Espelho
Lisboa não é uma cidade com menos de 500 000 cidadãos e alguns subúrbios-dormitório com quatro vezes mais população.
Lisboa está bastante bem povoada, chega a cerca de milhão e meio de cidadãos durante os dias da semana. Os seus cidadãos têm contudo um horário esquisito. Dormem das 9h às 19h e depois vão trabalhar para os subúrbios e só começam a regressar a casa outra vez pelas 9h. Aos fins-de-semana vão passear para fora.
Para estes cidadãos vale a pena viver em Lisboa. A cidade dá-lhes quase tudo. Os cidadãos de Lisboa não têm problemas de habitação. Ela é extremamente barata, e sempre que não existe um espaço disponível para alugar, podem ocupar um. É permitido aos cidadãos permancerem temporariamente num espaço dos não cidadãos. Isto acontece porque não há fiscalização nenhuma. Melhor ainda é entrar em conflito com um não cidadão se este se atravessar no seu caminho. A frequência desses conflitos é alta porque existem longos e largos passeios para os cidadãos em toda a Lisboa que os não cidadãos, por alguma razão estranha, teimam em passar a correr. Nestes conflitos é raro que um cidadão perca o seu estatuto em definitivo.
Há pouco tempo, alguns cidadãos disseram que iam fazer uma greve de fome até que a sua comida ficasse mais barata. E resultou. Tudo corre bem aos cidadãos. Quem é que quereria ser um não cidadão? É natural que outras cidades adoptem este estatuto de cidadão. Funciona e quem quiser ser um não cidadão é discriminado.