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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

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Cicloficina agora semanalmente em Lisboa

MC, 21.03.11

Passa a haver Cicloficina semanalmente em Lisboa, a partir já desta quarta-feira dia 23. Será todas as quartas na Rua Regueirão dos Anjos 69, nas traseiras do Banco de Portugal (Metro Anjos), das 19h às 23h.

A Cicloficina é uma oficina gratuita de bicicletas, organizada por voluntários, onde todos são bem-vindos para tirar dúvidas sobre mecânica, sobre bicicletas em geral, e mais importante de tudo para reparações de bicicletas gratuitas! Quem organiza as cicloficinas está equipado com todo o material necessário para reparar bicicletas, e até peças básicas (cabos, remendos, travões, etc.) para serem substituidos - se forem necessárias peças maiores terão de ser os ciclistas a trazê-las.

Contacto do grupo cicloficina.anjos@gmail.com

 

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E para quem ainda está de pé atrás no que toca à bicicleta como transporte urbano, recomendo a leitura de um relato de quem decidiu experimentar em Braga, e agora não quer outra coisa: um excelente texto do Sempre de Bicicleta.

Apelo!

TMC, 15.03.11

Não quero saber se vai verdadeiramente "funcionar". Em democracia, para participarmos, temos à partida de crer nas instituições. O IMTT convida todos os interessados  à participação e ao contributo no preenchimento de um inquérito com vista à elaboração de um Plano Nacional de Promoção da Bicicleta e de Outros Modos de Transporte Suaves. Provavelmente o uso do carro irá diminuir substancialmente devido à conjuntura; mas este tipo de planos é importante porque poderá sedimentar e promover através do desenho e de recomendações o hábito de usar a bicicleta; caso contrário, e se por milagre o preço do petróleo tornar a diminuir bastante, voltaremos ao uso do carro sem termos aprendido nenhuma lição. Tal como depois daqueles episódios ao estilo Mad Max em 2008.

 

O inquérito está aqui. Preencham-no com a paciência e a perseverança de quem anda todos os dias de bicicleta ou de quem gostaria de o fazer. Divulguem-no se possível. Algumas perguntas tipo:

 

Porque é que acha que em Portugal ou na sua cidade, a bicicleta não é um modo de transporte mais utilizado?

 

No seu entendimento, porque é que  o peso das deslocações a pé é cada vez menor?

 

Que constrangimentos seria necessário ultrapassar para que o uso da bicicleta na vida quotidiana das crianças que vão para a escola comece a ser uma realidade?

 

Que constrangimentos seria necessário ultrapassar para que o uso da bicicleta nas deslocações pendulares dos cidadãos que vão para os seus emprego, comece a ser uma realidade?  

 

O que acha que é preciso fazer para resolver os obstáculos existentes nestes vários domínios e promover a adesão à utilização da bicicleta?

 

 

À rasca?

TMC, 15.03.11

 

 

Fica o facto: os jovens portugueses são os que compram mais carros novos entre os congéneres europeus. De acordo com as palavras da comentadora, há contudo duas questões que me parecem equivocadas:

 

1- os jovens portugueses não aderem mais ao carro apenas porque não existe uma rede mais densa e eficiente de transportes. Faltam mais restrições à procura, como maiores taxas de fiscalização do estacionamento. Que nenhum condutor se queixe disto: se meteram voluntariamente o pescoço na corda sujeitaram-se aos apetites do verdugo. Comprar um carro é ficar com menos liberdade.

 

2- associar carros híbridos e eléctricos à ecologia e à protecção da natureza é uma frase várias vezes repetida mas sem fundamento. Funciona para quaisquer duas fontes de poluição distintas: uma será sempre preferível à outra porque polui menos, mas não se torna verde apenas porque não polui tanto como a outra. A discussão mais relevante é acerca da necessidade de se continuar a manter na sociedade qualquer uma das fontes de poluição, não deve ser acerca da obrigatoriedade de escolher entre ambas.

 


O nosso texto "O comércio e a rua" foi nomeada para os "Green Blogger Awards". É ir votar :) Se ganharmos prometemos investir na biblioteca de  mobilidade sustentável para continuarmos a tentar apresentar textos de qualidade. Como o blogue A Nossa Terrinha.

O preço justo para o estacionamento

MC, 11.03.11

Por que é que não existem garagens privadas para estacionamento?

 

A comida do meu jantar, a minha roupa, o café que me foi servido, a electricidade para o meu computador e o meu computador, tudo isto são serviços e bens que são fornecidos por empresas privadas. Há poucos serviços (e bens duvido) que são fornecidos, e ainda bem,pelo Estado, como saúde, educação, segurança e pouco mais, e mesmo para estes o Estado está longe de ter um exclusivo. Há hospitais, escolas e seguranças privados que fazem os mesmo que todas as empresas fazem: cobram um preço um pouco acima do custo do serviço/bem.

Há contudo um serviço que desafia totalmente esta lógica, o estacionamento. Para poder ter um espaço para viver tenho que pagar, mas para ter um espaço para o automóvel ficar espera-se que seja gratuito. No caso do estacionamento à superfície, não colhe o argumento de ser espaço público, porque ele deixa der ser público a partir do momento que é ocupado com um automóvel. Esta ocupação deve ser paga, para desincentivar o seu abuso tal como acontece a todas as outras ocupações do espaço público, como andaimes, esplanadas, etc que pagam e bem.

Mas eu pensava mais no estacionamento em garagem. Apesar de muitos automobilistas e autarcas portugueses nos tentarem convencer que há espaço suficiente nas nossas cidades para estacionar à superfície, destruindo o nosso espaço urbano e matando as nossas cidades, é óbvio que não há. Muitos automobilistas esperam então que sejam as câmaras a pagar o estacionamento subterrâneo... elas de facto fazem-nos quase de borla em vários locais. Agora chego à pergunta do início? Descontando estacionamentos concessionados pelas câmaras, praticamente não existem empresas privadas a prestar este serviço nos nossos bairros. E porquê? Porque por alguma razão estranha aceitamos que o carro deve seguir uma lógica diferente de toda a sociedade, mesmo que isso implique ter cidades destruídas e transformadas em parques de estacionamento. Ao contrário da comida, da roupa, da habitação, etc. nós não estamos disponíveis para pagar o custo que acarreta estacionar um automóvel. Logo não há empresas a prestarem este serviço.

Nos Estados Unidos, há mais serviços prestados pelos privados do que por cá, o estacionamento é um deles. Numa das poucas cidades densas que existem, Nova Iorque, tirei esta foto à porta de uma garagem:

38 dólares para duas horas. Isto é o preço justo em Nova Iorque. Por cá seria menos (as rendas são mais baixas), mas não as ninharias que meia-dúzia paga.

 

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O Reinventing Parking tem um post interessante sobre as tendências da gestão do estacionamento na Europa.

Os submarinos e os transportes

MC, 04.03.11

Foi preciso a Wikileaks divulgar um telegrama do embaixador americano em Lisboa para ficar claro o que todos já sabiamos: os submarinos foram um brinquedo tecnológico caríssimo que o "Ministro de Estado, da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar" da altura quis comprar. O telegrama diz ainda, que dado o tamanho da costa portuguesa, seria muito mais proveitoso ter mais fragatas para controlar atentados ambientais, tráfico de droga, etc.

Esta atitude de querer brinquedos tecnológicos em vez de meios que sejam realmente úteis e eficientes é um mal que se repete noutras áreas, especialmente nos transportes públicos.

Lisboa e Porto têm sistemas bilhéticos de tecnologia de ponta (embora incompatíveis entre si, e até dentro de Lisboa há incompatibilidade), que na realidade prestam um serviço pior aos clientes do que o sistema baseado em papel que a Holanda tem (tinha) desde há 30 anos.

A beleza das estações de metro de Lisboa fazem corar os outros metropolitanos europeus, com a exceção de Moscovo (outros que gostam de brinquedos, aliás). Contudo não se pode dizer o mesmo da extensão da rede, que seria mais importante.

Os autocarros da Carris são do mais moderno e confortável que eu tenho visto em toda a Europa. Lisboa é até das poucas cidades com autocarros com wi-fi disponível. Os autocarros são seguidos por GPS, e a informação está disponível ao segundo para os clientes por SMS e por e-mail. A Carris tem ainda entretido-se a criar serviços paralelos, como uma cópia barata deste blogue, um serviço de carsharing, etc. Tudo  de algum modo útil, mas o principal problema serviço da Carris que é apontado há décadas, a baixa frequência dos autocarros, sé tem piorado (ainda esta semana outra vez).

Portugal tem das melhores redes de auto-estradas do mundo, mas falta-lhe o básico. Não há comboio em muitas cidades e o planeamento territorial é tão mau que mesmo o automóvel sai prejudicado.

Gastamos dinheiros em iPads que dão nas vistas, mas contamos os tostões no supermercado.

 

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O Passeio Livre conta uma história parecida, uma escola com parque de estacionamento mas sem campo de jogos.

Mais pessoas nos transportes públicos?

MC, 04.03.11

A imprensa, que adora sangue, tem trazido várias notícias sobre o aumento do uso dos transportes públicos devido ao aumento dos combustíveis e à redução dos rendimentos. Se bem que seja de esperar que isso realmente aconteça, há que ter cuidado com a análise porque há ainda muitos poucos dados sobre esta melhoria.

Comparem uma semana com chuva com uma sem chuva. Quando chove há muita gente que prefere levar o automóvel - diria que só por causa da chuva poderíamos esperar um aumento de 10% ou 20% no uso do automóvel em detrimento do transporte público, ou seja transferência entre modos. Também quando chove, há viagens que deixam de ser feitas - quem não vá às aulas, não vá sair à noite, trabalhe de casa, etc ou seja redução do número de viagens.  E isto é apenas a chuva, há 1001 factores que influenciam o rácio entres os modos e os números de viagens.

Assim é preciso ter cuidado quando estão em causa variações pequenísimas de 2% como neste artigo - cheguei a ler um artigo em que a conclusão se baseava num aumento de 0,8% - porque mostram muito pouco. Outro erro é concluir que menos viagens de carros, ou separadamente mais viagens de transportes, represente uma mudança do transporte privado para o público. O artigo acima é uma boa excepção porque junta os dois valores, mostrando menos carro e mais transportes.

São aparentemente boas notícias... mas cuidado.

 

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Um artigo a ler no A Nossa Terrinha, relacionado com a nossa última posta sobre as esplanadas: Coimbra vs Salamanca

As maravilhosas Esplanadas de Lisboa!

António C., 03.03.11

É comum em Portugal termos esplanadas como a que se vê na primeira foto.

 

Esplanadas encafuadas num passeio com vista "em cima" das latas. Esta podia ser uma Rua qualquer, mas é uma das avenidas mais nobres do País e que deverá receber mais turistas todos os anos, a famosa Avenida da Liberdade.

  

No entanto, o valor que se sobrepõe ao valor económico do turismo é o direito a estacionar à superfície dos poucos que ali trabalham. Uma zona muito bem servida de transportes públicos de qualidade.

 

 

 

 

 

Em comparação deixo também uma foto, que não deve ser dos sítios mais emblemáticos, mas é em Paris. No entanto, e apesar de estar longe da perfeição, vê-se que o espaço é melhor aproveitado. Existem passeios largos para os peões passarem, o toldo é algo mais bonito e confortável que os chapéus de sol publicitários e as próprias mesas e cadeiras têm um sentido estético mais apurado que aquele que a sagres (neste caso) e outras marcas de bebidas dão às nossas esplanadas.

 

 

 

 

Num país como Portugal, com um clima propício a estar sentado na rua numa boa esplanada contam-se pelos dedos as esplanadas com elevada qualidade nas ruas centrais da cidade. É algo que me custa a perceber.

 

A culpa disto é sem dúvida do excesso de importância que se dá aos automóveis. É raro haver decisões sobre o espaço publico que não garantam mais lugares. Por vezes o argumento de que "em espinha" cabem mais carros, torna as ruas ainda mais feias. E depois, vimos sempre maravilhados da viagem low cost que fizemos a outras capitais europeias...

 

A culpa também é nossa. Temos de exigir melhores ruas, temos de viver mais a nossa cidade.

Soltas

MC, 02.03.11

1. O Treehuger conta-nos que na Suécia os incentivos aos ditos "carros verdes", que por serem mais eficientes em termos de consumo, levaram a um aumento da utilização do automóvel. Conclusão, as emissões de CO2 dos transportes terão aumentado.

 

2. A propósito do automobilista brasileiro que atropelou propositadamente vários ciclistas (e que está preso preventivamente), o Outras Vias tem um excelente cartoon sobre algo que o TMC refere várias vezes aqui no blogue: a carta de condução é na realidade uma licença de porte de arma.

 

3. A Câmara de Lisboa vai lançar um passe conjunto para os parques de estacionamento na periferia do centro, mais autocarro e metro por 49€.

 

4. A Quercus denuncia mais uma grande estrada na Grande Lisboa, uma que nem estava previsto no mirabolante Plano Rodoviário Nacional. O projecto prevề a destruição de parte da mata de Sesimbra.

 

5. A Câmara de Aveiro vai lançar a sua própria versão oficial dos autocolantes do Passeio Livre, autocolantes para os peões "penalizarem" os carros mal estacionados. Fico contente de ver as câmaras a reconhecerem o trabalho do Passeio Livre, mas as Câmaras têm uma vantagem legal comparativamente ao movimento, que elas deveriam aproveitar. As câmaras podem multar e rebocar os carros de quem privatiza o espaço público desrespeitando os peões. Se calhar seria dinheiro mais bem gasto.

 

6. O blogue Futuro Comprometido apanhou uma frasezinha muito interessante World Energy Outlook de 2010 publicado pela Agência Internacional de Energia: "crude oil output reaches an undulating plateau of around 68-69 mb/d by 2020 but never regains its all-time peak of 70 mb/d reached in 2006", isto é o pico do petróleo já aconteceu. Daqui para frente haverá menos e menos petróleo disponível. Já não são os profetas da desgraça que o dizem, é a principal entidade mundial do setor.

 

7. A Câmara de Leiria quer pedonalizar grande parte do centro da cidade.

 

8. O Link2Greenway tem um excelente exemplo de acalmia de tráfego feito no Porto, muito simples e muito eficaz.

 

9. O Ma Fyn Bach recomenda a leitura de um editorial hilariante da revista Sábado (aquela que sai às quintas-feiras, o que talvez explique alguma coisa) sobre a suposta guerra da Câmara de Lisboa contra os carros.

 

10. A aldeia de Coja, bem no meio das Beiras, mostra que a acalmia de tráfego também chega ao interior do país. Numa reconstrução recente da rua principal houve (1) redução do espaço de estacionamento para atribuir a peões, (2) o piso para peões atravessa a rua para assinalar uma zona mista, (3) lomba no início e no fim da praça para forçar a redução de velocidade, (4) piso diferente ao longo da praça para lembrar os condutores que não se trata de uma rua banal.

O carro é anti-social II

MC, 01.03.11

A agressividade que as pessoas ganham quando se sentam ao volante é um fenómeno que eu não consigo explicar. Há alguma coisa no automóvel que dá a ideia a quem o guia, que se é o senhor do mundo. A pessoa mais calma fora do volante, é capaz de coisas inimagináveis quando está atrás dele. Todos conhecemos histórias de condutores que se convertem em hooligans mesmo à frente dos filhos.

Isto é algo que as empresas de publicidade sabem bem, e o que não falta são anúncios onde há sempre algum espírito agressivo e competitivo implícito, algo que nunca se viria em publicidade a detergentes, bicicletas ou seguradoras. O próprio design de muitos automóveis é agressivo, há cada vez mais SUVs com aspeto de tanque de guerra.

Em Porto Alegre no Brasil, na Bicicletada/Massa Crítica de sexta-feira passada, houve um condutor (acompanhado do filho de 15 anos) que investiu contra os ciclistas, provocando vários feridos. A minha solidariedade para eles, e todos os ativistas de Porto Alegre. Na de Lisboa, vi carros a forçarem fisicamente a passagem quando a lei diz que não tẽm prioridade, um louco que acelerou aos zigue-zagues entre vários blocos de ciclistas dispersos, etc.

Há frequentemente cenas de pugilato entre condutores por pequenas e ridículas zangas no trânsito, há uns anos em Lisboa chegou a haver quem carregasse no gatilho e tenha assassinado o outro condutor.

Como escreveu um leitor num comentário antigo: alguém imagina dois peões ou dois ciclistas ao insulto ou à pancada, porque um passou à frente do outro?

 

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E algo completamente diferente para dar uma olhada, um relatório do Eurostat sobre as emissões de gases com efeito de estufa na Europa. Qual foi o sector que mais aumentou as emissões nos últimos 10 anos, contrariando a tendência de descida? Claro os transportes, dominados (83%) pelo automóvel.