Hoje de manhã, ao atravessar uma rua, por muito pouco não fui atropelado por um automobilista. Eu ia a pé e tinha verde, ele que virava tinha um amarelo intermitente... mas "distraiu-se". Nem pediu desculpa. Eu já contava com a "distração", mas se não contasse poderia ter ido desta para melhor. Por "distração" do automobilista. Na situação inversa, se um peão "distraído" atravessar quando está verde para o automobilista, também é o peão que vai desta para melhor.
Não querer perceber esta assimetria, e pôr em pé de igualdade as "distrações" de uns e outros, é criminoso.
Repito aqui uma imagem antiga.Um peão, que apesar de ter verde, pára, olha para verificar que não vem nenhum automóvel, e só depois avança. Basta passar uns segundos num cruzamento para ver peões a ter este comportamento. Poderíamos passar anos no mesmo cruzamento, e não veríamos um automobilista perante um verde a parar, verificar que não vêm peões, e a avançar depois. Apontar o dedo à "distração" dos peões como causa de atropelamentos é criminoso.
Acho particularmente perigosas essas passadeiras em que o carro tem sempre o sinal intermitente. Imaginando que um peão mete o pé na passadeira e está verde mas quando vai a meio muda para vermelho. Já vi carros a apitarem e reclamarem com o peão nestas situações e em caso de atropelamento não há forma de se provar que o peão atravessou com o sinal correcto.
Em Roma Areeiro há uma passadeira particularmente perigosa (ainda vou reclamar para a CML) porque é impossível atravessa-la de uma ponta à outra com o sinal verde e há imensos idosos a viver naquela zona que atravessam devagar e não dão conta quando o sinal muda (já houve inclusive ali atropelamentos mortais).
Além disso, normalmente esses sinais são colocados quando o carro vem de uma curva. A ideia em teoria é boa (porque supõe-se que o condutor reduziu), mas a realidade é outra e já tive carros a aparecem-me pelas costas e que me pregaram sustos do caraças, porque não os podia ter visto a não ser que me virasse para trás. É que depois de ter levado com um carro já pouco importa se eu tinha razão ou não.
Há uns três anos em Madrid, reparei que nestas mesmas situações não há "sinal amarelo" para os automóveis, assinalando a passagem dos peões. O sinal, para os automóveis que cortavam para a transversal era mesmo vermelho.
Ou seja, primeiro tinham um verde para avançar na sua via, mas como na via para onde cortavam havia uma passadeira com verde ligado para peões, tinham um novo sinal, desta vez a vermelho. Ou seja, um sinal igual ao nosso, mas vermelho em vez de amarelo: proibido passar, porque está verde para peões.
Pedro, é pior ainda!! É que mesmo dentro das opções do amarelo intermitente as regras mandam que primeiro acenda o verde, e só depois o amarelo para os automóveis. Em Lisboa faz-se o contrário:
Apontar sistematicamente o automobilista como culpado dos atropelamentos também é criminoso! Basta ficar junto a uma passadeira e apreciar a quantidade de peões que faz da passadeira uma continuação do passeio, que não pára ou olha antes de se atirar para a via, venha carro ou não. Palavra que gostava de ver a diferença comportamental que quem escreve estas pérolas tem quando se senta ao volante de um automóvel...
Como nunca apontei o automobilista como o único culpado, não posso responder por quem o faça. O que digo repetidamente, é que a relação de força em causa é tão díspar, que é um absurdo querer analisar o comportamento do peão (que é sempre a vítima, seja dos seus erros ou dos erros dos outros), com a da pessoa que conduz uma tonelada e meia a 60km/h pela cidade. Quanto ao comportamento de quem escreves "estas pérolas" terá de perguntar a quem escrever as pérolas. O meu é igual ao dos condutores nos países do Norte da Europa, onde a culpa num atropelamento é SEMPRE atribuído à partida ao condutor, ou seja conduzir sou eu que ando com uma arma na mão e tenho que ter cuidado com ela.