Curiosidades
Elaborei os seguintes gráficos com dados disponíveis no sítio do INE, Instituto Nacional de Estatística.
Não existem dados mais recentes, pelo menos do meu conhecimento.
O primeiro mostra a partição dos gastos familiares em 2006. É possível verificar que a partição gasta em habitação e alimentação, bens essenciais, são respectivamente de 14% e 15%, respectivamente. Os gastos em transportes ascendem a 14% e a roxo, com 1%, estão os gastos em ensino.
Gastos familiares médios em 2006
Terá a situação mudado em 15 anos? De todo. Algumas oscilações mas os índices de partilha mantêm-se mais ou menos os mesmos. Não tenho valores para outros países europeus; na ausência de dados são possíveis muitas leituras.
Uma delas: o parque automóvel aumentou imenso nos últimos anos: de 3301000 automóveis ligeiros em 1995 passámos para 5474000 automóveis ligeiros em 2006. Este enorme aumento traduz também o crescimento económico, reflectindo-se nas opções das famílias terem mais do que uma viatura. Se o índice se manteve mais ou menos na ordem dos 14% do orçamento familiar, então só poderemos dizer que também o mercado automóvel, em média, acompanhou essa procura, reflectindo-se no crescente preço final de um automóvel. Esta sedimentação do automóvel como meio de transporte preferencial acompanhou e até influenciou a edificação para lá dos núcleos urbanos e consequente fragmentação habitacional, levando a que, na ausência de transportes públicos - os novos edificados não os tinham sequer em conta - as famílias quase fossem obrigadas a usar o automóvel.
Tendências dos gastos familiares desde 1995
Uma política de planeamento urbano que resumisse a ocupação das cidades ao edificado já existente, não a expandindo, tornaria a opção automóvel secundária face a outras, simplesmente porque a deslocação casa - trabalho - casa seria feita em distâncias mais curtas. Claro que nesta política o preço da compra de uma casa ou da sua renda tem muita influência: é sabido que nos subúrbios as casas e as rendas são muito mais baratas. Se houver então uma auto-estrada que conduza à cidade sem custos adicionais, a opção está praticamente tomada. E os custos gastos em transportes não se reflectem nos custos para a sociedade.
Esta é, como disse, uma leitura possível, uma análise que não pretende ser factual. Por isso proponho o seguinte exercício aos leitores: façam umas contas de algibeira e vejam quanto pagam em transportes, habitação e ensino (se for o caso) de alguém do vosso agregado familiar. Poderão ver se estão abaixo ou acima da média das famílias portuguesas.
O meu caso em 2007:
- Transportes: < 1% (um ano a andar de bicicleta mais transportes casuais, para fora de Lisboa e viagens avulsas;
- Habitação: 24% (casa barata arrendada no centro da cidade de Lisboa)
- Ensino: <1% (proprinas do mestrado e bibliografia)
É verdade que vivia com mais duas pessoas mas penso que o orçamento não sofreria muitas mudanças. Também é verdade que não tínhamos filhos, e assim o ensino e os transportes estão muito abaixo do que poderá ser a maioria dos casos em Portugal.
E o leitor?