco bateria no meu prédio.

É fisicamente impossível as câmaras serem imparciais sobre o transporte que escolhemos

MC, 22.09.17

Vai à janela.
Repara na largura da estrada e na largura do passeio. Alguém teve de decidir isso.
Repara qual a largura de cada via (faixa) de rodagem, e quantas há em cada sentido. Alguém teve de decidir isso.
Repara se há estacionamento, se é em espinha ou longitudinal, se é contínuo ou interrompido por bancos ou árvores, se houve cuidado para evitar estacionamento ilegal no cruzamento ou se houve condescendência com isso. Alguém teve de decidir isso.
Repara se há bus, ciclovia e qual é o material do passeio, se a estrada é alcatrão ou empedrado e se tem lombas (e que lombas?). Alguém teve de decidir isso.
Repara na velocidade máxima e se alguma vez alguém a controlou aí. Alguém teve de decidir isso.
Repara se há parquímetros, quanto custam, qual o período máximo de estacionamento, se há lugares para moradores. Alguém teve de decidir isso.
Repara se o estacionamento legal ou ilegal é controlado por alguém, quantas vezes é controlado, qual é a multa, quantos pontos se perde na carta. Alguém teve de decidir isso.
Repara se o passeio é um canal livre para os peões, ou se tem obstáculos como pilaretes, cartazes publicitários, bancos, árvores, vidrões, sombra. Alguém teve de decidir isso.
Repara se a rua tem passadeira, passeio rebaixado na passadeira, passadeira levantada, passeio central ou tem barreiras que impeçam os peões de atravessar.
Repara se há paragem de autocarro, paragem de metro ou paragem de taxi. Alguém teve de decidir isso.
Repara na frequência do autocarro, o preço do metro, o imposto de circulação do automóvel, o ar condicionado do metro, o preço da licença do taxi. Alguém teve de decidir isso.
Repara no cruzamento ao fundo, e se ele tem semáforos, quanto tempo abrem os semáforos para cada direção e para os peões, se todos as mudanças de direção são permitidas, qual o raio de curvatura, se há exceções para autocarros, amarelos intermitentes ou botões para os peões pedirem verde. Alguém teve de decidir isso.

Lembra-te que em qualquer cidade há centenas, milhares de troços de rua iguais ao da rua à tua frente, e em todos eles as mesmas decisões tiveram de ser feitas.

É que ao contrário do tipo de fruta que escolhemos comer, da rádio que escolhemos ouvir, do café onde decidimos comer, na mobilidade é impossível as câmaras serem imparciais tratando todos os modos de transporte por igual. E todos estes milhões de decisões que elas têm de tomar condicionam fortemente as nossas escolhas individuais de mobilidade no dia-a-dia.

Quando alguém diz que as câmaras municipais devem deixar as pessoas escolher livremente, ou está a ser burro ou desonesto.

 

 

O planeamento urbano centrado no automóvel causa sedentarismo e obesidade

MC, 27.07.17

O sedentarismo é provavelmente o maior problema de saúde pública mundial neste momento, responsável por mais de 5 milhões de mortes por ano.
Um estudo inovador publicado na Nature, teve acesso ao número de passos dados no dia-a-dia, registado por 700 mil smartphones em todo o mundo. O estudo mostra que a obseidade está fortemente relacionada com estes dados.Mostra ainda que quanto mais uma cidade for feita e pensar nas pessoas em detrimento do automóvel (mais "walkable"), menos obesidade há. E isto acontece para todas as idades, géneros, níveis de rendimento, etc.
No gráfico vemos que a "activity inequality" (associada à obesidade), tem um agravamento de 40% devido apenas à qualidade do espaço urbano.

Ter cidades mais amigas dos peões, com passeios mais largos, com menos esperas nos semáforos, sem pontes e túneis pedonais, sem vias-rápidas no centro da cidade, com travessias mais seguras para os vulneráveis, sem estacionamento (legal ou ilegal) a dificultar a circulação pedonal, etc. é um dever de saúde pública.

In more walkable cities, activity is greater throughout the day and throughout the week, across age, gender, and body mass index (BMI) groups, with the greatest increases in activity found for females. Our findings have implications for global public health policy and urban planning and highlight the role of activity inequality and the built environment in improving physical activity and health.

http://www.nature.com/nature/journal/vaop/ncurrent/full/nature23018.html#sf9-inarticle

 

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E também não, um carro em movimento não ocupa apenas 6m²

MC, 27.07.17

Se parado um automóvel já precisa de muito espaço urbano em exclusividade, a circular a coisa ainda fica pior. Não, um carro a circular não ocupa apenas os seus 8m², porque precisa de distância aos carros em seu redor, seja atrás, frente ou dos lados.
Na imagem estão dois exemplos onde até há MAIS automóveis do que a média das nossas cidades: à espera de um semáforo, e a circular numa via-rápida com trânsito intenso mas fluído. Na primeira estão 35 viaturas em 1240m², na segunda 33 em 4830m². São 35m² por automóvel na primeira e 136m² na segunda em situações, insisto, onde a densidade de automóveis é maior que o resto.
Quando alguém se queixar dos passeios serem "largos", ou exigir mais vias para a circulação automóvel, lembrem-se quanto do precioso espaço urbano é preciso para apenas um carro!

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Até as multas ao estacionamento ilegal são subsidiadas

MC, 27.07.17

Já vimos que o estacionamento em espaço privado (garagem) ou em espaço público (rua ou parque de estacionamento) é vergonhosamente subsidiado, ao ter preços que chegam a ser um milésimo do preço que outras ocupações pagariam.
Mas até o estacionamento ilegal é subsidiado. As multas de estacionamento são tão baixas (a maioria de 30€) que dificilmente cobrem o custo de toda a estrutura de vigilância, cobrança, e eventual bloqueio e reboque de automóveis. Pensem só na quantidade de recursos necessários para esta vigilância funcionar.
O pilarete é um exemplo extremo deste custo. Segundo o Peão Exaltado (aka Passeio Livre), o material e a montagem do pilarete está na ordem dos 90€; se lhe somarmos o planeamento e a manutenção, facilmente o custo passa os 100€ por cada um, pagos pelas câmaras municipais. Pensem na quantidade de pilaretes no vosso concelho, e terão (mais) um custo que os prevaricadores impingem aos outros.

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Caça à multa ou ao disparate? III

MC, 06.02.15

Acho que posso dar como dado adquirido que há mais aceleras cá, do que na Holanda, por exemplo. Assim, se as polícias dos dois países controlassem o mesmo número de automobilistas, a portuguesa iria certamente apanhar mais infrações.
Mas se o número de infrações fosse semelhante, teríamos de concluir que a polícia portuguesa é mais branda que a holandesa.

E se vos disser que não é semelhante, nem sequer é ligeiramente menor por cá, mas é 50 vezes menor apesar de ser ridiculamente fácil avistar um acelera em Portugal? Teríamos de concluir que a nossa polícia é, no mínimo, conivente com o excesso de velocidade. A verdade é que, de acordo com o relatório da ETSC (European Transport Safety Council), Portugal está em último lugar na Europa, em termos de número de aceleras multados por cada 1000 habitantes.

Screenshot from 2015-02-06 17:35:43.pngSim, o relatório já tem uns anos, mas infelizmente é o mais recente e estes números são difíceis de encontrar para todos os países para anos mais recentes. Mas desengane-se quem achar que muita coisa mudou desde então.  Tem havido de facto um aumento, mas muito tímido face a disparidade expressa acima. A semana passada saíram os dados de 2014. Subimos para as 25 multas por excesso de velocidade por mil habitantes.  Vergonhosamente pouco.

Enquanto as nossas cidades e estradas continuam a ser o faroeste rodoviário, a imprensa e o "senso-comum" continuam convencidos que há uma caça à multa...

(obrigado Miguel)

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Caça à multa ou ao disparate? II (valor das multas cobradas é Madrid é mais do que Portugal inteiro)