O Menos Um Carro acabou de receber uma nova cara, bem mais bonita do que a anterior, graças ao Pedro da equipa dos Blogs da Sapo.
Gostaria de agradecer à equipa todo o apoio que dão aos blogs que estão na Sapo. No caso do visual, não fomos nós que pedimos ajuda, foram eles que nos propuseram um novo template, que depois ajustaram de acordo com as nossas preferências. Obrigado por estarem sempre disponíveis para dúvidas, por estarem abertos a propostas dos usuários, por manterem o vosso blog com tantas informações, por darem destaque aos blogs que por aqui vão andando. E tendo eu experiência no Blogger e no Wordpress, devo fazer alguma publicidade e dizer que para o utilizador médio o Sapo é bem melhor. Mais claro, mais controlo sobre o blog, mais ferramentas.
Quem já foi de carro a Espanha sabe bem que os carros de matrícula portuguesa têm um comportamento completamente diferente antes e depois da fronteira. Ao contrário do que se gosta de dizer, o comportamento ao volante depende muito da dissuasão, e não tanto da cultura. Temos dificuldade em lidar com multas, e daí convencemo-nos que elas não têm qualquer efeito dissuasor.
Há tempos já mostrei que a ideia que havia uma caça à multa permanente em Portugal, era um total disparate. O número de multas de velocidade passadas por mil condutores na Holanda é 40 vezes maior do que em Portugal. Hoje, a nossa imprensa puxa ao sensacionalismo, chocando-se com o valor das multas cobradas. O valor das multas cobradas em 2011 terá sido 85,3 milhões de euros, quando em 2010 foi de 47,7 milhões. Então e aqui ao lado? Em 2012, a câmara municipal de Madrid - estamos só a falar da câmara municipal de Madrid - espera cobrar 175,9 milhões de euros em multa, mais do dobro que Portugal inteiro!
E por pessoa? 85,3 milhões de euros, dá oito euritos e pouco a cada português. Na Itália, onde são cobrados 2 mil milhões de euros por ano, são 35 euros por cada italiano. E é melhor ficar pela Espanha e pela Itália, porque se formos mais para Norte...
Em Portugal, o carro ainda é um aristocrata intocável que passa ao lado das leis e do civismo.
Milão é a única cidade do Sul da Europa com um sistema de portagens urbanas, isto é, obriga o carro a pagar a entrada na cidade, de modo a reduzir o seu número. Quando a medida foi lançada em 2008, eu teci algumas críticas porque distinguia os carros "verdes" (na realidade 60% do total), dos poluentes. Só os segundos pagavam portagem. Focar-se exclusivamente no aspecto ambiental, era esquecer todos os outros problemas que o automóvel cria na cidade.
Mas tal como fez Estocolmo, Milão quis ter um período experimental e depois perguntar à população o que achava. E tal como acontece em tantos casos de restrição ao automóvel, há uma enorme oposição antes, mas um enorme apoio depois da implementação. No Verão passado foi feito um referendo que perguntava a opinião sobre o alargamento a todos os automóveis das portagens, o incentivo ao meio de transporte público e a pedonalização do centro. Mais concretamente, propunha-se
a) duplicar a área pedonal
b) duplicar as zonas 30, e acalmia de tráfego
c) 300km de ciclovia
d) favorecimento ao transporte público, para aumentar a sua velocidade
e) serviço de autocarros de bairro
f) aumentar o bike sharing para 10000 bicicletas, e car sharing para 1000
g) alargar o horário do metro
...
k) alargamento da portagem a todos os carros (excepto residentes)
Os milaneses foram bem claros na resposta: 79%, ou seja 4 em cada 5, apoiaram as medidas de combate ao automóvel.
A portagem de 5€ para todos, durante o dia, arrancou há um mês, e o Treehugger tem um artigo sobre isso. A entrada de automóveis reduziu-se em 37%, os poluentes entre 14% e 37%. Mas o resultado mais impressionante, e que o Treehugger não refere, vem de um relatório camarário: entre as 8h e as 9h da manhã, a velocidade média dos autocarros aumentou 7%, e na hora seguinte 17%, de uma semana para a outra! Como sublinho sempre, não podemos exigir bons transportes públicos, enquanto não lhes tirarmos os carros da frente.
Milão não é Roma ou Nápoles, mas não deixa de ser Itália, não é na Noruega ou na Holanda. Não deixa de ser uma cidade onde o automóvel tem status, e onde o automobilista é rei. Os nossos autarcas deveriam aprender com este exemplo, em vez de assumirem sempre que a população não apoia este tipo de medidas e que só querem mais e mais estacionamento.
Desengane-se quem achar que um Estádio Universitário é um espaço dedicado ao lazer e ao desporto, pelo menos no que toca a Lisboa. Já poucos se devem lembrar, mas há uma década o parque de estacionamento em frente à Cantina Velha - mesmo à frente da saída do metro Cidade Universitária - era um bosque denso, onde havia gente a fazer jogging. Agora é isto:
E será que serve muita gente? Haverá ali umas poucas centenas de lugares - tanto como um metropolitano cheio.
Mas o automóvel é um monstro devorador de espaço urbano insaciável, que quer sempre mais. O terreno, da parte esquerda desta foto,
é a nova vítima. Foi convertido há semanas em estacionamento. Em vez de espaço para desporto, temos espaço para meia-dúzia de carros. O mesmo aconteceu há poucos anos, nas traseiras do Hospital Santa Maria (mesmo em frente). Um bosque foi arrancado para ser estacionamento.
O automóvel precisa sempre de mais e mais espaço. Um imenso espaço para circular, um imenso espaço para estacionar. Para levar uma ou duas pessoas apenas. Um dia destes, quando menos notarmos, a nossa cidade será mais uma Houston.
O que acontecerá na Inglaterra? A descrição de um edifício novo no principal campus do Imperial College de Londres, elucida-nos com a seguinte frase: The two basement levels provide parking spaces for 30 cars and secure storage for 600 bicycles, satisfying the requirement for the entire campus.
A imprensa ao noticiar o preço do petróleo em dólares em vez de euros, continua a dar-nos uma ideia errada do que está a acontecer. Ainda esta semana numa conferência onde estive, um especialista na matéria se referia a 2008 como aquele ano em que o preço do petróleo teve um preço estranhamente alto.
Sejamos claros, houve um pico estranho em 2008, mas em 2011 o preço esteve bem constante... e quase ao valor desse pico. O passado mês de Janeiro viu o preço mais alto de sempre do Brent. E estamos a falar de um período em que o mundo ocidental está de rastos, logo com uma procura mais baixa. Se este ano fosse um ano normal, o gráfico teria subido bem mais.
O preço do petróleo empurra também o custo das outras fontes de energia. A era da energia barata acabou. O desafio não é tentar descobrir outros modos de continuarmos a andar de automóvel. É sim saber como vamos andar sem automóvel.