Sedentarismo
Em conversa com um amigo, cheguei à conclusão de que tal como é possível inferir a quantidade excessiva de ingestão de alimentos de alguém a partir da sua obesidade, também deveremos ser capazes de inferir a ineficiência energética de um sistema de transportes de uma sociedade observando o quão depende ela do uso do automóvel particular.
Ambas as patologias baseiam-se numa excessiva ingestão de energia (em calorias ou litros de combustível) para lá dos níveis necessários ao funcionamento saudável do corpo ou do sistema de transportes. Os comilões ou os automobilistas intransigentes podem admitir que têm um problema mas que não há nada que possam fazer para mudá-lo; ou admitir que são como são devido a uma escolha individual que deve ser repeitada e que não prejudicam ninguém com essa escolha. Terão razão?
É paradoxal que o nível de sedentarismo de uma sociedade esteja então relacionada com o grau de mobilidade que ela julga ter através do automóvel. A não ser que queiramos defender a opção individual a ser sedentário como legítima, devemos reconhecer que estamos a ficar cada vez mais...sedentários. Tal como o vejo, tornarmo-nos mais sedentários é uma inevitabilidade do mundo moderno, mas importa traçar limites; seja qual for a tarefa em que uma dada máquina tenha substítuido o que antes poderíamos fazer com o nosso trabalho, ficar sedentário é ficar dependente, perdendo autonomia e poder e entregando-os aos fabricantes dessas máquinas. Podemos escolher ficar dependentes, mas não deveríamos ser obrigados a fazê-lo.
Outra medida correlacionada com os níveis de sedentarismo pode assim ser o número de pessoas que ainda pode andar a pé ou de bicicleta (a bicicleta é a máquina mais "natural" que conheço) para satisfazer as suas necessidades pessoais de trabalho e lazer. Com a quantidade de passeios ocupados e esburacados, estradas inseguras e de tráfego intenso, a presença do automóvel assemelha-se cada vez mais a uma imposição, à escolha de uma minoria poder transformar-se em regra para todos.