Caça à multa ou ao disparate? II
Quem já foi de carro a Espanha sabe bem que os carros de matrícula portuguesa têm um comportamento completamente diferente antes e depois da fronteira. Ao contrário do que se gosta de dizer, o comportamento ao volante depende muito da dissuasão, e não tanto da cultura. Temos dificuldade em lidar com multas, e daí convencemo-nos que elas não têm qualquer efeito dissuasor.
Há tempos já mostrei que a ideia que havia uma caça à multa permanente em Portugal, era um total disparate. O número de multas de velocidade passadas por mil condutores na Holanda é 40 vezes maior do que em Portugal. Hoje, a nossa imprensa puxa ao sensacionalismo, chocando-se com o valor das multas cobradas. O valor das multas cobradas em 2011 terá sido 85,3 milhões de euros, quando em 2010 foi de 47,7 milhões. Então e aqui ao lado? Em 2012, a câmara municipal de Madrid - estamos só a falar da câmara municipal de Madrid - espera cobrar 175,9 milhões de euros em multa, mais do dobro que Portugal inteiro!
E por pessoa? 85,3 milhões de euros, dá oito euritos e pouco a cada português. Na Itália, onde são cobrados 2 mil milhões de euros por ano, são 35 euros por cada italiano. E é melhor ficar pela Espanha e pela Itália, porque se formos mais para Norte...
Em Portugal, o carro ainda é um aristocrata intocável que passa ao lado das leis e do civismo.
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Como sugestão de leitura, repesco um post antigo do A Nossa Terrinha, sobre as honras que o Doutor Carro merece em Coimbra.