Culpa dos peões II - comentário
MC, 13.11.07
Comentário recebido por mail dum colaborador secreto do Menos Um Carroao post anterior.
Como português que fez a carta de condução na Alemanha não posso deixar de comentar este post.
Primeiro: não só na Holanda, como também na Alemanha (e acredito que em grande parte da Europa) a lei parte sempre do princípio que num incidente (para não falar logo de acidentes) rodoviário envolvendo também peões ou ciclistas, a culpa está do lado do automobilista. Está claro que a minha reacção na altura que soube desta lei (e ainda com a minha típica mentalidade portuguesa) foi a de pensar "estes alemães são é malucos, então o peão é que faz a merda e o automobilista é que paga, mas que estupidez!".
Um exemplo que o nosso instrutor gostava muito de dar para justificar a lei era o seguinte:
Imagine-se como condutor numa zona residencial, estrada não muito larga, à esquerda e à direita densas filas de automóveis estacionados que não lhe permitem como condutor de ver o que se passa por detrás delas. Uma das situações mais típicas que se podem passar nestas condições (e como dizia, estamos numa zona residencial) é a de haver por detrás destas autênticas muralhas de automóveis uma ou mais crianças a brincarem com a sua bola de futebol, que mais cedo ou mais tarde acaba por saltar para o meio da rua. É claro que a reacção espontânea de qualquer criança é a de correr atrás da bola, inconsciente do perigo à qual está exposta ao reagir desta maneira. A probabilidade de um condutor atropelar uma criança nestas circunstâncias é bastante grande, e maior ainda é a probabilidade do atropelamento ser mortal, quanto mais alta for a velocidade do condutor. Uma reacção típica em Portugal seria qualquer coisa do género "Ó pá, é uma tragédia a criança ter morrido, mas olha, acontece. Da próxima vez que tome mais atenção! E está claro que a culpa é dos pais que não estavam no local para tomar conta das crianças." Tal comentário parece quase macabro, mas infelizmente é a realidade no nosso país.
Recordo uma tragédia que se passou no meu bairro há coisa de 15 anos atrás: era carnaval e um bom amigo do meu irmão (na altura teria uns 10 anos), ao fugir de outras crianças que lhe atiravam com ovos (outra tradição de carnaval que nunca cheguei a compreender), correu para o meio da rua onde um automóvel a "alta" velocidade (isto no meio de um bairro residencial) o atropelou mortalmente. O bairro todo ficou chocado com o sucedido, mas o comentário geral das pessoas foi "Ó pá, são azares da vida! Pena, era um puto tão bacano ...Também, que coisa mais estúpida essa de se atirarem com ovos." Em nenhuma altura se considerou o condutor responsável pelo atropelamento como culpado do que quer que seja... O sucedido foi pura e simplesmente aceite como um azar da vida. Ora, um condutor envolvido numa mesma situação na Alemanha ou na Holanda muito provavelmente teria ido parar na cadeia. E porquê? Devido à tal lei, que culpabiliza sempre o condutor - o que entretanto me parece mais que lógico, porque quem sai a perder são sempre o peões e os ciclistas. O resultado de uma tal lei é que os condutores preferem reduzir a sua velocidade e adaptá-la às circunstâncias, em vez de terem que passar parte de suas vidas na prisão. E acreditem-me que uma tal lei intimida qualquer condutor e poupa muitas vidas.
Primeiro: não só na Holanda, como também na Alemanha (e acredito que em grande parte da Europa) a lei parte sempre do princípio que num incidente (para não falar logo de acidentes) rodoviário envolvendo também peões ou ciclistas, a culpa está do lado do automobilista. Está claro que a minha reacção na altura que soube desta lei (e ainda com a minha típica mentalidade portuguesa) foi a de pensar "estes alemães são é malucos, então o peão é que faz a merda e o automobilista é que paga, mas que estupidez!".
Um exemplo que o nosso instrutor gostava muito de dar para justificar a lei era o seguinte:
Imagine-se como condutor numa zona residencial, estrada não muito larga, à esquerda e à direita densas filas de automóveis estacionados que não lhe permitem como condutor de ver o que se passa por detrás delas. Uma das situações mais típicas que se podem passar nestas condições (e como dizia, estamos numa zona residencial) é a de haver por detrás destas autênticas muralhas de automóveis uma ou mais crianças a brincarem com a sua bola de futebol, que mais cedo ou mais tarde acaba por saltar para o meio da rua. É claro que a reacção espontânea de qualquer criança é a de correr atrás da bola, inconsciente do perigo à qual está exposta ao reagir desta maneira. A probabilidade de um condutor atropelar uma criança nestas circunstâncias é bastante grande, e maior ainda é a probabilidade do atropelamento ser mortal, quanto mais alta for a velocidade do condutor. Uma reacção típica em Portugal seria qualquer coisa do género "Ó pá, é uma tragédia a criança ter morrido, mas olha, acontece. Da próxima vez que tome mais atenção! E está claro que a culpa é dos pais que não estavam no local para tomar conta das crianças." Tal comentário parece quase macabro, mas infelizmente é a realidade no nosso país.
Recordo uma tragédia que se passou no meu bairro há coisa de 15 anos atrás: era carnaval e um bom amigo do meu irmão (na altura teria uns 10 anos), ao fugir de outras crianças que lhe atiravam com ovos (outra tradição de carnaval que nunca cheguei a compreender), correu para o meio da rua onde um automóvel a "alta" velocidade (isto no meio de um bairro residencial) o atropelou mortalmente. O bairro todo ficou chocado com o sucedido, mas o comentário geral das pessoas foi "Ó pá, são azares da vida! Pena, era um puto tão bacano ...Também, que coisa mais estúpida essa de se atirarem com ovos." Em nenhuma altura se considerou o condutor responsável pelo atropelamento como culpado do que quer que seja... O sucedido foi pura e simplesmente aceite como um azar da vida. Ora, um condutor envolvido numa mesma situação na Alemanha ou na Holanda muito provavelmente teria ido parar na cadeia. E porquê? Devido à tal lei, que culpabiliza sempre o condutor - o que entretanto me parece mais que lógico, porque quem sai a perder são sempre o peões e os ciclistas. O resultado de uma tal lei é que os condutores preferem reduzir a sua velocidade e adaptá-la às circunstâncias, em vez de terem que passar parte de suas vidas na prisão. E acreditem-me que uma tal lei intimida qualquer condutor e poupa muitas vidas.