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Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Menos Um Carro

Blog da Mobilidade Sustentável. Pelo ambiente, pelas cidades, pelas pessoas

Movimento Cívico Sta. Apolónia

António C., 24.02.11

Já referimos neste blogue a existência de um movimento cívico que pretende desbloquear uma situação muito desfavorável aos peões que se deslocam à zona envolvente à estação de Sta.Apolónia.

 

São milhares as pessoas que percorrem uma rua que tem passeios de cerca de 50cms e muitos autocarros a fazerem razias aos peões. É uma situação grave de segurança do espaço público e que urge ser resolvida.

 

 

 

Nos últimos dias tem havido alguma cobertura dos media para este movimento e vale a pena ouvir a reportagem da antena 1 em que é entrevistado um dos promotores deste movimento, mas também responsáveis da Refer, que alegam dificuldades financeiras... (parece que a segurança não é algo prioritário).

 

Já esta semana, foi um dos destaques do programa sociedade civil da RTP2

 

 

 

 

 

Parabéns a todo o esforço desenvolvido para resolver um problema de um bairro, mas também de uma cidade. Que dê resultados e que sirva de exemplo para que mais peões se unam e reclamem os seus direitos.

 

Adiram à página do movimento do facebook e acompanhem os desenvolvimentos. Aqui: 

http://www.facebook.com/entradanorte

 

 

Bicicletas em Moçambique

TMC, 22.02.11

O Hugo Mora Jorge, participante na Massa Crítica de Lisboa e radicado em Moçambique há vários anos, enviou-me um pedido de divulgação, ao qual espero poder dar seguimento.

 

 

Trata-se de ajudar ao desenvolvimento dos moçambicanos através do nosso meio de transporte favorito. Saibam mais aqui. O blogue está extremamente bem organizado e é claro. O cartaz seguinte também resume bastante bem como podemos contribuir para este projecto. Doem as bicicletas que puderem, mas que não fiquem sem nenhuma!

 

 

                  (carregar na imagem para a ver maior)


Estrasburgo planeia tornar-se na primeira cidade mundial onde a velocidade máxima é de 30km/h. Ver mais aqui.

O comércio e a rua

TMC, 20.02.11

A crença na necessidade do automóvel para as deslocações em meio urbano não é uma escolha sem consequências para os outros modos de deslocação. Ela é tão preponderante e tão disseminada que se tornou num facto cultural. E por isso afecta outros escolhas de locomoção.

 

Os centros comerciais dos subúrbios são um exemplo desse domínio do automóvel. O parque de estacionamento é enorme e gratuito, ou incomparavelmente barato. O acesso é preferencialmente feito de carro. Como a bagagem do carro dispõe de grande capacidade, é natural que uma ida a um centro comercial se torne numa oportunidade única para reunir várias compras numa só visita, para um período de um mês, por exemplo. Como atrai maioritariamente pessoas que se deslocam de carro, a sua escala de influência é elevada. É pouco provável que encontremos alguém que conheçamos num centro comercial.Tal como é improvável que algum empregado nos reconheça quando lá vamos. Podemos facilmente passar incógnitos enquanto passeamos pela multidão.

 

Por outro lado, alguém que faça as compras a pé ou de bicicleta está limitado pelo peso que os seus braços conseguem carregar e pela limitada distância que consegue percorrer. Como a capacidade de transportar produtos em cada visita ao supermercado é limitada, a frequência das saídas à rua aumenta, para que o abastecimento do lar possa ser mantido. Acresce a isto que, sendo a escala mais pequena, a probabilidade de reconhecer pessoas e vizinhos é bastante maior. A formação de comunidade, a consciência de uma vida para lá do lar ou do trabalho, é facilitada.

 

A crítica comum de que os estabelecimentos de comércio tradicional devem "adaptar-se aos tempos modernos", ou seja, adoptar parques de estacionamento a preços razoáveis, é um ponto de vista daqueles que acham que a deslocação num automóvel é uma solução universal, e por isso extensível a todas as localizações. Para os seus defensores, é aberrante que tenham de caminhar da sua casa ao supermercado, até a uma loja próxima, ou até ao cinema. O centro  comercial passa a ser o padrão de compras e de encontro social, não a excepção. As ruas vão assim cedendo o seu lugar a ambientes artificais.

 

Como catalisadores de tráfego automóvel, uma medida justa a impor aos centros comerciais seria a elevação dos preços dos seus parques de estacionamento. Doutro modo, é natural que muita da especulação imobiliária olhe para prédios devolutos como futuros parques de estacionamento: seguindo o paradigma da deslocação automóvel, a rua deverá tornar-se cada vez mais como um centro comercial.


O simpósio "A rua é de TODOS", da exposição "A rua é nossa" abordou de várias perspectivas o tema da rua. Para os leitores do blogue Menos1carro, fica aqui disponível o registo áudio da intervenção de três dos "key note speakers".

 

Dia 16 - Proximidade e acessibilidade | A vida de bairro e modos suaves - Mário Alves

Dia 17 - O carácter simbólico da rua | Identidade e apropriação - Antoni Remesar

Dia 18 - A rua metropolitana - Álvaro Domingues

  


E para finalizar, algumas fotos da ciclo-oficina de Fevereiro, que teve lugar no Regueirão dos Anjos deste Domingo!

 

  

 

 

 

 

 

 

Requiem por uma pistola

TMC, 16.02.11

Quando estava a tirar a carta de condução, um dos meus professores disse o seguinte durante uma aula de código:

 

Vocês não estão a tirar uma licença de condução. Estão a tirar uma licença de porte de arma.

  

A brutalidade de um acidente de viação, visto ou vivido, lembra-nos o que o conforto da cabine do carro vai paulatinamente apagando: uma tonelada e meia a 50km/h ou mais tem efeitos mortíferos. A responsabilidade de um condutor perante a própria vida e a vida dos outros é enorme. Perante tanta publicidade automóvel na imprensa, nas rádios e nas televisões, deveria haver uma quota parte de prevenção rodoviária: metade a cada campo (ou, como já defendi, que se banisse a publicidade automóvel, como a do tabaco); os vendedores seduzem-nos para as curvas e velocidades; o estado alertar-nos-ia para o efeito da sinistralidade, e de forma violenta e chocante. Porque é essa a realidade: vidas acabadas subitamente e de forma absurda, cadeiras de rodas e mazelas emocionais que já não deixarão as vítimas e uma justiça complacente.

 

Não sei se é a própria língua portuguesa que contribui para o alheamento da responsabilidade dos condutores. Parece que por chamarmos acidente ao facto de um autómovel embater com outro ou com um peão tornamos a situação acidental. Se eu guiar um carro, posso controlar a probabilidade da ocorrência de acidentes através de uma condução defensiva. Devo ser incitado a fazê-lo e penalizado se não o fizer. Não há nada de acidental na ocorrência de um acidente se eu conduzir de maneira desleixada. Não há como desculpar o condutor porque ele controla, como ser humano com livre arbítrio, as probabilidades de ocorrência de acidentes violentos.

 

No actual estado de coisas, não é assim que acontece. Se quiserem matar alguém, usem um carro. Sairão ilesos. Mesmo que tenham guiado a 100km/h dentro de uma cidade. Mesmo que tenham vindo de uma festa. Mesmo que tenham morto duas pessoas inocentes.


Na quinta-feira, no centro social do Regueirão dos Anjos em Lisboa pelas 20h, haverá um jantar vegetariano com o apoio do GAIA, seguido de uma mostra de filmes sobre bicicletas e intervenções no espaço público.

 

 

E no Domingo pelas 15h (o cartaz diz 17h mas podem e devem aparecer antes) a ciclo-oficina de Lisboa muda-se para o mesmo espaço, onde estará abrigada do previsível mau tempo. É divulgar e aparecer para um serão ou uma tarde bem passadas!

 

 

Acerca das revistas portuguesas

TMC, 09.02.11

Todas as revistas portuguesas são revistas pornográficas. São pornográficas porque instigam no leitor o desejo por objectos que ele realmente não necessita, enquanto adornando (e por isso iludindo) esses objectos como desejáveis: as suas imagens são promessas de prazer, sucesso e estatuto imediatos à distância de um pedido de crédito. Muitos destas vítimas julgam-se modernos mas incorrem no mesmo gesto dos povos primitivos: ter um símbolo da coisa é ter a própria coisa.

 

O que as revistas realmente vendem são imagens, mascaradas por palavras. Por outro lado, quando o leitor compra publicidade automóvel, tem também tem a sorte de ler notícias e artigos sobre a actualidade política, artística e científica.

 

Como os portugueses já provaram serem incapazes de se protegerem voluntariamente contra esta infecção, a publicidade automóvel, tal como a do tabaco, deve ser banida. Se isso implicar o fim do finaciamento de revistas sobre política, arte e ciência, paciência. Há bibliotecas cheias de livros que nunca ninguém leu.

Uma foto, duas notícias e uma situação indescritível

MC, 08.02.11

1. Não é só na Murtosa (e na zona de Aveiro em geral) que se vêem bicicletas nas escolas. A fotografia abaixo foi tirada há poucos dias (ou seja numa dia de inverno) à porta de uma escola preparatória em Lisboa, junto da ciclovia do Campo Pequeno.

Uma foto assim era inimaginável em Lisboa ainda há poucos anos! Talvez um dia cheguemos ao nível holandês. (Obrigado Tomás)

 

2. O Público Ecosfera conta-nos que os níveis de poluição em Madrid têm ultrapassado perigosamente os limites máximos. As autoridades pediram aos automobilistas para deixar os carros em casa... e a queda de tráfego foi de 0,23%.

Ao menos ficamos a saber que não é só a Câmara de Faro que é ingénua no que toca ao altruísmo dos automobilistas.

 

3. O Público também nos conta como o car-sharing (rede de partilha de carros, não confundir com car-pooling,  várias pessoas no mesmo carro) não tem tido adeptos no Porto. Como diz o entrevistado "em Portugal, o veículo é a projecção de uma posição social, é uma questão de estatuto, e isso é uma barreira muito difícil de ultrapassar".

A vantagem do car-sharing, que é dirigido a quem quer carro para movimentações esporádicas, é reduzir-se o espaço necessário para estacionar tanto popó nas cidades, e mais importante ainda o desincentivo à compra de carro próprio (que levaria a maior utilização, mesmo que esporádica).

 

4. Em Braga, e descontando o magnífico centro histórico, o conceito de rua e avenida há muito deixou de fazer sentido. O Filipe d'o avesso do avesso fez-me chegar este caso. Na "Rua" do Caires, têm acontecido inúmeros atropelamentos graças ao perfil de auto-estrada que convida os automobilistas a excesso de velocidade.

O Bloco de Esquerda local felizmente propôs uma medida, que eu classificaria de muito tímida até, colocar lombas para reduzir a velocidade (petição aqui). O presidente da Junta local respondeu "não concordo de maneira alguma com as lombas de borracha. Se me pusessem lombas de borracha na minha rua arrancava-as. Porque fazem um barulho tremendo à noite e não deixam ninguém dormir". O presidente queixa-se ainda que os peões não respeitam os locais apropriados para atravessar...

E agora sentem-se antes de ver a próxima foto. Um dos tais locais apropriados para atravessar, numa rua normal e numa zona densamente povoada é o seguinte:


Será que esta coisa pode ser definida como uma cidade de pessoas?

A decorrer: semana demonstrativa do futuro automobilizado

MC, 07.02.11

Adoro greves dos transportes públicos.

E esta semana temos várias em Lisboa e Porto.

Sempre que alguém defender combustíveis mais baratos, mais lugares de estacionamento seja em parques ou em cima do passeio, mais auto-estradas e pontes dentro das cidades, imposto automóvel mais barato, apoios a carros elétricos, empresas de transportes numa lógica de lucro, que as bicicletas não atrapalhem os carros, etc. está a defender um modelo de cidade semelhante ao que os alfacinhas e os tripeiros vão vivenciar esta semana.

Lembrem-se disto!

 

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A MUBi, a Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta, tem uma página totalmente renovada e está com nova energia. Inscrevam-se como sócios e inscrevam-se nos vários projectos!

Injustiças

TMC, 05.02.11

A radicalidade de uma reacção não violenta de alguém para com a autoridade mostra uma de duas coisas: a dimensão da rectidão moral ou a dimensão da percepção errónea acerca do acto de que se foi vítima. O critério para dizer o que é um acto tresloucado ou um acto defensável nunca é absoluto, antes depende dos valores de cada época. O que pode ser um acto justificável numa época pode ser visto como uma parvoíce à luz de outra. Os valores mostram sempre as prioridades da sociedade que se pretende.

 

Dono de carro rebocado paga multa com 16 quilos de moedas

  

 

  

O proprietário de um automóvel rebocado pela Polícia Municipal do Porto resolveu pagar a multa de 75 euros com um saco de mais de 16 quilos de moedas, revelou a autarquia na sua página de internet.

 

Alguém reagir assim mostra a quase completa identificação entre si próprio e o seu carro: uma multa a este é um atentado àquele.

 


 

Segundo um estudo da DECO/PROTESTE, Lisboa e Porto são as cidades com mais poluição atmosférica devido ao tráfego rodoviário.

 

A caminho da carrocracia: sugestões

TMC, 03.02.11

A rede de transportes urbanos e regionais são o esqueleto do território. Sem eles, as populações não comunicam e, como gestoras do território através das suas actividades económicas, votam-no ou não à decadência. Face às recentes medidas de cortes em escolas, centros de saúde e transportes públicos de um país tipicamente centralista, não percebo porque é que não se vai directamente ao assunto e se põe preto no branco o que se realmente pretende.

 

Receita para não ser discriminado em Portugal na vida quotidiana (por ordem de importância):

 

1- viver/trabalhar em Lisboa e ter um carro
2- viver/trabalhar no Porto e ter um carro
3- viver/trabalhar em Lisboa ou no Porto sem carro
4- viver num subúrbio de Lisboa ou do Porto e ir para o trabalho de carro
5- viver num subúrbio sem carro

 

Se pertence a alguma das categorias anteriores, parabéns! É provável que o governo continue a preservar o seu modo de vida. É um cidadão exemplar e apostou correctamente no futuro dos seus filhos. Se for o caso, não se esqueça de tentar comprar um carro de modo a não ser tão discriminado. Se já tiver um carro, pode sempre comprar outro e assegurar o futuro dos seus filhos. O objectivo é chegar ao ponto 1 ou 2.

 

Verifique porém se se encontra ou se conhece alguém numa das seguintes situações:

 

1- viver/trabalhar numa cidade do interior com comboio e ter carro
2- viver/trabalhar numa cidade do interior com carro
3- viver/trabalhar numa cidade do interior sem carro
4- viver/trabalhar no interior com ou sem carro

 

Se se rever nalgum dos pontos anteriores...assim não vamos lá! Se já não tiver idade mas ainda tiver filhos, recambie-os para Lisboa ou Porto de modo a que eles possam ficar numa das categorias do primeiro escalão. Ou, se ainda tiver idade e não quiser ser discriminada no acesso a bens e serviços, venha para Lisboa ou para o Porto. Há subúrbios com fartura e casas de qualidade. Isso de querer continuar-se a morar onde se nasceu é coisa do século passado. A sua escolha custa milhões ao estado e não está para durar. Porém, não desespere; ainda pode ficar mais alguns anos onde está. Para já precisamos de si vivo porque os turistas estrangeiros e das cidades gostam do "very typical" castiço.

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