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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

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Só um carrodependente é que não quererá perceber que é impossível o Estado não interferir na escolha de mobilidade

MC, 28.07.20
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Quando és carrodependente e o único modelo de cidade que conheces são as portuguesas (o carro é rei, os outros ficam com migalhas), é fácil convenceres-te que qualquer migalha extra para os outros é uma interferência da câmara/Estado na tua liberdade de escolha.
 
Mas a grande "interferência" vem muito atrás; aconteceu quando se escolheu que a cidade era do carro, e os restos eram para os outros. Não há nenhuma razão divina para as cidades serem assim. Aqui ao lado, Barcelona tem cada vez mais ruas residenciais que são predominantemente pedonais.

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No fundo é impossível o Estado não interferir, tal como é impossível que 90% da rua para o carro + 90% para o autocarro + 90% para o peão + 90% para bicicleta dê 100%. Ao não quereres perceber isso, não estás a ser democrata e liberal, mas pura e simplesmente egocêntrico.
 
Tenho a certeza que muitos nobres durante as revoluções liberais, e muitos brancos no fim do apartheid, devem ter pensado exatamente o mesmo: "lá está a malandra da câmara a interferir na minha liberdade e nos meus direitos".
Não está. Está a acabar com privilégios.

Percursos para velocidades de Fórmula Um no meio de Lisboa

MC, 25.07.20

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Ainda sobre o cruzamento de há dias; reparem nos raios de curvatura para o automóvel. Em vez de curvas apertadas - quase de ângulo reto - como mandam os manuais de segurança, o carro descreve curvas super suaves que convidam à velocidade, logo em cruzamento onde a visibilidade é pior.
Os atalhos a vermelho são especialmente absurdos.
1. são desnecessários, o carro poderia virar no cruzamento como é normal.
2. criam mais um semáforo para o peão, mais um local de conflito
Tudo para não empatar o popó

Radares e lombas também, mas há muito a fazer pela acalmia de tráfego

MC, 23.07.20

A propósito do homicídio por negligência de uma rapariga de 16 anos em Lisboa, falou-se muito na necessidade de radares de velocidade e lombas. São muito importantes (as lombas devem ser amigas das duas rodas, não como agora) mas há muito mais que uma cidade pode fazer:

ImageVias ("faixas") mais estreitas! Há mutias avenidas em Lisboa onde cada carro tem quase tanto espaço como numa via-rápida. Isto dá segurança ao condutor, que carrega no acelerador. Na Fontes Pereira de Melo (foto) a largura foi reduzida recentemente, e as velocidades diminuíram.

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Tudo o que é rua secundária deveria acabar com a Rua Abade Faria em Lx: é o passeio que é contínuo (não o asfalto), e é também elevado + a passagem do carro é bem estreita. Mais conforto para o peão, e obriga o carro a travar.

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Em cruzamentos entre duas ruas secundárias, todo o cruzamento deve ser elevado ao nível do passeio, pelas mesmas razões.

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Mesmo em cruzamentos importantes, a esquina do passeio deve ser o mais próximo de um ângulo reto. Quanto mais arredondado for (maior "raio de curvatura" como acontece em Lisboa), menos necessidade tem o carro de abrandar logo na altura mais crucial, quando se vai cruzar com peões.

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O piso das ruas secundárias deve ser em paralelepípedos (regulares para serem amigos das duas rodas, não como os nossos), porque o ruído dentro do carro faz abrandar os condutores: até no Rossio em Lx ou em toda a zona dos Aliados no Porto, isto acontece automaticamente ;)
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Começar os troços das vias de maior tráfego com separadores centrais; a sensação de aperto, reduz as velocidades dos carros.
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Apertos propositados ao longo das ruas. Apesar desta rua ser de dois sentidos, aquelas barreiras estão postas propositadamente para só deixar passar um carro de cada vez. Reparem que nem linha divisória há: causar confusão também abranda os carros.
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Estacionamento em lados alternados da rua, para obrigar os carros a ziguezaguearem, logo a andar mais devagar. Um exemplo de cá, na Costa da Caparica, com árvores deliberadamente na estrada, e deliberadamente em lados alternados.

 

Peão, cidadão de terceira

MC, 23.07.20

https://pbs.twimg.com/media/EdisETbXsAEX3OM?format=jpg&name=small

Cruzamento da Av Eua com a Av Roma, dizem que é uma zona nobre e central de Lisboa. Um carro aqui *nunca* tem de esperar por mais que um semáforo para atravessar. Uma pessoa pode chegar a esperar por seis; por quatro passa sempre. Quem desenhou assim a cidade, está a dizer ao peão "o teu tempo é me indiferente comparado com o do carro", "és um cidadão de terceira", "se não quisesses esperar, que andasses de carro".

E as pessoas obedecem, fugindo dali!

Com as passadeiras são 8 travessias que um peão faz num único cruzamento. Isto funciona como uma barreira invisível, mas bem real, para as pessoas. Apesar do muito comércio e habitação da zona, vê-se um décimo do que haveria se a cidade fosse desenhada para as pessoas.

Isto é tão comum nas nossas cidades, e feito de tantas formas, que duvido que alguém que passe ali, repare nesta injustiça E se o houver, deve encolher os ombros e pensar que o carro como máxima prioridade é a ordem natural das coisas