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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

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Menos Carros = Menos Pessoas? I

MC, 11.07.07
Este é para mim um post fundamental, por estar relacionado com o modo como queremos organizar as nossas cidades, e a nossa vida urbana. Quero também tentar contrariar uma ideia, que eu classifico de mito urbano, que tem sido badalado dia-sim, dia-sim, na comunicação social.

Em Portugal, especialmente agora com as eleições em Lisboa, sempre que se menciona alguma medida que possa restringir de algum modo a circulação automóvel no centro das cidades, sejam parquímetros, diminuição do estacionamento, faixas bus, sentidos proibidos, lombas ou até portagens urbanas, há logo alguém que alerta para os perigos desta alteração. Diz-se que lesa o comércio tradicional, afasta a classe media/alta da cidade, leva à saída das firmas e dos empregos para  a periferia, etc... Ainda anteontem no debate sobre Lisboa, foi dito várias vezes que não era verdade que a cidade precisasse de menos automóveis. A argumentação é simples: dificultando o acesso, as pessoas e as identidades a pouco e pouco optam por se deslocar para locais onde esse acesso não esteja dificultado.

Bom eu poderia desde já argumentar, que menos trânsito torna uma zona mais agradável, atraindo por isso moradores e peões, e por consequência comércio.

Mas em vez de discutir em abstracto temos a sorte de poder comparar o que acontece na realidade, o sonho de qualquer cientista social, que ao contrário da maioria dos cientistas naturais, não pode realizar experiências. Podemos comparar o que acontece nos EUA e na Europa.

(Bem sei que há diferenças culturais, históricas, geográficas, etc... mas acho que isto não explica a diferença).

Nos EUA as avenidas são larguíssimas, há enormes parques de estacionamento em todos os recantos das cidades. Na Europa há enormes áreas de ruas fechadas ao trânsito, outras só para transportes públicos, as ruas são mais estreitas, há pouco estacionamento, o uso do automóvel é desincentivado, há portagens para entrar em cidades, há lombas nas ruas, não há um único local nos centros sem parquímetros, etc...  Nos EUA menos de 10% da população urbana usa o transporte público, enquanto na Europa 40% a 50% a isso é forçada.

Todos concordarão que a diferença é abismal. Mais, esta diferença não é de hoje, mas de há décadas. Tratatam-se portanto de modos opostos de pensar as cidades.

Quanto às consequências. Na Europa os centros das cidades são animadíssimos, com comércio tradicional em todos os recantos (ao contrário dos EUA onde predomina o comércio em grandes superfícies fora da cidade), há muitos peões (nos EUA há por vezes ruas sem passeio e sem peões mesmo nas cidades), as casas no centro da cidade são muito caras sendo por isso habitadas pela classe média/alta enquanto os subúrbios servem para os menos abastados (nos EUA viver nos subúrbios significa ser rico - basta a ver a conotação de suburban nas séries americanas).

Temos portanto umas 100 grandes cidades no mundo ocidental rico que podemos usar na nossa análise, e quase todas (ou todas) mostram exactamente o contrário das acusações feitas em cima à restrição da circulação automóvel, seja em termos de comércio/ empregos/ firmas, seja em termos da classe média/alta serem expulsos das cidades.

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