Carro, o monstro sedento de espaço urbano II
Imaginem que um dia de manhã todos nos lembrávamos de levar esta estrutura de madeira tipo mochila. Que todos quereríamos ir ao café, às compras, ir trabalhar, passear, com aquele caixote pendurado. Seria bem difícil cruzarmo-nos com alguém fosse em ruas estreitas ou largas. Agora imaginem que consideraríamos o direito de andar com o caixote pendurado como um direito inalienável, que exigiríamos que a cidade fosse redesenhada para a nossa extravagância e que houvesse locais para largar os caixotes quando entrássemos em algum edifício.
Ridículo, não é?
Mas é aproximadamente isso que fazem 500 mil pessoas todos os dias em Lisboa, e outros bons milhões em todas as cidades do mundo (excepto Veneza!!).
Texto da página do Instituto para Planeamento dos Transportes e Engenharia de Tráfego da Univ. Técnica de Viena (tradução minha):
Os engarrafamentos não se devem à falta de capacidade das ruas, os engarrafamentos acontecem porque os automóveis necessitam de muito espaço e porque são frequentemente usados desnecessariamente. Se os peões exigissem os mesmos direitos, puderiam assegurar o mesmo espaço individual que os automobilistas caminhando com uma estrutura de madeira de 4,30 x 1,70 m („Gehzeug“) pendurada. As consequências seriam engarrafamentos inimagináveis de peões. Para evitar isso seriam necessário alargar os passeios e destruir edifícios - o gozo de andar de "andomóvel" levaria a enormes áreas livres. Teríamos chegado à mesma situação, que hoje já conhecemos devido aos automóveis.