A empresa onde trabalha um amigo, deslocou-se do centro para a periferia em busca de rendas mais baixas. Poupa a empresa, gastam mais os trabalhadores para chegar até lá. Ora, se a empresa poupa e os trabalhadores gastam, a isto se chama baixar salários, infelizmente ninguém o vê assim.
Algo semelhante se passa com as empresas que têm estacionamento para os trabalhadores. Seja ele ao ar livre, ou numa garagem, o estacionamento acarreta sempre custos de renda e manutenção, custos que poderiam ser usados para outros fins, como aumentar salários. Como os salários não dependem de como se chega ao emprego, aqui ganham os que vão de carro, perdem os que não vão. A isto se chama um subsídio pago por uns trabalhadores para dar a outros.
O Estado da California reconheceu este absurdo, e criou uma lei chamada Parking Cash-Out Law. Este programa obrigou as empresas que pagavam o estacionamento aos seus funcionários, a oferecem igual compensação aos que não vinham de carro. As consequências foram drásticas: a partilha de carro subiu 62%, o uso de transportes públicos subiu 50%, os modos suaves (bicicleta+peões) subiram 33%. Ou seja, quando se tratou todos os trabalhadores como iguais, é que ficou visível o enorme incentivo e subsídio que existia dantes ao uso do automóvel.
Infelizmente o programa apenas envolveu as empresas sem estacionamento próprio, e que subsidiavam (em dinheiro tangível) o estacionamento a quem quisesse. Contudo, as empresas com estacionamento próprio também oferecem esse subsídio escondido, e deveríam ser obrigadas a não discriminar os trabalhadores. As consequências seria certamente semelhantes.
Onde trabalho, quem estacionar paga 1€ por dia com direito a segurança. O preço é tão ridículo que nem o salário dos seguranças deve pagar. O restos dos custos, são pagos por quem não estaciona como eu.
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A ler: o Reinventing Parking defende que as cidades devem terem a sua própria autoridade para controlarem o estacionamento, como a EMEL. E conta uma solução bem inteligente para o problema da fuga à multa na Malásia: a multa é colocada a cadeado à volta do retrosivor! É necessário ir até à polícia e pagar, para se remover a multa.

Gostei do Post. Reolhei ele a partir dos problemas para minha cidade, Recife-Pernambuco. http://pedalandoeolhando.blogspot.com.br/2012/11/o-espaco-tambem-e-meu.html
De André a 10 de Novembro de 2012 às 13:43
Como aluno do 12.º ano, na escola secundária de Mafra, vou todos os dias a pé para a escola e demoro apenas cinco minutos. No entanto, posso fazê-lo, uma vez que vivo dentro da vila e não nalguma das aldeias do concelho. No entanto, muitos dos meus colegas que moram espalhados pelo concelho, optam por vir de transportes públicos, ou pelo carro dos pais, que os deixa à porta da escola no caminho para Lisboa. Ainda assim, todos os meus colegas que tiram a carta de condução, começam invariavelmente a usar o carro para ir para a escola. Não seria melhor começar a transformar os transportes públicos na periferia, de modo a torná-los viáveis, em vez de se começar a pensar nas empresas de inicio?
Se nós habituarmos as pessoas a meios de transporte que não o carro logo de início, então podemos assistir a uma alteração de paradigma dentro das cidades, daqui a alguns anos. Mais, se conseguirmos alterar a mentalidade dos jovens logo durante o perído escolar, podemos tirar a ideia de status dada pelo automóvel.
Eu, por exemplo, mesmo a morar num concelho onde os passes para Lisboa rondam os 146€, estou a pensar em usar os transportes públicos, mesmo assim, sei que a minha mão já paga todos os meses essa quantia e que eu vou também pagá-la (o que se não me engano, fará algo de 292€ por mês só em passes). Se calhar, em vez de criar leis relativamente complicadas para as empresas, podiamos obrigar as empresas privadas de transportes (como a Barraqueiro, proprietária da Mafrense, a única empresa que liga Mafra a Lisboa) a baixar drasticamente os preços para o consumidor, de modo a que compense às pessoas usar transportes públicos e não o carro pessoal. Tudo isto, sem complicar as coisas às empresas, e ainda consegue controlar os problemas nos salários.
De
MC a 12 de Novembro de 2012 às 11:39
Pois,
a falta de de uma boa política de planeamento de transporte públicos é um grave problema, culpa de todos nós que não o exigimos.
Infelizmente o problema está para lá da falta de transportes. Aqui no blog há várias histórias do tal status que falas. Há histórias de portugueses (ou italiano/grego), que quando postos na mesma situação que um belga/finlandês, optam pelo automóvel/taxi quando os segundos vão pelos transportes/pé. E isto vai demorar anos a mudar..
De Sergio Rocha a 12 de Novembro de 2012 às 12:05
€146 é mais barato do que ir de carro para Lisboa (se o carro não for partilhado). Convém não cair no erro comum de considerar apenas o combustível como custo. Há que ter em conta muitos outro factores, por exemplo: portagens e custos de estacionamento (caso se estacione ilegalmente há o custo acrescido de ser multado/bloqueado ainda que infelizmente em Lisboa ainda seja um risco baixo); desgaste do automóvel (pneus, travões, mudanças de óleo/revisões mais frequentes, desvalorização mais acentuada), risco acrescido de sofrer um acidente/avaria, etc.. Se o motivo da compra do automóvel for apenas a deslocação a Lisboa então ainda haverá que considerar os custos fixos: desvalorização, Imposto Unico Circulação, Seguro, Inspeção, etc. Se fizer bem as contas tendo em conta estes parâmetros duvido que custe menos de €3000/ano ir num pequeno utilitário Diesel para Lx todos os dias.
De
MC a 12 de Novembro de 2012 às 13:00
Em Portugal, convencionou-se que esses custos equivalem a 0,38€ por km (é isso que pagam o Estado e a maioria das empresas como ajuda de custo).
Já foi 0,40€ quando os combustíveis estavam mais caros..
De André a 1 de Dezembro de 2012 às 09:12
Mas eu não acho (nem a minha mãe) que 146€ seja mais caro, infelizmente, quando eu fôr para a faculdade, o valor passará a 292€, algo que é quase incomportável para um orçamento familiar.
Em relação aos custos de estacionamento, é uma questão que nem se coloca. A empresa onde a minha mãe trabalha tem estacionamento gratuito para os quadros (no parque de estacionamento subterrâneo do edifício, em plena Av. da Liberdade). Quanto à manutenção do veículo, ela tem de ser feita, visto que nós usamos muito o carro nas férias e ao fim de semana. É um custo que existe por si mesmo, infelizmente, como vivemos num subúrbio é quase impossível usar transportes públicos. Os supermercados não têm transportes para se usar (que seria consideravelmente mais barato).
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